O arquipélago das 11 togas - Toga não é japona
Augusto Nunes
Alguns ministros parecem sonhar com a ditadura do Supremo
É hora de alguém lembrar aos ministros que toga não é japona
Quem propõe o fechamento do Supremo Tribunal Federal merece o desprezo
dos genuínos democratas.
Quem critica a opinião ou o comportamento de
qualquer ministro exerce o direito à liberdade de expressão.
Nenhum dos
11 indivíduos que compõem o STF é o Supremo. Quem tenta confundir-se com
a instituição de que faz parte quer apenas livrar-se de legítimas
manifestações de descontentamento.
Nos últimos dias, a reação provocada por supostas ameaças à democracia
em geral e ao STF em particular confirmou que a corte virou faz tempo um
arquipélago formado por 11 togas que se julgam onipotentes, oniscientes
e onipresentes. Intrometem-se em tudo, tudo regulamentam em decisões
monocráticas e não prestam contas a ninguém. Como ministros do Supremo
só podem ser julgados por ministros do Supremo, estão todos condenados à
perpétua impunidade.
No mundo civilizado, quem fala Corte Suprema é o presidente. No Brasil,
até recentemente falavam o presidente ou o decano. Desta vez, falaram o
presidente Dias Toffoli, o decano Celso de Mello, o vice-presidente
Luiz Fux e, por enquanto, os ministros Luís Roberto Barroso, Alexandre
de Moraes e Cármen Lúcia. Gilmar Mendes não precisa de pretexto para
permanecer no palco interpretando o papel de juiz dos juízes.
O arquipélago das -
[começa a parecer que os ministros do Supremo entendiam ser tudo = no mínimo, onipotentes, oniscientes e onipresentes.Só que a interpretação correta do artigo 142 da CF, começou a ser feita levando em conta a LC 97/99 - editada em cumprimento ao determinado no parágrafo primeiro do art. 142.
Juristas importantes começaram a defender a tese de que as FF AA sob o comando supremo do Presidente da República, podem exercer o PODER MODERADOR e com isso começaram a considerar qualquer interpretação ou opinião que não expresse que o Supremo e seus ministros são onipotentes, oniscientes e onipresentes, passa a ser considerada ato antidemocrático e inconstitucional e com isso, perseguição sem tréguas aos que interpretam o artigo 142 da CF de forma diversa do decretado por alguns ministros do STF, esperam sufocar tal exegese e voltarem à condição de 'deuses'.
Pouco importa que a discordância seja expressa apenas com palavras, sem ameaças e de forma respeitosa.
É conveniente que jurista Ives Gandra cuide para não ser preso, ou alvo de um mandado de busca a apreensão, por ser autor de um dos mais sólidos pareceres que atribuem às Forças Armadas o PODER MODERADOR, e opinar contra entendimento do Supremo é crime hediondo.]
Todos repetiram que a democracia brasileira está em perigo: um surto de
autoritarismo ameaça o país. Faz sentido. Pelo andar da carruagem,
parte do time da toga anda sonhando com a ditadura do Supremo. Nos anos
60, incomodado com a intromissão dos militares na esfera de atuação do
STF, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, pronunciou uma boa
frase: "Japona não é toga". É hora de alguém lembrar aos ministros que
toga não é japona.
Augusto Nunes - Portal R7
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