A moeda
americana bateu em R$ 3,96 e a bolsa chegou a cair quase 7% em mais um dia de
desconfiança com o economia brasileira. O Banco Central se viu obrigado a fazer
uma forte intervenção no mercado e as quedas foram amenizadas. Os investidores
entraram em modo pânico sem que houvesse um motivo novo, e o que tem pesado nos
últimos dias é o conjunto da obra: o rombo das contas públicas é crônico, o
governo Temer está cada vez mais fraco, e os dois candidatos que lideram as
pesquisas não passam confiança de que aprovarão as reformas.
Em
setembro de 2015, o dólar chegou a R$ 4,19, após o Brasil perder o grau de
investimento, no início do segundo governo Dilma. Naquele momento, já estava
claro que o país caminhava para um abismo fiscal, mas havia a expectativa de
que a mudança de governo pudesse reverter o quadro. Desde a divulgação da
conversa entre o presidente Temer e o empresário Joesley Batista, no entanto, a
pauta governista passou a ser se salvar. A reforma da Previdência ficou pelo
caminho, a privatização da Eletrobras não andou no Congresso, e as concessões
feitas aos caminhoneiros mostraram que o governo está sujeito a pressões por
mais aumentos de gastos.
Nos
últimos dois meses, o dólar saiu de R$ 3,36 para R$ 3,90, pela cotação Ptax, do
Banco Central. Um aumento de 16%. É a velocidade dessa alta que desorganiza a
economia porque atrapalha os planos de investimentos, trava contratos de
importação e de exportação, e faz com que os consumidores fiquem desconfiados
de que há algo de muito errado com o país. Entre os investidores, isso gera
movimentos de manada, com todos correndo na mesma direção ao mesmo tempo, o que
pressiona ainda mais o preço dos ativos.
Em termos
reais, ou seja, descontada a inflação do período, o dólar já passou de R$ 7,00
em 2002, antes da eleição do ex-presidente Lula. Em outros
momento de crise aguda, como 1998, no governo Fernando Henrique, também foi
maior. O país, hoje, nunca teve uma posição tão sólida para se proteger de uma
crise cambial, com reservas elevadas, baixo déficit em conta-corrente e
inflação baixa. Mas a situação das contas públicas é precária, e os
investidores se perguntam: quanto vale a moeda deste país desgovernado?
Ilan x
Tombini
O
presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, elevou o tom ontem e disse que
poderá quebrar o recorde de venda de dólares no mercado futuro, com o uso do
chamado swap cambial. O que deixa Ilan confortável para fazer esse tipo de
anúncio é que a inflação está abaixo do piso da meta. Ou seja, ele não está
vendendo dólares porque está preocupado com a inflação, mas sim dando liquidez
ao mercado de câmbio. Na gestão Tombini, foi o contrário, o BC tentou segurar o
dólar com o uso de swaps porque o IPCA estava acima do teto da meta.
Real
perde mais
No
balanço da semana, o real está entre as moedas que mais se desvalorizaram no
mundo. A perda foi de 4,62%, contra 2,75% do peso mexicano, 2,13% do rand
sul-africano e 0,03% do rublo russo, segundo balanço da corretora Mirae Asset.
Algumas moedas de emergentes ficaram mais fortes, como o dólar australiano e a
lira turca. Ontem, as bolsas americanas fecharam no azul, enquanto o Ibovespa
fechou no vermelho em 2,97%. É mais um sinal de que a volatilidade é provocada
pela crise interna.
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