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quarta-feira, 2 de março de 2022

Direto de Lviv, Ucrânia: a bordo do trem de guerra

Luis Kawaguti -  VOZES
 
Refugiados, jornalistas e soldados voluntários comem Kotelet (frango empanado) com kapusta (salada de repolho) em um restaurante cheio, um dos únicos abertos após às 22h no centro da pequena cidade de Przemysl, fronteira da Polônia com a Ucrânia. A poucos metros dali, centenas de refugiados ucranianos tentam encontrar espaço nos salões da estação de trem, que liga a cidade polonesa a Lviv, na Ucrânia.

Refugiados ucranianos na estação de trem que liga a cidade polonesa de Przemysl a Lviv, na Ucrânia
Refugiados ucranianos na estação de trem que liga a cidade polonesa de Przemysl a Lviv, na Ucrânia -  Foto: Luis Kawaguti

Um soldado voluntário me chama em português e começamos a conversar. Ele é Iwen Puddo, um ex-paraquedista das forças armadas de Portugal, residente na Alemanha. Ele vendeu sua moto e outros pertences para poder ir lutar na Ucrânia contra o presidente russo Vladimir Putin.

Após o jantar, andamos juntos pela praça até chegar à estação de trem, onde centenas se espremem nos ambientes de janelas e candelabros neo-barrocos. Do lado de fora do prédio está três graus abaixo de zero. Ninguém quer ficar exposto à madrugada congelante. Iwen diz a um voluntário polonês que precisa de um lugar para dormir, pois está viajando há dois dias e quer lutar na Ucrânia. Mulheres, crianças e soldados voluntários têm acesso a uma sala um pouco menos cheia que os demais para passar a noite.

Há carrinhos de supermercado cheios de roupas e sacos de dormir, doados pela comunidade. Quando Iwen começa a selecionar um saco de dormir, o voluntário polonês encarregado de ajudar a multidão diz em inglês com acento britânico:“Não, esses aí são para quem está indo embora, combatentes precisam disso aqui”. Ele oferece a Iwen um robusto saco de dormir militar polonês. “Você pode ficar com ele. Espere aqui que eu vou arrumar um bom lugar para você dormir”.

Questionado se também sou soldado, digo que sou jornalista e acabo recebendo a atenção de quem está entrando na Ucrânia por opção. Em um corredor onde montamos nossas acomodações, o voluntário polonês conversa com uma família ucraniana. “Não entrem no próximo trem, vocês vão pegar outro trem até uma cidade próxima da Alemanha. Lá terão acesso a um hotel gratuito ainda na Polônia. Podem ficar o tempo que quiserem, semanas se precisarem. Depois é só cruzar a fronteira e entrar na Alemanha.”

Fronteiras abertas
Até o ano passado, a postura da Polônia era completamente diferente. O presidente Alexander Lukashenko, da Bielorússia, convidou para seu país milhares de refugiados do Oriente Médio e prometeu a eles que poderiam cruzar a fronteira polonesa tranquilamente e chegar na União Europeia. Sua intenção, segundo disseram na época os líderes europeus, era inundar o continente com ondas de refugiados para desestabilizar politicamente o bloco. A Polônia mandou milhares de militares para a fronteira para tentar impedir a entrada ilegal dos imigrantes.

Para entrar na Polônia ou em qualquer país da União Europeia, os refugiados precisavam passar por processos de qualificação que não costumavam ser rápidos. Mas isso não é mais assim. Desde a semana passada, as fronteiras da Europa se abriram para os refugiados da guerra na Ucrânia. Na estação de Przemysl, o vai e vem de pessoas não para durante a madrugada. Acordo às 3h com o anúncio da partida de um trem para a Cracóvia (Polônia). A maioria dos refugiados é colocada nele. O local esvazia um pouco e temos que mudar para um salão próximo, para que o corredor em que estávamos seja limpo.

Não consigo mais dormir. A maioria das pessoas no salão são mulheres e crianças. Também há grupos de estudantes de origem africana. Percebo um ruído baixo e sem fim de conversas, mas as pessoas são muito contidas. Ninguém ri ou se queixa em voz alta. Apenas algumas crianças correm e falam alto. Todos estão bem vestidos e aparentam cansaço. Voluntários distribuem sopa, pão e frutas. As crianças ganham bichos de pelúcia ou carrinhos, tirados por policiais poloneses de uma grande pilha de doações.

Aliás, há aglomeração das pessoas e distribuição de alimentos, mas não porque os refugiados não possam pagar. Os hotéis e restaurantes da cidade não comportam todos. São milhares de pessoas, ao menos 50 mil por dia cruzando a fronteira polonesa neste e em outros sete pontos. As pessoas também não estão aqui para uma vida com maiores oportunidades. Elas querem salvar seus filhos dos ferozes bombardeios russos, mas depois desejam voltar para suas casas.

Me ocorre um pensamento: a guerra absoluta, termo criado pelo autor prussiano Clausewitz para descrever uma situação onde o conflito não é mais refreado por política ou travas morais, parece estar de volta à Europa. Esses refugiados são a prova disso.

Melhor ficarem com as janelas fechadas"
É manhã na estação de Przemysl. Após tomar uma sopa de tomate, me dirijo na companhia do soldado português para um pequeno prédio, onde ficam as autoridades de fronteira, a fim de pagar um trem para Lviv.Uma mulher com duas crianças avisa que temos que ter cuidado. O trem em que ela chegara há poucas horas foi atingido por tiros e duas pessoas morreram. Não consigo confirmar a informação, mas o impacto moral já está feito.

Iwen conversa com militares poloneses perto do posto de fronteira. Quando eles entendem que ele é um soldado voluntário ficam alegres, o saúdam muito e dizem: “Vocês estão no lugar errado, é só ir até a plataforma 3 e embarcar no trem ‘não oficial’. Vocês não precisam de passagem, é só mostrar seus documentos”, diz um deles.

Costumo dizer aos amigos não familiarizados com a Polônia que, mesmo antes da guerra, basta ficar cinco minutos no país para sentir o ressentimento em relação aos russos — que definitivamente não acabou com o fim da dominação soviética. Já no trem, uma oficial de imigração polonesa pede nossos documentos e diz: “Melhor ficarem com as janelas fechadas”. Antes do sinal de internet do meu chip polonês sumir, vejo um alerta de notícias da BBC dizendo que Putin havia mandado suas tropas atacarem alvos indiscriminadamente. A guerra absoluta…

Região importante estrategicamente
O trem segue seu caminho e as pessoas estão em silêncio, ouço apenas cochichos na cabine vizinha e o ronco do soldado português. Abro um pouco a janela e vejo plantações de trigo, pequenas lagoas congeladas e uma trincheira, de onde pende uma bandeira ucraniana. A maioria dos passageiros do nosso vagão parecem ser soldados voluntários como Iwen. Não da Brigada Internacional que o presidente Volodymyr Zelensky prometeu formar. Mas ucranianos comuns, que deixaram mulheres, filhos, pais e namoradas em segurança no solo polonês e retornam para defender sua pátria.

Fico pensando em cenários de guerra. Lviv é a principal cidade do oeste da Ucrânia. Há dois dias surgiram rumores de que uma tropa de paraquedistas russos foi lançada nas proximidades. Também lembro que havia uma grande unidade de tropas russas na Bielorússia, cerca de 100 quilômetros ao norte.

Os russos podem tentar impedir que os ucranianos recebam doações de armas nesta região. Foram prometidos mísseis antiaéreos stinger e drones de ataque. Quem controla o espaço aéreo são os russos, então essas armas vão ter que entrar por terra, possivelmente aqui pela fronteira com a Polônia. Isso torna a região importante estrategicamente e podem haver ataques para impedir a entrega das armas.

“Eu vim aqui para lutar"
O trem para já em território ucraniano e duas militares sobem para pegar documentos. Meu passaporte é carimbado. Iwen tem só uma carteira de identidade e isso parece não satisfazer as fiscais ucranianas. “Eu vim aqui para lutar, Putin está acabando com o país de vocês. Eu vendi tudo que eu tinha para vir e talvez não saia da Ucrânia. Não quero ser mandado para casa como um cachorro”, diz.

As militares, que aparentam ter pouco mais de vinte anos, se mostram comovidas e pedem que ele as acompanhe. Ele volta feliz, cerca de 30 minutos depois, dizendo: “tudo certo, só avisaram a embaixada do meu país. Perguntei onde posso conseguir armas. Elas riram e disseram que eu vou ter o que quiser”, diz.

O procedimento oficial seria comunicar a Ucrânia da intenção de lutar por meio de uma embaixada. Mas, na guerra dá-se um jeito.  O trem pára na estação final em Lviv e poucas pessoas desembarcam. Estamos deixando a plataforma principal quando sirenes distantes começam a soar. Os alto-falantes da estação de trem mandam milhares de passageiros, que esperam para embarcar para a Polônia, procurem abrigo nos túneis da estação, pois um ataque aéreo é iminente.

Há corre corre na estação, mas nas ruas nem todos parecem se importar. Enquanto alguns tentam entrar na estação, outros continuam seus afazeres. Minutos depois o alarme volta a soar, mas não há ataque aéreo. Ele pode ter sido disparado pela aproximação de aeronaves inimigas, que deviam ter outro objetivo. São as tensões da guerra. 

Luis Kawaguti, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


domingo, 27 de junho de 2021

Por que o progressismo europeu não é obcecado por lei racial? - VOZES

Bruna Frascolla


Aborto, drogas e casamento gay: a tríade do progressismo europeu
Aborto, drogas e casamento gay: a tríade do progressismo europeu -  Foto: EFE/EPA/Szilard Koszticsak

No último artigo, hesitei ao escrever que as ideias progressistas vêm da Europa e consistem na tríade aborto-drogas-gays. Afinal, outro polo exportador de progressismo são os Estados Unidos, cuja obsessão por raça não se enquadra nessa tríade. Mencionei a Argentina como grande receptadora das ideias progressistas da Europa. Na verdade, enxergo a Argentina como uma Europa sem Plano Marshall: em vez de Mussolini, eles tiveram Perón, não lutaram na II Guerra e seguem idolatrando o Mussolini deles até hoje.

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Façamos então um teste. Tem cota racial na Argentina? Pesquisando “cuotas raciales Argentina”, encontrei artigos sobre o Brasil e até texto falando mal de Bolsonaro. Mas cuotas raciales na Argentina, que é bom, nada. Ou seja: a Argentina, aquele país onde o presidente fala “todes”, onde tem casamento gay desde 2010, onde o aborto foi descriminalizado, tudo democraticamente e sem canetadas de um STF, não tem cuotas raciales en las universidades.

Fiquemos assim: existem dois conjuntos de ideias chamados de progressistas ou politicamente corretos. Um é de matriz europeia, outro de matriz norte-americana. Enquanto um tem a tríade aborto-droga-gay, o outro é obcecado por raça.

Por que europeu não dá bola pra lei racial?
A ideia de racismo leva a nossa mente direto para a Alemanha. No entanto, as leis raciais são uma invenção dos EUA aplicada aos negros que os alemães importaram para aplicar aos judeus. As leis raciais surgem no sul escravista dos Estados Unidos em 1877 e começam a se federalizar com Woodrow Wilson em 1913, quando o vagabundo Adolf Hitler tinha 24 anos e encontrava um rumo na vida na condição de soldadinho austríaco. Nos Estados Unidos, a descentralização conseguiu dar uma segurada nos projetos eugenistas das autoridades médicas e dos políticos entusiastas. Na Alemanha, toda a estrutura centralizadora do poderoso Estado prussiano foi posto nas mãos de Hitler e seus médicos eugenistas, que se inspiravam nos norte-americanos. Não dá para dizer que os norte-americanos sejam mais racistas do que os alemães. Ainda assim, foi dos EUA que saiu o racismo de Estado.

A razão para isso é muito simples. Nos EUA, o critério-chave da cidadania é o nascimento em solo nacional. Você pode ser preto, branco, amarelo ou verde, e a lei, até segunda ordem, irá considerá-lo um American. Para os Estados Unidos se tornarem racistas, foi necessária uma gambiarra jurídica, as famigeradas leis Jim Crow. A raiz legal do país faz dele, de fato, a terra da liberdade.

Já na Europa, o critério-chave da cidadania se confunde com a raça. Um casal de imigrantes negros pode chegar criança à Europa, constituir família na Europa, e ainda assim os seus filhos e netos não serão cidadãos europeus. Nascerão e morrerão como estrangeiros dentro do país em que construíram suas vidas. Isso só aparece para o grande público durante a Copa do Mundo, quando as seleções europeias saem providenciando cidadania para os jogadores de futebol negros. (Não sei detalhes, mas países latinos com ex-colônias parecem mais propensos a negligenciar o jus sanguinis paraconceder cidadania a africanos das ex-colônias. O Portugal salazarista, mesmo, considerava Angola e Moçambique estados portugueses.)

Assim, uma legislação etnocêntrica dispensa os europeus de inventarem leis racistas. 
Eles já vivem em um solo habitado por cidadãos brancos e não-cidadãos negros. Evidentemente, isso cria um barril de pólvora de ressentimento e culpa.

Brancos sem cidadania na Europa
Mas o critério é, frisemos, etnocêntrico, não racial. Um casal de italianos que migrasse para a Alemanha antes da União Europeia também viveria como um perfeito estrangeiro. O europeu é bastante sedentário: veja-se que no Brasil, onde há uma migração interna muito grande, um acriano e um gaúcho se entendem perfeitamente em português, mas um italiano de Nápoles e um do Piemonte, não, pois há a barreira do dialeto. Antes da descoberta da América, os europeus migravam muito pouco, então faz sentido que o seu critério de cidadania histórico seja étnico.

Quem eram os estrangeiros nesse critério? Os judeus. Eram estrangeiros errantes, viviam em guetos separados dos cristãos desde a Idade Média até Napoleão. Foi Napoleão, no século XIX, quem saiu conquistando a Europa e emancipando judeu. Portugal se diferencia do resto da Europa por ter resolvido a questão judaica em 1497. Tendo que deixar o Reino livre de todos os judeus por pressão espanhola, Portugal deu uma solução que hoje diríamos ser bem brasileira: em vez de matar ou expulsar todo mundo, batizou todo mundo e proibiu sinagogas. Mas o batismo podia ser mera formalidade; ademais, se você abrisse uma sinagoga, ninguém ia lá verificar, ou, se verificasse, você molhava a mão.

Funcionou assim até D. Sebastião ficar encantado em Alcácer-Quibir e deixar a Coroa na mão da Espanha, com sua temível Inquisição. Os ex-judeus então começam a cultuar a figura d’O Esperado, pois D. Sebastião voltaria e instauraria um paraíso terrestre. Surge o sebastianismo, uma heresia perseguida pela Inquisição. E, sendo a Inquisição muito mais relaxada no Brasil, aqui se tornou um bom lugar para ser sebastianista. Ao cabo, os ex-judeus não só foram integrados à nacionalidade portuguesa, apagando a ideia de um português étnico, como criaram um poderoso símbolo nacional.  Só a Península Ibérica entrou na modernidade sem guetos. Assim, não é de admirar que a mania racial tenha sido importada da América pelos europeus menos civilizados e usada contra os judeus. Toda essa Europa que se manteve com guetos judaicos hoje tem guetos de imigrantes, tudo não-cidadão.

O nome de gueto é aplicado no Brasil a favelas. Curiosamente, porém, gringos que vêm para o Brasil fazem turismo em favela, mas não em no-go areas europeias. A favela brasileira é cheia de eleitores, de cidadãos e de gente que fala o mesmo idioma que os demais brasileiros. Quem tem gueto é quem aponta o dedo para nós.


Individualismo radical
Penso que o que caracteriza melhor o progressismo de matriz europeia é o individualismo radical, a atomização da sociedade. Por mais que reconheçamos o amor romântico entre gente do mesmo sexo, e por mais que o casamento cristão moderno seja centrado nesse tipo de amor, ninguém razoável discordará de que as relações entre homens gays costumam ser mais fugazes do que as relações tradicionais entre homens e mulheres com filhos. A fugacidade do casamento me parece ser uma meta desse tipo de progressismo.

Filhos são um tipo de laço entre casais. Para impedir esses laços, basta vender o aborto como grande ícone de liberação feminina. A mulher ideal, então, faz sexo loucamente – sem se prender a nenhum homem – e, acontecendo de ficar grávida, irá ao médico tirar. Caso o bebê nasça – e natalidade da Europa é pequenininha –, tem o Estado de bem-estar social para bancar o bebê e deixar a mulher dispensar o homem e até os avós.  Assim, a vida ideal desse tipo de progressista se divide entre o trabalho bem remunerado e a balada, esta regada a drogas caras. Nas banlieues ficam os não-cidadãos responsáveis pelo trabalho braçal.

Bruna Frascolla, colunista - Gazeta do Povo - VOZES 

 

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Celso Amorim e a diplomacia do mal

Poucos políticos trouxeram tanta vergonha e prejuízo ao país quanto Celso Amorim, agora candidato de Lula para o governo do Rio de Janeiro.


Prometi anteriormente tratar de algumas “proezas” de Celso Amorim, o “Celsinho da Embrafilme”, à frente do Ministério das Relações Exteriores na Era Lula (toda ela coadjuvada pelo Foro de São Paulo).  Antes, é preciso dizer que Amorim  aboletou-se no Itamaraty por acaso. (Tal como, por exemplo,  Zé Sarney, o sátrapa, feito presidente depois da morte de Tancredo Neves). Vamos à historieta: no seu breve governo, Itamar Franco, entronado no Planalto depois da deposição de Collor, queria fazer de Zé Aparecido, um cupincha da politicalha mineira, ministro das Relações Exteriores (e depois, segundo desejo confesso, conduzi-lo como candidato oficial à presidência da República).
Mas Aparecido, conhecido como o “Zé das Medalhas”, ficou doente e não pôde assumir o cargo. Então, na emergência, entrou Amorim, o anti-diplomata que o Brasil teria a obrigação de desterrar mas a quem nenhum país democrático do mundo deveria conceder agrément.

A trajetória de Celso Amorim é cheia de peripécias. Ele foi cria ideológica de Leon Hirszman, proto-comunista que fincou as bases do “centralismo democrático” soviético no mistifório do Cinema Novo rico tupiniquim. Como sabem todos, o “centralismo democrático”, esquema político-ditatorial bolado por Lênin, consistia em “ouvir as bases” (desorganizadas ou não) para, em seguida, ao cabo de debates em assembleias fajutas, “centralizar” as decisões nas mãos da cúpula do politburo – vale dizer, nas mãos dele próprio.

Voltemos à diplomacia: Carl von Clausewitz, estrategista militar prussiano, repetia que a guerra é a continuação da política por outros meios. Nem tanto, nem tanto. Ou por outra: se ele tivesse provado da anti-diplomacia de Celso Amorim diria, como o ator e  comediante Will Rogers, que “certos diplomatas são tão essenciais para começar uma guerra quanto os militares em findá-las”.
(Nota: à frente da Embrafilme, Amorim canalizou os recursos de uma conquista vigorosa dos produtores do cinema nativo, o adicional de bilheteria, para enfiar nos filmes de propaganda esquerdista do Cinema Novo rico. Ele terminou expulso da empresa estatal por abuso do velhaco “centralismo democrático”: nomeado pelo então General Figueiredo, presidente da República, Amorim, atuando como uma espécie de agente provocador, financiou, entre outros, “Pra Frente Brasil”, filme que, a pretexto de narrar uma “prisão por engano”, caluniava deliberadamente os militares – pois, como se sabe, nunca houve “prisão por engano” durante os anos de chumbo, quem era preso tinha sua cota de culpa no cartório da subversão).

É verdade que Celso Amorim, para iniciar sua “guerra absoluta”, não gerenciou sozinho a fracassada Diplomacia do Mal. Acima dele havia o “chanceler informal” e “assessor de assuntos internacionais do PT”, Marco Aurélio Garcia, o obsceno “MAG Top Top, que cumpria fielmente o papel de cadelinha amestrada de Fidel Castro, em especial na difusão do patológico  anti-americanismo levado à cabo pelo milionário Foro de São Paulo financiado por Lula. E, para completar a artilharia, havia ainda ao lado de Amorim, desde os tempos da Embrafilme, a figura obcecada de “Samuca” Pinheiro Guimarães, cujo ódio ideológico aos americanos ultrapassava a soma da vastidão de três desertos.

A Diplomacia do Mal do governo de Luiz Inácio tinha três objetivos básicos, a saber:
1 – Boicotar a todo custo a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), notável acordo proposto pelos americanos – e que permitiria otimizar a economia do hemisfério, a envolver, à época, mais de 800 milhões de habitantes dispondo de um PIB (Produto Interno Bruto) de US$ 11 trilhões.
2 – Fazer o Brasil tomar assento na cadeira permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, a dispendiosa (mas inoperante) ONU, enfiando, para atingir tal objetivo, bilhões de dólares no aliciamento da compra de votos de insolventes países terceiro-mundistas. E pior: na sua pretensão desvairada, assumir os pesados e descartáveis gastos internacionais, entre eles, o de manter tropas em “missão de paz” no Haiti (ao custo de US$ 100 milhões anuais) para, com essa estroinice, demonstrar nosso poder de influência sobre “os destinos do mundo” – e, por extensão, consagrar o corrupto Lula como um “líder internacional”.
(O resultado da aventura irresponsável foi a morte por suicídio do general Urano Teixeira da Matta Bacelar, comandante de uma força de ocupação militar do Brasil no conflagrado Haiti. O general, homem tranquilo e seguro, contando com o respeito dos pares e o afeto familiar, não encontrava sentido em se gastar milhões de dólares e a vida dos seus comandados para vigiar as violentas favelas de Porto Príncipe – antros de marginais, sequestradores ou simplesmente ladrões. Diante do abismo, indignado, o disciplinado militar resolveu lavrar seu protesto e deu um tiro na boca. Peritos da própria ONU chegaram a conclusão de que ele se matou).
3 – Ordenar e financiar, a partir de deliberações do Foro de São Paulo, a formação no hemisfério sul de um beligerante Eixo do Mal, constituído por países como Cuba, Bolívia, Venezuela, Equador, Uruguai, Guatemala, República Dominicana etc., com a finalidade não apenas de sabotar a ALCA, mas, em especial, de votar e fazer coro contra os Estados Unidos nas manejáveis assembléias da ONU.

Para intensificar o selvagem anti-americanismo, a generalidade desses países – alguns comprometidos com o narcotráfico, contrabando de armas e o terror – recebia empréstimos milionários sacados (sem resgate) do BNDES e consideráveis investimentos advindos dos cofres da Petrobras via empreiteiras altamente corruptas. Os casos da Bolívia e do Equador, ambos integrantes do Eixo do Mal, são ostensivos.

Evo Morales, por exemplo, se apossou na mão grande dos campos de gás explorados legalmente pela Petrobras na Bolívia, ocupando-os com tropas do seu exército. Diante da violência, Amorim disse apenas que o ato “da forma como foi feito não estava nas previsões do Brasil”,  mas que não haveria “reação física” da empresa. Pior: para indignação do povo brasileiro, o Índio Ensebado aumentou em quase 100% o preço do gás exportado e ainda obteve milhões de dólares do governo de Lula para investir em obras do “país aliado”.

Mais complicado, porém não menos humilhante, foi a forma adotada pelo subditador Rafael Correa para não pagar 200 milhões de dólares tomados do BNDES para construir uma hidrelétrica no Equador: ele embargou, por “falha nas obras”, os bens da construtora Odebrecht, e foi além: disse que não pagaria mais o valor do empréstimo concedido e ainda exigiu 42 milhões de dólares na indenização. Não satisfeito, garantiu que ia expulsar a Petrobras do Equador, tal como fez com a Odebrecht. No final da trágica farsa, o subditador ficou com o petróleo e os bens da Petrobras, que se limitou a receber pequena remuneração por serviços prestados. De quebra, ainda anunciou, de Quito, novos créditos do Brasil para “áreas sociais”.

A diplomacia de Amorim, candidato do corrupto Lula ao governo do malfadado Rio de Janeiro, tem muito mais. Dela nos ocuparemos no próximo artigo.
Até.

Ipojuca Pontes, cineasta, jornalista, e autor de livros como ‘A Era Lula‘, ‘Cultura e Desenvolvimento‘ e ‘Politicamente Corretíssimos’, é um dos mais antigos colunistas do Mídia Sem Máscara. Também é conferencista e foi secretário Nacional da Cultura.