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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Preservar o BC que deu certo

Manter a vitoriosa política seguida no BC, sob a liderança de Ilan Goldfajn, foi a melhor promessa dos três diretores aprovados no Senado

Manter a vitoriosa política seguida no Banco Central (BC) por quase três anos, sob a liderança do presidente Ilan Goldfajn, foi a melhor promessa dos três novos diretores aprovados ontem pelo Senado. Transparência, cautela, serenidade e perseverança formaram a base da política monetária nesse período, disse o economista Roberto Campos Neto, indicado para a presidência da instituição. Será preciso, acrescentou, preservar esses valores e, se for possível, aprimorar a política. Ao citar aqueles valores, ele repetiu, com acréscimo da palavra transparência, o lema contido na ata da reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom), a última conduzida sob a chefia de Goldfajn. 

Igualmente significativa foi a referência, no começo da exposição, à dupla missão legalmente atribuída ao BC: assegurar o poder de compra da moeda, conduzindo a inflação à meta oficial, e garantir a solidez e a eficiência do sistema financeiro. A referência a essa dupla função, definida em lei, está longe de ser mera redundância. É a reafirmação de uma política sensata e bem-sucedida, com a rejeição implícita da inovação defendida, há muitos anos, por políticos autointitulados desenvolvimentistas.

Segundo esses políticos, o mandato do BC brasileiro deveria ser igual ao do americano Federal Reserve (Fed) e incluir entre os objetivos a preservação do emprego. Os defensores dessa proposta geralmente esquecem um detalhe: as decisões do Fed sempre têm como referência uma taxa de inflação moderada e compatível com a melhora sustentável da condição do emprego.Também tem sido essa a orientação da política monetária no Brasil, embora seus objetivos sejam formalmente mais limitados. A redução da taxa básica de juros de 14,25% para 6,50% expressa com clareza uma tentativa de criar, com a necessária prudência, condições favoráveis à expansão dos negócios e do emprego. 

A ampliação oficial do mandato, é fácil prever, abriria espaço à cobrança política de maior tolerância à inflação. É preciso, disse Campos Neto, resistir à falácia “do estímulo inflacionário”. Como comprova a experiência, acrescentou, “o controle da inflação é condição necessária para o crescimento de longo prazo”. Indicado para a diretoria de Política Monetária, o economista Bruno Serra Fernandes também defendeu, basicamente, o prosseguimento da orientação seguida a partir de 2016. Isso inclui a continuação da política de juros e a manutenção do câmbio flutuante como primeira linha de defesa contra choques externos. A ideia de continuidade também caracterizou a apresentação do indicado para a Diretoria de Organização do Sistema Financeiro, João Manoel Pinho de Mello. 

Mas continuidade inclui também o prosseguimento das inovações trazidas pelo programa BC+, criado na gestão do presidente Ilan Goldfajn. Essa política estimulou, nos últimos anos, o avanço das fintechs e a criação de um sistema de pagamentos mais eficiente. O incentivo a mudanças tecnológicas levará a maior eficiência na prestação de serviços e menor custo. Mais segurança e mais competição darão espaço, disse Pinho Neto, a juros menores para o tomador do crédito.  Os três indicados deram ênfase à pauta de mudanças iniciada pelo programa BC+. A eficiência e a confiabilidade das políticas serão reforçadas, concordaram, se consagrada em lei a autonomia do BC. 

As exposições de Bruno Serra Fernandes e João Manoel Pinho de Mello foram quase estritamente técnicas. A de Roberto Campos Neto incluiu uma profissão de fé liberal e desestatizante e referências elogiosas à orientação econômica do novo governo. Ele chegou a declarar-se “perfeitamente alinhado” a essa orientação, voltada para a “ampliação de espaços para a atividade privada em vários aspectos de nosso cotidiano”. Mas esse alinhamento, espera-se, jamais deverá atrapalhar o cumprimento das funções próprias do BC – como um aperto monetário, se as finanças públicas ou fatores externos prenunciarem pressões inflacionárias. Fazer o necessário garantiu o sucesso do BC nos últimos anos. Manter esse padrão já será um grande feito dos novos diretores.

Editorial - O Estado de S. Paulo


 

 

sábado, 17 de novembro de 2018

A equipe começa a ser formada

Mansueto fica e Campos Neto é indicado para comandar um projeto de BC independente como defende Ilan, que está de saída


Ilan Goldfajn ficou fechado, em total silêncio, enquanto se especulava se ele permaneceria ou não. Havia interesse em que ele ficasse até pela convergência natural entre a defesa do Banco Central independente pelo futuro ministro da área econômica, Paulo Guedes, e por Ilan, que ontem prometeu em nota continuar a apoiar o projeto nesse sentido em tramitação no Congresso. Mas um dos critérios para seguir no cargo era demonstrar interesse em ficar, o que não foi o caso do atual presidente do BC. O secretário do Tesouro Mansueto Almeida fica e mantém toda a sua equipe. Ana Paula Vescovi tem dito a todos que a procuram que quer ir para o exterior estudar.

Com a escolha de Roberto Campos Neto para presidir o BC, a equipe econômica começa a tomar forma. A ideia de Paulo Guedes sempre foi aprovar o Banco Central independente, o que é um passo adiante na autonomia que tem havido no órgão em alguns momentos. Ilan Goldfajn teve total autonomia e entregou o excelente resultado, reconhecido na área econômica do futuro governo, e comprovado pelo menos em dois indicadores. A inflação que estava perto de dois dígitos caiu abaixo do piso da meta e, com toda a turbulência do processo eleitoral, chega ao fim do ano no centro da meta. O segundo é a queda da taxa de juros para o menor nível da história do real, uma redução consistente, que atravessou estável esse período tenso. Ilan foi também ágil e firme nos momentos de maior tensão no mercado cambial. Avisou que só os efeitos secundários da mudança do patamar do câmbio seriam combatidos, ou seja, não subiria juros na vã tentativa de criar um patamar para o dólar.

Dentro da equipe que prepara o governo Bolsonaro há dois critérios para os convites, segundo um desses integrantes. “É preciso ter feito um bom trabalho”, o que é o caso de Ilan e estar com vontade de permanecer no novo governo. Ontem no fim do dia, o presidente do BC explicou que “seu afastamento do cargo se dá por motivos pessoais” e que ficará no BC até que a indicação de seu sucessor s
eja aprovada pelo Senado.
Roberto Campos Neto é definido com uma palavra na equipe de transição: “excelente”. Atualmente no Santander, ele tem bastante experiência no mercado financeiro e já vinha colaborando com a equipe do novo governo. Foi escolha pessoal de Paulo Guedes, como tinha que ser. Chega com o desafio de manter a política monetária, mas ao mesmo tempo criar as condições para o aumento da competição no mercado bancário. Paulo Guedes vem dizendo desde a campanha que tem interesse em reduzir o custo da dívida pública e a própria dívida. Chegou a falar, depois da eleição, em vender parte das reservas cambiais com esse objetivo. Esta não é uma operação trivial.

O nome foi bem aceito pelos investidores. O fundo que acompanha os principais papéis de empresas brasileiras em Nova York acelerou a alta durante o dia, com as notícias sobre a indicação de Campos Neto. O EWZ subia mais de 2% à tarde. Isso indica que a bolsa por aqui deve abrir a sexta-feira em alta.  A permanência de Mansueto no Tesouro é importante por inúmeras razões. É um grande economista, com sólido conhecimento da máquina pública, e está tocando assuntos complexos como o quadro fiscal nos estados. Ele acompanha com o cuidado devido as bombas fiscais que estão armadas no Congresso e sabe como lidar com temas espinhosos que normalmente suscitam reações políticas. 

Depois dos grandes erros cometidos pelo governo Dilma na Secretaria do Tesouro, Mansueto, e antes dele, a economista Ana Paula Vescovi, tiveram que resolver problemas de muitos anos antes. Não haverá solução fácil para o rombo fiscal do governo federal e dos governos estaduais, mas a atual equipe melhorou a qualidade das políticas públicas, dos indicadores e está fazendo uma correta transição administrativa, só comparável à que foi feita entre os governos Fernando Henrique e Lula. No caso dos estados, a convicção na equipe do governo Temer é que sem a reforma da Previdência não haverá melhora duradoura. Mas há formas de atenuar, como se pôde ver no Rio de Janeiro.

O governador Luiz Fernando Pezão conta que reduziu os gastos de pessoal como
 proporção da Receita Corrente Líquida de 70% em 2017 para 46% em outubro de 2018. E garante ter cumprido 12 das vinte metas. No governo federal a expectativa não é assim tão boa, mas os técnicos estão convencidos de que o estado se enquadrará abaixo do limite de 60%. O caso do Rio é importante porque é o único estado que entrou no Regime de Recuperação Fiscal. O Rio Grande do Sul não conseguiu e Minas nem foi conversar, preferindo tentar as liminares na Justiça. A melhora no Rio é em parte pela alta do petróleo — que a propósito voltou a cair —, mas também porque a partir do enquadramento no RRF houve mais disciplina. Não são poucos os desafios que esperam a nova equipe econômica que está sendo formada.




sábado, 9 de junho de 2018

O dólar de hoje não é o mesmo que o de 2002



A semelhança com a crise na campanha que elegeu Lula é só no calendário, porque o lado externo da economia está agora muito mais bem guarnecido

Alta forte do dólar em ano de eleições não é inédita no Brasil, mas, nem por isso, todos estes momentos de nervosismo no mercado financeiro, na proximidade das urnas, são iguais. O fato de o dólar ter se aproximado dos R$ 4 só nominalmente igual a 2002, porque, para se equiparar àquele ano, em termos reais, o câmbio teria de bater nos R$ 7 —, enquanto o Banco Central operava com firmeza para reduzir a volatilidade, justificou a iniciativa rara de um presidente da autoridade monetária, no caso Ilan Goldfajn, convocar entrevista coletiva para ser claro: “não há qualquer preconceito de usar qualquer instrumento” para conter um movimento mais forte de alta. Assim foi feito e, ontem, o dólar fechou o pregão cotado a R$ 3,709, numa queda de 5,5%, a maior em aproximadamente dez anos.

Como quem faz a ameaça tem à disposição reservas de US$ 380 bilhões, entende-se que ele pode ir mesmo além de oferecer contratos de swaps, de venda futura de dólar. Pelo fato de o Brasil acumular reservas externas equivalentes a 20% do PIB, de cinco a oito pontos percentuais de PIB além do considerado suficiente pelo próprio FMI, o país tem mesmo munição para enfrentar quem pretenda especular contra o real. [pensar que foi a irresponsabilidade do enganador-geral da República, Rodrigo Enganot, que neutralizou,  como fonte de crescimento economico,  este enorme volume de reservas, e a impunidade daquele enganador causa revolta.] 
Esta é uma diferença fundamental em relação a 2002, quando o crescimento da candidatura de Lula, com todo seu passado de radicalismo, agitou os mercados, a ponto de forçá-lo a editar a Carta ao Povo Brasileiro, na tentativa, não de todo bem-sucedida, de conter a fuga de divisas com a promessa de respeitar os contratos. Lula venceu, assumiu e praticou no primeiro mandato uma gestão responsável. O dólar voltou a seu leito.

Agora, também incertezas eleitorais servem de combustível para enfatizar a tendência, que é mundial, de elevação do dólar. Mas há o enorme volume de reservas e praticamente inexiste déficit externo nas contas correntes (aquém de 1% do PIB, contra os mais de 4% nas crises cambiais do passado), rombo devidamente coberto pela entrada de investimentos diretos.

Neste sentido, é uma experiência nova para quem viveu todas as crises externas nacionais, da década de 70 até agora. Não é preciso bater à porta do FMI, como faz agora a Argentina, atrás de US$ 50 bilhões; nem subir juros às pressas, para atrair dinheiro de fora.  Claro que elevação do dólar encarece importações e, por isso, tem algum repique na inflação. Mas como ela está na faixa dos 3% anuais, abaixo da meta de 4,5%, o BC tem tempo para avaliar o que fazer com os juros básicos de 6,5%, na próxima reunião do Copom, daqui a mais de uma semana.  Os candidatos a presidente precisam entender que o mais forte motivo das oscilações é a conjunção de uma economia em grave e crescente déficit fiscal com alguns pretendentes ao Planalto que não se definem sobre o problema ou acenam com velhas e equivocadas ideias.

 Editorial - O Globo

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Dólar no divã



A moeda americana bateu em R$ 3,96 e a bolsa chegou a cair quase 7% em mais um dia de desconfiança com o economia brasileira. O Banco Central se viu obrigado a fazer uma forte intervenção no mercado e as quedas foram amenizadas. Os investidores entraram em modo pânico sem que houvesse um motivo novo, e o que tem pesado nos últimos dias é o conjunto da obra: o rombo das contas públicas é crônico, o governo Temer está cada vez mais fraco, e os dois candidatos que lideram as pesquisas não passam confiança de que aprovarão as reformas.


Em setembro de 2015, o dólar chegou a R$ 4,19, após o Brasil perder o grau de investimento, no início do segundo governo Dilma. Naquele momento, já estava claro que o país caminhava para um abismo fiscal, mas havia a expectativa de que a mudança de governo pudesse reverter o quadro. Desde a divulgação da conversa entre o presidente Temer e o empresário Joesley Batista, no entanto, a pauta governista passou a ser se salvar. A reforma da Previdência ficou pelo caminho, a privatização da Eletrobras não andou no Congresso, e as concessões feitas aos caminhoneiros mostraram que o governo está sujeito a pressões por mais aumentos de gastos.


Nos últimos dois meses, o dólar saiu de R$ 3,36 para R$ 3,90, pela cotação Ptax, do Banco Central. Um aumento de 16%. É a velocidade dessa alta que desorganiza a economia porque atrapalha os planos de investimentos, trava contratos de importação e de exportação, e faz com que os consumidores fiquem desconfiados de que há algo de muito errado com o país. Entre os investidores, isso gera movimentos de manada, com todos correndo na mesma direção ao mesmo tempo, o que pressiona ainda mais o preço dos ativos.


Em termos reais, ou seja, descontada a inflação do período, o dólar já passou de R$ 7,00 em 2002, antes da eleição do ex-presidente Lula. Em outros momento de crise aguda, como 1998, no governo Fernando Henrique, também foi maior. O país, hoje, nunca teve uma posição tão sólida para se proteger de uma crise cambial, com reservas elevadas, baixo déficit em conta-corrente e inflação baixa. Mas a situação das contas públicas é precária, e os investidores se perguntam: quanto vale a moeda deste país desgovernado?


Ilan x Tombini

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, elevou o tom ontem e disse que poderá quebrar o recorde de venda de dólares no mercado futuro, com o uso do chamado swap cambial. O que deixa Ilan confortável para fazer esse tipo de anúncio é que a inflação está abaixo do piso da meta. Ou seja, ele não está vendendo dólares porque está preocupado com a inflação, mas sim dando liquidez ao mercado de câmbio. Na gestão Tombini, foi o contrário, o BC tentou segurar o dólar com o uso de swaps porque o IPCA estava acima do teto da meta.


Real perde mais

No balanço da semana, o real está entre as moedas que mais se desvalorizaram no mundo. A perda foi de 4,62%, contra 2,75% do peso mexicano, 2,13% do rand sul-africano e 0,03% do rublo russo, segundo balanço da corretora Mirae Asset. Algumas moedas de emergentes ficaram mais fortes, como o dólar australiano e a lira turca. Ontem, as bolsas americanas fecharam no azul, enquanto o Ibovespa fechou no vermelho em 2,97%. É mais um sinal de que a volatilidade é provocada pela crise interna.





quinta-feira, 10 de maio de 2018

Filmes de época

Crise na Argentina e atos de Trump cabem em filmes de época. A Argentina vive nos últimos dias cenas de um filme de época: congelamento de preços, ida ao FMI, crise cambial, os maiores juros do mundo. Nos Estados Unidos, os atos encenados por Donald Trump, também parecem filme antigo, com surtos de protecionismo e o conflito com o Irã de volta. No Brasil o dólar tem subido. Mas não é filme velho, é uma nova temporada da série.  O dólar está subindo no mundo inteiro em relação a várias moedas. Essa alta tem sido forte no Brasil. Mas, como disse o presidente do Banco Central Ilan Goldfajn, no “Jornal das 10”, da GloboNews, o país está preparado para enfrentar as turbulências internacionais. O fato de Ilan ter demonstrado calma diante da volatilidade deixou alguns analistas nervosos. Achavam que ele deveria ter demonstrado mais preocupação e dado sinais de que vai continuar oferecendo operações de swaps para conter as altas.


No começo de 2016 o dólar valia R$ 4,00. Na época, o Brasil tinha perdido o grau de investimento e havia uma enorme incerteza sobre o governo Dilma. Depois disso, a cotação começou a cair. Agora voltou a subir. O câmbio a R$ 3,6 como estava cotado ontem é bem mais baixo, portanto, do que estava há pouco mais de dois anos. Períodos de altas e quedas são normais no câmbio flutuante. Sempre haverá temporada de elevação, por razões internas ou externas. A grande pergunta é que fragilidades o país tem quando está diante das oscilações de moedas. Argentina está com muitos pontos fracos e é por isso que começa a viver as velhas cenas de idas ao FMI, ou altas bruscas das taxas de juros para tentar conter a disparada do dólar. O presidente Mauricio Macri errou quando decidiu pelo ajuste gradual. Não conseguiu vencer a crise que herdou, e os avanços da conjuntura — maiores reservas, menor inflação, correção tarifária — vão se perder exatamente nessa crise na qual o país está vivendo situações que lembram o passado. A Argentina, como o Brasil, enfrentou nos anos 1980, 1990 e começo dos 2000 crises inflacionárias e cambiais. Lá, a alta do dólar tem elementos das crises do passado. Aqui, faz parte do contexto de oscilação cambial que sempre ocorre quando a incerteza no mundo aumenta. São movimentos de natureza diferente.

Nos Estados Unidos, desde a posse do presidente Donald Trump a sensação que se tem é de retrocesso. É como se a gente tivesse que assistir a filmes antigos de má qualidade. Ele tem surtos protecionistas de um primarismo que há muito tempo não se vê. A decisão de sair do acordo do Irã foi, na definição da embaixadora Susan Rice, ex-conselheira de Segurança Nacional, a “mais estúpida” possível, porque o país abdicou do poder de melhorar o acordo e não está claro o que os americanos têm a ganhar. Tudo o que se conseguiu foi dar argumentos para a linha dura iraniana. Os Estados Unidos ficaram isolados, porque a União Europeia tomou a decisão conjunta de permanecer e fortalecer o acordo. Empresas americanas perderão negócios já fechados, como a Boeing.

O problema de Trump não é apenas ele mesmo, mas a turbulência que pode causar no mundo. Sua política de liberar mais estímulos para uma economia já em pleno emprego e ao mesmo tempo elevar barreiras ao comércio contrata inflação, o que terá como consequência juros mais altos. E é esse cenário que o mercado de moedas está antecipando. Além disso, Trump cria pontos de estresse na política internacional.

Para nós, o que interessa é que o mundo está mais incerto e a Argentina, mais frágil. Isso sem dúvida nos afeta. A Argentina é o nosso terceiro maior parceiro comercial e destino de US$ 17 bilhões de exportação. As turbulências americanas, econômicas ou geopolíticas, afetam o mundo inteiro e podem provocar uma queda do crescimento mundial. O Brasil hoje está menos vulnerável que há três anos. No começo de 2015, o déficit em transações correntes era de 4,5% do PIB. Hoje, é de 0,38%. Um ponto fraco, porém, permanece: o enorme déficit das contas públicas.  Quando há velhos filmes em cartaz, o melhor a fazer é não repetir enredos antigos. O BC não tem que ficar nervoso porque o dólar sobe. Deve atuar quando for o caso. E a Fazenda tem que evitar, neste ano eleitoral, a piora das contas públicas.

Coluna Miriam Leitão - O Globo