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domingo, 16 de julho de 2023
Sobre a “agressão” a Alexandre de Moraes - Gazeta do Povo
Paulo Polzonoff Jr. - VOZES
"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.
Quo Vadis
O medíocre e covarde imperador Nero em “Quo Vadis”.| Foto: ReproduçãoA notícia da“agressão” ao ministro Alexandre de Moraes num aeroporto italiano me pegou no meio do“Quo Vadis”.
Porque sou desses que, assistindo a um filme no conforto da minha casa,
às vezes me permito uma ou outra olhadela no celular. De qualquer forma,
melhor que tenha sido assim. Do contrário, talvez eu reagisse
instintivamente com um sorriso ou, pior ainda, uma celebração.
Antes
de continuar, porém, preciso explicar que as aspas decoram a palavra
“agressão” por um motivo muito simples: até agora não há imagens do
ocorrido.
Com isso não quero dizer que eu não acredite que possa ter
mesmo havido algum tipo de altercação. Os nervos estão mesmo à flor da
pele, tanto aqui quanto em qualquer outro lugar onde haja brasileiros
revoltados com o que acontece no Alexandrequistão.
Vale,
porém, se deter um pouco mais nessa dúvida. Ela fala de nós, os
desconfiados, alguns dos quais dados a usar curiosos chapéus metálicos;
mas fala mais ainda sobre o ministro e a credibilidade da instituição
que ele usa para satisfazer vontades pouco ou nada democráticas.
Se
houvesse um mínimo de virtude na atuação jurídica e política de Alexandre de Moraes, neste momento todos estariam condenando a agressão, e não duvidando que ela tenha acontecido.
Outra face Mas, como eu dizia antes dessa interrupção não-programada, a notícia da “agressão” me pegou no meio do “Quo Vadis”, filme de 1951 que conta o suplício pelo qual passaram os primeiros cristãos sob o jugo de Nero. Daí porque, correndo o risco de desagradar uns e outros, vou dizer neste texto que o episódio envolvendo o ministro me fez pensar em toda a coragem necessária para se fazer o impensável: oferecer a outra face. Tanto por parte daqueles oprimidos por ministro com ares de imperador quanto por parte do reizinho ameaçado e, de acordo com os relatos, violentado em sua honra.
Coragem,
sim. É preciso muita coragem para não nos vingarmos de nossos algozes.
Para não nos rebaixarmos a eles. Para, uma vez nos sentindo livres de
quaisquer amarras, nos lhes darmos uma lição.
É preciso coragem para se
deparar com Alexandre de Moraes
num aeroporto de Roma e ficar quieto.
É preciso coragem para, diante da
possibilidade de “atacá-lo” com meia dúzia de insultos ou verdades,
optar pelo silêncio. Ou, para evocar uma cena do filme que
invariavelmente influencia este texto, é preciso muita coragem para
cantar louvores a Deus enquanto se vê o próximo sendo devorado por
leões.
Quanto falo em “oferecer a outra face”, contudo, não estou me referindo à inação.
Por outra, estou aqui na Roma de chapéus metálicos pensando no combate virtuoso
contra esse mal. Ou qualquer outro mal que nos circunde. Na ação
inteligente, paciente e cheia da fé que se manifesta sempre que alguém,
no furor da indignação mais-que-compreensível, se contém. Mais do que
isso, sempre que alguém age com um amor genuíno por seus inimigos. Uau.
Aos leões! E, já que estamos falando de coragem e covardia, ao ler os relatos ainda confusos sobre a “agressão”, pensei também na coragem que deveria emanar de um magistrado infelizmente rendido à mais sórdida das covardias: a do poder absoluto.
Isto é, pensei que Alexandre de Moraes, se fosse o juiz magnânimo que pensa ser e que eu gostaria que fosse, tentaria sair altivo dessa situação baixa.
Perdoaria ou ignoraria quem o chamou de“bandido, comunista e comprado”.
Mas não. Claro que
não. Em vez disso, Alexandre de Moraes optou por se encolher mais um
pouquinho. Ao que tudo indica, ele será novamente a vítima que não só se
recusa a oferecer a outra face como tambémjulga severamente
seus agressores. Será que, como o Nero embriagado de poder, o ministro
vai jogar as pessoas que o hostilizaram aos leões?
E tudo isso em nome
da defesa do Estado Democrático de Direito, hein! Que coisa.
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