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quarta-feira, 5 de abril de 2023

Arcabouço não se sustenta sem alicerces - Alexandre Garcia

O arcabouço não se sustenta sem alicerces — é uma licença para gastar, que tem consequência na necessidade de arrecadar mais

O arcabouço só vai para o Congresso depois da Páscoa e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admite que é preciso ainda fazer uma revisão no texto. [revisão? aquele troço - que não tem lógica e menos ainda sustentação - tem que ser refeito para merecer ser ao menos apreciados pelo Congresso, ou não passa.
Querem uma licença para gastar, tentam explicar como conseguirão os recursos, mas as explicações não convencem ninguém - nem o chefão que nada sabe de economia]
Isso indica que o anúncio apressado na quinta-feira passada teve duas razões: não deixar a volta do ex-presidente Jair Bolsonaro ocupar sozinha o noticiário daquele dia e lançar um balão de ensaio, para saber como a novidade é recebida. 
No fundo, é uma proposta destinada a derrogar a Lei do Teto de Gastos — que saiu depois de um impeachment motivado por contas públicas. 
A Lei das Estatais também foi motivada pelos acontecimentos — aquilo que a Lava-Jato apurou, principalmente na Petrobras.
 
Como o governo quer gastar mais e para isso inchou-se em 37 ministros — e não quer que o rotulem de fura-teto, inventou um eufemismo para isso: arcabouço fiscal
Imediatamente os áulicos aderiram e passaram a chamar o fura-teto de arcabouço. Só que o arcabouço não se sustenta sem alicerces é uma licença para gastar, que tem consequência na necessidade de arrecadar mais.

Haddad acaba de informar que precisa arrecadar mais R$ 150 bilhões. Ou seja, cobrar mais R$ 150 bilhões dos brasileiros ainda neste ano. Nada mais simples e fácil que mandar cobradores de impostos aumentarem a arrecadação, como faziam os senhores feudais da idade média. Só que, como demonstra a Curva de Laffer, imposto demais desestimula a atividade econômica e faz cair a arrecadação.

Verdades
 O governo vai repetindo suas verdades, mas só os que têm preguiça de pensar ou os distraídos vão cair nesse 1º de abril repetido mil vezes. O Datafolha mostra o pessimismo subindo e o otimismo caindo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já percebeu isso: faz reunião com ministros e os convoca para uma cruzada de otimismo, que venda melhor a imagem do governo e exorta seus auxiliares a não caírem em lamentações. O problema é que muitos estão preocupados com seu próprio futuro.
 
O governo que precisa de propaganda, precisa ter bons produtos.  
O arcabouço vai entrar no Congresso já envolto em dúvidas sobre a qualidade do método e seus resultados.  
E por mais que esteja embrulhado em dourado, quem faz as contas, e vê que elas não fecham, sente-se embrulhado também. 
Aplicar o dinheiro dos impostos na prestação de bons serviços públicos é cumprir a principal tarefa de um governo.

Imposto não é para sustentar administração pública inchada para dar lugar a políticos de partidos que trocam a partilha do Poder Executivo com voto no Congresso.

Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense


domingo, 2 de fevereiro de 2020

Petrobras dá vexame ao cancelar palestra - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

O vexame da patrulha contra McCloskey 

Não se pode saber como vai acabar a lambança do Enem, mas exemplos mostraram que as redes sociais são uma das boas coisas deste século 

Dizer que a terra é plana ou que o nazismo foi de esquerda fazem parte de um bestiário incontrolável, mas entra-se no caminho do vexame quando uma empresa como a Petrobras cancela uma palestra da economista Dreirdre McCloskey porque ela disse que os governos de Donald Trump e de Jair Bolsonaro são “qualquer coisa, menos liberais”. [se a contratante não concorda com a capacidade de quem vai proferir a palestra e as opiniões a serem emitidas, não são interessantes nem adequadas, o mais conveniente  é cancelar.

Sem esquecer, que palestras, que em sua maioria são úteis aos assistentes  - há algumas exceções - se tornaram durante o governo que destruiu o Brasil, 2003 a 2016, meio de lavagem de dinheiro, o que torna imperativo mais cautela sobre quem, e o que, se contrata.]
Trata-se de um vexame pela falta de educação, pela truculência e pelo obscurantismo. Falta de educação porque os áulicos da Petrobras cancelaram a palestra sem dizer uma só palavra à professora. Pela truculência, porque o ex-Robert McCloskey teve coragem para mudar de sexo e com isso já enfrentou paradas bem mais duras do que pitis de burocratas amedrontados. É dela a mais sólida resposta às patrulhas que associam Milton Friedman à ditadura chilena do general Pinochet. (O texto da palestra está na rede com o título “Ethics, Friedman, Buchanan, and the Good Old Chicago School”.) Pelo obscurantismo, porque a professora é uma economista respeitada internacionalmente.

McCloskey veio da cepa da universidade de Chicago e trabalhou com Friedman. Seus três livros sobre as virtudes, a igualdade e a dignidade dos burgueses são aulas de História para quem quer conhecer as raízes do mundo moderno. Em poucas palavras (dela), nada a ver com a luta de classes de Marx, com os protestantes de Max Weber, com instituições ou com as teorias matemáticas da acumulação de riquezas. Foi tudo coisa das ideias: “Comércio e investimentos sempre foram rotinas, mas uma nova dignidade e a liberdade das pessoas comuns foram únicas dessa época”. O construtor do mundo moderno foi o burguês.

Bolsonaro não é liberal, finge mal e, se quiser sê-lo, terá muito chão pela frente. Cancelar uma palestra de McCloskey porque ela criticou o capitão foi atitude de quem passa por qualquer vexame para ficar bem na nominata das cerimônias.
Se esse triste episódio levar alguma editora a publicar a trilogia burguesa de McCloskey, a patrulha terraplanista terá prestado um serviço ao país.

O MEC está deseducando uma geração
(.....)

O ruinoso do Enem de Weintraub junta-se a outro desastre, com o qual ele nada teve a ver e, pelo contrário, já denunciou. É o caso dos inadimplentes do Fundo de Financiamento Estudantil. Invenção dos ministros da Educação petistas, para gosto dos donos de faculdades privadas, o Fies transferiu para a Viúva o risco de inadimplência dos estudantes da rede privada.

Hoje, o rombo está em R$ 32 bilhões. Isso aconteceu porque os financiamentos eram dados sem um fiador verificado e os educatecas não analisavam os empréstimos que o Fies concedia.
Weintraub apontou o pior lado dessa desgraça, o moral:
“São 500 mil jovens começando a vida com o nome sujo”.

Com o nome sujo e estimulados a não pagar o que devem, porque foram induzidos a isso pelos espertíssimos donos de faculdades. É sempre bom lembrar que um estudante da faculdade de Direito de Harvard formou-se em 1991 e só quitou sua dívida depois de 1996, com o que ganhou publicando seu primeiro livro. Chamava-se Barack Obama.

(....)

FiespDe um empresário abatido pelo desembaraço político de Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo.
“Do jeito que estão as coisas aquele prédio da avenida Paulista podia passar por um retrofit. O térreo e o espaço do rés-do-chão poderiam ser entregues às moças que vendem milho e aos rapazes do yakissoba. Nos andares superiores ficaria o museu da indústria e o auditório seria entregue aos músicos e malabares”. [o que ocorre na Fiesp é apenas um tênue reflexo do que a 'nova cultura', que a esquerda tenta manter no Brasil, é capaz de fazer.
Se espera que Regina Duarte resgate a Cultura que merece ser valorizada na mesma proporção que valoriza antigos valores, que o maldito 'politicamente correto' tenta impor.
Caindo no lugar comum: se é político, jamais pode ser correto.]



Na Folha de S. Paulo e no O Globo, leia MATÉRIA COMPLETA - Elio Gaspari, jornalista

 

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Papai Noel existe - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

Em vez de brigar com os dados e só ouvir os áulicos, Bolsonaro devia ouvir mais Terezas Cristinas

Quando os jornalistas perguntaram ontem ao presidente Jair Bolsonaro sobre a preocupante erosão de sua popularidade, com aumento bem fora da curva dos índices de rejeição, ele voltou-se para um deles e desdenhou, com seu jeitão “simples e transparente”: “Você acredita em Papai Noel?”. Não, presidente, acreditamos nas pesquisas de opinião, como no IBGE, Inpe, Ibama, Fiocruz, ICMBio, Ancine, na ciência, nas universidades, na educação que vai além do ensino, na diplomacia dos bons modos, nos direitos humanos e, claro, na defesa do meio ambiente.

[qual o valor de pesquisas faltando mais de três anos para as próximas eleições presidenciais? 

um ponto digno de ser evitado, desde agora,  pelo nosso presidente Jair Bolsonaro é insistir em medidas desagradáveis para os eleitores, entre elas a TENTATIVA da volta da CPMF - se voltar Bolsonaro perde as eleições de 2022 - o fim de deduções no IR e outras 'bondades'.

A demissão sumária do Marcos Cintra seria uma forma do presidente mostrar - fazendo, não dizendo - quem manda no governo.]

Todos os presidentes, em diferentes épocas, reagem mal a dados negativos sobre seu governo e sua popularidade e preferem se trancar nos palácios, ouvir os áulicos cheios de elogios ou circular em ambientes francamente favoráveis – como os militares e evangélicos, no caso de Bolsonaro. É uma fuga da realidade. Quem mais perde é o próprio presidente, além do seu governo. Melhor do que filhos, generais, assessores e a legião de “amigos” que frequentam palácios e melhor do que multidões selecionadas, seria o presidente chamar políticos experientes e de bom senso, com coragem e independência, para lhe dizer as verdades que ele não gosta de ouvir e os outros não admitem falar.

Um exemplo é a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Na crise doméstica e internacional das queimadas, ela jogou um balde de serenidade para apagar as labaredas reais e de comunicação. Enquanto outros atiçavam o fogo e as guerras do presidente, ela lembrou os danos que isso causaria à imagem e aos produtos brasileiros e sugeriu: em vez de botar mais lenha na fogueira, por que não apresentar soluções práticas e agir? Bolsonaro mudou de tom, convocou um gabinete de crise, chamou as Forças Armadas e o governo passou a anunciar providências. Lucraram todos, principalmente ele e a própria Amazônia. E a guerra particular contra Macron? Bem, é outra história, que foge à alçada de Tereza Cristina. Ela não pode tudo.

É preciso que mais Terezas Cristinas se aproximem do presidente, fazendo um contraponto aos que só dizem amém e debatendo os dados do Datafolha com seriedade e vontade de captar os recados, aprender e corrigir. Pela pesquisa, a rejeição a Bolsonaro disparou para 38%, um recorde absoluto para presidentes nessa fase de mandato. Pela primeira vez, a rejeição (ruim e péssimo) ultrapassou o regular e a aprovação (bom e ótimo), quebrando o equilíbrio anterior entre os três. Mas o mais importante é que essas conclusões não surpreenderam os analistas. Logo, não deveriam surpreender o Planalto e muito menos serem rechaçadas pelo presidente.

É só enumerar os absurdos que Bolsonaro diz, como a história do cocô, ou faz, como indicar o próprio filho, o “garoto”, para a principal embaixada do planeta. E o “herói” Brilhante Ustra? E remoer a dor do presidente da OAB diante da tortura e “desaparecimento” do pai? E as picuinhas contra a imprensa? E a manipulação, até emocional, de Sérgio Moro? E o ex-Coaf, a Receita, a PF? A cada uma delas, é natural que as pessoas se espantem e que a popularidade caia. Só o presidente e seu entorno poderiam achar que esse conjunto não afetaria sua popularidade.

Bolsonaro não admite que está errando. Ao contrário, dá de ombros, diz que ele “é assim mesmo” e tenta capitalizar a imagem de “transparência” e “simplicidade”. Como se vê, não está funcionando, mas o presidente, em vez de frear, mete o pé no acelerador, sob aplausos de quem parece que está ajudando, mas só está pensando no seu carguinho e em se manter nas graças do presidente. Assim como Bolsonaro muitas vezes não ajuda e só atrapalha seu governo, essa posição cômoda de muitos do governo não ajuda Bolsonaro, só piora as coisas.
 
Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo
 
 

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Em gafe, seguranças barram vice de Janot e mais votado da lista tríplice


Nicolao Dino foi preterido pelo presidente Michel Temer para comandar a PGR

Os minutos que antecederam a posse de Raquel Dodge como procuradora-geral da República foram marcados por uma gafe. Seguranças barraram a entrada de Nicolao Dino, vice-procurador-geral eleitoral na gestão de Rodrigo Janot e o mais votado da lista tríplice formada para escolha do chefe da Procuradoria-Geral da República (PGR). Raquel foi a segunda mais votada, e acabou escolhida para o cargo por Temer. 

Nicolao é muito próximo a Janot, que não deve comparecer à posse de sua sucessora. Os dois são de alas opostas dentro da PGR. Ele acabou preterido por Temer, porque é alinhado a Janot e também é irmão do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), adversário do clã Sarney, fiador do governo Temer. O presidente foi denunciado por Janot por duas vezes, uma por corrupção passiva e outra por organização criminosa e obstrução de justiça.

A gafe durou poucos minutos. Nicolao entrou pelo acesso destinado à imprensa, e acabou barrado pelos seguranças. O clima esquentou, em razão da reação de integrantes da PGR que estavam com o vice-procurador-geral eleitoral e que tentavam explicar aos seguranças quem era Nicolao [é óbvio e ululante que os que estavam com o vice-procurador-geral eleitoral são daquela turma que está procurando  se manter em evidência, agora que Janot pertence ao passado - um passado não muito glorificante para ele e seus áulicos.] . Os seguranças cobravam uma identificação especial, necessária para o acesso ao auditório. O acesso foi dado a ele e às pessoas que o acompanhavam logo em seguida. Eles entraram no auditório minutos antes do horário previsto para o início da posse.

Fonte: O Globo