Reação dos bolsonaristas diante do assassinato da vereadora é inédita no Brasil
É bem fácil ser gentil quando morre um adversário político. O sujeito já
morreu, não está mais disputando nada com você. O procedimento padrão é
desejar condolências, dizer algo como “apesar de nossas divergências,
sempre respeitei a firmeza com que lutou por seus ideais”, e ainda sair
com cara de bom esportista. A reação dos bolsonaristas diante do assassinato da vereadora Marielle
Franco (PSOL-RJ) foi o oposto disso. É um negócio muito esquisito,
inédito no Brasil e raríssimo no mundo.
No dia do assassinato, o presidente disse que não se manifestaria porque
sua opinião seria muito polêmica. [o nosso presidente, na época do assassinato da vereadora era ainda candidato a candidato e tinha, da mesmo forma que qualquer cidadão tinha e continua tendo, o direito de não se expressar sobre qualquer assunto que lhe fosse proposto, o que incluía, sem limitar, a morte da vereadora psolista, assunto restrito a pequena parcela dos cidadãos do Rio - salvo engano a vereadora não alcançou os 50.000 sufrágios.] Os bolsonaristas entenderam a dica e
foram para a internet espalhar mentiras sobre Marielle, como o de que
ela teria sido namorada do traficante Marcinho VP. Ninguém que fez isso,
até agora, foi preso. Têm que ser.
Dois bolsonaristas, Rodrigo Amorim e Daniel Silveira rasgaram uma placa
com o nome de Marielle em um ato político na última campanha eleitoral
—e se elegeram, respectivamente, deputado estadual e deputado federal. [detalhe: nomear logradouros públicos é competência do Poder Executivo Municipal e ao que consta os 'devotos' da vereadora não eram, nem tinham procuração, para legislar sobre nomenclatura de logradouros públicos - o correto seria a prisão dos que afixaram a placa ilegal e pirata e a penalização, ainda que apenas pecuniária, do ato ilegal que praticaram ao arrancar uma placa legalmente instalada e colocar uma outra, sem prejuízo de indenizarem a família do homenageado na placa retirada;
o mesmo ato criminoso fizeram algumas sem noção do DF, que mudaram o nome de uma ponte - quando perceberam que o ato que praticaram era desobediência a decisão judicial, colocaram o rabinho entre as pernas e silenciaram.
E a ponte continua com a denominação de Ponte Presidente Costa e Silva.]
Amorim guarda uma das metades da placa rasgada enquadrada em seu
gabinete. Silveira participou de um ato, na última quinta-feira, que
procurou atrapalhar uma homenagem a Marielle no Salão Verde da Câmara
tocando uma gravação de latidos em alto volume. Os bolsonaristas
mentiram que se tratava de um ato em defesa de animais maltratados. O ato só não causou mais escândalo porque os passantes acharam que os bolsonaristas estavam reunidos assistindo a aula do Olavo.
Na verdade, a histeria é compreensível. Os bolsonaristas não querem que
você discuta o assassinato de Marielle Franco porque não querem que você
discuta milícias. Lembre-se: o bolsonarismo é tão próximo das milícias que, quando o Vélez
tentou fazer a garotada cantar o hino, temi que mudassem a letra para
“Ouviram do Das Pedras as margens plácidas”.
O líder da milícia “Escritório do Crime”, Adriano Nóbrega, tinha mãe e
esposa trabalhando no gabinete de Flávio Bolsonaro (e assinando cheques
em nome do senador). Adriano Nóbrega, lembremos, recebeu a medalha
Tiradentes na cadeia por iniciativa de Flávio, e foi homenageado no
plenário da Câmara pelo atual presidente da República. Há fortíssimos sinais de que o organizador de mutreta e bode expiatório
da família Bolsonaro, Fabrício Queiroz, é enrolado com milícias. Flávio
Bolsonaro, afinal, foi quem disse que a mãe e a mulher de Nóbrega lhe
foram indicadas por Queiroz.
E recentemente descobrimos que nosso amigo Rodrigo Amorim, um dos que
rasgou a placa de Marielle, tem foto no Instagram com Queiroz, a quem
chamava de “irmãozão”. Não, não há indícios de que a família Bolsonaro, Rodrigo Amorim ou
Daniel Silveira estejam envolvidos no assassinato de Marielle Franco.
Mas quanto mais as investigações prosseguirem, mas as milícias serão
notícia; e, quanto mais aparecer milícia, mais vai aparecer bolsonarista
em situação constrangedora.
[resultado do ilustre artigo, interpretação facciosa, mas, bem escrito: Bolsonaro, com as Bênçãos de Deus, continua e continuará presidente do Brasil até 1º jan 2022 e seus filhos, TODOS, continuarão exercendo seus respectivos mandatos (com recorde de votos) até a mesma data e com grandes chances de reeleição, inclusive para o nosso presidente.]
Sim, pensei a mesma coisa que você: é incrível que um sujeito que
alimentava a pretensão de ser presidente da República tenha se metido
com essa gente. Mas aí é que está: quando se enfiou nessas histórias,
nem Jair Bolsonaro era maluco o suficiente para acreditar que os
brasileiros um dia votariam nele para presidente da República.
Celso Rocha de Barros é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
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