O Estado de S.Paulo
Não há clima, maiorias e lideranças para dar golpes nem articular impeachment
Deveria causar escândalo, mas conseguem no máximo gerar preguiça e cansaço a facilidade e a frequência com que as pessoas fazem duas perguntas perigosas, mas tratadas como corriqueiras, parte da paisagem: Vai ter golpe? Ou vai ter impeachment?
A cada ataque do presidente Jair Bolsonaro, do seu entorno e da sua tropa da internet ao Congresso, a governadores, à mídia, a jornalistas (geralmente mulheres...), a presidentes estrangeiros, a ambientalistas, a ONGs, a pesquisadores cresce a percepção de que há uma escalada autoritária, um teste de limites.
[conclusão acertada: impeachment para ocorrer necessita que a autoridade a ser punida tenha cometido crimes - não é o caso do presidente Bolsonaro que não cometeu crime e nem pensa em golpe, por não ser um golpista e ter votos, não precisa dar golpes.
aliás, a ilustre jornalista foi muito feliz em outra ocasião - ocasiões que não são limitadas a duas - quando cunhou a expressão "o escândalo que encolheu", se referindo a tentativa fracassada daquele jornalista estrangeiro que está envolvido, inclusive foi denunciado à Justiça, com a invasão do Telegram do ministro Moro.
A articulista procura se destacar pelo seu trabalho, procedimento diverso do adotado por grande parte de seus colegas, que chegam ao ponto de personalizar discussões com o presidente Bolsonaro, por saber que tal conduta, por sinal desrespeitosa, gera manchetes - na maioria, contrárias ao presidente da República.]
Se fosse apenas questão de estilo, já seria péssimo, mas todos esses
ataques vêm num contexto em que Bolsonaro enaltece ditadores
sanguinários, seu filho admite a volta do AI-5 (toc toc toc) e já disse,
sem a menor cerimônia, que bastaria “um cabo e um soldado” para fechar o
Supremo.
Assim, quando Bolsonaro transforma o Planalto num QG, o general Augusto
Heleno xinga os parlamentares e fala em “povo na rua” e o governo deixa
de condenar com a devida veemência o motim de PMs no Ceará... a lista
começa a ficar grande e preocupante.
Só faltava o presidente da República convocar pelo WhatsApp uma
manifestação que tem entre os objetivos protestar contra o Congresso e o
Supremo. Divulgados os vídeos pela colega Vera Magalhães, o que fez o
presidente? Mentiu! Mentiu ao dizer que se tratava de peças de 2015. Com
imagens da facada? Foi em 2018. Com o brasão da Presidência? A posse
foi em 2019. Esse roteiro sugere um teste, um avança e recua, de olho nas reações das
Forças Armadas e das redes sociais. E é aí que surge um fato novo
depois que o Planalto aumentou o tom contra o Congresso: a maioria
militar silenciosa, particularmente do Exército, começou a demonstrar
desconforto e a dizer algo assim: “Aí, não!”
Assim, mesmo que houvesse algum projeto ou sonho golpista, fica-se
sabendo que não há, em absoluto, unanimidade na área militar. Se há algo
próximo a unanimidade é em sentido contrário: ninguém quer ouvir falar
em golpes. Marinha e Aeronáutica estavam e continuam mudas e o Exército
começa a perceber que tem muito mais a perder do que a ganhar, inclusive
historicamente, ao se confundir com arroubos autoritários tão fora de
tempo e de propósito.
Mais do que isso, porém, nunca é demais repetir o que está registrado em
várias oportunidades aqui neste mesmo espaço: o Brasil não é uma
Venezuela. Tem instituições, mídia, opinião pública, enorme capacidade
de reação, ou, antes, de dissuasão de projetos tresloucados. Há uma rede
de resistência.
Quanto a impeachment, não custa lembrar que isso não é como aspirina,
que se usa a qualquer hora, para qualquer eventualidade. O Brasil passou
por dois afastamentos de presidentes no curto espaço de tempo desde a
redemocratização e não se ouve absolutamente ninguém com um mínimo de
liderança e de responsabilidade admitindo e muito menos discutindo essa
hipótese.
Aliás, o presidente chamou atenção na live de quinta-feira também ao, do
nada, em bom e alto som, anunciar: “Não vou renunciar ao meu mandato!”.
Quem disse que iria? Ninguém. Trata-se de uma frase que oscila entre o
político e o psicológico, expondo uma característica de Bolsonaro: a
mania de perseguição. Ao ver inimigos por toda parte, ele se antecipa e
parte para o ataque antes de saber se seria atacado. [Foi a "mania de perseguição" que contratou um sicário para matar a facadas - uma das formas mais cruel de assassinar alguém - o presidente da República.
Público e notório que há muitos que se surgir oportunidade tentaram impedir ou remover via golpe o presidente Bolsonaro do cargo que ocupa por vontade de quase 60.000.000 de eleitores.]
E fica falando sozinho. Nem o seu maior adversário aventa a hipótese de
renúncia, ou de impeachment, assim como boa parte dos seus apoiadores
militares não quer nem ouvir falar em golpe. A saída é outra, é o
presidente se comportar como... presidente. E focar no essencial, a
economia, a estabilidade, o País. [sem perder o foco nos demais aspectos, especialmente na esquerda adepta do 'quanto pior, melhor'.]
Eliane Cantanhêde, jornalista - O Estado de S. Paulo
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