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segunda-feira, 12 de junho de 2023

Os dilemas de Lula e as estranhas decisões do Judiciário - Alexandre Garcia

Gazeta do Povo - VOZES

Nos próximos dias, Lula terá que tomar decisões difíceis que envolvem o agronegócio, ambientalismo e aliados políticos [Resultado: vai dar ... vai feder e f ... com os brasileiros]

Nos últimos dias, o presidente Lula, na solidão da praia baiana, lá na base naval de Aratu, deve ter pensado muito sobre os seus dilemas, que ele tem evitado voando para o exterior – agora, depois do dia 20, vai para Paris.
Quais são os dilemas? Ele tem que tomar uma decisão: ele não gosta do agro? O agro é fascista? 
O agro é contra ele? Ele adora a Marina e o Ibama? E o ambientalismo? Vai ter que tomar decisões, porque as pessoas ficam esperando. O que vai acontecer?
 
O agro hoje, que tem 300 deputados federais entre os 513, já é uma pesada maioria em praticamente todos os partidos. 
E por outro lado, Lula tem seus amores pelo MST e está meio em rusga com a Marina e com o Ibama. Afinal sai uma ferrovia para escoar grãos, e “ah, mas tem um parque ali, a ferrovia não pode...”. 
E pode explorar petróleo na foz do Amazonas antes que o petróleo perca todo o valor?  
Vamos deixar essa riqueza no solo? Ele vai ter que tomar uma decisão. 
É difícil, mas vai ter que tomar uma decisão.
 
A estranha decisão do STF, que anulou apreensão de 695 quilos de cocaína
E outra decisão muito estranha – eu não comentei aqui ainda – foi a anulação, pelo Supremo, da apreensão de 695 quilos de cocaína num armazém no porto de Itaguaí, no Rio de Janeiro, porque não houve mandado de busca e apreensão. 
A polícia recebeu uma denúncia anônima, havia indícios fortes do cometimento do crime, e estava lá a prova do crime.  
A Polícia Civil foi a primeira a entrar, mas a Polícia Federal foi chamada, porque era competência dela. E tudo foi anulado.
 
Mas aí eu comparo com o que fizeram com o celular do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Cid: apreenderam o aparelho para ver a história do cartão de vacina, mas na verdade foi para bisbilhotar as mensagens dele. 
Também a busca e apreensão não está aí para fazer bisbilhotagem e quebrar todo o sigilo que é garantido pela Constituição. 
E aí começa: “Ah, parece que nas mensagens fala em golpe e tal”. É um negócio assim, o terreno da fofoca.
 
STF contrariou novamente entendimento do TRE, desta vez para mudar substituto de Deltan
Outra coisa estranha é que mais uma vez o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) é contrariado por Brasília, pelo Judiciário de Brasília. 
Primeiro o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contrariou cassando o Deltan Dallagnol, após o TRE do Paraná considerar o registro dele pleno e legal. Mas depois acharam que sua candidatura era para fugir da possibilidade de, no futuro, ele responder por uma ação disciplinar.
 
E agora a escolha do suplente: O TRE-PR disse que suplente do Deltan deveria ser o pastor Itamar Paim, do PL, que é bolsonarista e teve 47 mil votos nas eleições do ano passado. Mas o Supremo diz que é o Luiz Carlos Hauly, que somou 11 mil votos. 
Ele é do mesmo partido do Deltan Dallagnol – já foi sete vezes deputado federal. Enfim, são coisas que o leigo não consegue entender, né? É meio difícil para o leigo entender.
 
Djokovic tricampeão e as vacinas
Por fim, queria mencionar aqui a vitória do Novak Djokovic no Roland Garros. Tricampeão!  
Ele, que está com quase 100 títulos e mais de mil vitórias, esfrega na cara dos australianos – que, numa atitude obscurantista, como lembra o deputado Osmar Terra (MDB-RS), chegaram a impedi-lo de competir porque não tinha cartão de vacina, e sim um certificado atestando que já havia tido Covid-19 e, portanto, estava com a defesa natural em dia, em ordem, e não tinha como pegar a doença de novo, nem passar para os outros.
 
Pois é. Essas coisas todas acabaram prejudicando, aqui no Brasil, a necessidade de as pessoas tomarem as vacinas normais, já aprovadas, testadas, que não são experimentais. 
 Essa rotina de vacinas, inclusive para as crianças, está sendo prejudicada, infelizmente, pelo que sobrou da experimental. É uma pena isso.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 


domingo, 12 de fevereiro de 2023

Juízes e servidores resistem à volta do trabalho presencial e CNJ alerta para fóruns esvaziados - O Estado de S. Paulo

 Conselho Nacional de Justiça determina restabelecimento do cotidiano de trabalho pré-pandemia até a próxima quinta-feira; servidores reclamam de prejuízos à ‘rotina'

Quase três anos após o início da pandemia da covid-19, magistrados e servidores do Poder Judiciário resistem à volta das atividades presenciais, enquanto há varas e tribunais esvaziados pelo País. Advogados não encontram juízes e denunciam processos paralisados, além de longa espera por uma audiência.

Associações e sindicatos se insurgiram contra uma ordem de retorno aos postos de trabalho imposta pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Servidores reclamam de prejuízos à “rotina” e ao “ambiente familiar” daqueles que moram fora das comarcas e usam como argumento, inclusive, a “vida organizada no exterior”.

A decisão contestada é do CNJ, de 17 de novembro de 2022. Sob o comando da ministra Rosa Weber, os conselheiros derrubaram resoluções de 2020, do ex-presidente Dias Toffoli, que permitiram o adiamento de atos processuais e o teletrabalho.  
A nova resolução determina o prazo de 60 dias para o estabelecimento da rotina pré-pandemia, que se esgota na quinta-feira.
 
O colegiado também mudou uma resolução de 2016 sobre o teletrabalho de servidores e impôs que a modalidade seja limitada a 30% dos quadros das varas e Cortes. 
Ficou decidido ainda que seria criado um grupo de trabalho, com quadros do CNJ e juízes, para implementar a volta ao presencial e monitorar o avanço das atividades presenciais.
Sob o comando da ministra Rosa Weber, a CNJ determinou que juízes deveriam retomar a rotina em até 60 dias; prazo se esgota na quinta-feira, 16.
Sob o comando da ministra Rosa Weber, a CNJ determinou que juízes deveriam retomar a rotina em até 60 dias; prazo se esgota na quinta-feira, 16. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

Relator dos casos que levaram à edição da resolução, o conselheiro Luiz Philippe de Melo Filho, que é ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), afirmou que “o retorno da magistratura aos seus respectivos locais de trabalho é imperativo inegociável neste momento em que toda a sociedade brasileira já voltou à situação de normalidade”. Segundo ele, as antigas resoluções dão ensejo a “inúmeras interpretações díspares que prejudicam severamente a vida do jurisdicionado brasileiro” – que, no caso, é o cidadão.

“O retorno da magistratura aos seus respectivos locais de trabalho é imperativo inegociável neste momento em que toda a sociedade brasileira já voltou à situação de normalidade”

Luiz Philippe de Melo Filho, ministro do TST

A Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público (Frentas), que reúne as principais entidades das categorias, acionou o CNJ, no entanto, com pedido para a prorrogação do prazo. A Frentas alega que a adaptação ao presencial “demandará tempo” e ainda afirma que “exigirá a nomeação de novos magistrados, promotores de Justiça e defensores públicos”.

Entidades ligadas aos servidores também se rebelaram. A Federação Nacional dos Servidores do Judiciário (Fenajud) diz que “será afetada toda a vida de servidores e magistrados de todo o Poder Judiciário que eventualmente estejam em teletrabalho”. Para a Fenajud, haverá “prejuízos irreparáveis na alteração de sua rotina, seu ambiente familiar, já que alguns residem em localidade distante da comarca de lotação”.

Já o Sindicato dos Servidores da 7.ª Região da Justiça do Trabalho (Sindissétima) argumenta que a resolução inspira “sensação de injustiça e inconformismo”: E a vida organizada dos servidores que estão em outros Estados ou no exterior? Como alguém poderia adivinhar que o CNJ iria impor, sem que exista nenhum problema real de atendimento ao público, funcionamento das unidades ou produtividade, uma restrição dessa natureza?”

‘Abandono’
Apesar das queixas, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pressiona pelo trabalho presencial. A entidade foi aos autos para endossar a decisão do CNJ. Melo Filho negou todos os pleitos das associações e dos sindicatos.

“A OAB entende que a adoção de novas tecnologias para agilizar os atos processuais é benéfica desde que amplie o acesso da população à Justiça, não seja um impeditivo. Por isso, a escolha sobre o modelo das audiências, se presencial ou virtual, deve ser feita pelo jurisdicionado de forma a atender a realidade e a possibilidade de cada um”, afirmou o presidente nacional da entidade, Beto Simonetti.

No acompanhamento do retorno aos tribunais, o CNJ tem recebido denúncias ou mesmo constatado em correições a ausência de juízes em fóruns, o que prejudica a população. Durante inspeção no Tribunal de Justiça do Pará (TJ-PA), na última semana, o corregedor nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão, que é ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), invocou osenso de responsabilidade da magistratura”.

“Temos notícia de que, em muitos Estados, o que estava acontecendo era uma situação de quase abandono, principalmente no interior”, disse o corregedor. Salomão pediu ainda a atenção das corregedorias ao retorno presencial. "Em muitos Estados o que estava acontecendo era uma situação de quase abandono, principalmente no interior”

Luis Felipe Salomão, coordenador de Justiça


Inspeções
No fim de outubro de 2022, oito juízes e 34 servidores ligados à Corregedora Nacional de Justiça fizeram uma inspeção nos edifícios do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), que fica a apenas nove minutos da sede do CNJ, em Brasília, e encontram os prédios esvaziados de servidores e magistrados. De outros Estados, denúncias de advogados também chegaram ao órgão.

Até o momento, foram sete procedimentos para apuração, mas nem todos vão virar processos, porque a averiguação é preliminar e parte deles tinha aval de regras específicas de cada tribunal para ficarem fora do local de trabalho. No entanto, a situação evidencia a redução da estrutura judicial, sobretudo em cidades pequenas e pobres.

No caso do DF, a Corregedoria recomendou à Corte, por exemplo, a abertura de uma sindicância para investigar a conduta de uma juíza que também se utilizava do teletrabalho. Segundo a corregedoria, ela estava adiando por meses a realização de audiências com réus presos – que têm prioridade. O restante do TJDFT também vem sendo acompanhado de perto.

Em Igarapava (SP), os juízes Joaquim Augusto Simões Freitas e Pedro Henrique Bicalho Carvalho, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), foram denunciados à Corregedoria pela OAB local. A presidente da entidade na região, Nilva Maria Pimentel, relatou ao CNJ que os magistrados não moram lá e nem sequer comparecem ao fórum para solucionar os casos urgentes”. Segundo ela, há processos parados há cinco meses. Salomão mandou a Corte apurar a conduta dos magistrados.

Casos como esses serão averiguados nos próximos meses pelo CNJ, que abriu um canal de denúncias e vem recebendo queixas. O TJ-SP informou que a Corregedoria acompanhou o trabalho dos magistrados de Igarapava e “detectou que, apesar do elevado número de feitos distribuídos, há produtividade elevada, o que tem permitido a redução do acervo da comarca”. O tribunal disse também que os magistrados têm autorização para residirem fora da comarca. Procurado para responder em nome de seus magistrados, o TJDFT não havia se manifestado até a publicação desta reportagem.

Diálogo
As associações de representação de magistrados e os sindicatos de servidores afirmam que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) não promoveu o debate necessário ao determinar o retorno das atividades presenciais. [em nossa opinião, cabe perguntar: debater o que e para que? cessada a causa, com o fim da pandemia, o NORMAL,o ÓBVIO SALTITANTE - nossa homenagem ao 'estridente' - é voltar ao TRABALHO PRESENCIAL.] As entidades alegam, ainda, que o teletrabalho propiciou aumento do número de decisões, ao dispensar reunir todas as partes em um mesmo fórum e na mesma data.

Ao Estadão, o presidente da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), Frederico Mendes Júnior, afirmou ser favorável à manutenção do trabalho a distância e disse que ele proporcionou “ganhos de produtividade e economia aos cofres públicos, além da ampliação do acesso à Justiça”. "

“Para se ter uma ideia, o total de decisões proferidas pelo Judiciário cresceu 16% em 2021 e cerca de 9% em 2022, durante o período de isolamento social, quando o teletrabalho foi a regra”, afirmou. [esse cidadão é parte e sua opinião deve ser ignorada.]

No processo que levou à resolução do CNJ, de 17 de novembro de 2022, a Frentas afirma que “cumpre ressaltar, também, que, ante o início do período de recesso e férias forenses, não se teve tempo hábil para oitiva dos representantes da sociedade civil, especialmente daqueles ligados ao sistema de justiça”. “Tampouco houve tempo para a realização dos estudos e análises pertinentes”, argumenta.

‘Unilateral’
Já a Fenajud alega que a medida foi tomada de “forma unilateral”. O Sindicato dos Servidores da 7.ª Região da Justiça do Trabalho (Sindissétima), por sua vez, afirma que, “apesar de demonstrar uma preocupação legítima com o bom funcionamento da atividade jurisdicional”, a decisão, “pelo fato de não ter debatido adequadamente a questão com os servidores e suas entidades representativas, acabou adotando um caminho equivocado”. Segundo a entidade, a medida “trará, na verdade, prejuízos severos ao bom funcionamento da Justiça e à vida dos servidores”. [a medida pode e até deve ser tomada de forma UNILATERAL = é apenas voltar a uma situação que vigora desde o século passado.]

Política - O Estado de S.Paulo


quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Os brasileiros saíram da caverna - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Aqueles que vivem na ignorância resistem à verdade. Mas não tem jeito, muita gente já descobriu que as sombras refletidas na parede não eram reais 

Desde o começo de 2020, quando a pandemia assustou o mundo, uma nova rotina de viagens e protocolos draconianos foram instaurados, e eu não consegui mais ir ao Brasil. Depois de quase dois anos sem pisar na terra que habita o meu coração, finalmente pude passar três semanas entre os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, além de uma rápida ida a Brasília. E que três semanas!
 
Foto: Shutterstock
 
Foto: Shutterstock

Logo nos primeiros dias, participei da edição brasileira do CPAC (Conservative Political Action Conference) em Brasília. 
O CPAC nos Estados Unidos, agora levando suas franquias por vários países do mundo, é uma conferência política anual com a presença de ativistas conservadores, políticos de todo os Estados Unidos e de outros lugares, e é organizado pela American Conservative Union (ACU). Fundado em 1974, o CPAC tem servido como um barômetro para o movimento conservador norte-americano — e agora mundial. Ronald Reagan, o 40º presidente norte-americano, discursou na cerimônia de estreia e, com 13 aparições, foi o presidente que mais participou do evento.

Já em Brasília, percebi que alguma coisa está transformando o brasileiro em um apaixonado por política. Política mesmo, com todo o pacote histórico global. Talvez a eleição de 2018 tenha contribuído com essa percepção, mas creio que há algo maior nesse “despertar”. Percebi que não havia uma idade média dos participantes nesta edição do CPAC, e isso foi muito marcante para mim. Tive a chance de bater bons papos com pessoas de 15, 20, 40 e até 75 anos! Adolescentes contando que haviam feito trabalhos na escola sobre o legado de Reagan, Winston Churchill, Margaret Thatcher e até sobre o brilhante pensador contemporâneo Thomas Sowell. Nem em meus mais profundos sonhos imaginei estar discutindo Reagan, que aprendi a admirar ouvindo histórias com o meu pai, com adolescentes no Brasil. Em Brasília, discutimos liberdade, responsabilidade, Constituição, perseverança para mudar os ares políticos no Brasil e planos, muitos planos. Saí da capital federal com o coração transbordando esperança e caí no histórico 7 de Setembro de 2021 na Avenida Paulista.

Ainda tento encontrar palavras para descrever o que vi e senti naquele dia. Como todos sabem, não foi um 7 de Setembro comum. Havia muito em jogo. Havia uma mensagem a ser entregue. 
Havia uma ferramenta de freios e contrapesos em nossa Constituição para ser usada entre os Poderes da República que foi ignorada. 
E há o povo, com seu poder supremo. E que povo! 
Quarteirões e quarteirões de povo. Não, não li na outrora relevante imprensa sobre o evento com “pouco mais de 100 mil pessoas”. Eu estava lá. E andei… e andei… e andei por muitos quarteirões lotados de gente de todas as idades até conseguir entrar na Avenida Paulista. 
As ruas pareciam o auditório do CPAC em Brasília elevado a sei lá que potência. Muita gente pequena, gente grande, gente jovem e idosos, negros, brancos, gays, héteros, pobres e ricos. Todos de verde e amarelo. Nunca havia visto nada igual.
 
Não consegui evitar que passasse pela cabeça um longo filme de 24 anos como atleta profissional.  
Todas aquelas viagens pelo mundo, todas elas com um uniforme verde e amarelo que transbordava orgulho da mala.  
Nosso Hino Nacional tocava em alguns carros espalhados pela Paulista, e o filme olímpico com nosso hino nos pódios insistia em voltar para trazer algumas lágrimas que tentei esconder. Estava em uma grande — na verdade, gigantesca — delegação olímpica pelo Brasil. A maior e mais bonita delas. E não havia lixo jogado nas ruas, baderna, vandalismo, brigas e discussões. Havia um grande senso de civilidade e responsabilidade, tão forte que poderia quase ser tocado no ar. Havia uma paixão profunda encrustada nos rostos das pessoas. Elas tinham o mesmo semblante de quando tirávamos da mala nossos uniformes novos com a bandeira do Brasil bordada na manga, como as que os soldados usam em seus uniformes nas guerras.

Às vezes, a cabeça ficava vazia, sem pensamentos. Eu apenas entrava em estado de transe diante de tantas imagens de que jamais esquecerei, tantas nuances de verde e amarelo, tantos sorrisos. Sim, sorrisos apesar de tudo que estamos vivendo no Brasil. Todas as incongruências dos parlamentares, as canetadas nada republicanas do STF com todo o seu descaso com a nossa Constituição. E, tentando decifrar aquela avalanche de informações em forma de imagens sobre a nova realidade do brasileiro e sua paixão pelo país e pelas ferramentas que podem transformá-lo em nação, lembrei de uma passagem da obra-prima do filósofo grego Platão, A República.

A “Alegoria da Caverna” é provavelmente uma das histórias mais conhecidas de Platão, e sua colocação em A República é significativa. A República é a peça central da filosofia de Platão, preocupada principalmente em como as pessoas adquirem conhecimento sobre beleza, justiça e o bem. A “Alegoria da Caverna” (ou Mito da Caverna) usa a metáfora dos prisioneiros acorrentados no escuro para explicar as dificuldades de alcançar e manter um espírito justo e intelectual.

A subida para fora da caverna é a jornada da alma na região do inteligível

A alegoria é apresentada em um diálogo entre Sócrates e seu discípulo Glauco. Sócrates diz a Glauco para imaginar pessoas vivendo em uma grande caverna subterrânea, que só é aberta para o exterior no fim de uma subida íngreme e difícil. 
A maioria das pessoas na caverna é de prisioneiros acorrentados de frente para a parede posterior, de modo que não podem se mover nem virar a cabeça. Uma grande fogueira queima atrás deles, e tudo o que os prisioneiros podem ver são as sombras brincando na parede à sua frente. Eles foram acorrentados nessa posição durante toda a vida, desde a infância. Há outras pessoas ali dentro carregando objetos, mas tudo que os prisioneiros podem ver são suas sombras. Alguns deles falam, mas há ecos que tornam difícil para os prisioneiros entenderem quem está dizendo o quê.

Em seguida, Sócrates descreve as dificuldades que um prisioneiro pode ter para se adaptar à libertação quando ela acontece. Quando vê que há objetos sólidos na caverna, e não apenas sombras, fica confuso. Os instrutores podem dizer a ele que o que viu antes era uma ilusão, mas, a princípio, ele presumirá que sua vida sombria era a realidade. Eventualmente, será arrastado para fora e ficará dolorosamente deslumbrado pelo brilho do sol e atordoado pela beleza da lua e das estrelas. Assim que se acostumar com a luz, terá pena das pessoas no interior da caverna e desejará ficar fora e longe delas, não pensando mais nelas e em seu próprio passado.

No capítulo seguinte de A República, Sócrates explica o que quis dizer, que a caverna representa o mundo, a região da vida que nos é revelada apenas pelo sentido da visão. A subida para fora da caverna é a jornada da alma na região do inteligível. O caminho para o esclarecimento é doloroso e árduo, diz Platão, e exige que façamos quatro estágios em nosso desenvolvimento: a prisão na caverna (o mundo imaginário, aquele que nos foi vendido como a única opção desde cedo), a libertação das correntes (a entrada no mundo real), a subida para fora da caverna (o mundo das ideias) e o caminho de volta para ajudar nossos companheiros.

Nessa passagem da obra-prima A República, creio que seja pertinente observarmos que a educação é dolorosa. Por mais confinado que seja o mundo lá embaixo diante da parede, ninguém sai da caverna feliz. O processo de aprendizagem envolveu o reconhecimento do homem de que tudo o que ele aprendeu ou ouviu na vida e tudo o que ele pensava ser verdade eram uma ilusão — nada além de sombras de coisas reais. Pode ser doloroso ser levado à verdade. Por muitas vezes, ela é acompanhada pela desconfortável compreensão de nossa própria ignorância e pelo fato de que muitas de nossas crenças e suposições mais queridas e mais íntimas eram falsas. O processo de aprendizagem muitas vezes envolve desafios, suas pressuposições fundamentais e, em última análise, desistir do que era caro para cada um de nós. E esse processo pode ser perturbador.

Na obra como na vida real, quando o prisioneiro é libertado e arrastado para fora da caverna, ele está cego e confuso pela luz, e pode resistir a ser levado para fora. No entanto, eventualmente, seus olhos se ajustam para que ele possa ver as coisas ao seu redor, e até mesmo o próprio sol. Quando o homem volta para a caverna é ridicularizado e até ameaçado de violência. As pessoas na caverna dizem que não querem sair, que querem ficar com o que é familiar, sem correr o risco de pensar em desistir de algo maior. Muitos podem até responder com ódio ou violência se empurrados para a verdade.

E fica cada dia mais claro. Aqueles que vivem na ignorância, na militância ou na prostituição intelectual resistem à verdade. Mas não tem jeito. Milhões de brasileiros saíram da caverna e descobriram que as sombras refletidas na parede não eram reais, que fomos manipulados e empurrados por tempo demais para que não chegássemos à superfície para apreciar o sol. O último 7 de Setembro mostrou que o Brasil não vai mais voltar para a escuridão.

Leia também “A história como liderança”


Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 29 de maio de 2015

Vendida para o EI, menina era obrigada a recitar o alcorão durante estupros

Os horrores de ser escrava sexual no Estado Islâmico

A cada dia que passa o Estado Islâmico comprova que não possui limites. Uma adolescente de 17 anos, vendida como escrava sexual ao grupo, relatou o desespero dos dias que viveu nas mãos do grupo. Atualmente, ela está grávida de três meses.
 


A garota descreveu sua rotina e relatou todo o horror que passava. Ela era estuprada diariamente por seu “dono” e, além disso, era obrigada a satisfazer todas as vontades dele com a ameaça de ser chicoteada. Uma das principais ordens, diz ela, era de recitar o alcorão durante o estupro.

Quando não realizava todos os desejos sexuais dos estupradores, ela afirma ter sido agredida com chibatadas e com água fervente derramada em suas coxas. De acordo com o relato, ainda, ela diz que sempre seu “dono” convidava um amigo para participar do estupro.

A jovem de 17 anos foi sequestrada em agosto do ano passado quando o EI invadiu Shingal. Ela foi algemada e mantida em um hotel com outras mulheres, que antes de serem vendidas passavam por um exame para comprovar suas virgindades.

O exame era apenas o começo da venda,
uma vez que, comprovada a virgindade, as meninas eram enfileiradas em uma sala de 40 homens que as selecionavam pelo cheiro. O responsável pela “compra” da jovem que denunciou os abusos levou com ela outras três meninas, sendo uma delas a irmã de apenas 10 anos.


domingo, 22 de fevereiro de 2015

Suleymane S., adotou um comportamento de confronto com uma torcida enlouquecida

Da marcha triunfal à rotina

Na França a associação de ‘ralé’ com ‘futebol’ tem causado um desconforto específico, mais autóctone

“Nenhum dos que estavam ali me defendeu. Mas, pensando bem, fazer o quê?” A pergunta que fica no ar foi feita por Suleymane S., protagonista da cena de racismo explícito ocorrida esta semana no metrô de Paris.

Ela durou pouco mais de dois minutos. Suleymane S., um franco-mauritano de 33 anos nascido em Paris, terminara o trabalho e aguardava na estação Richelieu-Drouot o metrô que o levaria de volta para casa. O trem chegou bastante lotado. Antes mesmo da abertura das portas, podia-se ouvir a cantoria de torcedores do time de futebol inglês Chelsea. Estavam a caminho do Parc des Princes para assistir às oitavas de final da Liga dos Campeões contra o Paris Saint-Germain.

Quando as portas do trem se abriram, só Suleymane andou em direção à muralha de hooligans para entrar no vagão. Os demais passageiros da plataforma preferiram aguardar. Foi ejetado pela linha de frente do bando aos empurrões e gritos de “Somos racistas, somos racistas, é isso aí”. Sem se alterar, tentou novamente cavar um espaço para entrar no vagão, mas justamente sua compostura calma parece ter exaltado ainda mais os ingleses. Foi expelido de volta à plataforma. Mesmo quem assiste ao vídeo no conforto de casa em outro país, outro continente, pode sentir o peso da humilhação pública daquele homem. Nenhuma das pessoas da plataforma fez qualquer movimento. Dos vagões adjacentes houve curiosidade, mas não reação.
 [RAW] Racist Chelsea Fans Prevent Black Man Boarding Paris Metro Train | VIDEO 

Sequer um impulso equivocado de solidariedade, como o apertar do botão de emergência.
É a vida que segue, um fait-divers desagradável. Não passaria disso não fosse o instinto do videojornalista Paul Nolan, que sacou o celular, filmou o essencial e o vídeo se tornou viral.
É provável que boa parte dos que presenciaram a cena estava entre os quatro milhões de participantes da marcha contra a intolerância e a liberdade de expressão do dia 11 de janeiro, em Paris. A comunhão nacional do “Nous sommes tous Charlie” ocorrera em repúdio a um duplo atentado terrorista que fizera 17 vítimas, enquanto no episódio desta semana não morreu ninguém, sequer ferimentos físicos houve. Mas 4.000.000 x 0?
[a comparação é desprovida de sentido:  o repúdio ao atentado terrorista contra o Charlie Hebdo é perfeitamente compreensível, já que a matança teve como motivo um comportamento jornalístico, de deboche  - portanto, inadequado - em relação ao islamismo.
Já a conduta dos torcedores do Chelsea, além de não representar crime na França, pode ser atribuída a um comportamento típico de torcedores fanáticos - inadequado,  mas que existe. Tanto que torcedores do Corinthians assassinaram, e permanecem impunes, uma criança boliviana em Orubo, Bolívia.
Convenhamos que  Suleymane S., adotou uma conduta de confronto com os torcedores ingleses - foi o único na plataforma a ter um comportamento belicoso contra os torcedores. Os demais passageiros preferiram esperar um outro trem - o que deixa evidente o caráter não racial da conduta dos ingleses.]


Poucos dias após a triunfal marcha de janeiro, o presidente François Hollande chegou a ser ovacionado de pé na Assembleia Nacional. Na ocasião, todos os deputados entoaram espontaneamente a “Marselhesa”, algo que não ocorria desde a assinatura do armistício que encerrou a Primeira Guerra Mundial em 1918. Desta vez, nenhum político francês de expressão se manifestou, nem era esperado que o fizesse. O episódio, além de corriqueiro, ficaria relegado à seção de Esportes na mídia.

De fato, ele foi considerado gravíssimo pelas instâncias mais altas do futebol mundial, engrossará a lista de crimes de xenofobia e violência racial no esporte e levará à nova revisão do rol de medidas coercitivas a hooligans. Ainda bem, pois a violência em campo, nas arquibancadas, no entorno dos estádios ou alhures só tem aumentado. Em Paris o caso Suleymane gerou a abertura de um inquérito por crime de “violência racial voluntária em um meio de transporte coletivo”, com a investigação a cargo do Serviço Transversal de Aglomeração em Eventos (STADE), uma unidade especial da polícia metropolitana. Os suspeitos já teriam sido identificados, todos convenientemente estrangeiros, hooligans e ralé.

Na França a associação de “ralé” com “futebol” tem causado um desconforto específico, mais autóctone, desde a publicação do livro “Racaille Football Club” , do jornalista Daniel Riolo. Nele, o autor disseca o DNA da seleção francesa que, em 2012, eliminada da Eurocopa, amargara o seu terceiro fracasso consecutivo em campeonatos de grande porte. 

O fracasso da equipe dos Bleus, formada à época por uma maioria de jogadores negros ou de origem árabe, vindos da periferia, levou o atual presidente da União dos Clubes Profissionais de Futebol da França, Jean-Pierre Louvel, a admitir: “Chega de hipocrisia. Todos os clubes adotam algum tipo de cota. Negá-lo seria absurdo”.

O dirigente reconhecia o que fora revelado pelo jornal eletrônico “Médiapart em 2011". Naquele ano, uma reunião da cúpula da Federação Francesa de Futebol discutira a adoção de cotas raciais nos centros de formação do país, com o objetivo de limitar o número de jogadores franceses negros ou de origem árabe. Para Laurent Blanc, à época presidente da federação e hoje técnico do PSG “se você tem 60% ou 80% de jogadores de origem africana, isso não é um mal em si... mas a vida social desse clube deixa de ser o que era”.

Um dos argumentos para justificar o projeto de cotas era a morfologia dos jogadores:  devido ao excesso de negros, considerados “mais altos, mais potentes e mais musculosos”, seria necessário abrir espaço para jogadores brancos, mais técnicos, de estatura mais baixa e mais ágeis.  Blanc acabou tendo de pedir desculpas e o projeto de cotas não se oficializou, mas, como admite o presidente da União dos Clubes, ele existe e negá-lo seria absurdo.

Souleymane S., o agredido no metrô, não é jogador de futebol. É contador numa firma e, por não falar inglês, não entendeu o que lhe gritavam os hooligans do vagão. “Só entendi que me repudiavam por causa da minha cor”. Em entrevista ao jornal “Le Parisien”, que o localizou no dia seguinte, contou não ter ficado tão surpreendido com o que lhe acontecera “pois vivo o racismo. Apenas nunca tinha me acontecido no metrô”.

Depois de agredido, aguardou o trem seguinte e foi para casa. Não contou nada à mulher nem aos três filhos. “Dizer o quê? Que o pai deles tinha sido ofendido por ser negro? Isso não leva a nada”, concluiu. Suleymane S. lembrava de uma pessoa que se aproximou dele na plataforma para dizer que ele fora corajoso. Mas lembra sobretudo que ninguém mais se mexeu. É a vida que segue, sem marcha republicana.

Por: Dorrit Harazim é jornalista - O Globo