Espera-se que a palavra do governo de que não intervirá nos preços seja mantida, porque a realidade tarifária tem a ver com a própria modernização da estatal
O Brasil
tem extensa experiência na administração de preços de combustíveis,
inexoravelmente dependentes do dólar, queiram ou não governantes, dada a
ligação do petróleo e de toda a indústria com a moeda. Não é novidade que
variações cambiais e da cotação internacional da matéria-prima podem se
refletir nos postos de combustíveis e nos botijões de gás na forma de aumento
ou redução de preços. Quando isso ocorre e encarece os produtos nas
proximidades de eleições, o nervosismo entre os políticos é maior. E a tentação
de intervir nos preços cresce. É o que costuma acontecer.
Tudo já
foi visto no Brasil neste campo. Na ditadura militar, havia a “conta petróleo”,
nada transparente, em que débitos e créditos à Petrobras eram supostamente
registrados à medida que câmbio e cotações internacionais do barril oscilavam.
Nunca se soube ao certo se a conta era mais superavitária ou deficitária. Mas é
muito provável que o contribuinte, representado pelo Tesouro, tenha arcado com
prejuízos, como sempre.
O
rebuliço atual em torno dos aumentos dos combustíveis, causa de mais um
movimento ilegal de caminhoneiros por estradas e cidades do país, se deve à
aplicação de uma correta política de preços pela estatal, para acabar com
qualquer subsídio ao consumidor. Prática usada de tal forma no governo
lulopetista de Dilma Rousseff, para escamotear a inflação e servir de
plataforma eleitoral à sua reeleição, que abriu um rombo de R$ 40 bilhões nas
finanças da estatal. Junto com os efeitos da corrupção, via superfaturamento de
projetos de investimentos, a Petrobras, se fosse privada, teria sido levada a
buscar recuperação judicial, para evitar a falência. Como em
grandes economias, os preços oscilam com a matéria-prima. Entre o início de
maio e terça-feira, a gasolina subiu nas refinarias 15,5% e o diesel, 13,6%.
Reclamações gerais. Porém é esquecido que eles também caem, quando câmbio e
cotações mudam de sinal. O que foi anunciado ontem pela estatal, para vigorar
hoje (redução de 2,08% na gasolina e de 1,54% no diesel). A reação de
caminhoneiros vem da típica visão brasileira de um capitalismo de mão única,
que só pode favorecer um lado, e, quando isso não acontece, pede-se a
intervenção do Estado. Após
reunião realizada ontem em Brasília com os ministros da Fazenda, Eduardo
Guardia, e de Minas e Energia, Moreira Franco, o presidente da Petrobras, Pedro
Parente, anunciou que a política de preços continuará a mesma. Que a palavra
oficial seja mantida. O plano é usar impostos para compensar pressão de custos.
A Cide, por exemplo, deixará de incidir sobre o diesel.
Editorial - O Globo
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