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sábado, 20 de outubro de 2018

Lula não pode tudo

Há reviravoltas e reviravoltas. Com estafante insistência, de uns tempos para cámais precisamente há quase duas décadas petistas empedernidos nos falam de uma reviravolta para salvar o Brasil do caos. Suas receitas e promessas, aplicadas em campo na longa temporada que ocuparam o poder, acabaram por legar o próprio emblema do caos lancinante, no plano econômico, social e político, sem exceções, com um tempero de desemprego e recessão recordes na história. Ninguém disso duvida. Mas as patranhas palanqueiras do líder máximo da agremiação, Lula da Silva, hoje detento de ficha 700004553820, seguiram seu curso a despeito das evidências e alcançaram o último pleito, de embate capital no próximo domingo, 28, em segundo turno, com inadvertida desfaçatez. 

O menestrel das lorotas Lula e seus seguidores, como a caçoar da inteligência alheia, redobraram as apostas repetindo como farsa a ladainha de um resgate do País. Seria decerto uma salvação pela via da corrupção endêmica que massivamente praticaram. Haddad, o poste da vez, travestido de conciliador democrata sem aptidão para tanto, tomou para si o discurso engabelador e aceitou ser servido como presente de grego, na vã ilusão de enganar eleitores e potenciais aliados distraídos. Não colou. Encarnou o papel típico de um Cavalo de Tróia, escondendo em suas entranhas a camarilha de encalacrados petistas que inevitavelmente traria junto em seu projeto eleitoreiro, e se estrepou todo, caminhando para uma derrota fragorosa. Converteu-se em mero figurante do jogo. 

Pausa para registro: é sabido que Lula, Dirceu & Cia. sempre almejaram resgatar o poder a qualquer custo e de qualquer maneira – mesmo que não pela via do voto, como disse recentemente um deles -, mas decerto representa um lance bizarro, quase ingênuo mesmo, a tentativa do capo petista de empurrar ao Planalto (sem qualquer chance mais a essa altura do campeonato) um preposto da velha esquadra de sequazes saqueadores. Haddad, na campanha montada para lhe vender como algo que não é, virou pilhéria e provocou vergonha alheia. A agremiação escondeu a bandeira vermelha com estrela, marca pela qual é mais conhecida, tirou a imagem de Lula dos santinhos, mostrou seu usual desapego à realidade, lançando acenos que não cumpre, e perdeu-se no fabulário. A verdade não tem versões e o PT não entendeu isso. A ópera dos embusteiros acabou desmascarada. E logo por quem havia acabado de se enfileirar na esquadra de defesa do lulopetismo. “Lula tá preso, seus babacas! Vocês vão perder”, bradou o pedetista cearense Cid Gomes em um desabafo tão franco como surpreendente. Obcecados adoradores do demiurgo não quiseram ouvir. Possivelmente nem acreditaram no óbvio. Nessa marcha da insensatez que empreendem devem mesmo sair derrotados porque, de resto, como os próprios eleitores estão demonstrando nas urnas, Lula não pode tudo. Ninguém pode. 

A corriola de asseclas e militantes é capaz até de insistir na fé cega da hipótese, afinal muitos habitam um mundo onde as versões predominam sobre os fatos, as imagens virtuais sobre a realidade, no qual o universo paralelo serve de refúgio para negar a seca realidade. Decerto, em dado momento, sairão frustrados. A patota de caciques petista também. Ela estava convicta de que receberia o aval para replicar um modelo tão fraudulento como danoso à Nação. Os formuladores desse pacto foram escorraçados. Receberam um primeiro e eloquente recado ainda nas eleições municipais, há dois anos, e estão agora aprendendo, a duras penas, que não se ganha carta branca da população, indefinidamente, para seguir delinquindo sem punições. A maioria dos comandantes petistas está condenada. Outros respondem na Justiça por seus desvios. Lula segue na cadeia e transformou-se num mero espectro do poder de outrora. Não manda mais nada, não pode mais nada e fala apenas para um pequeno exército “Brancaleone”, cada dia mais ralo. Com o distanciamento dos eventos pregressos é possível notar que o pecado original da parolagem petista foi presumir que a conquista do Planalto lá atrás fazia do Brasil propriedade privada do partido para esbórnias sem fim. Ledo engano. A farra está se esgotando. O PT vive provavelmente o crepúsculo de uma antiga projeção. As artimanhas e as surradas práticas do patrimonialismo espoliador devem, com ele, sumir do cenário político. Será essa a verdadeira reviravolta.

Carlos José Marques, diretor editorial da Editora Três - IstoÉ
 

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