Franklin Ferreira
O autor mostra que, ao contrário
de tal argumento, o silêncio de Jesus sobre o assunto, unido com outros
fatores, faz com que a oposição de Jesus ao intercurso homossexual seja
historicamente admissível. Gagnon segue argumentando que Jesus não fez
nenhum comentário direto ou explícito sobre o intercurso homossexual,
como também não fez comentário direto sobre muitos outros assuntos
importantes. Mas, em sentido mais amplo, Jesus não se calou sobre o
intercurso homossexual, uma vez que os dados inferenciais falam alto e
com clareza sobre a perspectiva de Jesus. Algumas constatações deixam
isso claro: em primeiro lugar, levando-se em conta o contexto do
judaísmo do primeiro século, é muito improvável que Jesus tivesse
adotado uma posição diferente quanto ao intercurso homossexual, ainda
mais levando em conta a consideração que Jesus tinha pela lei mosaica;
em segundo, Jesus apelou a Gênesis 1,27 e 2,24 acerca do divórcio, e
isso confirma sua aceitação de um modelo exclusivamente heterossexual de
relacionamento; em terceiro, as posições de Jesus sobre outras questões
relacionadas à ética sexual eram em geral mais – e não menos –
rigorosas que as da cultura ao seu redor; em quarto, as formas como
Jesus integrou a seu ensino e ministério as exigências de misericórdia e
conduta justa não dão respaldo à ideia de que ele talvez tivesse
adotado uma abordagem positiva ou neutra em relação ao intercurso
homossexual.
A ideia de que Jesus era ou poderia ter sido
neutro na questão da conduta homossexual, ou que poderia até mesmo ter
aprovado essa conduta, é história revisionista da pior espécie, de
acordo com Gagnon
O autor conclui afirmando que “não há nenhuma
boa evidência de que Jesus tivesse permitido que os seguidores
cometessem adultério, se divorciassem e voltassem a se casar, se
prostituíssem, tivessem relações sexuais com animais ou com membros do
mesmo sexo [...]. As evidências de que dispomos sugerem firmemente que
Jesus acreditava que as pessoas que não se arrependessem de imoralidade
sexual [...] não teriam um lugar no reino vindouro de Deus”.
O testemunho de Paulo
A
quarta parte é a seção mais técnica de todo o livro. Aqui o autor faz
uma extensa exegese dos textos de Romanos 1,18.24-27; 2,1-3.20;
1Coríntios 6,9; 1Timóteo 1,10, considerando com atenção e erudição os
termos gregos malakoi, arsenokoitai e arsenokoitais.
Segundo
Gagnon, no contexto de 1Coríntios 6,9-10, malakoi, que significa “os
macios”, pode ser traduzido como “machos afeminados que desempenham o
papel sexual de fêmeas”. E arsenokoitai, que significa “os que põem
machos na cama”, pode ser traduzido como “machos que levam outros machos
para a cama”. Esses textos são de suma importância, pois Paulo coloca
essas falhas morais em uma lista de ofensas que levam à exclusão do
reino de Deus. Sobre o texto de Romanos 1,27, o autor afirma que, quando
Paulo fala do intercurso sexual de homens com homens, é evidente que
ele tem arsenokoitai em mente: “No entendimento de Paulo, o ‘desonrarem o
seu corpo entre si’ mencionado em 1,24 ocorria sempre que uma mulher
tinha intercurso sexual com outra mulher e não com um homem, e sempre
que um homem tinha intercurso sexual com outro homem e não com uma
mulher. Homens trocaram o ‘uso natural’, em que pessoas do sexo oposto
são parceiros complementares apropriados no intercurso sexual, por um
‘uso antinatural’ em que pessoas do mesmo sexo são parceiros sexuais”.
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O
autor conclui mostrando que, em 1Coríntios 6,9, o termo malakoi tem
mais em vista homens que buscam ativamente transformar sua masculinidade
em feminilidade a fim de se tornarem mais atraentes como parceiros
sexuais receptivos ou passivos de homens; arsenokoitai tem mais em vista
homens que servem de parceiros sexuais ativos dos malakoi. As listas de
falhas morais apresentadas nos textos citados mostram que, na opinião
de Paulo, as pessoas que não desistem de participar de intercurso
homossexual estão entre aqueles que serão excluídos do reino vindouro de
Deus.
A relevância hermenêutica do testemunho bíblico
Gagnon
prestou um grande serviço à igreja cristã ao escrever este livro,
escrito de forma clara e fluida, e com insights que são importantíssimos
para a compreensão da homossexualidade a partir de uma cosmovisão
bíblica
Oferecendo conselhos para a igreja, Gagnon afirma que
homossexuais praticantes e assumidos devem ser tratados como quaisquer
outras pessoas envolvidas em atos persistentes e impenitentes de
comportamento sexual imoral. E devem receber acolhimento por parte da
igreja: “A igreja precisa lutar lado a lado com eles [...] Eles também
devem ser chamados para um padrão mais elevado de comportamento [...] No
entanto, aquilo com que a igreja precisa se preocupar é o fato de
permitir que membros tenham liberdade de envolver-se em comportamento
terrivelmente imoral, recusando-se a se arrepender e substituindo os
padrões morais de comportamento apresentados nas Escrituras pelos seus
próprios padrões”.
A relevância da obra
Alguns dos mais
importantes eruditos cristãos da área bíblica endossam essa obra. Alguns
exemplos podem ser citados. Brevard S. Childs, que foi professor de
Teologia (Bíblia Hebraica) na Yale Divinity School, nos Estados Unidos,
afirma: “Gagnon oferece um exame bem fundamentado, criterioso e
abrangente do testemunho bíblico. Seu livro é justo e compassivo e deve
ser considerado uma fonte importante para quem deseja levar a sério o
testemunho das Escrituras”. Max L. Stackhouse, que foi professor de
Ética Cristã no Seminário Teológico de Princeton, nos Estados Unidos,
diz: “Não tenho conhecimento de nenhum estudo equivalente sobre os
textos e debates interpretativos em torno do comportamento homossexual. A
abordagem do assunto por Gagnon capta a complexidade do debate e o faz
com muita compaixão. Embora a obra não tenha tom polêmico, também fica
claro que algumas autoridades reconhecidas sobre o assunto e amplamente
citadas, bem como defensores contemporâneos da liberação sexual nessa
área, têm interpretado equivocadamente informações históricas e textuais
e usado de maneira equivocada dados científicos contemporâneos,
argumentos clássicos e evidências pastorais”. C. E. B. Cranfield, que
foi professor de Teologia (Novo Testamento) na Universidade de Durham,
na Inglaterra, acrescenta: “O livro de Gagnon é uma contribuição
extremamente valiosa para o debate atual e merece ser lido amplamente. A
exegese bíblica distingue-se pela erudição rigorosa, ao passo que a
análise de como os textos bíblicos falam à igreja contemporânea e à
sociedade secular caracteriza-se por uma avaliação equilibrada e sóbria e
por uma atitude compreensiva com a situação presente. Recomendo esse
livro de todo o coração”.
Esta resenha foi escrita com a ajuda de Willy Robert Henriques
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