Jovens
que atacaram quatro meninas têm longo histórico criminal. 'Quero ser
bandido mesmo', disse um deles ao juiz. 'Quero que ele fique internado',
pediu a mãe de outro
[mesmo correndo o risco de ser processado por algum defensor de bandidos, acoitados nessas ONGs que dizem defender direitos humanos (defendem os bandidos, nunca se preocupam com as vítimas) tenho que dizer: para esses 'di menor' só a vala.]
Estupro, espancamento e morte: a tarde de horror no Piauí
Adolescentes
que participaram do estupro coletivo de quatro meninas têm longo
histórico criminal. 'Não era para ele ter sido solto', diz a mãe de um
deles sobre internações anteriores
A jovem Daniele Rodrigues Feitosa, morta aos 17 anos após ser vítima de estupro bárbaro em Castelo do Piauí (PI)(Reprodução/VEJA)
A porta de um dos cômodos na casa do comerciante Jorge Moura, de 52
anos, na pequena Castelo do Piauí, cidade com pouco mais de 18.000
habitantes a 180 quilômetros de Teresina, não é aberta há duas semanas.
Moura e a mulher não conseguem entrar no local desde que a filha
Danielly Rodrigues Feitosa, de 17 anos, desapareceu na tarde de 27 de
maio depois de subir com três amigas o Morro do Garrote para tirar fotos
que seriam publicadas em redes sociais. No caminho, as estudantes foram
rendidas por quatro adolescentes que, naquela tarde, usavam drogas na
companhia de um traficante de 39 anos, fugitivo de São Paulo. O desfecho
desse encontro foram duas horas de terror.
As meninas foram despidas à faca, amordaçadas com as próprias roupas
íntimas, amarradas a um cajueiro, torturadas e obrigadas a manter
relações sexuais com os cinco monstros. Depois disso, foram atiradas de
um penhasco. A queda no terreno de pedregulhos pontiagudos provocou
ferimentos severos. Elas ainda ficaram cravejadas de espinhos pelo
corpo. Mas isso não bastou. Dois menores desceram o morro e tentaram
liquidá-las a pedradas. Danielly morreu no último domingo
e uma das vítimas permanece internada em estado grave.
A atrocidade foi
cometida no momento em que o Congresso Nacional parece ter decidido
fazer avançar mudanças na maioridade penal no Brasil. Quem conheceu as
quatro meninas da minúscula cidade do Piauí, estado recordista em
indicadores negativos no país, só quer resposta para uma pergunta:
menores que cometem crimes brutais como esse vão ficar impunes? "Nunca vou me conformar com uma brutalidade dessas. Que Deus os mande
bem para longe, para onde merecerem", disse o pai de Danielly ao site
de VEJA, com o olhar vago de quem ainda tenta entender tamanha
crueldade.
As buscas pelas garotas começaram na noite de 27 de maio. Policiais
civis encontraram as duas motos Honda Bros de 150cc, pilotadas por elas,
no pé do morro e logo as removeram para a delegacia. As motos foram
reconhecidas por vizinhos e familiares, o que fez com que os policias
retornassem às pressas para o local, acompanhados por dezenas de
populares. As meninas foram avistadas empilhadas nas rochas de cor
acobreada. Só uma não estava desacordada, mas agonizava e se apavorou ao
escutar as vozes. A Polícia Civil não teve dúvida: os primeiros
suspeitos eram os garotos que há tempos aterrorizavam a cidade - nos
últimos dois meses, I.V.I, de 15 anos, teve oito acusações registradas
por furto de residência e roubo de motos.
A barbárie chegou rápido aos ouvidos da população de Castelo do
Piauí. Uma barricada de pneus em chamas à porta da delegacia e centenas
de pessoas clamando por Justiça tomaram as ruas. Os menores foram
levados para quatro pontos diferentes da cidade para evitar um
linchamento. Foram depois transferidos para a delegacia de Campo Maior,
onde foram ouvidos, confessaram o crime e apontaram o traficante Adão
José Silva Souza como mentor. Ele fornecia crack e maconha para os
meninos - um deles F.J.C.J, de 16 anos, é cunhado de um primo do
traficante.
No caminho do crime - A história de vida dos menores
infratores não surpreende: são notórios garotos-problema na cidade.
Criados em famílias pobres e desestruturadas, que não conseguiam mais
domar os meninos franzinos, ainda com porte físico de criança - é
difícil crer, à primeira vista, que um deles tenha 17 anos -, eram
usuários de crack e maconha e semanalmente detidos por furtos e roubos.
Os pais passam a sensação de paralisia diante de tanta reincidência dos
filhos.
Nos últimos anos, quase todos os pequenos furtos que ocorrem no
município recaem sobre os garotos, agora jurados de morte pela
população. Na quinta-feira, a primeira audiência deles na Justiça
precisou ser transferida para Teresina por falta de segurança na cidade.
A faixa negra no portal de entrada de Castelo do Piauí reflete o clima
de tensão e vingança.
De 2014 para cá, foram doze boletins de ocorrência contra o menor
I.V.I. - nem todos com autoria comprovada. Dezenas de vítimas relatam
crimes com o mesmo modus operandi do menino (invasões pela janela ou
pelo telhado), mas temem acusá-lo. Após se notabilizar por furtos em
residência, ela agora andava roubando motos - as marcas de um tombo
durante uma fuga frustrada de moto estão na cicatriz que risca sua
cabeça. "São muitos atos infracionais praticados por eles,
principalmente o I.V.I., que é detido com frequência. Desde os dez anos
de idade essa criança está fazendo coisa errada e os atos infracionais
atribuídos talvez cheguem a quase cem", diz o coordenador de Polícia
Civil de Castelo do Piauí, Edílson Lima.
O grupo de menores que agem à margem da lei tem histórico de invadir
casas, assaltar mercearias e roubar motos. Em março, a Polícia Civil
indiciou por corrupção de menores uma mulher que fornecia bebidas e
drogas para os adolescentes, além de já ter mantido um relacionamento
amoroso com um deles, F.J.C.J, de 16 anos, que depois do estupro das
estudantes disse ter "bebido cachaça até as 3 horas da madrugada". Nélia
Alexandre dos Santos Vieira, a Leila, diz ser apenas amiga dos garotos e
frequentar com eles bailes funk. Outro deles, B.F.O, de 15 anos, chegou
a ser expulso de casa pelo pai porque passou a dormir na casa dela.
Primeiro a ser detido, ele delatou os demais às equipes de captura após o
estupro das quatro adolescentes que nunca tinha visto. "Elas eram
bonitas, de boa aparência e bem vestidas, mas eu não as conhecia", disse
à polícia.
O site de VEJA consultou dados recentes da delegacia de Castelo do
Piauí, que não possui delegado fixo e está em condições precárias de
funcionamento e conservação. O arquivo só tem registros recentes. Apenas
dois policiais civis, um carcereiro e um PM se revezam no policiamento
diário. Desde 2013, foram autuados contra os meninos dez registros
diferentes de atos infracionais confirmados por furto, roubo, ameaça,
resistência e associação criminosa. Em algumas ações, eles usaram
peixeiras para ameaçar as vítimas. Isso sem falar nos boletins de
ocorrência atribuídos a I.V.I. A polícia também fez três pedidos de
internação contra dois dos menores: um para G.V.S, de 17 anos, e dois
para I.V.I, de 15 anos, apontado como o mais violento e perigoso.
G.V.S.: "Quero ser bandido" - G.V.S é o menor que
aparece em vídeo obtido pelo site de VEJA, no qual o traficante Adão
José Silva Souza é acusado de ter forçado as quatro vítimas a manter
relações sexuais com ele e com todos os meninos com uma arma à mão - a
versão também consta dos depoimentos dos demais menores, embora a
polícia não tenha encontrado o revólver 38 na cena do crime, nem um
revólver 32, que também aparece em um dos depoimentos. O vídeo foi
gravado por policiais civis após a captura dos menores na manhã seguinte
ao crime - os celulares das vítimas ainda estavam jogados no local.
G.V.S foi reconhecido por fotos durante o depoimento de duas das
adolescentes que conseguiram falar à polícia: J.L.S., de 15 anos, que
recebeu alta nesta semana, e I.C.M.F., de 16 anos, que sofreu
traumatismo craniano e está vivendo na casa do pai em Teresina. Segundo
elas, foi ele quem as abordou primeiro com uma faca. A terceira
sobrevivente, R.N.S.R, de 17 anos, ainda não teve alta no Hospital de
Urgências de Teresina (HUT).
"Esse menor de 17 anos é frio e calculista, não consigo acreditar que
um ser humano faça tamanha crueldade. Ela lembra que ele veio primeiro
colocou uma faca no pescoço da Danielly. Elas tentaram correr, mas ele
ameaçou matá-la. Minha sobrinha disse 'tia, nós paramos porque eu não ia
suportar carregar essa culpa comigo'", diz a professora e historiadora
Márcia Mineiro, que acompanhou a sobrinha I.C.M.F. na ambulância durante
o transporte para Teresina. Durante a transferência, a jovem deitada no
chão não largou a mão da tia. "Ela cravou a unha na minha mão e
apertava quando alguém encostava nela. Ela sabe o que aconteceu, não
lembra muito, mas quando eu perguntei sobre a violência sexual, só
chorou."
A mãe do infrator G.V. S afirma que ele começou a se envolver com o
crime logo aos 10 anos de idade. Estudou apenas até a 5ª série e
abandonou a escola. O primeiro roubo foi um CD. Depois partiu para
celulares e câmeras. No ano passado, já havia sido internado por 45 dias
no Centro de Internação Provisória (CEIP) por furtos repetidos. Quando
saiu, o menor disse: "Nunca mais vou pisar nesse lugar". Mas não cumpriu
a promessa feita à mãe - com quem não teve contato desde a nova
internação.
G. V. S. mora em um pequeno casebre em uma rua de terra batida a
menos de um quilômetro do local onde participou do estupro. De cima do
Morro do Garrote avista-se a casa dele. Vive com o padrasto e a mãe, que
está gravida do oitavo filho. G.V.S. têm duas irmãs gêmeas de seis
anos, uma de 9 anos, uma de 12 anos e outra de 15 anos, além de um irmão
de 19 anos, que sofre de distúrbios mentais. O filho mais velho é fonte
da renda principal: recebe um salário mínimo do governo. A mãe recebe
260 reais do programa federal Bolsa Família. E só. Ela não trabalha e o
padrasto do adolescente vive de bicos. A família se divide em dois
cômodos acanhados na casa de paredes internas mofadas e descascadas com
uma tinta azul e verde. Na parede só há retratos das irmãs. Por fora,
tijolos e concreto estão aparentes. A cerca é improvisada. "Tudo o nosso dinheiro vai para comida, não tenho nem telefone. Mas o
meu menino não tinha precisão não. Aqui a gente não come do bom e do
melhor porque você sabe como é vida de pobre, mas nunca passamos um dia
sem uma panela no fogo", disse a dona de casa Elizabete Vieira da Silva,
de 35 anos.
Segundo a mãe, G.V.S tinha comportamento agressivo com as irmãs - mas
não com ela. Elizabete afirma que sempre que o garoto entrava em casa
as meninas diziam: "Lá vem o ladrão!". G.V.S ficava furioso. "Ele ficava
fungando, respirando fundo, mas não vinha para cima de mim não porque
eu enfrentava". Para a mãe, ele age por causa de más companhias e,
principalmente, pelo vício em drogas. Sempre que voltava para casa sob
efeito de entorpecentes, tentava esconder com o boné os efeitos da
maconha. A mãe diz que sempre implorou para que ele "saísse dessa vida e
fosse trabalhar" e que chegou ameaçar abandoná-lo. Ela também relata
que os menores infratores estavam "intrigados" um com o outro, e que
frequentemente se ameaçavam de morte. "Antes de acontecer isso aí, a
polícia o prendeu e depois soltou. Não era para ter soltado ele, nada
teria acontecido", disse a mãe. "Quando a gente coloca um filho no mundo
não vem escrito na testa o que ele vai ser. Se viesse eu não iria
querer".
O promotor Cezário Cavalcante Neto conta que já decidiu perdoar
G.V.S. em uma audiência e solicitou que ele fosse matriculado em uma
escola em vez de ser internado. [PARABÉNS ilustre promotor - é a autoridade concedida a pessoas que não sabem usar o poder que possuem que produzem hienas gomo o tal G.V.S. Durma bem, tenha bons sonhos e sempre pense que uma parente sua, até mesmo uma filha, pode ser a próxima vítima.] O garoto reagiu: "Ele disse na minha
frente e na frente do juiz 'Quero é ser bandido mesmo'. Fiquei em
choque".
I.V.I.: Terror da cidade - Há cerca de dois meses, a
família de I.V.I se mudou para um pequeno imóvel comercial de uma tia
do adolescente, com medo de que ele sofresse represálias. Os pais e dois
irmãos, duas crianças louras de 2 e 4 anos de idade, vivem amontoados
na entrada de uma antiga loja, um ambiente sujo e sem privacidade. Eles
usam uma cortina para cobrir o portão de ferro - sem ela, seria possível
para ver da rua a casa inteira. I.V.I, dormia em uma rede. Também
gostava de ficar na antiga casa da família, no bairro Cohab, onde a
polícia apreendeu nesta quinta-feira roupas do dia do estupro, entre
elas uma peça feminina - estavam queimadas e serão periciadas.
Aos 15 anos, I.V.I já não respeita os pais. É autor em seis atos
infracionais registrados na delegacia de Castelo do Piauí e está
internado pela terceira vez em uma instituição para recuperação. Em
dezembro de 2014, quando o delegado Laércio Evangelista pediu sua
internação pela segunda vez, I.V.I havia tentado esfaquear um policial
militar após ter furtado e levado para casa celulares, um relógio e uma
espingarda. O delegado comunicou ao Ministério Público que I.V.I estava
"ameaçando e aterrorizando" a população de Castelo do Piauí e que já
haviam perseguido o menino pelas ruas tentando matá-lo. Um dia antes do
estupro, em 26 de maio, I.V.I e B.F.O foram autuados por roubo. Horas
antes do crime, havia sido procurado pelo furto de uma moto. "Quero que ele fique internado para ver se sai deste mundo em que
estava vivendo. Qualquer hora chega a notícia que não quero receber
nunca", diz a desempregada Patrícia Visgueira Izaias, de 38 anos, mãe de
I.V.I. "Acho que não convém ele voltar para Castelo", diz o pai, o
aposentado Manoel Izaias, de 63 anos, carpinteiro aposentado por sofrer
de distúrbios mentais e insônia permanente - dorme à base de remédios há
duas décadas. A família vive com 1.000 reais de renda da aposentadoria
de Manoel e 306 reais do Bolsa Família. "Depois dessa aí ele sujou a
família", diz a mãe.
Patrícia visitou o filho no Centro de Internação Provisória no
domingo. Ela afirmou que o garoto está em local isolado e que recebe bom
atendimento: "Nem parece coisa para filho de pobre". Ela disse que ele
não demonstrava preocupação e que pediu que ele confessasse a ela o
envolvimento no estupro coletivo. Ele disse à mãe que permaneceu na casa
de um vereador na cidade, tio de uma das vítimas, onde teria trabalhado
pela manhã furando um poço. "A desgraça da vida do I.V.I foram as
amizades. Ele teve amizades bem mais pesadas do que ele", diz a mãe.
"Antes ele me ajudava com tarefas domésticas e era muito apegado aos
irmãos."
Desobediente e desinteressado, I.V.I já não era aceito nos colégios
de Teresina e a família teve de apelar ao Conselho Tutelar para
conseguir matriculá-lo. "Até eu me matriculei para ver se ele ia junto,
mas nos dias que eu fui ele não ia, até que abandonei também", conta a
mãe. A Assistência Social da Cidade já recomendou acompanhamento
psicológico por seis meses, mas o adolescente só aceitou ir a uma
consulta. I.V.I chegou a ficar internado em uma unidade da Fazenda da
Paz, nas proximidades de Timon, no Maranhão, uma clínica terapêutica
para dependentes de drogas, mas fugiu do lugar com menos de uma semana.
"Eu deixei ele na porta e menos de uma semana depois ele apareceu na
casa da minha irmã em Teresina".
O Ministério Público já representou pela internação máxima para os
quatro acusados de associação criminosa, estupro, homicídio, corrupção
de menores e três tentativas de homicídio e só podem ficar até três anos
internados pela atual legislação, agora em debate no Congresso
Nacional. Mas, pela primeira vez em décadas, é possível que isso mude.
Fonte: Revista VEJA