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domingo, 27 de novembro de 2022

A Intentona coroada - Prestes era um covarde, cruel e sanguinário, mandava matar friamente e nisso se igualou ou mesmo superou o porco do Che Guevara = o fedido ou mijão

É digno de comemoração o aniversário de uma conspiração transnacional de tomada de poder através da violência armada, orquestrada por um governo que deixou em seu rastro dezenas de milhões de cadáveres?
Celebrar o aniversário da Intentona Comunista não é apenas um disparate: é um ultraje.
 

O dia 9 de novembro marca o aniversário da queda do Muro de Berlim. Por anos, esse muro foi a materialização de uma realidade que se tentava manter oculta para o resto do mundo – a adoção deliberada de repressão, patrulhamento, escassez, fome, perseguição e extermínio como políticas de Estado nos países comunistas. As notícias enviadas do outro lado da Cortina de Ferro eram aterradoras. Os vinte e seis anos da queda desse muro da vergonha deveriam ser motivo para manter viva a memória de todas as tragédias, coletivas e particulares, provocadas pelo comunismo. Mas há quem prefira, ao contrário, louvar a ideologia mais mortífera do século XX.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) promoverão, entre os dias 18 e 21 de novembro, um seminário de comemoração da Intentona Comunista. A Intentona, também conhecida como Revolução Vermelha de 1935, foi uma tentativa de golpe contra o presidente Getúlio Vargas levada a cabo pela Aliança Nacional Libertadora, organização de matiz socialista liderada por Luís Carlos Prestes – que havia, na década de 1920, liderado outra revolta, de caráter tenentista, conhecida como Coluna Prestes. De acordo com o portal da UFRN, a Intentona ensejou grande repressão por parte do governo Vargas e “o início de um anticomunismo ainda muito presente na sociedade brasileira”. A historiografia oficial nos conta que o objetivo desse movimento golpista era derrubar Vargas. No entanto, a Intentona começou a ser gestada muitos anos antes de Getúlio assumir o poder.

REVOLUÇÃO TIPO EXPORTAÇÃO
Com a vitória da Revolução Bolchevique de 1917, a liderança do Partido Comunista Russo, então liderado por Vladimir Lênin, enxergou a premente necessidade de organizar formalmente os esforços de todos os partidos comunistas do mundo para promover a revolução global. Desse modo, em 1919, foi criada a Internacional Comunista (Comintern) com o objetivo de concertar esforços, táticas e ações dos partidos comunistas de todo o mundo com o objetivo de tomar o poder em seus respectivos países e neles implantar a ditadura do proletariado. 

 Comintern, teoricamente, pautava-se pelo chamado “centralismo democrático”, onde questões programáticas eram objeto de discussão dos grupos internos da organização comunista. Na prática, esse princípio de organização leninista, que fingia ser uma espécie de fórum democrático em que debates abertos orientavam as diretrizes dos partidos comunistas, era falso: tudo era decidido pelo Partido Comunista da União Soviética (PCUS) – e, em última instância, por seus homens fortes.

Em 1922, entre os dias 5 de novembro e 5 de dezembro, ocorreu em Moscou o IV Congresso Mundial do Comintern. Partidos comunistas de 58 países enviaram delegados, sendo 343 o número de delegados votantes. Sob a presidência de Lênin e Leon Trotsky, o IV Congresso contou com a presença de personalidades comunistas importantíssimas, como o italiano Antonio Gramsci. No entanto, um dos destaques do congresso foi um ilustre desconhecido: Antônio Bernardo Canellas, delegado do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Canellas ficou famoso no contexto do IV Congresso por pedir um aparte no meio de um discurso Trotsky – o chefe do Exército vermelho chamaria o brasileiro de “o fenômeno sul-americano”.

O POTENCIAL COMUNISTA DOS TRÓPICOS
Durante o IV Congresso do Comintern, Canellas apontou a necessidade da criação de um órgão que tratasse especificamente da América Latina. A proposta foi submetida a votação, e contou com o entusiasmado apoio de Antonio Gramsci. Surgiu, assim, o Secretariado Latino do Comintern, submetido à autoridade do recém-criado Comitê Executivo da Internacional Comunista (CEIC). Em 1925, ocorreu o V Congresso do Comintern, do qual surgiu o Secretariado para a América do Sul, com sede em Buenos Aires. 

Seu principal órgão era o Escritório de Propaganda do Comintern para a América do Sul, chefiado por Abilio de Nequete, fundador e primeiro secretário-geral do PCB. Em 1927, saía a primeira edição do La Correspondencia Sudamericana, jornal do Secretariado para a América do Sul, cujo editor era o argentino Rodolfo Ghioldi. O VI Congresso do Comintern ocorreu em julho/agosto de 1928. Com o relato do sucesso das atividades do Secretariado para a América do Sul, foram eleitos sete membros latino-americanos para o CEIC – dentre eles, Rodolfo Ghioldi e o brasileiro Astrojildo Pereira, membro-fundador do PCB. Essa eleição dava proeminência considerável ao secretariado, o que representava a importância da América Latina para o Comintern e, portanto, para Moscou.

Nesse ínterim, Prestes havia liderado seu frustrado levante dos anos 1920 e, junto com outros revolucionários, exilou-se na Bolívia. Em 1928, conheceu Ghioldi, sendo recrutado pelo argentino para as fileiras do Comintern. A partir desse ano, passou a receber treinamentos específicos para a organização de uma revolução comunista no Brasil. Em 1930, retornou para o País, instalando-se clandestinamente em Porto Alegre. 

No ano seguinte, a convite do governo soviético, mudou-se para Moscou, onde sua formação ganhou profundidade e amplitude. Sua importância estratégica para o Comintern era tamanha que, ao voltar para o Brasil, em 1934, veio acompanhado de dois importantes agentes da Internacional Comunista: os alemães Olga Benário (que, depois, seria mulher de Prestes) e Arthur Ernest Ewert, oficial da NKVD (serviço secreto que precedeu a KGB).

O “CAVALEIRO DA ESPERANÇA” CONTRA-ATACA
Em agosto de 1935, ocorreu o VII Congresso do Comintern, o último antes de sua dissolução. Georgi Dimitrov, Secretário-Geral do CEIC, determinou, dentro da estratégia de “frentes populares” – organizações de massa de caráter teoricamente anti-fascista –, que o PCB apoiasse a criação da Aliança Nacional Libertadora (ANL) tendo, por presidente, Luís Carlos Prestes. O papel da ANL seria o de promover uma sublevação armada no Brasil que tinha por objetivo a implantação de uma ditadura do proletariado a soldo de Moscou. 


Para tanto, era necessário organizar um discurso de caráter nacionalista e anti-varguista que, em seu bojo, carregasse bandeiras sociais que pudessem ludibriar o povo brasileiro e atrair sua simpatia – reforma agrária, abolição da dívida externa, etc. No mesmo congresso, Prestes foi eleito membro efetivo do CEIC, e Ghioldi, chefe do Secretariado para a América do Sul.

A operação revolucionária a ser liderada por Prestes e encampada pelo PCB teria como principais pontos de apoio: o Secretariado para a América Latina; Iumtourg, uma falsa agência de turismo e casa de câmbio controlada pelo Comintern e sediada no Uruguai, por meio da qual se poderia criar uma ponte financeira entre Moscou e o Brasil; e os partidos comunistas de Argentina, Uruguai e Chile. 

Todos os agentes envolvidos haviam sido financiados pelo governo soviético e recebido treinamento militar especializado. O momento exato do início da revolta armada dependia diretamente do aval do Comintern. Os detalhes da Intentona Comunista tomam um livro inteiro – aliás, o jornalista William Waack escreveu o excelente “Camaradas”, com farta documentação comprobatória. Meu propósito não é apresentar uma análise profunda e exaustiva desse evento, que, para nossa sorte, não foi adiante. Almejo, ao traçar um breve histórico das origens da Intentona Comunista, duas coisas.

A primeira é expor esse movimento tal qual ele foiuma tentativa de golpe que tinha por objetivo a implantação, no Brasil, de uma ditadura do proletariado nos moldes soviéticos e consolidar um posto avançado da União Soviética no continente americano. A segunda é suscitar uma pergunta: o que merece ser comemorado, afinal de contas? É digno de comemoração o aniversário de uma conspiração transnacional de tomada de poder através da violência armada, orquestrada por um governo que deixou em seu rastro dezenas de milhões de cadáveres, e que, mesmo fracassada, foi capaz de exemplos detestáveis de barbarismo e crueldade – como a execução da garota Elza, uma menina semi-alfabetizada de 16 anos estrangulada à morte a mando de Prestes?

Celebrar o aniversário da Intentona Comunista não é apenas um disparate: é um ultraje. E fazê-lo por meio de instituições federais de ensino superior – o que praticamente confere à homenagem um caráter de oficialidade governamental é um ultraje além da medida. Se há algum exemplo claro e paradigmático de como as universidades federais brasileiras são ideologicamente orientadas para reproduzir o discurso hegemônico da esquerda, eis tal exemplo.

Fontes:

– John C. Clews, “As Técnicas da Propaganda Comunista”. Coleção Problemas Políticos da Atualidade, v. 1, O Cruzeiro, 1964. 283 p.
– Paul M. A. Linebarger, “Guerra Psicológica”. Editora Biblioteca do Exército, 1962. 541 p.
– William Waack, “Camaradas”. Companhia das Letras, 1993. 381 p.
– Sérgio Rodrigues, “Elza, a Garota”. Nova Fronteira, 2008. 236 p.
– Coletânea de documentos da Internacional Comunista (1919 – 1943), disponível em Marxists.org.

– Manuel Caballero, “Latin America and the Comintern 1919 – 1943”. Cambridge Latin American Studies, n. 60, Cambridge University Press, 2002. 213 p.

 

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Isto não é com você? - Percival Puggina

Pisaram na grama do vizinho. Arrancaram as flores de seu jardim. Ensinaram coisas impróprias às suas crianças e lhes falaram mal do Brasil. Controlaram as postagens do vizinho nas redes sociais. Invadiram sua casa. Levaram seu computador, seu celular e seus arquivos. Depois, o levaram também e não atendem o advogado dele. Por fim, bloquearam as contas bancárias da esposa.  
E você acha que isso não é com você? Você acha que está tudo bem, que você está “de boa” nessa?

Meu caro, a história que está passando diante de seus olhos irresponsavelmente vagos – queira você ou nãoé sua história também, ainda que se considere isento ou isentão, ou membro da  elevada estirpe moral dos omissos.

As cenas descritas sintética e simbolicamente no primeiro parágrafo desta crônica preenchem muitas páginas na história de todos os totalitarismos, de todos povos que passaram por sempre longas tiranias. Em todas elas, os vizinhos acomodados nada fizeram.  
Muitos confiaram na sorte, nos próprios meios e acabaram vítimas de algum pogrom, ou no gueto, no gulag, ou nos campos de trabalhos forçados instalados nas Unidades Militares de Ajuda à Produção (UMAP) criadas saibam disso os jovens que me leem por Che Guevara [o 'mijão' - o individuo fedia igual igual a mijo de dias guardado em um urinol..]   para isolar e reeducar os jovens cubanos dissidentes.

Ah! pare com isso, no Brasil não acontecerão coisas assim”, você talvez esteja pensando em me dizer. Pois eu também imaginava que não, até ver o que tenho visto em matéria de descarada negação da realidade e da supressão de direitos por aqueles que dizem defender a democracia e o estado de direito enquanto acabam com ambos.

Eu também nos julgava imunes a tais males, até ver a liberdade de opinião e expressão fenecer no território livre das redes sociais, como na China, ou em Cuba; até saber dos algoritmos controladores; até ver a sanha persecutória sobre essas plataformas, não por acaso as principais responsáveis pela derrota da esquerda em 2018; até ver inquéritos serem abertos para permanecer sigilosa e ameaçadoramente abertos. Eu também achava que estávamos de bem com a democracia, o estado de direito e a liberdade até perceber o Império da Lei soando como nome de escola de samba.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sábado, 27 de agosto de 2022

Medo, medo terrível, é o castigo dos tiranos. - Percival Puggina

Sempre me chamaram a atenção os traços comuns que assinalam a vida dos tiranos através da história. Todos se veem titulares de uma tarefa indelegável e impostergável no seu tempo e todos transformam essa missão em fonte de um Direito que se sobrepõe às normas e ritos.

Fidel Castro foi o tirano sobre quem mais detidamente pesquisei. Tinha um sósia baixinho, Silvino Álvarez, usado em veículos, que funcionava como alvo de plantão. Embora a residência conhecida como Ponto Zero fosse sua moradia oficial, frequentemente trocava de “sede”. Fazia-se acompanhar de uma escolta de 14 guarda-costas dispostos em quatro viaturas, sendo incógnita e errática a posição daquela em que transitava. Preservou o irmão Raúl, mas se livrou de todos os comandantes que por popularidade poderiam ameaçar sua posição: Che Guevara, Camilo Cienfuegos, Huber Matos. E assim foi fazendo ao longo das décadas.

Lênin era muito mais rigoroso. O terror que impôs tornou público o espaço privado, invadia residências, espionava fábricas e eliminava qualquer risco de divergência impondo-se sobre todos
Amotinados, grevistas, críticos eram enviados em balsas com pedras no pescoço e jogados no rio Volga, aos milhares. 
Nos anos de Stalin, tudo piorou porque o georgiano era paranoico, como foram Mussolini, Hitler, Mao, Saddam (cujo sósia cumpria agendas e circulava mais do que ele em ambiente público) e muitos outros.

É comum que tiranos sejam narcisistas. Têm-se em altíssima conta, sendo dessa vistosa autoimagem que seu poder toma vulto e transborda. Na outra ponta do mesmo circuito, porém, aparece o medo. Tiranos assombram-se com fantasmas da própria mente e criam seus bichos-papões. Por medo deles, largam pelo caminho o autocontrole, o senso de medida e de ridículo. Até a vida privada de alguns velhinhos lhes parece ameaçadora.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


domingo, 3 de julho de 2022

Cuba completa 63 anos de ditadura em tempo integral, o sonho da oposição no Brasil - O Estado de S. Paulo

 J. R. Guzzo


Na ilha caribenha sob regime comunista, dois homens foram condenados a penas de prisão por protestar contra o governo  

[No Brasil, já ocorrem prisões por protestos, a diferença é que aqui os protestos não são contra o Governo.]

Os fatos descritos a seguir foram mantidos como uma espécie de segredo de Estado pela mídia brasileira, ou por esse “consórcio de órgãos de imprensa” que hoje se apresenta em seu nome e já é para dar graças a Deus, porque qualquer notícia que fosse publicada a respeito correria o risco de ser denunciada como “fake news” pelas “agências de checagem”, ou de “verificação de fatos”. Trata-se de coisa de compreensão imediata.

Um músico de “rap” e um artista cubano foram condenados a penas de prisão em Cuba por protestarem contra o governo
O “rapper” fez um vídeo com uma canção de crítica ao regime. 
O artista colocou uma bandeira cubana nos ombros numa manifestação de rua. O primeiro pegou nove anos de cadeia – isso mesmo, nove anos por cantar uma música. 
O segundo pegou cinco, por sair com a bandeira do seu próprio país num ato pacífico de protesto
É o tipo de notícia que deixa claríssimo, mais uma vez, como funcionam as liberdades individuais e públicas em Cuba o país modelo da esquerda nacional e de seu candidato a presidente da República. 
É notícia que não sai na imprensa.
 
J R. Guzzo: 'É o tipo de notícia que deixa claríssimo, mais uma vez, como funcionam as liberdades individuais e públicas em Cuba'
J R. Guzzo: 'É o tipo de notícia que deixa claríssimo, mais uma vez, como funcionam as liberdades individuais e públicas em Cuba' Foto: Alejandro Ernesto/EFE
As canções de Maykel Osorbo, que lidera uma banda de “rappers” negros, não chegam nem perto da agressividade dos “raps” contra a lei e a polícia, e a favor do crime e dos criminosos, tão festejados no Brasil pela esquerda e pelas classes culturais.  
Mais que isso: os dois cubanos presos não organizaram, nem fizeram parte, de nenhum grupo armado. 
Não quebraram uma única vitrine em seus protestos de rua nem cometeram o mínimo ato de violência. 
Não fizeram vídeo jogando futebol com a cabeça de Fidel, ou de Che Guevara. 
Não escreveram do jornal: “Quero que o presidente morra”.  
Não chamaram ninguém de “genocida”. 
Tudo o que o músico fez foi uma canção pedindo liberdade, igualdade e comida na mesa. 
Como o sujeito pode ser enfiado nove anos numa cadeia por fazer uma coisa dessas?
 
Osorbo foi condenado por “usar imagens falsas, manipuladas digitalmente”, no seu vídeo – como se fosse um crime utilizar fantasias e recursos digitais num vídeo musical. 
Segundo o tribunal que o condenou, ele teve o propósito de “ultrajar a honra e a dignidade das autoridades máximas do país”. 
Dois dias antes do julgamento sua advogada foi afastada do caso pelo governo; puseram um outro, que não levou nenhuma testemunha de defesa. 
Tudo a ver com a linguagem, os métodos e as penas do inquérito perpétuo e ilegal que vem sendo tocado num certo país sul-americano?

Cuba está completando 63 anos de ditadura em tempo integral – mais um pouco, bate o recorde mundial da tirania comunista da Rússia, entre 1917 e 1989. Sonham fazer isso, aqui. [e vão continuar sonhando; tentaram várias vezes e fracassaram e o sonho em breve se transformará em pesadelo.]

J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 25 de abril de 2022

Black Lives Matter: vidas negras importam, desde que não atrapalhem o carnaval

 
Madeleine Lacsko

Morte no Sambódromo

Entenda por que a lacração foi tão comedida ao comentar a morte da menina de 11 anos no sambódromo: dores reais não importam.

Raquel Antunes Silva tinha 11 anos de idade. Confesso que não consegui ver os vídeos que registram o momento fatal. Ela é prensada contra um poste pelo carro alegórico da escola de samba "Em Cima da Hora", do grupo de acesso do Rio de Janeiro. Foi socorrida e operada por 8 horas. Teve uma perna amputada mas, infelizmente, não resistiu.


Acidente ocorreu por volta das 23 horas da quarta-feira, no Sambódromo - Foto: EFE/ Antonio Lacerda

O desfile prosseguiu porque o show tem de continuar, diz um dos meus sambas preferidos. Li em uma reportagem sobre o carnaval que o segundo dia de desfiles não atrasou tanto quanto o primeiro, sem mencionar o motivo.

O desespero da mãe da menina, Marcela Portelinha Antunes, contrasta com a apoteose do maior espetáculo da terra. A filha nem chegou a atrapalhar o carnaval, ele simplesmente atropelou a menina e seguiu festejando. Uma menina negra cuja família gosta de carnaval, que nem desfilando estava, havia comido um lanche estava tirando uma foto para guardar de lembrança.

A mãe passou mal, teve de ser atendida no hospital. Enterrou a filha enquanto a folia dominava o noticiário e a celebração. Ninguém merece enterrar um filho. O meu faz 11 anos mês que vem. Impossível alguém não ficar profundamente triste com a morte de Raquel, mas temos a impressão de que ninguém falou nada. Parece que ela é menos importante que o carnaval da "africanidade". Seu Che Guevara de apartamento preferido não deve ter visto essa morte.

Onde estava todo o pessoal do Black Lives Matter versão tupiniquim para dizer que vidas negras importam, mais uma criança morre e ninguém faz nada, o racismo estrutural do Brasil se revela no genocídio do povo preto, etc. Infelizmente, a morte de Raquel, uma menina de 11 anos, não se encaixa no clichê do identitarismo ou movimento woke. Ela que lute.

Seria um erro confundir o identitarismo com as minorias que ele diz defender e com as quais pretende ser confundido. Houve gente do movimento negro chorando a morte e demandando justiça. A família não calou um segundo. A cobertura de imprensa foi extensa e deu apoio à família. A polícia esteve lá

Quem não estava? Os Che Guevara de apartamento que usam qualquer morte de criança negra para sinalizar virtude. É o barulho deles que você não ouviu.

As frases emocionadas e moralistas sobre assassinato de crianças valem quando cabem na narrativa divisionista do identitarismo.   
O que importa não é a criança nem a minoria, é o inimigo que você vai atacar. 
Se o inimigo for Bolsonaro ou a polícia, por exemplo, o identitarismo vai fazer o maior carnaval com mais uma morte de criança preta ignorada pela branquitude. E a imprensa, que está coalhada de fiéis da seita wokeísta, seguirá no mesmo rumo.

Desta vez não faltou cobertura de imprensa, mas o que você viu foi o relato de fatos e o espaço para que uma família chore publicamente a dor que ninguém quer ter de enfrentar. Por que parece tão insuficiente se efetivamente não foi? Porque nós nos acostumamos a reportagens que são o mais puro suco do colunismo moralista do identitarismo. É a condenação do demônio do outro lado pelo lado do bem, o que eu defendo.

Uma menina negra de 11 anos foi morta por alguém que dirigia um carro alegórico no carnaval que resgatou a "africanidade", trouxe as religiões afro para a avenida. O identitarismo não tem o free pass para atacar isso, então a sinalização de virtude, argumentação emocional e apelos moralistas ficam de fora. Imagine que a mesma tragédia ocorresse numa motociata do presidente Bolsonaro. Qual seria a reação dos puristas do movimento woke nas redes e na imprensa?

Movimentos divisionistas que tem a ilusão de ser o lado do bem lutando contra o demônio são comuns na política em todo o mundo, mas representam a antipolítica. Essa infiltração ocorre em parte devido às redes sociais. Como esses grupos da seita woke usam os mesmos temas de muitos movimentos políticos, acabaram se infiltrando. Não podem, no entanto, ser jogados no mesmo balaio, como adorariam.

São esses os grupos que fomentam os julgamentos morais hipotéticos mais estapafúrdios. Uma criança morre em uma tragédia e eles já selecionam quem atacar. Vão apontar o dedo a alguém ou algum grupo dizendo que, se fosse uma criança branca, estaria indignado. Mas, como foi uma criança negra assassinada pela polícia, finge que nada está acontecendo. E esse pessoal não fez exatamente isso agora? Então eles também não se importam com assassinato de criança? Devagar com o andor.

Aqui está o pulo do gato para separar o joio do trigo.
Apontar para alguém com o julgamento moral pesadíssimo de que "não se importa com assassinato de criança" é ação divisionista e extremista. Eu não diria que os Che Guevara de apartamento se importam com esta morte menos que com outras. Não é por isso a diferença de reação. O identitarismo se importa mais com o inimigo a combater do que com quem sofre, é por isso a diferença.

Fatos não importam. Pessoas reais e dores reais não importam. No mundo encantado do identitarismo, você pode ser um revolucionário a partir do seu sofá em Paris. É só fingir acreditar em toda baboseira pós-modernista, aprender o vocabulário inventado para parecer inteligente e, principalmente, atacar as pessoas certas com argumentos raivosos, emocionais e moralistas.

Há duas categorias de grupos em quem o identitarismo deve bater frequentemente. A primeira e mais óbvia é o demônio. No Brasil, ele pode ser traduzido como Bolsonaro e tem como derivados a polícia, o sistema judicial [sic], o patriarcado, o racismo estrutural, etc.   
Quem está nesses grupos não deve ser tratado como ser humano e contra essas pessoas tudo é permitido, nada é errado.

O segundo grupo em quem o identitarismo precisa bater constantemente é o dos moderados. Pessoas com princípios e respeito humano são um obstáculo para empreendimentos como a seita woke. Se você não se dedica a destruir completamente alguém de quem discorda, é um empecilho para que isso seja socialmente aceito. Conclusão: você precisa ser destruído.

Entendendo como pensa o identitarismo, você consegue compreender o eloquente silêncio sobre a morte de Raquel por parte dos membros da seita. Não é porque sejam maus, moralmente inferiores, abjetos e cruéis como eles pensam que sejam todos os seres humanos fora do próprio grupo. É apenas porque, na lógica em que se organizam agora, vivem num universo em que só existem os inimigos e o combate. A própria realidade de bondade é inventada, como a tal da "africanidade" do carnaval 2022.

O identitarismo não conseguiu atacar um carnaval que resgatou a "africanidade" por não parar depois de literalmente esmagar uma menina negra de 11 anos de idade. Defender o universo simbólico é tudo o que esse grupo tem. A "africanidade" de que falam é o passado de perfeição que não existe mais, que não está mais na África. Imaginar que os orixás são a África de hoje é como pensar que grego vive indo em templo para Zeus.

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A realidade não é um empecilho apenas na hora de combater os inimigos, também é na hora de falar dos próprios ideais de bondade. A África relatada nos enredos de escola de samba é aquela de séculos atrás, de onde foram sequestrados os negros escravizados e onde passaram a dominar os negros que compactuaram com esse processo. Os árabes que tiveram enorme participação nem existem nesse cenário idílico do invasor mau contra o bom selvagem. [a maior parte dos negros transportados nos navios negreiros tinham sido aprisionados por outros negros que os venceram em guerras tribais.Os costumes daquela época impunham aos que perdiam a guerra serem vendidos como escravos.]

Os que foram traídos pelos seus
e desumanizados pelos invasores mantiveram viva aqui, no Caribe e em várias partes do mundo, uma cultura que foi esmagada. Quem vê o "africanismo" no carnaval não é informado de que a África real é predominantemente muçulmana. Aliás, os ditadores africanos de hoje amam o carnaval brasileiro e até financiam escolas que contam histórias idílicas sobre eles.

No mundo real, a africanidade do carnaval consiste em um mundo de artista bajulando ditador condenado que deixa o povo à míngua. E isso não é um julgamento moral, é o relato de um fato ocorrido em 2015. Teodoro Obiang, ditador da Guiné Equatorial, deu milhões à Beija Flor para que contasse a história de seu país de uma forma, digamos, adocicada. Deu certo. 

O identitarismo é precisamente este produto de valor: a capa de superioridade moral que te permite tungar dinheiro de corrupção de ditador africano enquanto jura defender a "africanidade" e o antirracismo. O maior inimigo desse produto não é ter opositores tão delirantes quanto ele, é a realidade. Ela se impõe.

Mostrar a história correta dos Orixás cultuados pelo candomblé não é cultura africana, já é brasileira. A maior parte dos 3 milhões de praticantes mundiais do candomblé vive no Brasil. Atualmente, quase metade dos africanos é muçulmana. Juntando com cristãos e judeus, chegamos a 91% do continente. Entre os 8% restantes, há todo tipo de religião, inclusive as mais diversas religiões originais, chamadas pela maioria de "religiões animistas".

O que existia lá foi destruído. O problema é que não foi destruído pelo inimigo em que o identitarismo quer bater, o branco europeu colonizador. Se ainda sobrou algo da cultura original de povos atacados e desmantelados, é só nas colônias deles mesmo. O tráfico de escravos pelos árabes, comum em território africano muito antes da chegada dos europeus, é o que mais incluiu imposição forçada da religião.

É possível argumentar que pessoas sequestradas e traficadas como escravas não adotam a religião do outro porque encontraram a fé. Existe obviamente uma dinâmica de coerção e poder utilizada pelos colonizadores cristãos. Mas os muçulmanos não se contentam com a declaração de fé, há que se fazer a sharia. A religião deve ser lei, as duas coisas em uma.

O carnaval brasileiro não celebra a África, celebra uma cultura que pode ter vindo de diversos países africanos, mas hoje só existe aqui. Também é a celebração mais aberta da nossa hipocrisia. A união perfeita do espetáculo com o crime organizado, dos artistas e poderosos com o que chamam de escória nos outros meses do ano. Ao povo participante da festa resta fingir que não vê a indecência e sonhar um pouco enquanto não é atropelado.

E, verdade seja dita, o carnaval de avenida já foi apropriado pela elite. Pouco a pouco vão morrendo os grandes sambistas que criaram e preservam um patrimônio cultural único. As escolas de samba vão misturando o crime organizado agora à elite, não mais ao baixo clero. Interessam as atrizes e comentaristas intelectuais que se metem no meio do carnaval. O espaço da cultura do samba encolhe porque o que faz o mundo girar é dinheiro, não beleza.

A maioria do povo não participa do carnaval de avenida
. Os ingressos são proibitivos. A elite da comunicação que lucra com a festa trata de convencer o brasileiro de que aquele é o retrato dele.

Elza Soares, ícone do samba, que morreu este ano, encerraria o desfile da sua Mocidade Independente de Padre Miguel.
A escola resolveu deixar o trono vazio, uma manifestação artística emocionante. Ninguém ocupa o lugar de Elza. A transmissão oficial da Globo não percebeu, não informou os brasileiros. Não importa, a transmissão inovou com uma apresentadora negra alfinetando a branquíssima Gabriela Priolli. É sobre isso.

Leia também: como o 'black lives matter' se tornou uma grande negócio.

Madeleine Lackso, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

A TOLERÂNCIA E OS INTOLERANTES - Percival Puggina

A manifestação de um “influenciador” digital dizendo-se favorável à criação de um partido nazista causou surpresa e justa indignação. Quando algo assim acontece, retoma-se, simetricamente, o tema da legitimidade ou não da existência de partidos comunistas no Brasil e a circulação de seus símbolos. 

 https://www.puggina.org/admin/files/artigo_galeria/artigo_galeria11311509022022_1_.png

A simetria se aplica ao caso. As duas doutrinas e os regimes delas derivados são genocidas. Causaram terríveis sofrimentos à humanidade quando alcançaram o poder. São contra e atuam contra direitos fundamentais da pessoa humana. Na semana passada, em Curitiba, liderados por um vereador do PT, portando bandeiras de um partido comunista, baderneiros invadiram a igreja do Rosário durante a celebração da missa. Dá-lhes poder e logo verás os resultados.

Países que viveram sob o comunismo proibiram a exibição de seus símbolos. Entre eles, nomeadamente, Hungria, Letônia, Polônia, Lituânia, Ucrânia, Geórgia, e Moldávia. Na Polônia, até camisetas de Che Guevara [o porco, o fedorento, o mijado]são proibidas.

[Comunismo e esquerda mataram mais de 100.000.000 de inocentes

Comunismo e esquerda mataram
mais de 100.000.000 de inocentes

VITIMAS do COMUNISMO e da
ESQUERDA]

Em agosto de 2020 circulou na Internet que Os Estados Unidos proíbem filiados de partido comunista ou de qualquer outro partido totalitário de obterem residência no país. O fato causou reboliço e alguém  pediu à Lupa (agência verificadora, ou de fact checking) que averiguasse a autenticidade da informação. A Lupa retornou pela tangente. “Verdadeiro, mas...”, carimbou na matéria. Em resumo, a informação é verdadeira, mas não recente, como dava a entender a notícia.

Ou seja, não era bem assim, era pior. Acontecera que, poucos dias antes, o Serviço de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos emitira uma nota relembrando o teor da Lei de Imigração e Nacionalidade, vigente desde 1952. Quem redigira a informação tomara o lembrete como se fosse norma nova.

Em relação à sua segurança interna, os Estados Unidos não são bobos há muito mais tempo. Por isso, os comunistas lá nativos percorrem o caminho da tomada, por dentro, dos espaços culturais, como tão bem observou – com razão – o Olavo de Carvalho. Daí para o poder político há um caminho curto e indolor. É o que acontece, de modo sistemático, em todo o Ocidente. Mas este é outro assunto.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.