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quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Sementes misteriosas da China tem fungos, bactérias e possíveis pragas

A informação é do Ministério da Agricultura. O site do ministério não cita a China, embora os pacotes sejam identificados como oriundos de lá.

Até o momento do 'alerta' haviam sido registrados 258 pacotes não-solicitados de sementes em 24 estados e no Distrito Federal. Apenas Amazonas e Maranhão ainda não registraram as sementes misteriosas.

“Após análises laboratoriais, foi identificada a presença de ácaro vivo em uma amostra; de três fungos diferentes em 25 amostras; de bactéria em duas amostras; e possibilidade de pragas quarentenárias em quatro amostras (como plantas daninhas)”, alertou o ministério.

Cuidado!

Alerta dos EUA

Nos Estados Unidos, onde as investigações estão mais avançadas. Osama El-Lissy, um dos diretores do Departamento de Agricultura americano (USDA, em inglês), conta que já foram identificados 300 tipos de sementes. Segundo Osama, em sua maioria são plantas ornamentais, frutas, ervas daninhas, vegetais. Algumas estavam contaminadas com pragas, mas nada de muito preocupante.

Recebeu sementes misteriosas? Saiba o que fazer

O Ministério da Agricultura emitiu um alerta fitossanitário para que a população tenha cuidado e não abra pacotes com sementes não solicitadas, seja qual for o país de origem.

Caso você receba algum pacote suspeito, o ministério orienta a entrega do material para uma das unidades do Mapa em seu estado ou órgão estadual de defesa,

O pacote não deve ser aberto ou descartado no lixo, a fim de evitar o contato das sementes com solo e prejuízos para as áreas agrícolas e o meio ambiente.

Catraca Livre - Transcrito em 07 outubro 2020


 

quarta-feira, 17 de junho de 2020

HIDROXICLOROQUINA E COVID-19 : O “X” DA QUESTÃO - Sérgio Alves de 0liveira


A “poluição” da mente das pessoas provocada por essa verdadeira guerra de informações ,contrainformações,propaganda , e  interesses comerciais inconfessáveis,mesquinhos e mercenários,  tanto da poderosa indústria farmacêutica, quanto de  todo o  seu aparato médico-hospitalar vinculado ,está recebendo uma “mãozinha” da grande imprensa para tornar as coisas mais confusas do que  já são, com bastante “ajuda” de certos políticos e autoridades governamentais.

O medo e o pavor se espalham incontrolavelmente em todo o mundo frente à essa  nova ameaça “made in China”, que já contaminou  e matou muita  gente,deixando os hospitais e as UTIs  tão cheios que já começaram a “expelir” pacientes pelas suas janelas. É evidente que todo esse  estresse ”contaminando” as pessoas  24 horas por dia concorrerá “pari passu” com a contaminação “física” desse maldito vírus, afetando fortemente o aspecto emocional, e assim reduzindo consideravelmente a imunidade “psicológica” de todos. Por isso, ao invés ajudar,a grande imprensa só está atrapalhando o combate a essa praga.  Esse “prêmio” ninguém tira da grande imprensa. Uma dessa grandes redes de comunicação chegou a receber, merecidamente, o apelido de “TV Funerária”.

Uma das “proteções” mais difundidas  contra esse vírus “mortal” é o uso ilimitado do gel hidroalcóolico. Mas  a  grande mídia simplesmente se omite de alertar que esse  gel não pode ser usado durante muitos dias seguidos porque afetará  consideravelmente a primeira barreira de imunidade natural do corpo humano, que são as bactérias e os lipídios da pele, uma proteção natural contra  vírus. Essa pandemia global acabou atropelando a busca apressada  por remédios preventivos (vacinas) e curativos da doença.  Apesar de não haver ainda no mundo os remédios específicos homologados pelos órgãos de saúde competentes para  combater o novo coronavírus, alguns profissionais na área de saúde do Brasil, dentre os quais  médicos, e também autoridades públicas, como  o próprio Presidente Jair Bolsonaro,  têm  dado  algum  “aval” ou “garantia” sobre  a  eficácia de alguns remédios  disponíveis  nas prateleiras das farmácias, destinados em princípio a outras doenças, mas que teriam se mostrado positivos para a  cura  do Covid-19,especialmente na fase  embrionária” da doença. Mas aí iniciou  uma guerra sem precedentes na área da saúde.                                                           
Para meu próprio governo, fui a uma farmácia da Rede Panvel ,no Rio Grande do Sul. Ali perguntei à atendente  se havia disponível a  hidroxicloroquina ou cloroquina  e, caso afirmativo, se seria preciso receita médica para adquirir. A resposta me foi dada “curta e seca”: não tem nenhum dos dois ,porque recebemos ordens de retirá-los  todos das prateleiras. Aí eu fiquei completamente intrigado. Como podem esses  remédios terem “sumido” das prateleiras das farmácias, se o próprio Presidente da República tem opinião favorável sobre a eficácia desses remédios, e o Ministro da Saúde  ser um subordinado seu na hierarquia governamental? O Ministério  da Saúde não “manda” nada nessa história. Para que serve esse Ministério, afinal de contas?

[atualizando: foi constatado que a dexametasona - remédio barato, existe a mais de 50 anos - é eficiente para tratamento da covid-19, pacientes em estado grave ou gravíssimo (inclusive, acometido pela chamada 'tempestade de citocinas'),
O cenário ideal e que resolveria de vez o problema seria que a dexametasona fosse utilizada nos pacientes graves e a cloroquina fosse liberada - se comprovada sua eficácia e que os danos colaterais são mínimos - no uso preventivo.
Mas, será que há interesse? Estamos no Brasil, país em que ter uma posição no tocante à covid-19, que não seja a ditada pela 'turma do mecanismo', pode até se tornar crime contra a Segurança Nacional!!! Absurdo dos absurdos é que emitir uma opinião favorável ao presidente Bolsonaro, ainda que expressa em palavras e sem ofensas, contrária aos desmandos do Legislativo e excessos do Judiciário, pode significar CRIME - parte da imprensa já tipificou tal conduta, como atos antidemocráticos e inconstitucionais. 
Percebemos que o cenário é de redução, no mínimo estabilização com tendencia à redução - mas, parte da imprensa não destaca essa redução e, mais grave, já começam a falar em uma segunda onda.] 


Em todo caso, o único profissional que tem direito de “mandar” nessa história é o médico,mais ninguém. Essa é uma prerrogativa profissional insubstituível. De posse de uma receita médica,qualquer pessoa,desde que identificada no ato da compra, deve ter  direito de adquirí-lo, desde que opte por seguir a orientação do seu médico. A única relação jurídica existente deve ser entre o médico e o paciente. Mais ninguém deve “meter o bedelho”.

Dependendo da “boa vontade” do médico, a hidroxicloroquina só poderá ser ministrada a pacientes hospitalizados, ou já  na UTI, quando  o paciente estiver com um “pé-na-cova”. E pelo que se sabe, esse remédio só terá  alguma eficácia na fase inicial da doença. Se é para deixar para “depois”,como hoje é a “política”, mais prático seria os hospitais manterem convênios com os agentes funerários para  que eles próprios passem a medicar os  “seus” pacientes. Mas enquanto todos esses absurdos acontecem, a vacina chinesa contra o novo coronavirus ,feita às  pressas,nas “coxas”, está entrando livremente na  São Paulo, do “tiranete de província” João Doria, que passou a ser “íntimo”do  ditador chinês, Xi Jinping. Só Deus sabe no que isso dará !!!!

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo




quarta-feira, 18 de março de 2020

Os vírus são teimosos - Nas entrelinhas [o presidente Bolsonaro mais ainda]

Bolsonaro não esconde seu desacordo com as medidas de distanciamento social”, mas finalmente considerou o país em “estado de calamidade pública

O presidente Jair Bolsonaro finalmente se deu conta de que os vírus são mais teimosos do que ele próprio. Ontem pela manhã, em entrevista à Rádio Tupi, o presidente da República criticou os governadores por adotarem medidas para evitar aglomerações, o que classificou de “histeria”. No final do dia, declarou estado de calamidade públicaem todo o país e pediu ao Congresso a aprovação da medida. Vírus são parasitas intracelulares obrigatórios (característica que os impede de serem considerados seres vivos), dependem de células para se multiplicarem. Diferentemente dos organismos vivos, são incapazes de crescer em tamanho e de se dividir. Porém, uma vez dentro da célula, a capacidade de replicação dos vírus é surpreendente: um único exemplar é capaz de multiplicar, em poucas horas, milhares de novos vírus. Não foi à toa que apenas um dos 30 infectados na Coreia do Sul foi o responsável pela transmissão da epidemia que atingiu 196 mil pessoas.

Os vírus são capazes de infectar todos os seres vivos de todos os domínios e representam a maior diversidade biológica do planeta, sendo mais diversos que bactérias, plantas, fungos e animais juntos. Desde o século XIX, cientistas travam uma batalha silenciosa contra os vírus, iniciada por Louis Pasteur, com a teoria microbiana das doenças, que teve um grande avanço quando o microbiologista Charles Chamberland, em 1884, conseguiu filtrar as bactérias. Coube ao microbiologista Martinus Beijerinck, em 1898, identificar pela primeira vez um contagium vivum fluidum (fluido vivo contagioso).Ele introduziu o termo ‘vírus’ para indicar que o agente causal da doença do mosaico do tabaco não tinha uma natureza bacteriana, e sua descoberta é considerada como o marco inicial da virologia.

A partir daí  vieram as grandes descobertas: Em 1898, o vírus da febre aftosa (Aphtovirus); em 1901, Walter Reed identificou o primeiro vírus humano, o vírus da febre amarela (Flavivirus). Em 1908, Vilhelm Ellerman e Olaf Bang demonstraram o vírus da leucose aviária. E em 1911, Peyton Rous transmitiu o vírus do sarcoma de Rous de uma galinha para outra. Em 1915, o bacteriologista Frederick William Twort  observou que as colônias morriam e que o agente dessa transformação era infeccioso. Em 1937, Max Theiler cultivou o vírus da febre amarela em ovos de galinha e desenvolveu uma vacina a partir de uma estirpe do vírus atenuado.

Em 1949, John Franklin Enders, Thomas Weller e Frederick Robbins cultivaram o vírus da poliomielite em culturas de células embrionárias humanas, o primeiro vírus a ser cultivado sem a utilização de tecido animal sólido ou ovos Este método permitiu a Jonas Salk desenvolver uma vacina eficaz contra a poliomielite.Mas somente após a segunda metade do século XX. a luta contra os vírus ganhou escala: foram reconhecidas mais de 2000 novas espécies de vírus de animais, plantas e bactérias. Em 1957, descobriu-se o arterivírus equino e o vírus da diarreia bovina (um pestivírus). Em 1963, Baruch Blumberg descobriu o vírus da hepatite B, e em 1965, Howard Temin descreveu o primeiro retrovírus. A transcriptase reversa, que é a enzima fundamental dos retrovírus, foi descrita em 1970, por Howard Martin Temin e David Baltimore. Em 1983, a equipe de Luc Montagnier do Instituto Pasteur, na França, isolou pela primeira vez o retrovírus que hoje conhecemos por HIV, ou seja, o vírus da AIDS.

Economia
Bolsonaro é um “criacionista”, não está nem aí para os mistérios da biologia, o mundo dos darwinistas,  onde se trava essa guerra sem fim. Sua grande preocupação durante o dia de ontem não era com os infectados pelo coronavírus, que fez a sua primeira vítima em São Paulo. Já são 346 casos em 17 estados, com 8.819 casos suspeitos, 1.890 casos descartados e 18 pessoas hospitalizadas em estado grave (7% do total). Era não prejudicar a economia: “Olha, a economia estava indo bem, fizemos algumas reformas, os números bem demonstravam taxa de juros lá embaixo, o risco, a confiança no Brasil, a questão de risco Brasil também. Então, estava indo bem. Esse vírus trouxe uma certa histeria”, disse. “Tem alguns governadores, no meu entender, eu posso até estar errado, mas estão tomando medidas que vão prejudicar em muito a nossa economia”, completou. [O presidente Bolsonaro, cuja teimosia nos motivou a 'invadirmos' o título original desta matéria, cria  grandes encrencas - quase sempre fornecendo munição que beneficia os inimigos do Brasil, dando argumentos para que os mesmos critiquem o governo Bolsonaro - e um dos grandes erros que sua teimosia causa é a de utilizar os serviços de um porta-voz.
O atual porta-voz  do presidente Bolsonaro é altamente competente, cordato, mas, fica em segundo plano. 
Com o péssimo hábito de conceder 'entrevistas de corredor',  de improviso e outras, forneceu munição ao deputado Maia que já criou um slogan, que já utilizou em entrevista: 
"NÃO VALE GARANTIR A ECONOMIA COM PERDA DE VIDAS".

O projeto enviado ao Congresso Nacional decretando 'estado de calamidade pública' é necessário, inadiável, essencial para facilitar o combate à Covid-19 e com o bônus de favorecer  à imagem do presidente Bolsonaro - se a divulgação fosse efetuada por um porta-voz e que deixasse bem clara a necessidade da medida.
Bolsonaro, mais uma vez, atravessou entrou na divulgação e abriu espaço para seus inimigos, também inimigos do Brasil, se beneficiarem, deturpando, como habitual, as reais intenções presidenciais.
O nosso presidente precisa ter presente que o presidente que não abusa no falar, quando fala causa maior impacto. E o que sempre fala, sem comedimento, municia os adversários.]
A entrevista de Bolsonaro à Rádio líder dos Diários Associados reiterou dois comportamentos recorrentes do presidente da República nesta crise: primeiro, a subestimação da doença em si, em que pese os exemplos dos demais chefes de Estado em todo o mundo, inclusive seu aliado principal, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump [Trump não preside um país com a economia em frangalhos e que foi vítima por 13 anos de uma quadrilha assaltando os cofres públicos e preside a maior economia do mundo - o que permite que até fatos negativos tenham efeitos favoráveis na economia dos EUA.] em ; segundo, se eximir da responsabilidade e culpar os governadores pelo que vier o ocorrer na economia, no caso, a recessão, que será inevitável.

 Essa postura somente aumentou o seu isolamento, além de reforçar uma avaliação quase generalizada nos meios políticos, e crescente na opinião pública, de que está despreparado para os desafios do cargo que ocupa, além de não respeitar sua liturgia. Na segunda-feira, Bolsonaro criticou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que vem se destacando no combate à epidemia e lidera os sanitaristas do país na mobilização dos serviços do SUS. Não gostou da participação de Mandetta numa reunião com os chefes dos demais poderes, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que vem criticando as atitudes de Bolsonaro; do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, que procura atuar como algodão entre os cristais. [ainda que o ministro tenha incorrido em falha, aceitando um convite de outro Poder, tem que ser considerada a eficiência com que o ministro Mandetta tem conduzido a crise decorrente do coronavírus.
O convite efetuado pelo chefe seja do Judiciário, seja do Legislativo a um ministro de Estado - Poder Executivo - não prima pelo acerto, mas, não é por colocarem uma 'casca de banana' em seu caminho que o presidente Bolsonaro precisa escorregar.]  

A nomeação do ministro da Casa Civil, general Braga Neto, para comandar o comitê de crise que vai gerenciar o combate à epidemia foi vista, erroneamente, como uma maneira de esvaziar a atuação de Mandetta. Não é o caso, pois alguém tem que coordenar todo o governo, mas a “fritura” de Mandetta pela ala mais sectária do Palácio do Planalto estava de vento em popa. Bolsonaro não esconde seu desacordo com as medidas de “distanciamento social” adotadas pelo Ministério da Saúde para evitar a rápida propagação do coronavírus, mas, no final do dia, pressionado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e pelos militares que o assessoram, declarou o país em “estado de calamidade pública”, para poder fazer gastos sem romper a “responsabilidade fiscal”., o que ainda depende de autorização do Congresso. [é forçoso reconhecer que a comunicação direta do presidente vez ou outra também facilita; nenhum parlamentar vai ter coragem para votar contra o decreto. Negar a condição de calamidade pública - que aliás, é um fato sério e que precisa ser combatida.]

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Vocabulário da crise - Fernando Gabeira

10.02.2020 Em Blog
 
Ao chegar ao Rio, fui a um restaurante e na hora do café senti um gosto estranho. Era geosmina, palavra grega. Lembrei-me de que o arroz também já não era mais o mesmo. A geosmina não se limitava a transformar a água de banho. Agora seria um novo componente do próprio corpo. Andando pelas ruas de Ipanema, vejo que a chuva alagou as ruas; o esgoto, em alguns pontos, está de novo a céu aberto.

Ocorre-me uma outra palavra nova. Foi criada pelo escritor americano Glenn Albrecht: solastalgia. É uma combinação em inglês que une duas palavras, solace, consolo, com nostalgia do conforto, sentimento de desolação diante da perda de uma paisagem familiar por incêndio, inundação ou outro desastre. No caso do Rio, a corrupção endêmica.

No meio da semana, escrevi um artigo sobre coronavírus, afirmando que vivemos um novo tempo. Os negacionistas vão dizer sempre que nada mudou, houve pestes no passado, falta de água no Rio; o mundo para eles é apenas uma repetição mecânica. Refleti um pouco sobre o grande livro de Albert Camus, “A peste”. Ele volta à agenda de discussões porque é uma alegoria da ocupação nazista de Paris, uma referência à guerra. No livro, Camus, através de um personagem, afirma que o bacilo da peste nunca morre, ele adormece nas gavetas, nas nossas roupas, esperando o momento para ressurgir.

Quem se concentra apenas na interpretação política poderá entender que o bacilo do nazifascismo pode sempre despertar. Basta ver o discurso de Roberto Alvim ressuscitando as ideias de Goebbels.   entanto, há uma transformação que poderia também alcançar a releitura de “A peste”. De Camus para nossos dias, os perigos biológicos aumentaram muito. Bill Gates tem se dedicado a demonstrar que as pandemias podem matar muito mais que as guerras.  Quando me atenho a uma leitura biológica do texto de Camus, constato de fato que os bacilos a que se refere, de uma certa forma, nunca morrem. A febre amarela, por exemplo, deu as caras de novo no Brasil; da mesma forma, o sarampo. Estavam apenas adormecidos.
O texto de Camus é muito mais do que uma alegoria política ou mesmo uma reflexão sobre riscos biológicos. Ele trata de relações humanas nessas crises que nos levam ao limite.

Certamente, numa Wuhan semideserta muitos dramas e conflitos éticos estão em curso. Aqui mesmo no Rio, a leitura mais produtiva da crise da água não passa pela geosmina nem pelos milhões de litros de esgoto que chegam às estações do Guandu.
Como em “A peste” de Camus, os primeiros sinais aparecem com os ratos mortos. No Rio, foram os indícios de corrupção e incompetência que surgiram lá atrás, pouco notados antes do fim do governo Cabral. No caso da água, chegamos a uma situação difícil de superar. Não somente os milhões de litros de esgoto, mas as estações de tratamento paralisadas na Baixada Fluminense, tudo isso demanda recursos.

Há uma longa discussão sobre privatizar ou não. Defensores da presença do estado argumentam que a Cedae dá lucros. Mas lucros para nós talvez não sejam a questão essencial.  O problema central é a eficácia; há cidades que privatizaram o serviço e se deram bem. Outras se dão bem com o modelo estatal. Os ratos começam a aparecer mortos quando questões que demandam competência e seriedade são entregues ao apetite político partidário.  Essa é a historia antiga que precisa ser mudada. Resolvê-la pela privatização ou pela seriedade administrativa é uma tarefa que deveria apaixonar os dois lados da discussão. No entanto, as saídas demandam muito dinheiro, parte dele consumido nas farras de Cabral, nas fortunas enviadas para o exterior, nas migalhas distribuídas entre os cúmplices.

Bacilos, micróbios, vírus e bactérias — tudo isso assombra num mundo moderno e interligado. Mas é no personagem de um bispo que se fecha com provisões para enfrentar a crise e abandona seu povo que Camus mostra a importância da miséria humana nas tragédias coletivas.  Ele escreveu no Pós-Guerra. De lá para cá, cresceram os perigos biológicos, e nada indica que a humanidade tenha ampliado seu impulso solidário.
A geosmina e a solastalgia são a herança dos sobreviventes.


Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista

 
Artigo publicado no jornal O Globo em 10/02/2020