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quarta-feira, 1 de março de 2017

UPP = Unidade de Perigo ao Policial - Morte de PM faz jus ao apelido da UPP de Beltrame

Revejam, por favor, o trecho entre 8min44seg e 10min18seg (que já está no ponto ao clicar no ‘play’) do meu comentário no nosso programa Sem Edição de 15 de fevereiro, na TVeja, sobre o legado do ex-secretário que vinha sendo cotado por Michel Temer para ocupar um cargo no governo federal, José Mariano Beltrame, na Segurança Pública do Rio de Janeiro.

Agora veja na manchete do Extra de 22 de fevereiro, uma semana depois, a síntese exata da realidade que denunciei no programa, como já vinha fazendo há anos neste blog:

  

Eis um trecho da matéria, com grifos meus:
“Menos de um ano depois de entrar para a Polícia Militar, o soldado Michel de Lima Galvão denunciou a falta de condições de trabalho nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). 

Uma gravação do policial de 2015 mostra o claro descontentamento do agente com a falta de munição e a desvantagem numérica e operacional no confronto com traficantes. Para ele, o projeto das UPPs estava falido. O soldado foi morto na noite de terça-feira, durante um ataque do tráfico no Jacarezinho, na Zona Norte da Cidade.

‘Essa guerra não é nossa. Governo falido, projeto falido. Estão colocando a gente dentro do morro para morrer. A favela não é nossa casa. Ser policial não é ser guerrilheiro, não é confrontar em desvantagem numérica, em desvantagem logística, em desvantagem operacional’, apela o soldado Galvão aos companheiros de tropa.”

Como queríamos demonstrar, é triste.
A “Unidade de Perigo ao Policial” continua fazendo jus ao apelido revelado neste blog em 2014.
Só falta Temer deixar Beltrame espalhá-la pelo país.

Felipe Moura Brasil ⎯ http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Tráfico ataca e deixa três feridos em favelas vizinhas à Sapucaí

Em dois episódios diferentes, bandidos deixaram turista argentina em estado grave no Morro dos Prazeres. Um PM foi baleado perto de Providência 

Vista aérea do Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro (RJ) - 08/03/2011 (iStock/Getty Images)
 
Dois episódios de violência nos arredores da Marquês de Sapucaí deixaram três feridos em pouco mais de 24 horas, sendo uma das vítimas uma turista argentina, que está internada em estado gravíssimo no Hospital Souza Aguiar. Natália Cappetti Lorena, de 42 anos, foi atingida nas costas, enquanto seu marido, Juan Manoel Did, de 46, foi atingido de raspão, quando entraram errado em uma rua do Morro dos Prazeres, em Santa Tereza.

O episódio ocorreu por volta das 15h desta segunda-feira. Além deles, outro casal espanhol estava dentro do carro, mas nada sofreu. O grupo foi socorrido por policiais militares, já que a favela conta com uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), e levado para o Hospital Souza Aguiar. Natalia Lorena foi operada, mas seu estado é grave, já que um dos seis tiros que atingiram o veículo acertou-a na altura da barriga. No ano passado, um turista italiano morreu ao entrar de moto por engano na mesma favela.

Na noite anterior, o ataque de traficantes ocorreu no Morro da Providência. Policiais do 4oBPM (São Cristóvão) seguiam em direção à Sapucaí, quando a viatura foi fuzilada por criminosos na saída do Túnel João Ricardo, na Central do Brasil. Um tiro atingiu o soldado Edilson Cordeiro Ferreira, que dirigia o veículo. Ele foi operado no Souza Aguiar e seu estado é estável. No fim da noite de domingo, traficantes da Providência voltaram a atacar um carro que acabara de sair da Cidade do Samba, na Gamboa. Quando o motorista errou o caminho, entrando num dos acessos ao morto, foi abordado e levou vários tiros. Por sorte, ninguém se feriu.

 Fonte: Revista VEJA
 

domingo, 20 de novembro de 2016

Equipe do Bope é deslocada para fazer incursão na Cidade de Deus

Desde o início da manhã estão ocorrendo confrontos na favela entre bandidos e PMs

Uma equipe do Batalhão de Operações Especiais (Bope) que estava em frente à Unidade de Tratamento do Rio Arroio Fundo, em Jacarepaguá, perto do local onde caiu o helicóptero da Polícia Militar, foi deslocada para fazer incursões na Cidade de Deus, por volta das 20h. 
 
 Bombeiros trabalham no local onde houve a queda de helicóptero da PM - Marcelo Carnaval / Agência O Globo

De acordo com um policial da tropa de elite da PM, eles irão circular pela favela em busca de traficantes. O grupo chegou ao local do acidente usando touca ninja.  Pelas redes sociais, policiais do 18º BPM (Jacarepaguá) e 31º BPM (Barra) que estão de folga são chamados para voltar, voluntariamente, ao trabalho. 

Por volta das 19h30m, um helicóptero Grupamento Aeromóvel da Polícia Militar (GAM) caiu na altura da Avenida Ayrton Senna. O Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos foi chamado para fazer a perícia. Segundo o Coronel Sérgio Schalioni, comandante do 31º BPM (Barra da Tijuca), os quatro passageiros da aeronave morreram.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Mobilização nacional e ampla contra o estupro

O país precisa enfrentar o desafio de mudar paradigmas que, à sombra de uma misoginia apenas aparentemente disfarçada, são complacentes com agressões à mulher

[sugestão:
- 1º estupro: castração química por um período entre dez a vinte anos - comparecimento mensal compulsório a um hospital credenciado para  aplicar injeção que broxe mesmo;
- reincidência: castração física por esmagamento dos testículos. Mesma punição seria aplicada aos condenados à castração química que tentassem se furtar à execução da pena cominada.]
 
O aberrante episódio do estupro coletivo de uma adolescente, numa favela do Rio, parece ter despertado a opinião pública para uma questão que, a despeito de configurar crime gravíssimo, não tem sido tratada pelas estruturas públicas (polícia, sistemas de atendimento médico e psicológico, Justiça etc.) a ela afeitas, e mesmo pela imprensa, com a atenção à altura da dimensão do problema. Contribui para isso uma série de injunções, que vão da vergonha que a vítima tem de registrar queixas nas delegacias a uma cultura, apenas aparentemente disfarçada, da misoginia que aceita como “natural” e até as estimula — violências de todo tipo, inclusive sexual, contra a mulher.

Por isso mesmo, as agressões sexuais praticadas contra a jovem não só devem ser tratadas pelos seus aspectos próprios, na forma da lei, o que é óbvio, mas também servir como um divisor de águas no país. A partir dos desdobramentos do caso, sociedade e poder público precisam se mobilizar para conter o que parece ser a escalada, em curso, da banalização desse tipo de crime.

A própria maneira como a polícia fluminense começou a tratar o caso evidenciou que métodos empregados na apuração desses crimes precisam ser revistos. As investigações iniciais derivaram para a discussão do secundário (se a violência sexual praticada pelo grupo decorreu ou não de sexo consentido, a vida pregressa da vítima etc.). Algo como, por antecipação, dirigir o inquérito para desqualificar o aspecto principal do episódio — a evidência, agora confirmada pela polícia, até por imagens de um vídeo feito pelos agressores, de que seja o que tenha acontecido antes do crime em si, o que ocorreu na favela foi um estupro. Uma ação abominável, pela qual os envolvidos têm de responder na Justiça.

A questão adjacente ao crime que ora choca a opinião pública do país, com repercussão no exterior, é mais ampla, vai além da resposta que polícia e Justiça do Rio darão ao caso. Os números mostram com preocupante clareza que o estupro tornou-se um crime vulgarizado. Em 2014, registraram-se no Brasil 47,6 mil episódios de violência sexual contra mulheres; no Estado do Rio, foram 4,7 mil. Além de subnotificado, esse é um crime impune: no Rio, por exemplo, dados do Ministério Público mostram que apenas 6% dos casos chegam à Justiça. Em nível nacional, só 36% das agressões sexuais são registradas na polícia. 

Na misógina Índia, por exemplo, um caso semelhante, mas com o trágico desfecho da morte da vítima, levou a população às ruas para exigir, numa onda de violência, mudanças na legislação de proteção às mulheres. No Brasil, ainda são tímidas as iniciativas para alterar paradigmas. Pior, armam-se no Congresso ações que desmontam os já frágeis mecanismos de apoio a vítimas, no âmbito do sistema público de saúde e mesmo da legislação criminal. Um condenável retrocesso.

Mudar de atitude e combater anacronismos culturais são um desafio para o país. Imenso, mas a sociedade tem a obrigação de enfrentá-lo.

Fonte: Editorial - O Globo

sábado, 28 de maio de 2016

Um soco no útero

No Brasil, a cada 11 minutos uma mulher sofre abusos. Pode um ator fazer piada com estupro na TV? 

[o mais trágico é que este caso, apesar da ampla divulgação, deixa a sensação que ficará impune... notem que os três suspeitos chegam a delegacia juntos para depor... óbvio que tiveram tempo suficiente para combinar os depoimentos.]

O estupro coletivo da jovem de 16 anos, “uma mina amassada” por mais de 30 homens, numa favela do Rio de Janeiro, me deixou com as mãos trêmulas, um misto de raiva e impotência. A garota se queixa de fortes dores internas, “como se fosse no útero”. Não vi o vídeo de 40 segundos que exibiu a moça inconsciente, com sua nudez violada e ensanguentada. Foi por seu corpo o mesmo corpo que deu à luz um filho quando ela só tinha 13 anos que “o trem-bala passou”.

“É nós, trem-bala Marreta”, gabou-se um dos estupradores no vídeo. Referia-se ao grupo de traficantes do Comando Vermelho chefiado por Luiz Cláudio Machado, o Marreta, preso em 2014 no Paraguai. Os homens estavam armados de fuzis e pistolas. A jovem tinha ido encontrar um rapaz de 19 anos, o “Petão”, em sua casa, na Zona Oeste do Rio. Saía com ele havia uns anos após se conhecerem no colégio. Disse que acordou no dia seguinte, observada pelos homens armados.

Não é o primeiro nem será o último estupro coletivo – ou gang rape, como se diz lá fora. Neste momento, o Piauí investiga uma denúncia de estupro coletivo de uma jovem de 17 anos. A cada 11 minutos, uma mulher é violentada no Brasil. No Rio de Janeiro, 12 são estupradas por dia. Os casos mais chocantes envolvem o próprio pai, parentes, namorados, vizinhos, ou gangues.

Muitos ataques terminam em morte. Os números não refletem a realidade. É um crime difícil de denunciar – pela vergonha e pelo desânimo. Pesquisas internacionais indicam que apenas 35% dos casos são notificados. A barbárie também está no inconsciente coletivo de sociedades machistas que culpam as vítimas. Quem usa saia curta ou namora traficante se sujeita a ser estuprada. Essa é a lógica das favelas e do asfalto.

Se isso explicasse o abuso, não haveria estupros em campus de universidades, em festinhas da elite ou dentro de casa. No ano passado, surgiu um blog com um manual Como Estuprar Mulher na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. O blog, do “Tio Astolfo”, “em prol da Filosofia do Estupro”, chamava as estudantes de “vadias”. Não soube de nenhuma prisão por isso.

Essa moça no Rio de Janeiro foi estuprada por ser mulher. Os bandidos divulgaram sua façanha em vídeo entre risos e sem disfarce. Foi um soco na consciência nacional. Pela lei, quando a vítima do estupro tem entre 14 e 18 anos, a sentença para os criminosos é de oito a 12 anos de prisão. Quantos realmente são punidos?

Um crime hediondo desses deveria ser punido com a prisão perpétua sem levar em conta a idade dos criminosos. [discordamos da prisão perpétua para este tipo de criminoso - melhor seria a castração química, irreversível; se a broxura que deveria ser permanente se revertesse mesmo que após os 20 anos da aplicação, seria utilizada a castração física = extração dos testículos.] Sabemos que só a Educação, nas escolas e em casa, pode reduzir o abuso a longo prazo. Mas o investimento na Educação deve ser acompanhado do rigor na lei. A impunidade gritante encoraja outros a se sentir mais machos com os estupros.

“Esta aqui é a famosa ‘come rato’ da Barão”, diz um homem enquanto aponta para a moça desacordada e nua. “Mais de 30 engravidou (sic)”, diz outro. “Amassaram a mina, intendeu ou não intendeu (sic)?” “Olha como é que ela tá! Sangrando...”, disse, abrindo as pernas da jovem. Barbárie, covardia e o que mais? Não tem nome para isso.

A jovem soube do vídeo, foi à favela e pediu ao chefe do tráfico seu celular roubado. À polícia, ela disse que usa ecstasy e lança-perfume mas não usava entorpecente havia um mês. Da noite do crime, diz não se lembrar de nada. A mãe da moça é professora e pedagoga. A família chorou ao ver o vídeo. O pai disse: “Bagunçaram minha filha”.

Bagunçam o Brasil todos os que não se indignam. Mas especialmente figuras abjetas como o ator Alexandre Frota, recebido pelo ministro da Educação Mendonça Filho com “propostas para um ensino sem doutrinação”. O ministro disse em sua defesa:Não discrimino ninguém”. Dê uma olhadinha na participação de Alexandre Frota em um programa de TV em maio de 2014, Agora é tarde. E perceba como o senhor deve desculpas tardias a si mesmo e a sua família pela agenda descabida.

No programa do humorista (?) Rafinha Bastos, na Rede Bandeirantes, Alexandre Frota disse que fez sexo por trás com uma mãe de santo após deixá-la desacordada com pressão sobre a nuca. “Comi uma mãe de santo”, disse e repetiu Frota, provocando risos e aplausos. Nojo total.

O ator constrangeu uma menina, chamada na plateia para representar o traseiro da mãe de santo. Frota falava de bunda e alisava seu pau. “Como a mãe de santo não falou nada, então pensei: vou comer”. E por aí foi, estimulado por um sorridente Rafinha Bastos.  Todos ali são cúmplices de apologia ao estupro, mesmo que o ator troglodita tenha dito depois, diante de protestos, que tudo não passava de “uma piada”. País onde estupro é piada é país que dá soco no útero de suas mulheres.

Fonte: Ruth de Aquino - Revista Época 

Leia mais em:  suspeito de estupro diz... estou mais famoso que a ...

 grito contra o estupro


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Bandido é bandido. Policial é policial. Não importa que o policial morra, quem não pode morrer é o bandido


Vamos dar um basta nos PMs homicidas


O vídeo da Providência é um dos maiores golpes à política de pacificação das favelas do Rio 

Chega. Não é mais possível correr o risco de ter assassinos a sangue frio em Unidades de Polícia Pacificadora. Não dá mais para deixar soltos por aí, com pompa e autoridade, com farda e arma, bandidos do quilate dos que mataram um rapaz de 17 anos no Morro da Providência e, depois, forjaram um auto de resistência. [adendo: rapaz de 17 anos, com ligações no tráfico. Ao ser abordado pela polícia, aparentemente, se rendeu. Aparentemente, já que o vídeo cuja autenticidade não foi comprovada - nada garante que não seja uma montagem - não mostra o inicio da operação. Estranhamente, o autor do vídeo, morador da favela e cineasta, só ficou curioso quando o ex-coroinha, e até o dia dos fatos traficante de drogas, estava rendido.]  Em bom português: os cinco PMs alteraram a cena do crime para fazer crer que haviam matado em legítima defesa, em confronto com traficantes.

O vídeo, filmado por moradores da Providência, é de dar nojo. O nojo vem da certeza de que essa não é uma ação rara. Seria irresponsável generalizar e dizer que quase todo auto de resistência em favelas é uma farsa. Seria injusto com tantos PMs no Rio de Janeiro que arriscam suas vidas entrando em becos dominados por criminosos. Muitos policiais também acabam morrendo a tiros. Mas esse vídeo é a comprovação do que nós sabemos: muitos "autos de resistência" são, na verdade, execuções. E isso é inadmissível.

Estamos todos cansados dos adjetivos superlativos. O governador Pezão qualifica de "abominável" a cena dos policiais colocando a arma na mão do jovem ensanguentado e semimorto, atirando duas vezes para simular reação do rapaz. O secretário de Segurança José Mariano Beltrame reage como sempre reagiu, de maneira digna: "A maneira que eu tenho de me desculpar com a população do Rio de Janeiro é colocando essas pessoas na rua. Não há outro tipo de alternativa e atitude a ser tomada, de maneira rápida. Essas pessoas não são dignas de participar de um programa (UPP) que está salvando vidas", disse Beltrame.

Eu não quero esses policiais na rua. A população das favelas e do asfalto não quer esses PMs na rua. Ok, eles estão presos. Por quanto tempo? A prisão foi decretada pela Justiça. Mas, uma hora qualquer, bem antes do correto, esses PMs estarão de volta às ruas.  [outro lembrete: centenas de bandidos, muitos assassinos e traficantes de drogas,. são presos em flagrante delito e dias depois estão nas ruas, são liberados pela Justiça para aguardar julgamento em liberdade. A lei tem que valer para todos. Se o bandido pode aguardar o julgamento em liberdade, o policial  tem o mesmo direito. Além da disposição legal, os policiais possuem emprego e residência fixa, não possuem antecedentes criminais  - requisitos que os bandidos favorecidos com a liberdade provisória nunca tem.] Não serão mais policiais. Serão apenas o que sempre foram. Bandidos, assassinos. Homens que desonram a corporação, comprometem os colegas e acham favelados "um lixo", como denunciou um morador tratado assim pelos PMs. O rapaz havia se rendido. Mãos ao alto nos filmes de bangue-bangue significa render-se, submeter-se à Justiça dos homens. Não dá. Algo precisa ser feito.

Esse vídeo é um dos maiores golpes à política de pacificação das favelas. O objetivo original era colocar nas UPPs policiais diferentes, formados em filosofia, direitos humanos. [exigir da polícia tais requisitos seria desperdício. O mais necessário para um policial - em qualquer área de uma cidade, seja na favela ou no assalto, na periferia ou em bairro nobre, é ser dedicado ao serviço, honesto e atirar bem.] Seria uma espécie de polícia de proximidade. Deu tudo errado? Sem políticas sociais, sem a ajuda do Estado, temos então esquadrões de extermínio misturados a bravos homens? A resposta para essa segunda pergunta é: temos, sim. Temos exterminadores. E eles precisam ser investigados e desmascarados antes de cometer crimes como esse – e não depois. A inteligência da Segurança precisa funcionar melhor para coibir esses elementos.

A banda podre da PM pode estar escrevendo a sentença de morte da corporação. Reestruturar as polícias para que os bons patrulhem com credibilidade e imponham respeito precisa ser a tônica do comando de segurança. O Estado deveria processar esses PMs em nome da família do rapaz, deveria contratar um advogado criminal para conseguir uma condenação a 30 anos de prisão para esses cinco agentes. Chamar esse homicídio, com alteração da cena do crime, de "desvio de conduta" é incentivar outras ações do mesmo tipo. Deixar esses cinco PMs uns aninhos na prisão de policiais não adianta nada como exemplo. [esta semana um policial foi atacado por traficantes, amarrado a um cavalo e arrastado, vivo, pelas ruas de uma favela. Pouco se escreveu sobre o caso. Já sobre o ex-coroinha, o 'santo' que já não era santo, escreveram verdadeiros tratados, defendendo mais um 'di menor' que, felizmente, não mais cometerá crimes.]

Eduardo Felipe Santos Victor, de 17 anos, foi o rapaz morto pelos cinco PMs. Era o Pintinho ou Felipe da Provi, assim se identificava em seu perfil no Facebook. Era tricolor. Foi coroinha mas a fé escafedeu-se num beco qualquer, no vício ou no tráfico. Soltava pipa mas vendia droga, segundo amigos. Deixou a escola no nono ano. Numa família de oito irmãos, um acaba no tráfico. Seria esse o destino inexorável em comunidades que o Estado abandona?

O governador Pezão está "triste" por saber que "um agente do estado, uma pessoa em que nós investimos, que fez concurso, que treinou, que está na comunidade para levar a paz, praticou um ato como este". Não basta, governador. Não basta também pedir desculpas à população,  secretário Beltrame. Não basta expulsar. Não basta lembrar que mais de 2 mil policiais já foram afastados das ruas por erros em serviço. Sim, são ao todo 60 mil policiais, muitos do bem. Mas todos nós temos certeza de que os PMs bandidos não são só 2 mil. 

O governador aproveita para lembrar como é também terrível a cena do jovem de 17 anos que "arrasta um policial com um cavalo e mata". Mas não está na hora de lembrar o que os bandidos fazem com policiais. Porque bandido é bandido. Policial deveria ser policial.

 Fonte: Ruth de Aquino - Revista Época

 

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

O livro que não escrevi

Acho que vou publicar um livro que não escrevi. É o chamado método do “cut and splice”, que vários dadaístas adotaram e foi utilizado também pelo grande William Burroughs, na montagem de vários textos. Só que meu cut and splice (corte e colagem) é feito de trechos na internet que eu não escrevi. São um relicário de trivialidades, com frases atribuídas a mim que rolam na internet há anos. Já reclamei aqui várias vezes mas sempre surgem novos apócrifos que, aliás, fazem o maior sucesso. Vivemos a grande invasão das asnices na velocidade da luz, embora os pensamentos vão a passos de tartaruga (olha eu aí já no lugar comum).

A boa e velha burrice continua intocada, agora disfarçada pelo charme da rapidez. Antigamente, os burros eram humildes; esgueiravam-se pelos cantos, ouvindo, amargurados, os inteligentes deitando falação. Agora não; é a revolução dos idiotas on-line. Escrevem e não entendo por que não assinam seus belos nomes. Por que eu?

Vejamos trechos escolhidos do meu futuro livro apócrifo de mim mesmo: O ser humano não é absoluto. Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos, pq fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins. No dia a dia, pelo amor de Deus, seja idiota!”

Ou então:

“Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração! Alias, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?”

Mais um:

“Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, ‘pague mico’, saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta. Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteiras, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço, não tomar chuva. Pule corda! Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte.”

Ou: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche!”
Mas a maioria dos textos não é “metafisica” é sobre amor e mulheres.

Vejamos:

“Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, não toma banho, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Aliás, o seu fettuccine ao pesto é imbatível.”

Há um texto rolando (e sendo elogiado) em relação as mulheres e o casamento:

“Por que comprar a vaca, se você pode beber o leite de graça? Aqui está a novidade para vocês: Hoje em dia 80% das mulheres são contra o casamento e sabem por quê? Porque as mulheres perceberam que não vale a pena comprar um porco inteiro só para ter uma linguiça!” Nada mais justo!

Outra pérola: “A pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia. E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...”

E mais: “Antes idiota que infeliz! Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice”.

“As mulheres são tão cheirosinhas; elas fazem biquinho e deitam no teu ombro...’ ‘Tenho horror à mulher perfeitinha. Acho ótimo celulite...”
“As mulheres de hoje lutam para ser magrinhas. Elas têm horror de qualquer carninha saindo da calça de cintura tão baixa que o cós acaba!...” (Luto dia e noite contra cacófatos e jamais escreveria “cós acaba!”)

“Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo — beijar de língua, namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo. Desconhece a delícia de assistir a um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as cobertas.”

Ainda sobre as mulheres:

“São escravas aparentemente alforriadas numa grande senzala sem grades”.

(E, finalmente a grande síntese: “Quem se sente amado não ofega, mas suspira…” E conclui (em meu nome) com a frase de múltiplos significados:

”Ah, o amor, essa raposa….“

Mas o pior são artigos escritos por inimigos covardes para me sujar. Há um texto de extrema direita, boçal, xingando os brasileiros, onde há coisas como: “Brasileiro é babaca. Brasileiro é um povo trabalhador. Mentira. Brasileiro é vagabundo por excelência. Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo de R$ 90 mensais para não fazer nada não pode ser adjetivado de outra coisa que não de vagabundo. Noventa por cento de quem vive na favela é gente honesta e trabalhadora. Mentira. Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como ‘aviãozinho’ do tráfico para ganhar uma grana legal. Se a maioria da favela fosse honesta, já teriam existido condições de se tocar os bandidos de lá para fora...”

Há um texto com minha assinatura xingando a presidente da República com tal violência que eu mereceria uma prisão. E não adianta desmentir, pois os boatos continuam. Dizem por exemplo que o Lula mandou o Lewandowski me tirar do ar na CBN…há mais de um ano. E continuo falando. Será que pensam que eu não sou eu?

Ou seja: ou mentem para me incriminar ou admiram-me pelo que eu teria de pior; sou amado pelo que não escrevi.


Arnaldo Jabor é Cineasta e Jornalista - O Globo 


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Riscos de a desordem urbana anular avanços das UPPs

Pacificação tem atraído novos moradores, que se prevalecem da leniência do poder público para ocupar áreas beneficiadas pela política de segurança nas favelas

A instalação das Unidades de Polícia Pacificadora no Rio tem o propósito, em razão da urgência ditada pela dimensão da violência, de resgatar comunidades subjugadas por grupos do crime organizado. Adjacentes a esse objetivo, e tão importantes quanto a ocupação policial, situam-se as ações sociais, um conjunto de iniciativas no âmbito do poder público. Caso da oferta de serviços, urbanização e políticas públicas (entre elas, habitação), em geral ausentes nas favelas, em grande parte devido a barreiras criadas pelas quadrilhas que nelas atuam. Ambas, a retomada de regiões e sua reocupação pelo Estado, são partes indissociáveis de um mesmo programa.

Era de se esperar, por isso, que às ações policiais de asfixiamento dos grupos criminosos e de libertação das áreas por eles controladas, se sucederiam os movimentos do poder público para conduzir tais regiões à formalidade. A constatação de que, nessas comunidades, em lugar de atrair o Estado, a pacificação tem permitido o avanço da favelização é preocupante sinal de distorção dos propósitos do programa das UPPs.

O comentário do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, de que a desordem urbana nas comunidades com UPPs tem sido cevada, ainda que indiretamente, pela pacificação, é um preocupante alerta. A leniência do poder público estimula um movimento previsível: com oferta de mais segurança para morar, fiscalização precária e sem uma reocupação efetiva do poder público com seus serviços, essas áreas têm atraído novos moradores. Em vez de ações planejadas de urbanização, uma alternativa aberta pelas unidades pacificadoras, dá-se o incremento da invasão desordenada. Esta, por sua vez, realimenta uma cadeia de informalidade propícia ao retorno das quadrilhas do crime organizado. É um deletério jogo que se realimenta no vazio do Estado.

Fenômeno semelhante já havia ocorrido com o Favela Bairro. O programa introduziu uma série de melhorias nas favelas atendidas, mas, sem uma perspectiva mais ampla de mudar o perfil de ocupação dessas regiões, acabou por incentivar o movimento de ocupação desordenada.

É uma lição para a atual pacificação: cumprida, na maioria das favelas, a missão de retomada das áreas para o controle do Estado, fica a sensação de que falta vontade política aos órgãos de governo para dar seguimento aos objetivos mais estratégicos da política das UPPs.

O secretário Beltrame já chamou atenção também para a necessidade de se abrir espaço, via urbanização, para o acesso dos serviços públicos. Vielas e becos são obstáculos intransponíveis nas favelas, e removê-los é um imperativo para a chegada desses serviços — inclusive de segurança. As UPPs, portanto, não podem servir de anteparo para o incremento da desordem urbana. Elas devem ser avalistas das necessárias mudanças do perfil de ocupação das favelas.

Fonte: O Globo - Editorial