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sábado, 9 de junho de 2018

O dólar de hoje não é o mesmo que o de 2002



A semelhança com a crise na campanha que elegeu Lula é só no calendário, porque o lado externo da economia está agora muito mais bem guarnecido

Alta forte do dólar em ano de eleições não é inédita no Brasil, mas, nem por isso, todos estes momentos de nervosismo no mercado financeiro, na proximidade das urnas, são iguais. O fato de o dólar ter se aproximado dos R$ 4 só nominalmente igual a 2002, porque, para se equiparar àquele ano, em termos reais, o câmbio teria de bater nos R$ 7 —, enquanto o Banco Central operava com firmeza para reduzir a volatilidade, justificou a iniciativa rara de um presidente da autoridade monetária, no caso Ilan Goldfajn, convocar entrevista coletiva para ser claro: “não há qualquer preconceito de usar qualquer instrumento” para conter um movimento mais forte de alta. Assim foi feito e, ontem, o dólar fechou o pregão cotado a R$ 3,709, numa queda de 5,5%, a maior em aproximadamente dez anos.

Como quem faz a ameaça tem à disposição reservas de US$ 380 bilhões, entende-se que ele pode ir mesmo além de oferecer contratos de swaps, de venda futura de dólar. Pelo fato de o Brasil acumular reservas externas equivalentes a 20% do PIB, de cinco a oito pontos percentuais de PIB além do considerado suficiente pelo próprio FMI, o país tem mesmo munição para enfrentar quem pretenda especular contra o real. [pensar que foi a irresponsabilidade do enganador-geral da República, Rodrigo Enganot, que neutralizou,  como fonte de crescimento economico,  este enorme volume de reservas, e a impunidade daquele enganador causa revolta.] 
Esta é uma diferença fundamental em relação a 2002, quando o crescimento da candidatura de Lula, com todo seu passado de radicalismo, agitou os mercados, a ponto de forçá-lo a editar a Carta ao Povo Brasileiro, na tentativa, não de todo bem-sucedida, de conter a fuga de divisas com a promessa de respeitar os contratos. Lula venceu, assumiu e praticou no primeiro mandato uma gestão responsável. O dólar voltou a seu leito.

Agora, também incertezas eleitorais servem de combustível para enfatizar a tendência, que é mundial, de elevação do dólar. Mas há o enorme volume de reservas e praticamente inexiste déficit externo nas contas correntes (aquém de 1% do PIB, contra os mais de 4% nas crises cambiais do passado), rombo devidamente coberto pela entrada de investimentos diretos.

Neste sentido, é uma experiência nova para quem viveu todas as crises externas nacionais, da década de 70 até agora. Não é preciso bater à porta do FMI, como faz agora a Argentina, atrás de US$ 50 bilhões; nem subir juros às pressas, para atrair dinheiro de fora.  Claro que elevação do dólar encarece importações e, por isso, tem algum repique na inflação. Mas como ela está na faixa dos 3% anuais, abaixo da meta de 4,5%, o BC tem tempo para avaliar o que fazer com os juros básicos de 6,5%, na próxima reunião do Copom, daqui a mais de uma semana.  Os candidatos a presidente precisam entender que o mais forte motivo das oscilações é a conjunção de uma economia em grave e crescente déficit fiscal com alguns pretendentes ao Planalto que não se definem sobre o problema ou acenam com velhas e equivocadas ideias.

 Editorial - O Globo

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