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terça-feira, 14 de março de 2017

Lula lá? Entre a herança maldita do PT e a herança da Lava Jato

Dilma foi deposta pela repulsa ao modelo criado pelo PT. A repulsa à política é a melhor chance que as esquerdas têm de voltar ao poder

Lula será ou não candidato à Presidência da República? Se não se enroscar com a Justiça, será. Em abril, o partido deve fazer o, vamos dizer, lançamento da pré-candidatura. Será antes de 3 de maio, quando ele comparece à 13ª Vara Federal de Curitiba para prestar depoimento ao juiz Sergio Moro no inquérito que apura repasse ilegal de recursos da OAS para a compra do tal tríplex do Guarujá e para guardar parte do acervo de presentes recebidos quando era presidente. Nesta terça, ele depõe na 10ª Vara Federal de Brasília. O ex-senador Delcídio do Amaral o acusa de participar de uma operação para comprar o silêncio de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras.

Indagado se será mesmo candidato, Lula preferiu driblar a questão. Mas atribuiu eventuais dificuldades à idade, não ao risco de se atolar na Justiça. Afirmou que o tempo é implacável. Mas se disse também com vontade de voltar a ter 35 anos — bem, até eu, né? — para percorrer o país em defesa de conquistas sociais que estariam ameaçadas pelo governo Temer. A fala já é de candidato.

A andança, de algum modo, já começou. Nesta segunda, ele discursou na abertura do 12º congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Na próxima quarta, informa a CUT, ele estará no protesto marcado pelas esquerdas, na Avenida Paulista, contra as reformas trabalhista e da Previdência. No dia 19, estará em Monteiro, na Paraíba, para participar de um evento sobre a transposição do São Francisco.
Mas, afinal, Lula será ou não candidato?

Vamos às dificuldades objetivas. Se for condenado por um tribunal de segunda instância, torna-se inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Há outras ameaças rondando o líder. Uma das delações da Odebrecht  asseguraria que ele controlava, para uso pessoal, uma parte correspondente a R$ 23 milhões daquela conta corrente que o grupo mantinha com o PT. É evidente que isso tudo caracteriza óbices importantes. Há quem sonhe com a possibilidade de Sergio Moro decretar sua prisão preventiva em razão de seu suposto controle da tal conta… Por aí, acho pouco provável.

As contingências
Ainda que não seja candidato, esteja preso ou não, é claro que ele será um eleitor importante. E há, sim, é inequívoco, contingências distintas e combinadas que jogam em seu favor — ou, mais genericamente, em favor das esquerdas. Não é tão difícil identificá-las.

Vamos lá. Enquanto Lula depõe à Justiça nesta terça, há a chance de Rodrigo Janot divulgar a tal “lista” derivada das delações da Odebrecht. De A a Z, haverá políticos de todas as tendências e de todos os partidos. Com a ironia que o caso pede, diria que, com raras exceções, todos os políticos que importam estão nela, e quem não está é porque não importa. É evidente que as eventuais culpas de Lula começam a ser diluídas na simulação de um mar de lama.

O depoimento de Emílio Odebrecht a Sergio Moro nesta segunda (ver texto) foi mesmo muito eloquente, não? O caixa dois era o modelo reinante no país, disse ele, desde quando a empresa estava sob o controle de Norberto, seu pai. E o que valia para a sua empresa valia para as outras.  Como alertei aqui tantas vezes, de maneira praticamente solitária, a especificidade dos crimes cometidos pelo PT está se perdendo na constatação obviamente errada de que todos são iguais. Digamos que seja verdade que todos os partidos meteram a mão no cofre… Ainda assim, só o PT tentou meter a mão na democracia. Digamos que seja verdade que todos roubaram. É preciso constatar, então, que ninguém antes havia profissionalizado esse assalto. Infelizmente, esses aspectos foram perdendo importância, sendo substituídos pela ideia de que todo o sistema é podre.

Há que se acrescentar ainda a reação negativa às reformas, em especial à da Previdência. Como se não fosse o seu partido o responsável pelo desastre que toma conta do país, Lula se oferece para falar em nome das “conquistas”. E não se envergonha de dizer que não pode ser o povo a pagar a conta. Ora, o povo já paga a conta, sim, da herança maldita que seu partido deixou: maior recessão a história, 13 milhões de desempregados, renda média do trabalho no chão… As reformas, como sabem as pessoas razoáveis, são precondições da retomada da economia.

Alguém poderia sugerir que Lula não teria coragem de apelar aos baixios da demagogia… Pois fiquem certos de que teria, sim. Dilma foi deposta pela repulsa ao modelo criado pelo PT. A repulsa à política é a melhor chance que as esquerdas têm de voltar ao poder.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo

 

 

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