Ao
longo do dia de ontem, abri duas exceções à sábia decisão de não mais
assistir a alguns canais de televisão. Desconheço suas programações. A
exceção consistiu em não mais de cinco minutos, somados os tempos
perdidos diante da tela, vendo imagens mostradas em dois ou três desses
veículos.
Em
pensamento, exclamei: “Bem feito!”. Colheram o que plantaram, numa
sinistra mistura para a qual uns contribuíram com arrogância, tirania,
desprezo às leis da República, à sociedade e suas opiniões, enquanto
outros aportavam doses maciças de submissão, omissão, cumplicidade e
semeadura de ódio. Imagino o que ia nas mentes de ambas as vertentes que
ali se amalgamavam, constrangidas, diante da silenciosa e gigantesca
vaia nacional!
A quem era
essa vaia dirigida? A quem? É pouco provável que alguém, ali, escapasse
ao desdém expresso no silêncio federal, estadual e municipal daquelas
horas.
Os dias
anteriores evidenciaram o zigue-zague das avaliações oficiais. Segundo a
Gazeta do Povo, o ministro Flávio Dino alertou o governo do Distrito
Federal para possíveis atos organizados pelas redes sociais e colocou a
Força Pública à disposição.
O governo federal constituiu um Gabinete de
Mobilização Institucional e o governo do Distrito Federal afirmou que as
corporações (Polícia Civil e Polícia Militar) estavam vigilantes contra
eventuais ameaças.
Pouco depois, as notícias eram de que o ambiente
nacional estava tranquilo. Cemitérios são, sim, locais bastante
tranquilos. O féretro da liberdade, também.
Há um
provérbio que parece aplicável ao caso sobre a má experiência de certo
gato com água quente, mas o felino da história não pôs a água para
ferver.
O jornal O
Globo, em acesso de lulismo, deixou de lado o xoxo evento de 2023 e
atacou o do ano passado, Bolsonaro e suas aparentemente
“injustificáveis” críticas a ministros do STF.
À época, lembro bem,
alguns ativíssimos protagonistas do ambiente político nacional –
badalados pela Folha, pelo Estadão e pelo O Globo – haviam decidido que
era pouco saudável emitir opinião negativa a seu respeito.
O 7 de
setembro de 2023 tornou-se uma espécie de identificação facial,
facilmente reconhecível, da triste “democracia” brasileira. Democracia
entre aspas, sim, transformada em serventia dos donos do poder.
Durante
anos, parcela expressiva da sociedade brasileira gritou nas ruas e
praças do Brasil para instituições cujas maiorias lhe viraram as costas.
Muitos pagaram caríssimo pelo atrevimento de dissentir.
Silenciar
neste 7 de setembro não é sinal de consentimento. Bem ao contrário,
equivaleu a um ruidoso ato de resistência para quem o amor à Pátria
cantou sofrido no silêncio do peito.
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas
contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A
Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia
Rio-Grandense de Letras.
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