Todos sabem que dezenas ou centenas de políticos pegaram
carona na empolgação da candidatura
presidencial de Jair Bolsonaro,cujas principais bandeiras eleitorais residiam
no expurgo da esquerda do comando do país, instalada no Planalto desde 1985,e
agravada profundamente de 2003 a 2016,nos governos de Lula da Silva e Dilma
Rousseff,bem como no combate sem tréguas à corrupção,com base em informações
seguras que teria sido roubado do erário federal quantia estimada em 10 trilhões de reais,valor maior que o PIB
brasileiro.
Nem vou citar a nominata de traidores porque seria
necessário quase um livro inteiro para nominá-los. Mas o nome e a cara dessa
gente está estampada em todos os jornais. Se elegeram à sombra de Bolsonaro e
agora chutam-lhe a bunda. Mas os espertalhões dos políticos inseriram essas
permissões, inclusive de traição ao partido e ao candidato eleito pelo partido, nas leis que editaram.
Se essas traições se tornaram “legais”,de modo a não afetar
o mandato eletivo do traidor,o mesmo não
pode ser afirmado em relação aos mais elementares princípios da
ética e da moral. Eleger-se por um partido ou “agarrar-se” a algum candidato
com grande possibilidade de vitória,como foi no caso de Bolsonaro,como mero
“instrumento” de campanha,para depois traí-lo,merece repúdio de toda pessoa
moralmente saudável e com alguma consciência política e democrática.
Mas essa crise ética na política nem sempre foi assim. Houve
época em que a dignidade política era a regra,ao contrário de hoje,que é a “exceção”. Vivi de perto uma situação da política do passado, que na
época sinalizava uma regra rígida de “moral”. Os políticos,no geral,tinham mais
dignidade. Eu era uma criança e
o meu pai tinha alguma vocação para a política,que naquela época era bem mais
decente. Primeiro concorreu e elegeu-se vereador,pelo Partido Libertador-PL, no
município de Montenegro/RS, na década de 40. Nos anos 50 elegeu-se Deputado
Estadual, também pelo PL, numa legislatura integrada por nomes como Leonel
Brizola, Paulo Brossard, e diversos outros nomes ilustres.
O Governador do Estado do RS
era Ernesto Dornelles ,eleito em 1950, após um período em que foi
“interventor” do Estado RS, primo,pelo lado materno, de Getúlio Dornelles
Vargas, então Presidente da República. O
Governador do RS, Ernesto Dornelles, era do mesmo partido de Getúlio,o
(antigo) PTB-Partido Trabalhista Brasileiro, que não deve ser confundido com
o PTB de hoje. O Deputado Estadual
Leonel Brizola,também pertencia à legenda do antigo PTB. Tendo fama de “tocador
de obra”. O Governador nomeou o deputado estadual Leonel Brizola como
“Secretário de Obras Públicas”,que nessa condição elaborou logo após tomar
posse o “Primeiro Grande Plano de Obras do Estado do RS”. Esse “Plano” incluía
a chamada “Estrada da Produção”,que ligaria
a cidade de Carazinho a Porto Alegre,cujo principal objetivo seria o de
escoar a rica produção agrícola da região para os centros de comercialização e
exportação.
A Assembleia Legislativa do RS na época estava bem
dividida,meio a meio,entre a situação (Governo) e a sua oposição. A “situação”
em peso evidentemente iria aprovar o “Primeiro Plano de Obras” do Governo. Se
toda a oposição votasse contra,certamente a “coisa” iria embaralhar. Mas o
deputado Hélio Alves de Oliveira,do PL,era oposição,e pelas regras políticas
vigentes também deveria “torpedear”o projeto em discussão.
Mas o deputado Hélio Alves ponderou consigo mesmo que o
traçado da dita “Estrada da Produção” cruzaria o território do município base
que ele representava na Assembleia e certamente lhe traria grandes benefícios.
E na votação do projeto não teve nenhuma dúvida em optar pelos interesses do
Estado e do seu Município (Montenegro), contra a vontade do seu partido, o PL. O Primeiro Plano de Obras do Estado foi aprovado. Por “um voto”.
É claro que o “caciques” do PL não gostaram e passaram a
criticar o seu deputado,por ter divergido da bancada. Na mesma hora o deputado
do PL RENUNCIOU AO MANDATO. Alguém poderia mencionar mais algum fato semelhante que
tenha ocorrido depois dos anos 50? Quem possui alguma afinidade com as “lidas do
campo”deve conhecer de perto a tal “coruja-de-corredor”,que é aquela
coruja que pula de “pau-em-pau”, nos mourões
de cerca de arame que dividem os campos. E certamente essa ave de rapina é a
que mais assemelha aos procedimentos da maioria dos políticos hoje em dia.
Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo