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segunda-feira, 24 de abril de 2023

Grandes revelações - Enfim, liberadas as imagens do dia 8 de janeiro - Gazeta do Povo

Vozes - Alexandre Garcia

Enfim foram liberadas as imagens do Palácio do Planalto do dia 8 de janeiro. Aí a gente vê ministros do governo Lula batendo boca há um desacerto entre eles –, e vê um sujeito, um ladrão, um bandido, que entrou lá tentando arrombar um caixa eletrônico. Tinha até ladrão lá dentro! [opa... qual a novidade? afinal, há oito dias que aquele palácio  era ocupado, majoritariamente, por petistas.]

E quem são essas pessoas? Depois que a gente vê essas imagens fica cada vez mais forte a impressão de que houve uma pré-invasão para deixar de destacamento precursor e destruidor uma terra arrasada pelos inocentes úteis que entraram depois para serem presos, pagarem a culpa e saírem com fama de anarquistas, vândalos. Tem gente chamando até de terroristas e etc. Mas foi uma grande revelação.

Neste domingo (23), o pessoal do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) prestou depoimento à Polícia Federal.   
Já havia prestado depoimento o ex-ministro do GSI, general Marco Edson Gonçalves Dias, que andou circulando por lá, mostrando caminhos, etc. Enfim, foi um choque muito grande descobrir que o 8 de janeiro não foi bem assim como a mídia nos contou com muita propaganda e com muita intenção de conduzir a um julgamento, a uma interpretação.

Lula em Portugal
Amanhã é 25 de abril, dia da Revolução dos Cravos em Portugal. E o presidente do Brasil está em Lisboa; depois do dia 25 vai para a Espanha. Mas esperam-se grandes manifestações contrárias à presença do presidente do Brasil [detalhe: diplomaticamente, o boquirroto petista foi dissuadido = desconvidado = de discursas = expelir asneiras = sobre a data que será festejada amanhã em SESSÃO SOLENE do PARLAMENTO PORTUGUÊS.] na manhã desta terça-feira, e também estão previstas manifestações de apoio a ele.

Se ele tentar falar no Parlamento português, não vai conseguir.  
Poderá falar, se quiser, no salão nobre do Parlamento, como se fosse falar no Salão Negro do Senado, ou no Salão Verde da Câmara.
Vão haver manifestações fora do Parlamento para mostrar que o presidente do Brasil não é bem-vindo. 
Inclusive porque os portugueses – eu converso com eles – associam muito Sócrates, ex-chefe de governo de Portugal, que também foi preso por corrupção, a Lula. Eles veem muita semelhança entre os dois.

Inclusive atualmente aqui em Portugal a gente sente que estão querendo fazer com Sócrates, que foi preso, a mesma coisa que fizeram com Lula, que foi liberado sem ter sido inocentado pela Justiça.

De Lisboa, Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quarta-feira, 13 de julho de 2022

Sitiados pela mentira! - Percival Puggina

Vivemos sitiados pela mentira, muitas vezes apresentada sob o engenhoso nome de “narrativa”. 
Ora, a construção de uma versão que altere a essência de determinado fato não é um mero modo de relatá-lo nem questão de estilo. É mentira, pura e simples, construída com a intenção de iludir.

Quando Lula se afirma inocentado, está mentindo. Ele não foi inocentado nem descometeu os crimes pelos quais foi condenado por nove magistrados diante de robustíssimo volume de provas e evidências.

Quando Lula, que vive como multimilionário que é, fala dos pobres em seu governo, a mentira não encontra quaisquer limites. Recentemente, em entrevista à Rádio Metrópoles, reafirmou sua clássica frase segundo a qual, em seu governo, “os pobres andavam de avião, compravam carro e usavam perfume importado”...

Quando ministros do Supremo dizem que a democracia e as instituições estão sob risco, isso só não será mentira se for confissão de culpa.

Quando um ministro do STF busca para si méritos por haver impedido a volta do antigo voto em papel, ele deixou a verdade em alguma gaveta do gabinete.

Quando é dito que as condenações de Lula foram anuladas porque julgadas no endereço errado temos uma inversão dos fatos, o foro foi dito errado para que os processos fossem anulados.  
Tanto assim que o próprio ministro Fachin havia, em várias ocasiões, negado recursos nesse sentido formulado pelos advogados de Lula e de outros réus.

Quando verdadeira multidão de jornalistas repete, em descarado coro, anos a fio, que Bolsonaro é o responsável por todos os óbitos causados pela pandemia no Brasil, podemos sentir o atoleiro moral em que afundou imensa parcela da imprensa brasileira.

Quando um inquérito do fim do mundo, mantido em sigilo, fornece motivação para medidas de censura e prisões políticas que assombram a liberdade de opinião, e dele só se menciona certo telefonema ameaçador, a narrativa foge das suas consequências reais tanto quanto a verdade foge da mentira.

Quando um leitor me escreve, em bom português, dizendo que Lula é inocente e foi condenado num complô porque compraram uma testemunha e o juiz era militante político, ele está ao mesmo tempo afirmando que o desconhecido Fernando Bittar tinha o poder de levar para a reforma de seu sítio em Atibaia as duas maiores empreiteiras do Brasil.  
Está dizendo que essas empresas deslocaram equipes de obras em portos e hidrelétricas para reformar um sitiozinho! 
Está dizendo, por fim, que a admirável e prestativa OI subiu a Serra e construiu uma torre para o bom funcionamento do telefone e da internet de um certo Fernando Bittar.

Está afirmando por fim, em sua “narrativa” que o crime de Lula, no caso do sítio em Atibaia, foi de esbulho possessório...

A verdade pode, muitas vezes, não ser amável, mas sempre exigirá respeito.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

segunda-feira, 29 de março de 2021

Os suspeitos - Guilherme Fiuza

Vozes - Gazeta do Povo 
 
Por que o Gilmar tá chorando?
– Por causa do advogado do Lula.
– O que ele fez? Bateu no Gilmar?
– Não.
– Jogou areia no olho do Gilmar?
– Não.
– Amarrotou a toga do Gilmar?
– Não. Quer dizer, não sei. Mas não é por isso que ele tá chorando.
– Então é por quê? O advogado do Lula disse que o STF é uma vergonha?
– Não, o advogado do Lula não acha que o STF é uma vergonha.
 
 
O plenário do STF em sessão com apoio de videoconferência. Imagem ilustrativa.| Foto: Nelson Jr./SCO/STF

 - Então o que aconteceu? Ele xingou o Gilmar?
– Não. O Gilmar tá chorando de emoção.
– Ah, tá. É, deve ser emocionante mesmo trabalhar na suprema corte.
– Ele não tá chorando por causa do trabalho dele.
– Não?
– Não. Tá chorando por causa do trabalho do advogado do Lula.
– Como assim?
O Gilmar ficou encantado com a atuação do advogado do Lula. Começou a fazer elogios a ele e caiu no choro.
– Caramba. E filmaram isso sem ele ver?
– Não, foi em público mesmo.
– Em público?!
– É.

– Ele tava dando uma palestra?
Não. Ele tava numa sessão do STF.
– O que?! O Gilmar elogiou o advogado do Lula no meio de uma sessão do STF??
– Sim. No meio de uma sessão do STF que deliberava sobre um processo de interesse da defesa do Lula.
– E ele chorou de emoção enaltecendo o advogado do réu?
– Do réu condenado.
Você acha isso normal?
– Acho.
– Por quê?
– Porque realmente o advogado do Lula conseguiu um milagre. E diante de um milagre é difícil segurar a emoção.

– Que milagre?
O cliente dele roubou um país inteiro e está em vias de ser inocentado.
– É. Milagre mesmo. Já sabem qual foi o santo?
– Lula.
– Não, perguntei de quem foi o milagre pra santificar o Lula.
Parece que foi um milagre coletivo.
– Autores desconhecidos?
– Não. Bem conhecidos.
Você pode citar algum?
– Claro. Gilmar.

– Hein? O Gilmar está comovido com o milagre que ele mesmo fez?
– Qual é o problema? Ele fez o milagre, gostou, se emocionou e chorou. É um direito dele. Afinal de contas é um ser humano.

– Verdade. Bem lembrado.
– Inclusive ele já tinha chorado antes com o cara do MST.
– Milagre também?
– Não. Era uma live em defesa da democracia.

– Não deixa de ser um milagre se juntar com um cara violento em nome da democracia e ainda conseguir chorar.
– Chorar não é tão difícil assim.
– Quando fiz teatro amador eu nunca conseguia.
Mas quem tá falando de amador?
– Verdade. Ali só tem profissional.


– Claro. Ninguém ganha uma toga e uma varinha de condão se não souber chorar.
– Sem dúvida. Mas não é um pouco suspeito um juiz chorar elogiando o advogado do ladrão?
Não. Suspeito é o juiz que condenou o ladrão.
 
Guilherme Fiuza, jornalista - Gazeta do Povo - VOZES
 
 

segunda-feira, 15 de março de 2021

O crime compensa! - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo 

Se o prestígio do Supremo Tribunal já não era grande, sai agora diminuto

Perplexidade talvez seja o melhor termo para caracterizar a decisão do ministro do STF Edson Fachin de cancelar, por questões processuais, a condenação do ex-presidente Lula. Perplexidade ainda mais acentuada pelo segundo momento desse teatro do absurdo, quando a segunda turma põe em votação a imparcialidade ou não do ex-juiz Sergio Moro. 
Os papéis abruptamente se invertem, o decidido torna-se inválido, o mocinho torna-se bandido. A continuar nessa toada, o ex-juiz será considerado ficha-suja, enquanto o responsável pela corrupção posará de vítima. Onde estão agora o “sujo”, o “lixo”, a “corrupção”, o desvio de recursos públicos, a compra de parlamentares? Vai tudo para debaixo do tapete? [VAI. Alguém com um mínimo de noção é capaz de considerar que o ex-presidiário petista receberá alguma sentença condenatória definitiva nos próximos quinze anos? NÃO é a única resposta que cabe.
Caso ele seja absolvido em primeira instância - improvável, porém, possível - a sentença será interpretada a favor do petista. Jamais será dado efeito suspensivo a um eventual recurso impetrado pela MP em caso de absolvição do líder maior do 'perda total' = um partido que tem aquele individuo como líder maior,  realmente perdeu tudo.]

Qual é a percepção do brasileiro, aquele que não compreende as firulas jurídicas? A resposta mais imediata, sem dúvida, é a de que o Judiciário condenou injustamente o ex-presidente da República. Pobre coitado, foi preso arbitrariamente, numa tramoia urdida por juízes e promotores. Evidentemente, não sabe a diferença entre anulação do “juiz natural” e anulação de “provas”. Politicamente é a mesma coisa!

Aliás, mesmo se compreendesse, ficaria confuso, porque é incompreensível que um ministro do Supremo, sete anos depois do começo da Lava Jato, decida de súbito considerar que a vara correspondente de Curitiba não era o lugar adequado de julgamento. E isso depois de ter ele mesmo, várias vezes, considerado que era tal. De repente, a “jurisprudência” começa a valer. Talvez um estagiário de Direito precisasse de 15 dias para chegar a essa conclusão.

Mais uma vez, conforme a já longa história jurídica e política brasileira, a impunidade é consagrada! Não se fala mais dos bilhões desviados da Petrobrás, da corrupção, dos recursos recuperados, mas do réu “inocentado”. A conclusão parece evidente: o crime compensa! E o “inocentado” pode ainda levar como recompensa a Presidência da República! [prezado articulista: aí a pegada foi pesada, mesmo sendo uma conjectura - ainda não chegamos ao ponto de alguém se tornar presidente da República por decisão judicial..... é bem verdade que ainda!!!]

A elite brasileira, cansa-se de repetir, sempre escapa da condenação. O PT sempre lutou, ou aparentava lutar, contra essa forma social de impunidade. Ora, seu líder máximo, assim como seus dirigentes deveriam estar nela enquadrados. Para se livrar de condenações e da cadeia basta ter dinheiro, bons advogados e perseverança. O crime? Ora, o crime... Isso não importa! O que, sim, conta é apagá-lo, de preferência por questões processuais, que invalidem provas abundantes.  
A aposta dos advogados é simples – e historicamente bem-sucedida: um dia encontrarão um ministro que lhes dará razão, e o fará, de preferência, com uma linguagem jurídica pomposa e gótica para disfarçar o feito.
Um pobre, uma pessoa de poucas posses, jamais poderá arcar com esses custos e será abandonado à própria sorte. Pessoas assim serão condenadas e provavelmente presas. Os ricos e as elites políticas e partidárias sairão sorrindo, assobiando e declarando que foram injustiçados durante todos estes anos. Os advogados de Lula, entre ações, sentenças e recursos, devem ter tomado uma centena de iniciativas, se não mais, entupindo o Judiciário com suas medidas. 
É como se a instituição cuja função consiste na garantia e aplicação da lei devesse submeter-se a seus interesses e desígnios. Curioso um líder e um partido dito dos “trabalhadores” se terem colocado nessa posição.
O Supremo mostrou-se pequeno! Se seu prestígio já não era grande, sai agora diminuto. Expõe suas fraturas, suas contradições e sua lerdeza, apresentando-se como impróprio para cumprir sua função constitucional.  
O Poder que deveria ser o do equilíbrio, da moderação e da ponderação torna-se fonte de insegurança jurídica. Nem o passado lhe resiste. Sua hermenêutica é a da arbitrariedade.
A decisão do ministro Fachin desautoriza não apenas a si mesmo, o que já seria bastante grave do ponto de vista lógico e político, mas todas as instâncias do Judiciário que já haviam julgado o ex-presidente. Sete anos de trabalho foram simplesmente relegados por uma mera decisão monocrática, como se juízes e desembargadores nada valessem
Tribunais como o TRF-4 foram sumariamente desprestigiados. Ora, o trabalho desse tribunal foi primoroso, imparcial e independente, tendo várias vezes julgado improcedente a questão colocada pelos advogados de Lula a respeito do “juiz natural”. Subitamente, tudo é explodido! Será que são tidos por pessoas despreparadas? Assim o dá a entender a posição do Supremo, que se volta contra a sua própria instituição.
E o pior de tudo é que não pararemos por aí. A decisão relativa a Lula terá certamente efeito cascata, podendo alcançar outras pessoas condenadas na Lava Jato que se encontrem na mesma situação “natural. Os diferentes advogados já estão afiando suas facas, procurando incluir-se no caso em questão. Aproveitarão da nova “jurisprudência”, que seria uma “reafirmação” da anterior. 
Imaginem uma situação esdrúxula, porém possível neste cenário de valores invertidos:  
um delator, tendo sua delação anulada por um vício processual ou pela suspeição do juiz, poderá pedir o ressarcimento dos valores pagos!  
É isso a Justiça?

 Denis Lerrer Rosenfield, Professor de filosofia