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domingo, 17 de abril de 2022

O coquetel da direita populista - Blog Mundialista

VEJA

A receita: ideias tradicionais e propostas “esquerdizoides” 

Reindexar as aposentadorias à inflação, reverter a privatização das estradas para diminuir a tarifa dos pedágios (e como são caros na França!) e ter um estado indutor do crescimento econômico são algumas das propostas que levaram Marine Le Pen ao segundo turno da eleição presidencial, com uma projeção de conseguir inéditos 45% dos votos. Nenhuma delas evidentemente constaria do programa de qualquer político conservador no sentido tradicional, de defesa do estado menor e menos interventor.

 Orbán ganhou no começo do mês uma quarta vitória na Hungria, “tão grande que pode ser vista da lua”. A ironia vai na conta dos prognósticos insistentemente repetidos de que a oposição unida, a afinidade com Putin em plena guerra na Ucrânia e uma poderosa expressão de desejos progressistas bastariam para encerrar a carreira do primeiro-ministro. Seis de cada dez húngaros têm uma ideia diferente: gostam da política de direita não tradicional, que mistura impostos baixos para as empresas e remunerações reduzidas para os desempregados com controles das tarifas de energia e incentivos às indústrias locais nos setores onde podem ser competitivas. Laissez-faire e protecionismo, uma combinação esquizofrênica, criaram um coquetel húngaro que não tem similar no panorama político atual. Marine Le Pen provou dessa mistura.

A direita partidária do protecionismo e do Estado interventor não é exatamente uma novidade, em especial no Brasil, onde estes foram fundamentos constitutivos da ala dominante do regime militar. O toque de populismo do século XXI é a preocupação zero com a clonagem de propostas tiradas do ideário esquerdista tradicional. Outro componente fundamental é o apelo a pulsões nacionais em sociedades que se sentem ameaçadas pela imigração em massa. Foi assim com Donald Trump nos Estados Unidos, com a ideia do muro que nunca foi construído na fronteira com o México, onde o descontrole atual é um dos fatores que podem custar uma derrota catastrófica para o Partido Democrata em novembro próximo. Foi assim com Viktor Orbán, quando grandes massas humanas vindas de países orientais ameaçaram a estabilidade da Europa.

E está sendo assim com Marine Le Pen, cujo clã se ergueu com base na rejeição aos imigrantes muçulmanos não integrados à sociedade francesa. Agora, com as consequências econômicas da pandemia e a pancada do aumento de preços no bolso das camadas onde o salário acaba antes do mês, ela reajustou o foco. Numa de suas tiradas famosas, Charles de Gaulle dizia que “a pior calamidade depois de um general burro é um general inteligente”. A candidata precisar demonstrar até o dia 24 se ganhou inteligência política para conquistar os poucos pontos que fazem a diferença entra derrota honrosa e vitória espantosa junto a um eleitorado onde o nome Le Pen tem sido visto, majoritariamente, como uma calamidade sem tamanho.

Vilma Gryzinski, colunista - Blog Mundialista 

Publicado em VEJA,  edição nº 2785,  de 20 de abril de 2022

 

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Sérvia e Hungria: Duas vitórias eleitorais para Putin na Europa - Gazeta do Povo

Filipe Figueiredo

Aliados de Vladimir Putin saíram vitoriosos nas duas eleições europeias realizadas no último final de semana
Na Hungria, Viktor Orbán foi reeleito para mais quatro anos como primeiro-ministro, enquanto, na Sérvia, Aleksandar Vucic foi reeleito para um novo mandato de cinco anos na presidência do país. Embora por motivos diferentes e com cada país inserido em um contexto distinto, ambos os governos possuem relações próximas com a Rússia, com vitórias que acenderam alguns alertas pela Europa.

As eleições húngaras foram temas de duas colunas nos últimos seis meses aqui no nosso espaço de política internacional, incluindo a anterior. Explicamos na semana passada que um dos pontos principais da campanha entre a coalizão governista de Orbán e a frente ampla Oposição Unida era a guerra na Ucrânia. O líder da oposição, Peter Márki-Zay acusava Orbán de ser complacente com Vladimir Putin e de agir como “garoto de recados” da Rússia dentro da União Europeia e da OTAN.

O governo Orbán, por sua vez, defende as suas políticas em relação ao conflito como a defesa dos interesses energéticos do país, que importa muito de seu gás natural da Rússia, e manutenção da paz
Acusava a oposição de ser “subordinada” à “políticas belicistas” vindas do estrangeiro ao defenderem, por exemplo, que a Hungria deveria ter maior papel nas sanções contra a Rússia e na coordenação do apoio material aos ucranianos.

Favoritismo e eleitorado
Comentamos também que as pesquisas indicavam favoritismo do governo. Os resultados foram bem mais amplos. Com um comparecimento eleitoral de 69,5% do eleitorado registrado, a coalizão conservadora e nacionalista do Fidesz levou 53,5% dos votos, um crescimento de mais de 4% em relação ao pleito anterior. A oposição ficou com 34,6% dos votos, muito menos do que as pesquisas previam e 12% menos do que a soma dos partidos oposicionistas na eleição anterior.

Com 5,7% dos votos, o Movimento Nossa Pátria, de extrema-direita, vai estrear no parlamento. O partido é formado por ex-integrantes do Jobbik após esse mudar suas posições nacionalistas para uma plataforma mais moderada e pró-UE. O partido promete ser oposição à Orbán, ainda mais à direita que a plataforma do governo. E como a proporção dos votos se traduz na configuração do parlamento? A coalizão de governo terá 135 dos 199 assentos, dois a mais do que antes.

Principalmente, manterá a supermaioria de dois terços, necessária para reformas constitucionais. A Oposição Unida conquistou apenas 56 cadeiras, sete a menos do que a soma dos partidos componentes no parlamento anterior. O mais humilhante para a oposição foi o fato de que Márki-Zay foi derrotado em seu próprio distrito eleitoral, de Hódmezővásárhely, onde é prefeito. O vencedor foi János Lázár, ex-chefe do gabinete de Orbán, com 52,2% dos votos do distrito. Por ser o líder da oposição, Márki-Zay tem direito ao assento no parlamento pela lista do partido.

Fecham o Parlamento as sete cadeiras do Nossa Pátria e uma cadeira para o representante da minoria alemã. Além do início da prevista luta interna na busca por culpados, o pós-eleição foi marcado pelo discurso de vitória de Orbán. Ele afirmou que venceu as eleições lutando contra “uma enorme quantidade de adversários” e que “nunca tivemos tantos adversários ao mesmo tempo"
Dentre os adversários, listou “burocratas de Bruxelas” e o “presidente ucraniano”.

Zelensky e a OSCE
O comentário provavelmente foi o troco por declarações anteriores de Volodymyr Zelensky, afirmando que a Hungria não estava agindo como amiga da Ucrânia. O presidente ucraniano chegou a, retoricamente, perguntar “Viktor, você sabe o que está acontecendo em Mariupol?”, referência ao cerco da cidade portuária por forças russas. Já Putin parabenizou Orbán por sua vitória, afirmando que "apesar da difícil situação internacional, a continuidade da parceria bilateral atende plenamente aos interesses da Rússia e da Hungria."

Na coluna passada, foi mencionado que a Organização para Segurança e Cooperação na Europa enviou uma missão para observar as eleições húngaras. Essa foi apenas a segunda vez na História que a OSCE enviou uma missão para observar as eleições de um país integrante da UE. O relatório preliminar, de 23 páginas com 117 notas diferentes, foi publicado nessa segunda-feira, dia 4 de abril. Ele conclui que o pleito respeitou os procedimentos eleitorais, mas que a disputa não foi balanceada.

Os observadores apontam três aspectos que fizeram a disputa desequilibrada. A falta de transparência dos gastos de campanha; a falta de cobertura independente na imprensa; e, mais grave, que a modificação das regras eleitorais nos últimos anos fez o partido Fidesz se confundir com o aparato de Estado na Hungria. Outros problemas foram a denúncia de tentativa de compra de votos, especialmente visando pessoas roma e a falta de proporção demográfica no registro de candidaturas. O relatório, em inglês, pode ser consultado por qualquer um dos leitores que desejar.

Cruzando a fronteira sul da Hungria, na Sérvia, 58,7% dos eleitores compareceram às urnas e reelegeram Aleksandar Vucic para um novo mandato como presidente. Teoricamente, a Sérvia é um país parlamentarista. Na prática, entretanto, a presidência possui muitos poderes e o país funciona como um semi-presidencialismo, com a primeira-ministra Ana Brnabic indicada pelo presidente e chefiando o gabinete de ministros. O fortalecimento da presidência, inclusive, foi intensificado pelo próprio Vucic. Ele foi premiê de 2014 a 2017, quando foi eleito presidente.

Sérvia e Rússia, “povos irmãos
O candidato governista recebeu 58,5% dos votos, enquanto o segundo colocado, Zdravko Ponos, levou apenas 18,3%. Sua plataforma populista, que soma liberalismo econômico, Estado de bem-estar social e conservadorismo na agenda de costumes, sai menor das eleições, entretanto. Com 120 dos 250 assentos do parlamento, perderam 68 cadeiras comparando com 2020. A eleição foi antecipada por decisão de Vucic, que mantém a maior bancada, embora agora precise de alguma aliança eleitoral para ter maioria.

Em segundo e terceiro lugares ficaram frentes partidárias mistas de oposição, com 37 e 32 cadeiras respectivamente. Outros quatro grupos partidários terão ao menos dez assentos, incluindo a estreia parlamentar do partido conservador monarquista sérvio e um movimento de extrema-direita nacionalista que abertamente reinvidica ligações com as milícias chetniks, que colaboraram com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e cometeram diversas atrocidades durante as guerras dos anos 1990.

Putin parabenizou Vucic afirmando que “considero que suas ações como chefe de Estado continuam favorecendo um reforço da cooperação estratégica que existe entre nossos países. Sem dúvida, isso é do interesse dos povos irmãos da Rússia e da Sérvia”. Ao falar em “povos irmãos”, Putin invoca a aliança histórica entre russos e sérvios, que remonta ao século XIX e foi intensificada nos últimos anos. Principalmente após a independência do Kosovo, que a Rússia utiliza como argumento para legitimar a separação de regiões habitadas por russos em países vizinhos.

Enquanto em vários países europeus ocorreram manifestações pró-Ucrânia nas ruas, em Belgrado ocorreram as principais, das poucas, demonstrações de apoio externo ao governo russo. A torcida organizada nacionalista do clube Estrela Vermelha exibiu faixas condenando a OTAN pelos bombardeios contra a Sérvia e por sua expansão, enquanto sérvios russófilos realizaram manifestações usando a letra “Z”, associada ao exército russo na Ucrânia, e as bandeiras tricolores, de cores similares, dos dois países.

Os dois resultados eleitorais do final de semana certamente são um alento para Putin. Em meio ao conflito na Ucrânia e a crescente condenação internacional contra seu governo, acompanhada de fortes sanções econômicas, ele sabe que terá dois aliados na Europa por mais alguns anos. Um nos Bálcãs, que certamente passarão por momentos de instabilidade em 2022, com as eleições na Bósnia, e outro no seio da UE e da OTAN. Certamente não é uma situação que agrada o governo de Paris, o que lembra que os franceses vão às urnas no próximo final de semana, tema da nossa próxima coluna.

Filipe Figueiredo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


terça-feira, 5 de abril de 2022

Os comunas estão nervosos… - Rodrigo Constantino

 

Rodrigo Constantino

Que preguiça! Já abrir a semana tendo que lidar com a choradeira forçada da esquerda radical nas redes sociais é de lascar. Mas, como são os ossos do meu ofício, lá vamos nós explicar uma vez mais a tática dessa gente previsível.

Miriam Leitão, a "respeitada" jornalista, escreveu uma coluna no fim de semana apontando o que enxerga como grande equívoco da terceira via: atribuir uma equivalência entre os dois "extremos". Até aí, estamos de acordo. Mas aí vem a revelação, para a surpresa de ninguém: Miriam está dizendo que Bolsonaro é muito pior, pois não respeita a democracia, enquanto o outro lado seria "democrata".

A militante tucanopetista já saiu de sua toca comuna: tem que votar no socialista corrupto do Foro de SP para “salvar a nossa democracia". Bolsonaro, com seus ministros Paulo Guedes, Marco Pontes, Tereza Cristina, Damares Alves, Tarcisio Freitas e tantos outros, representa uma terrível ameaça à democracia brasileira.  
Lula, com Dirceu e companhia, ao menos é um "democrata", apesar de bajular a ditadura cubana desde sempre.

Datena, Onyx, Maia e mais: os principais nomes que trocaram de partido para concorrer em 2022

Leite diz que aceitaria ser candidato a vice-presidente em chapa com Tebet

A narrativa é patética, bizarra e não se sustenta por um segundo de reflexão. Mas a esquerda radical teve um presente e tanto: 
Eduardo Bolsonaro resolveu reagir, e escreveu ter pena da cobra, numa alusão ao episódio revelado pela militante comunista de que sofreu tortura no começo do regime militar, com uma serpente colocada em sua cela.

Foi a senha para que toda a extrema esquerda bancasse a vítima, horrorizada com a insensibilidade do deputado. Até "jornalistas liberais" se uniram, pedindo a cassação de Eduardo pela mensagem. Todos enxergaram ali o pretexto para desviar o foco do que realmente importa aqui: a tentativa ridícula de "normalizar" Lula, pinta-lo como um moderado de centro, um democrata, enquanto Bolsonaro seria um fascista.

Como no clubinho ninguém solta a mão de ninguém, os pares "jornalistas" prestaram imediatamente solidariedade à colega. A militante da Folha de SP, Mariliz Pereira Jorge, que já xingou o presidente de tudo que se possa imaginar, chegou a comunicar a saída do Twitter, explicando o péssimo ambiente da rede - provavelmente diante de um espelho:
"Twitter é um lugar insuportável. Cheio de gente má, que finge ser democrata. Cheio de gente que fala em saúde mental e fode com a saúde dos outros. Tem o babaca, mas tá cheio de agressivo-passivo. Acha que é dono da verdade pq defende bandeiras importantes. Desisto. Adios"

Se é por falta de adeus...
Já o senador Alessandro Vieira, aquele com pinta de sério, mas que usou morte de ator global octogenário vacinado para atacar o governo na CPI circense, rasgou elogios ao histórico da jornalista: "A estratégia dos Bolsonaros é clara: usar falas polêmicas para desviar a atenção da fome, da miséria e dos casos de corrupção que vêm surgindo no noticiário. A última foi um ataque grosseiro e inaceitável contra a jornalista Miriam Leitão, profissional com histórico impecável". [esse senador andou pensando em se candidatar a presidente ... caiu na real e desistiu??? Insistimos que queremos toda a esquerda maldita unida contra o capitão, assim poderemos triturá-los, politicamente, derrotando-os,  como fez o Orbán na Hungria.]

Nem mesmo o ladrão conseguiu se conter. Dando muita bandeira, deixando claro a orquestra da coisa toda, o próprio Lula, um ilustre humanista, veio demonstrar repúdio aos "ataques" contra a jornalista, apenas para ter o reconhecimento do "nobre gesto" pela própria jornalista e também seu filho, o comunista que já declarou voto em Lula:

O coleguinha da GloboNews, defensor do Psol, também aproveitou para divulgar o discursinho manjado da turma: "Toda a solidariedade à Miriam Leitão, absurdamente agredida por gente que usa a liberdade só possível numa Democracia para atacar a Democracia e suas instituições. Quebra de decoro? Injúria? Acima de tudo violência gratuita, estupidez e desumanidade. #DitaduraNuncaMais"

O que seria da extrema esquerda sem essa visão estética infantil? Defensores do regime chinês fingindo que são os maiores democratas do planeta? 
Jornalistas que aplaudem a censura imposta pelo STF fingindo que defendem a liberdade de expressão? 
Militantes que passam pano para prefeitos e governadores que mandam prender quem sair às ruas no lockdown se colocando como a resistência contra o fascismo? 
É tudo uma piada de mau gosto.
 
Leandro Ruschel explicou a tática deles: O coordenador da campanha de Lula afirma que seu principal adversário lidera um movimento fascista. E tem gente que acredita num governo Lula "pacificador".... 
O que esse pessoal está fazendo é a desumanização do adversário para justificar medida ilegais contra eles. 
Um "fascista" não deve ter direito. 
Um "fascista" deve ser preso ou coisa pior. 
Qualquer violência contra "fascistas" é justificada. 
O que a esquerda faz é categorizar QUASE TODOS opositores como "fascistas", para justificar qualquer ato de censura e perseguição contra eles.
Em outro post, Ruschel questionou que democracia é essa que estaria ameaçada em nosso país: Afirmar que a "democracia está em risco no Brasil" é tapar o sol com a peneira. 
Não existe mais democracia quando certas autoridades abusam do seu poder para perseguir críticos. 
Não existe mais democracia quando uma parcela do espectro político é criminalizada.

No fundo, o que estamos vendo é certo desespero da esquerda. Nem ela acredita nas pesquisas, que já começam um trabalho de ajuste gradual. As mais recentes já dão até empate técnico entre o ladrão socialista e o atual presidente. O senador Randolfe Rodrigues, aquele com pouco voto, [além da falta de votos o senador é encrenqueiro, estridente, e sem inteligência e totalmente desacreditado - nunca teve credibilidade, mas antigamente, bem antigamente, alguns ainda acreditavam nele.] mas enorme influência suprema e midiática [esta só junto à mídia militante, aquela do consórcio de más notícias] , chegou a externar o nervosismo:  Lula precisa ser... mais "plural", seja lá o que isso significa. 


Estão tentando criar uma nova Carta ao Povo Brasileiro, um novo terno Armani de Duda Mendonça, uma nova máscara para ludibriar os otários. Alckmin serve exatamente a esse propósito na campanha do corrupto.

E não faltam "jornalistas" batendo o mesmo bumbo. Estão todos unidos contra Bolsonaro, pois odeiam tudo que não é esquerda. 

Morrem de saudades dos tempos em que a disputa era entre PT e PSDB, na estratégia das tesouras, e a grande imprensa tinha o monopólio das narrativas, sem as redes sociais para "incomodar".

Os comunas estão nervosos. Estão unidos. E isso, claro, é ótimo sinal...

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Barroso volta a criticar proposta de voto impresso auditável - Revista Oeste

Afonso Marangoni

Ministro disse que o texto era a 'solução inadequada para um problema inexistente'

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, voltou a criticar a proposta de voto impresso auditável, que foi derrotada na Câmara dos Deputados.  No ano passado, o ministro articulou para que a proposta não fosse aprovada. Nesta quinta-feira, 17, ele disse que o texto era a “solução inadequada para um problema inexistente”.

“Boa parte do ano de 2021 foi gasto com uma discussão desnecessária, que significaria um retrocesso: a volta do voto impresso com contagem pública manual”, disse, ao fazer um balanço da sua gestão no TSE.

Barroso afirmou que o sistema de votação eletrônica brasileiro é seguro, transparente e auditável. “O sistema foi implantado em 1996, há mais de 25 anos, sem que jamais se tenha documentado qualquer caso de fraude.” “Alguém poderia supor em boa fé, e esse é um ponto para o qual eu gostaria de chamar a atenção, que não haveria problema em se ter a impressão do voto simultaneamente ao voto eletrônico para eventual conferência em caso de diferença mínima entre os candidatos, deve-se observar que não é isso que constou da proposta”.

Ministro do Supremo Tribunal Federal desde 2013, Barroso passou a integrar o TSE no ano seguinte, chegando à Presidência em 2020. E, nesta quinta-feira, 17, fez seu discurso de despedida.

Liberdade de expressão
Barroso afirmou que a liberdade de expressão é importante e precisa ser protegida daqueles que a utilizam para destruir a democracia.O ministro disse que “nos últimos tempos” a democracia e as instituições “passaram por ameaças das quais acreditávamos já haver nos livrado”. 
 
[apresentando todas as vênias, indagamos do ministro Barroso sobre a conveniência de determinar ao ministro Fachin para que compareça a uma delegacia da PF e esclareça as razões de considerar provável que a Justiça Eleitoral  esteja sob ataque hacker; convém lembrar que a postura do futuro presidente do TSE, pode representar risco à democracia e à 'instituição' urnas eletrônicas.
Também é indiscutível que uma manifestação de um ministro do STF, TSE e futuro presidente da Corte máxima da Justiça Eleitoral, tem credibilidade e com isso fortalecer o entendimento desfavorável  ao voto eletrônico não auditável, reiteradamente expresso pelo presidente Bolsonaro.]

Sem citar diretamente a plataforma, voltou a defender que o Telegram seja suspenso do Brasil se não se adequar às leis brasileiras. O aplicativo de mensagens tem ignorado as tentativas de contato do TSE para cooperar no combate à desinformação. Barroso afirmou que tentativas de desacreditar o processo eleitoral configuram “repetição mambembe” do que fez Donald Trump nos Estados Unidos após ter pedido as eleições de 2020.

Afonso Marangoni, jornalista - Revista Oeste

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

"A justiça farda, mas não talha"

Cinquenta anos depois da frase de Millôr Fernandes, o STF está na linha de tiro. Se quiser se juntar ao esforço de contenção do processo de declínio da democracia brasileira, terá de corrigir o conjunto de erros que impregnou seus costumes 

O título é de Millôr. A época nós sabemos qual foi. Ironiza, claro, a promiscuidade judicial-militar, ou a deferência togada ao mando fardado. Uma época distante, em que generais condicionaram a sobrevivência do Supremo Tribunal Federal (STF) à lealdade. Diziam lealdade à "revolução". Em tempos mais democráticos, tivemos liberdade para classificar como lealdade ao "golpe". Em tempos sombrios de desorientação judicial e criatividade vocabular, pedirão lealdade ao "movimento".

Conta a história que quando o general Castello Branco quis enquadrar o STF às orientações do "movimento", o presidente do STF, ministro Ribeiro da Costa, disse que não se submeteria à "ideologia revolucionária" e que, se ousassem cassar um ministro, fecharia o tribunal e entregaria as chaves ao porteiro do Palácio do Planalto. O resto é história: anos mais tarde ministros foram cassados e o tribunal enfim domesticado.  Cinquenta anos depois, o STF está na linha de tiro. Quando a ameaça veio de um general, via Twitter meses atrás, coube ao decano Celso de Mello reagir: "Intervenções castrenses, quando efetivadas e tornadas vitoriosas, tendem, na lógica do regime supressor das liberdades, a diminuir, quando não a eliminar, o espaço institucional reservado ao dissenso, limitando, desse modo, com danos irreversíveis ao sistema democrático, a possibilidade de livre expansão da atividade política e do exercício pleno da cidadania. Tudo isso, senhora presidente, é inaceitável."

Dias atrás, o tiro veio de outro general, agora deputado eleito (e portanto, para os fins republicanos, não mais "general"), que apresentou um "plano de moralização das instituições" que inclui não só o impeachment, mas também a prisão de "vários ministros". O STF escutou calado. Ontem, a divulgação de um vídeo revelou mais claramente a doutrina. Do deputado mais votado, filho de eventual presidente, perguntado se o STF poderia intervir no caso de vitória de seu pai, ouviu-se: "O STF vai ter que pagar pra ver. E quando ele pagar pra ver, vai ser ele contra nós. Será que eles vão ter essa força mesmo?" Adicionou: "O pessoal até brinca lá: se quiser fechar o STF, você sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe, você manda um soldado e um cabo." E o desfecho irônico, para enfatizar sua estima ao STF: "Não quero desmerecer o soldado e o cabo não."

Coube a Celso de Mello, de novo, a reação mais clara. Classificou a declaração como "inconsequente e golpista", enxergou no parlamentar "inaceitável visão autoritária", que "comprometerá a integridade da ordem democrática". Do presidente da Corte, escutamos um silêncio eloquente. Tendo formado um "gabinete estratégico" e chamado um general ligado ao candidato Mourão e à cúpula do Exército para habitá-lo, parece que sua estratégia é a do bico calado. O enredo insólito fica mais completo com a entrevista concedida por Ives Gandra, professor emérito da Escola de Comando do Estado-Maior do Exército, a ÉPOCA. Sobre generais, ele assegura: "Eu conheço a mentalidade deles. Eles são hoje escravos da Constituição". A frase é a síntese do autoengano, não se sabe de quem.

Se o STF quiser se juntar ao esforço de contenção do processo de declínio da democracia brasileira, terá de corrigir o conjunto de erros que impregnou seus costumes. Confundiram protagonismo da Corte com cultura de celebridades. Foram indiferentes às críticas, alertas e sugestões de muitos observadores nos últimos dez anos. Foram liberais demais com suas opiniões individuais, suas veleidades e seu desgoverno. "Liberais" foi um eufemismo. Mais justo seria "libertinos", aquele desapego a convenções e rituais que protegem a instituição. Deixaram o tribunal se diluir nesse bate-cabeça e agora terão pela frente o projeto de uma democracia iliberal. De democracia, esse regime tem só o nome e o hábito plebiscitário.

Bolsonaro, lembrem-se, quer varrer os libertinos e criar o STF 2.0, um tribunal duplicado, cheio de apologistas do regime. Ele está seguindo a cartilha com coerência (a mesma de Chávez na Venezuela, Orbán na Hungria, Erdogan na Turquia, dos irmãos Kaczynski na Polônia, ou dos militares brasileiros). O STF tinha que seguir alguma. Tiveram oportunidade de neutralizar a retórica bolsonaresca do ódio, mas preferiram divagar, cada ministro ao seu gosto, sobre a liberdade de expressão e a imunidade parlamentar. Agora é tarde.

A autoridade de vossas excelências não é um dado que se possa presumir, não se materializa por obra do acaso. A família Bolsonaro sabe disso ("Será que vão ter essa força mesmo?"). Eduardo Cunha e Renan Calheiros também já sabiam. A capacidade da Corte de ser obedecida precisa ser conquistada e administrada, pairar acima das divisões políticas e inspirar respeito. Essa conquista se dá, entre outras coisas, pela obediência aos rituais de imparcialidade, pela prudência institucional e pela coragem política. O judiciário falha em todas essas frentes, miseravelmente. Falar o que der na telha na imprensa não ajuda. Conceder habeas corpus a amigo ou prometer, por telefone, ajudar a senador também não. Ainda se dão ao luxo de investir energia na manutenção do adicional de 1 bilhão de reais por ano em auxílio-moradia à magistocracia. Respeitem-se, porque disso depende o estado de direito.

Não será mais possível sapatear em cima do mantra "as instituições estão funcionando". Mantra, sabemos, é apenas um canto num ritual contemplativo, não reflexão crítica (Bolsonaro também tem raiva de reflexão crítica). Vossas excelências estão perdendo esse jogo. Quando o STF apagar as luzes, quem vai entregar as chaves? Toffoli já emprestou as do gabinete, preventivamente. O resto é silêncio.