Ninguém
entendeu quando Carlos Bolsonaro, o “Carrrluxo”, dividiu o Rolls-Royce
da posse com Jair Bolsonaro, seu pai, e Michelle Bolsonaro, sua
madrasta. Freud à parte, continua sem explicação técnica. Nota: o
roteiro do cerimonial não previa o guardião de azul. No ensaio
realizado, inexistia tal personagem. E daí? A família não liga para
certos formalismos…
[os membros do clã Bolsonaro não estavam no dia da posse perfeitamente sintonizados com a liturgia do cargo e com o próprio evento, mas, aprendem fácil, especialmente sempre há possibilidade de uma segunda posse.]
Quando foi
a vez de FHC, ele preferiu ter no veículo apenas o vice, Marco Maciel.
Não! A professora Ruth Cardoso, avessa a solenidades balofas e a
rapapés, não desfilou com o marido. Conforme relato da Folha de 2 de janeiro de 1995:
“Só na catedral, quando FHC e seu vice, Marco Maciel, passaram para o Rolls Royce da Presidência, é que Ruth Cardoso ficou separada do marido, seguindo com Anna Maria Maciel para o Congresso. Fernando Henrique e Ruth e Marco e Anna Maciel subiram lado a lado a rampa do Congresso. Acompanhando os dois casais, estavam os presidentes da Câmara, Inocêncio Oliveira (PFL-PE) e do Senado, Humberto Lucena (PMDB-PB)”.
“Só na catedral, quando FHC e seu vice, Marco Maciel, passaram para o Rolls Royce da Presidência, é que Ruth Cardoso ficou separada do marido, seguindo com Anna Maria Maciel para o Congresso. Fernando Henrique e Ruth e Marco e Anna Maciel subiram lado a lado a rampa do Congresso. Acompanhando os dois casais, estavam os presidentes da Câmara, Inocêncio Oliveira (PFL-PE) e do Senado, Humberto Lucena (PMDB-PB)”.
Destaque-se: antes de FHC, Fernando Collor levou Itamar Franco, o vice, a seu lado.
Lula, na posse do primeiro mandato, levou
José Alencar, o vice, a seu lado. Ao assumir o segundo, seguiu com a
mulher, Marisa Letícia, no Rolls-Royce. Praticamente colado a esse
carro, em outro veículo, vinha Alencar e sua Mariza, com “z”. Dilma já
foi menos reverente ao vice. Preferiu levar Paula, a filha, a seu lado,
no carro de destaque. Atrás, em outro veículo, um Cadillac, estavam
Michel Temer, o vice, acompanhado de Marcela, sua mulher. De toda sorte,
nada havia entre o primeiro e o segundo veículos.
Com Bolsonaro, as coisas se deram de outro
modo. O vice, Hamilton Mourão, e sua mulher, Paula, também desfilaram
em carro aberto, mas bem longe do titular. Nas fotos e vídeos que têm o
presidente como protagonista, os dois não aparecem. O titular vai à
frente, acompanhado da mulher; atrás, veículos de segurança; em seguida,
o destacamento dos Dragões da Independência e só depois, lá longe, o
vice.
o vice certamente ficou um pouco atrás por algum vacilo dos organizadores da cerimônia - nem Bolsonaro nem o filho determinaram que houvesse um espaço, superior em alguns centímetros ao conveniente, entre os veículos.
Apesar de seu veículo estar 'lá longe' Mourão é inteligente o bastante para saber que foi eleito vice-presidente da República e é indemissível
Por isso também é sabedor que se equivocam os que pensam que jogar gasolina na fogueira vai aumentar a tensão - nada disso, é apenas desperdício.]
Não há
leitura alternativa: Carlos se colocava, com a anuência do pai, como o
segundo homem da República — em certas questões que não são exatamente
do domínio de Jair — as redes sociais, por exemplo —, é, na verdade, o
primeiro. E, como se nota, ele tem ambições que vão além de promover
guerrilhas na Internet. Quer ser também um pensador e um estrategista. À
sua maneira, foi bem-sucedido: ele tenta derrubar Bebianno, nunca se
soube bem por quê, desde a campanha. Conseguiu fazê-lo com um mês e meio
de governo, sob o risco de que uma crise política crie dificuldades
adicionais para a reforma da Previdência.
Ao se
colocar naquela posição no Rolls-Royce, Carlos anunciava, do alto de sua
inexperiência arrogante: “Sou o guardião dessa coisa toda; aquele
outro, que foi eleito com meu pai, o vice, o general, não manda nada.”
Não por acaso, a maior fonte de fofocas desabonadoras a Mourão parte
justamente da Internet, onde “Carrrrluxo” reina absoluto. Seus
admiradores, não raro, são detratores de Mourão.
E Carlos não tem papas na língua. No dia 28 de novembro, mandou ver:
“A morte de Jair Bolsonaro não interessa somente aos inimigos declarados, mas também aos que estão muito perto. Principalmente após de (sic) sua posse! É fácil mapear uma pessoa transparente e voluntariosa. Sempre fiz minha parte exaustivamente. Pensem e entendam todo o enredo diário!”
“A morte de Jair Bolsonaro não interessa somente aos inimigos declarados, mas também aos que estão muito perto. Principalmente após de (sic) sua posse! É fácil mapear uma pessoa transparente e voluntariosa. Sempre fiz minha parte exaustivamente. Pensem e entendam todo o enredo diário!”
Só um tolo
não entendeu que o recado absurdo tinha Mourão como alvo. Indagado a
respeito, o vice eleito respondeu então ao Globo: “Se eu quisesse ser presidente, teria concorrido a presidente”.
Na interinidade, o general foi alvo de outra diatribe disparada pelos
filhos: ele faria questão de se mostrar mais preparado do que o titular.
Bem, não precisa fazer grande esforço para isso. É mais preparado até
porque estudou muito mais e avançou para o topo da carreira militar. Se
os dois posarem lado a lado para uma fotografia, vestindo roupas
idênticas, dá para saber quem chegou mais longe nos dons do pensamento,
como diria o poeta, pela acuidade do olhar. As coisas são o que são.
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