Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
Javier Milei, candidato da direita,está à frente na disputa das
eleições presidenciais na Argentina.
Adepto da Escola Austríaca de
Economia, é contra intervenções estatais e prega estado mínimo.É
católico, pró-vida e contra pautas globais. Qualquer observador da
Argentina sabe que o país precisa de um reformador para desmontar o
modelo criado por Perón, que dura quase um século, gera instabilidade e
pobreza históricas.
Mas Milei conseguirá vencer esse fantasma?
A história
política da Argentina divide-se em antes e depois do Peronismo. Em 4 de
junho de 1943, um golpe militar deu início a um novo governo, e Juan
Domingo Perón assumiu a Secretaria do Trabalho e Provisão, depois
elegeu-se presidente por dois mandatos com um discurso para as massas e
trabalhadores, Ações como ampliação do regime de aposentadorias, criação
do salário-mínimo e 13º salário o fizeram ascender na política, mas
foram fatais para as contas públicas. Ao mesmo tempo, Perón abrigava
nazistas alemães, torturadores e criminosos de guerra. A maioria viveu
muito bem e morreu impune na Argentina. Ele voltou ao poder em 1973 mas
faleceu no ano seguinte, deixando em seu lugar Isabelita, sua esposa,
que foi deposta dois anos depois, por outro golpe militar. Seguiram-se
seis anos, sete presidentes e 30 mil mortos. Peronismo.
As mesmas
políticas ocorreram no Estado Novo de Getúlio Vargas, aqui no Brasil.
Caráter assistencialista de altos gastos desvinculados da arrecadação,
são a marca indelével que torna esse modelo insustentável até hoje, e
assim como no getulismo, lá também as políticas peronistas se
institucionalizaram como modelo de estado social permanente. Nunca mais a
Argentina atingiu o patamar de desenvolvimento da era pré-peronista.
Em 1983,
Raúl Alfonsín, um advogado de esquerda ligado à Internacional
Socialista, venceu as eleições presidenciais. Mesmo de oposição a Peron,
adotou medidas semelhantes. Ficou famoso por criar o Plano Austral, mas
não conseguiu conter o desemprego de quase 10% e a inflação de quase
209%.
A solução foi ir ao FMI, que exigiu cortes nos gastos públicos e
vendo a inércia do governo, o Fundo negou créditos adicionais. Alfonsin
ainda tentou congelar preços e salários, interromper a impressão de
dinheiro, organizar cortes de gastos e criar nova moeda, o Austral.
[o atual presidente do Brasil, tenta agora ser o FMI para os argentinos e criar o 'sur', moeda única do Mercosul -felizmente, o chinês enquadrou o presidente brasileiro, tratando-o como um estadista de araque, devolvendo-o a sua insignificância=se considerar um estadista é um dos muitos devaneios do atual ocupante do Planalto.]
Os sindicatos se opuseram ao congelamento de salário, e os empresários,
ao congelamento de preços.
Acuado, o presidente não conseguiu conter a
inflação e agora também os grandes exportadores se recusaram a vender
dólares para o Banco Central. O Austral foi desvalorizado e a inflação
alta se transformou em hiperinflação.
A eleição presidencial de 1989 ocorreu durante essa crise, quando o justicialista/peronista Carlos Menem venceu
as eleições. Alfonsín transferiu o poder para Menem cinco meses antes
do previsto, pois não suportava mais a crise.
Menem, então, resolveu
solucionar o problema econômico com a dolarização da economia, uma
fórmula ainda não testada mas já uma prática não institucionalizada na
Argentina desde os anos 80.
Menem foi mais um que não não reformou o
estado peronista, e no final do século 20 a crise econômica e
instabilidade estavam de volta.
Cinco presidentes assumiram o poder e
logo renunciaram em menos de três anos!
Eis que em
2003 assume o poder Néstor Kirchner, também pelo partido peronista, com
promessas de reformas profundas que não aconteceram, Em vez disso,
contratou obras governamentais, o que não conseguiu conter a pobreza,
que chegou a 25%.
Ele e sua mulher aumentaram seu patrimônio pessoal e
foram campeões em escândalos de corrupção, sendo que por um deles
Cristina foi condenada a seis anos de prisão.
Os Kirchner
só conseguiram governar protelando a crise, rolando dívidas para o
futuro, que chega hoje, na forma de hiperinflação. [prática já adotada pelo petista que governa o Brasil, mantendo artificialmente - a Petrobras bancando - os preços dos combustíveis em baixa. Logo virá a conta e a Petrobras tentará bancar.] Desgastado também
pela crise de 2008/2009, o peronismo parecia finalmente derrotado por
Maurício Macri, candidato da direita. Só que não.
Macri
assumiu o governo com as contas no vermelho, crise de desconfiança do
público, dos investidores, poucas reservas federais, a inflação a 30% ao
ano.
O governo Macri resolveu estabilizar o peso, dando mais liberdade
de câmbio.
Cotas de exportação sobre commodities foram reduzidas, mas
as medidas de austeridade foram tímidas.
A estratégia de reformar aos
poucos não gerou resultados nem conteve a oposição. Assim, a inflação, o
desemprego e o assistencialismo continuaram altos, Em 2019, a inflação
bateu recorde chegando a 56% ao ano, os índices de desemprego subiram de
8% para 10% e a porcentagem de pessoas vivendo abaixo da linha da
pobreza subiu de 29% para 35%. Sem o peronismo, Macri acabou derrotado
pelo candidato socialista Alberto Fernández.
O atual presidente é a imagem de todos os problemas do país: o
peronismo. Participou dos governos Menem e Kirschner. Sua vice é
Cristina.
Fernández
encontrou a mesma crise e anunciou medidas dobrando a aposta no
peronismo, e como resultado, obteve o dobro do desastre.
O índice de
inflação, pelo último registro do Indec, foi de 115,6% em junho de 2023,
mais que o dobro de quando assumiu.
As medidas socialistas de seu
governo também afugentaram empresários, com a pobreza atingindo mais da
metade da população.
Atormentado por sua baixa popularidade, Fernandez
foi sensato e desistiu da reeleição.
Este
cenário peronista será o palco de Milei, mas a maior tragédia deste
modelo cruel é sufocar quem surge para reformá-lo.
Os argentinos ainda
esperam um final feliz que só pode acontecer por meio de reformas do
Estado. Terá Milei, se vencedor das eleições, maioria no congresso para
suas reformas?
O povo quer mesmo essa mudança ou está disposto a aceitar
qualquer opção?
A saída é dolarizar de novo?
Acabar com o banco
central?
Não perca a resposta a essas e outras questões nos próximos
capítulos desta novela Argentina!
Os números vão começar a cair no noticiário e na vida
real das pessoas — e não poderão ser suprimidos com discursos sobre a
“herança maldita” e o “genocídio” dos ianomâmis
Michel Temer, Alexandre de Moraes, Lula e Dilma Rousseff | Foto: Montagem
Revista Oeste/Wikimedia Commons/SCO/STF
A maior parte da esquerda brasileira, que
se comporta cada vez mais como se as últimas eleições para presidente da
República tivessem sido a conquista de Havana pelas tropas de Fidel
Castro, continua convencida, pelos atos que pratica, de que a “ditadura
do proletariado” já começou no Brasil. O presidente Lula, naturalmente, é
o condutor dessa marcha da insensatez.
É duvidoso que controle de fato o
que estão fazendo em seu governo, ou que saiba direito o que está sendo
feito, ou até quem foi nomeado para isso ou aquilo, mas está se achando
o grande comandante mundial das lutas pela vitória do “socialismo”
sobre a face da Terra. Imagina que é o Che Guevara do século 21, ou pelo
menos o Nicolás Maduro do Brasil — ou, quem sabe, um novo Perón, com
Evita e tudo.
Na sua esteira, com as mesmas agressões ao Brasil do
trabalho, da produção e das liberdades, vêm os ministros e a multidão de
sócios-proprietários que invadiu o seu governo e começa a construir ali
um caos digno de Dilma Rousseff. Ignoram que praticamente metade dos
eleitores que foram votar no segundo turno, pelos números do próprio
TSE, preferiu o seu adversário — e, por seu simples peso aritmético,
teriam de ser levados em conta em qualquer projeto minimamente
responsável de governo. Estão certos de que ganharam uma daquelas
eleições cubanas em que o governo leva 99% dos votos e que, por isso,
podem fazer o que bem entendem com o país, com 215 milhões de
brasileiros e, sobretudo, com o dinheiro do Tesouro Nacional.
Será que vai ser assim mesmo, e tão fácil? Quer dizer: Lula faz uns
discursos para criar a “moeda sul-americana”, o ministro da Justiça
amontoa projetos, medidas provisórias e decretos-lei destinados à
repressão política, o Senado reelege um presidente disposto a executar
as instruções do Palácio do Planalto, as autoridades falam em todes e todes,
e o Brasil vira socialista?
A conferir, em futuro próximo — mas com
apenas um mês de governo a revolução de Lula, do PT e da esquerda
nacional começa a descobrir que a vida tem problemas. O primeiro deles
foi uma espécie de bomba de hidrogênio nas ambições mais agressivas de
se suprimir a oposição do Congresso Nacional.
O ministro Alexandre
Moraes, numa decisão que oferece o primeiro grande sinal de paz para a
política brasileira nos últimos quatro anos, negou o destrutivo pedido
de suspender a posse de 11 deputados da oposição — exigência de um grupo
de advogados que está no coração da candidatura de Lula e ocupa
postos-chave dentro do seu governo.
Foi, possivelmente, a decisão mais
acertada de um ministro do Supremo Tribunal Federal desde que a vida
pública nacional entrou em parafuso com a eleição de Jair Bolsonaro para
presidente do Brasil.
O ministro Moraes deu um aviso claro, vigoroso e
essencial para a segurança dos parlamentares da oposição: seus mandatos,
conferidos pelo eleitor brasileiro, estão garantidos pelo STF — e não
dependem, como pretendem os radicais de esquerda, de aprovação do
governo para serem exercidos.
A decisão desmonta, simplesmente, o pior
ataque já feito pelo lulopetismo contra a liberdade parlamentar no
Brasil — as últimas cassações de mandato por motivo político foram no
Ato 5, durante a “ditadura militar” que Lula e o PT, pelo que têm feito,
tanto gostariam de ressuscitar no Brasil. Foi um choque elétrico.
“Daqui vocês não podem passar”, informou Moraes.
O ministro Alexandre de Moraes, que já havia desapontado a esquerda
com a decisão de devolver o acesso às redes sociais do deputado Nikolas
Ferreira, do PL— o mais votado nas últimas eleições, com quase 1,5
milhão de votos —, é um problema em aberto.
Com 54 anos de idade e a
vida pela frente, Moraes é um homem-chave no presente e no futuro da
política brasileira. Vale, sozinho, pelos dez outros ministros do STF
somados — com a exceção, talvez, de Gilmar Mendes, que também exerce
influência decisiva no compasso do tribunal.
(...)
É claro que ele continua tendo a seu cargo o inquérito criminal que
funciona, hoje, como a principal lei do Brasil, além, naturalmente, de
todos os inquéritos derivados dali — e sem o arquivamento do processo
todo a paz política e a segurança jurídica não voltam ao país. Mas não
haverá, na linha de tiro de Moraes, a figura que tem sido o inimigo
número 1, 2, 3, 4 e 5 de Lula e das forças que o apoiam. Não é a mesma
coisa. Daqui para a frente, sem Bolsonaro, o ministro Moraes muda de
natureza para Lula. A pergunta-chave é: seus planos vão ou não vão
continuar andando juntos? Não está claro se os dois querem as mesmas
coisas, e nem se o ministro está interessado em dividir o governo com o
presidente.
Não se sabe se ele pretende entrar em parceria com os
extremistas que controlam hoje as decisões de Lula; no caso da agressão
aos deputados, Moraes ficou contra eles e do lado da liberdade. Há
outras coisas que não se sabe. O que se sabe é que as âncoras políticas
do ministro, até o momento, têm sido o ex-presidente Michel Temer e o
vice-presidente Geraldo Alckmin; isso não é o PT.
Outro problema, para Lula, é a descoberta de que também ele, Sua
Santidade, pode meter o pé na jaca.
O pior momento, num mês com momentos
ruins quase diários, foi esse súbito caminhão de ira que resolveu
despejar em cima do impeachment de Dilma Rousseff. Foi um
desastre. Ninguém ficou a favor; ao contrário, o presidente levou até
dois editoriais indignados no lombo, um de O Estado de S. Paulo e outro de O Globo —já tinha levado um terceiro, da Folha de S.Paulo,
contra a neurastenia repressiva do governo.
Para que isso? Lula fez uma
acusação alucinada: sem que ninguém tivesse lhe perguntado nada, disse
que Dilma foi expulsa do governo por “um golpe de Estado”. Repetiu o
disparate e, para coroar, se referiu ao “golpista Michel Temer” — tudo
isso em viagem ao exterior e para plateias estrangeiras. É uma mentira
primitiva, insultuosa e mal-intencionada. Dilma foi destituída por um
procedimento absolutamente legal de impeachment, pelos votos de
61 senadores e 367 deputados, num processo que durou nove meses
inteiros, foi supervisionado passo a passo pelo STF e no qual teve o
mais amplo direito de defesa. Onde está o golpe? Estaria Lula anunciando
que, se houver um processo de impeachment contra ele, também será “golpe”? E se estiver — o que adianta isso?
Foi uma ofensa grosseira ao Congresso, ao STF e à verdade mais
elementar dos fatos; se ele não fosse Lula, seria punido histericamente
pelas duas polícias de combate à “desinformação” que já foram criadas em
seu governo. Foi, também, uma agressão sem pé nem cabeça contra o
ex-presidente Michel Temer.
A questão, aí, parece ser um velho e
aparentemente incurável defeito de fabricação de Lula — sua incapacidade
de controlar o próprio despeito. Temer fez, possivelmente, o melhor
governo que o Brasil já teve no período da pós-democratização, se for
considerado o país em ruínas que recebeu da era Lula-Dilma e o país que
entregou ao seu sucessor — mesmo levando-se em conta o extraordinário
sucesso de Fernando Henrique na eliminação da inflação e os evidentes
êxitos econômicos de Jair Bolsonaro. O governo Temer só teve um
problema: durou pouco, porque seu mandato constitucional foi curto. Tudo
isso, muito simplesmente, é insuportável para Lula, o presidente das
“heranças malditas” e imaginárias — um caso exemplar de problema que não
contém a semente de uma solução, mas apenas a semente de um outro
problema, e problema para ele mesmo.
O fato é que, depois de um mês no governo, Lula e o seu sistema não
conseguiram gerar uma única boa notícia — nem para eles próprios. O
único projeto de obra pública que Lula anunciou é na Argentina — e para a
duvidosa construção de um gasoduto conhecido pelo nome de “Vaca
Muerta”, para se ter uma ideia de onde estão querendo amarrar o burro do
BNDES.
A principal notícia no mundo dos negócios é a monumental fraude
contábil das Lojas Americanas,em cujo comando figura o empresário Jorge
Paulo Lemann, estrela entre os bilionários de esquerda do Brasil e
grande destaque na ala dos apoiadores capitalistas do presidente.Os
juros continuam em 13,75% ao ano, como resultado das expectativas ruins
em relação à inflação.
O mercado, a cada dia, mostra que não confia nem
na competência e nem nas intenções da equipe econômica — e Lula, em vez
de olhar para os problemas reais que provocam essa desconfiança, fica
bravo com o mercado. O Ministério da Agricultura, peça-chave para a área
mais produtiva da economia brasileira, está sendo substituído por um
“Ministério do Desenvolvimento Agrário”.
Os números do seu governo,
inevitavelmente, vão começar a cair no noticiário e na vida real das
pessoas — e não poderão ser suprimidos com discursos sobre a “herança
maldita” de Bolsonaro, a guerra na Ucrânia e o “genocídio” dos
ianomâmis.
O presidente, queira ou não queira, vai ter de conviver com a
realidade.
Aborto, drogas e casamento gay: a tríade do progressismo europeu - Foto: EFE/EPA/Szilard Koszticsak
No último artigo,
hesitei ao escrever que as ideias progressistas vêm da Europa e consistem na
tríade aborto-drogas-gays. Afinal, outro polo exportador de progressismo são os
Estados Unidos, cuja obsessão por raça não se enquadra nessa tríade. Mencionei
a Argentina como grande receptadora das ideias progressistas da Europa. Na
verdade, enxergo a Argentina como uma Europa sem Plano Marshall: em vez de
Mussolini, eles tiveram Perón, não lutaram na II Guerra e seguem idolatrando o
Mussolini deles até hoje.
Façamos então um teste. Tem
cota racial na Argentina? Pesquisando “cuotas raciales Argentina”,
encontrei artigos sobre o Brasil e até texto falando mal de Bolsonaro.
Mas cuotas raciales na Argentina, que é bom, nada. Ou seja: a Argentina,
aquele país onde o presidente fala “todes”, onde tem casamento gay
desde 2010, onde o aborto foi descriminalizado, tudo democraticamente e
sem canetadas de um STF, não tem cuotas raciales en las universidades.
Fiquemos
assim:existem dois conjuntos de ideias chamados de progressistas ou
politicamente corretos. Um é de matriz europeia, outro de matriz
norte-americana. Enquanto um tem a tríade aborto-droga-gay, o outro é
obcecado por raça.
Por que europeu não dá bola pra lei racial? A ideia de racismo leva a nossa mente direto para a Alemanha. No entanto, as leis raciais são uma invenção dos EUA aplicada aos negros que os
alemães importaram para aplicar aos judeus. As leis raciais surgem no
sul escravista dos Estados Unidos em 1877 e começam a se federalizar com
Woodrow Wilson em 1913, quando o vagabundo Adolf Hitler tinha 24 anos e
encontrava um rumo na vida na condição de soldadinho austríaco. Nos
Estados Unidos, a descentralização conseguiu dar uma segurada nos
projetos eugenistas das autoridades médicas e dos políticos entusiastas.
Na Alemanha, toda a estrutura centralizadora do poderoso Estado
prussiano foi posto nas mãos de Hitler e seus médicos eugenistas, que se
inspiravam nos norte-americanos. Não dá para dizer que os
norte-americanos sejam mais racistas do que os alemães. Ainda assim, foi
dos EUA que saiu o racismo de Estado.
A razão para
isso é muito simples. Nos EUA, o critério-chave da cidadania é o
nascimento em solo nacional. Você pode ser preto, branco, amarelo ou
verde, e a lei, até segunda ordem, irá considerá-lo um American.
Para os Estados Unidos se tornarem racistas, foi necessária uma
gambiarra jurídica, as famigeradas leis Jim Crow. A raiz legal do país
faz dele, de fato, a terra da liberdade.
Já na
Europa, o critério-chave da cidadania se confunde com a raça. Um casal
de imigrantes negros pode chegar criança à Europa, constituir família na
Europa, e ainda assim os seus filhos e netos não serão cidadãos
europeus. Nascerão e morrerão como estrangeiros dentro do país em que
construíram suas vidas. Isso só aparece para o grande público durante a
Copa do Mundo, quando as seleções europeias saem providenciando
cidadania para os jogadores de futebol negros. (Não sei detalhes, mas
países latinos com ex-colônias parecem mais propensos a negligenciar o jus sanguinis paraconceder
cidadania a africanos das ex-colônias. O Portugal salazarista, mesmo,
considerava Angola e Moçambique estados portugueses.)
Assim,
uma legislação etnocêntrica dispensa os europeus de inventarem leis
racistas.
Eles já vivem em um solo habitado por cidadãos brancos e
não-cidadãos negros. Evidentemente, isso cria um barril de pólvora de
ressentimento e culpa.
Brancos sem cidadania na Europa Mas o critério é, frisemos, etnocêntrico, não racial. Um casal de italianos
que migrasse para a Alemanha antes da União Europeia também viveria
como um perfeito estrangeiro. O europeu é bastante sedentário: veja-se
que no Brasil, onde há uma migração interna muito grande, um acriano e
um gaúcho se entendem perfeitamente em português, mas um italiano de
Nápoles e um do Piemonte, não, pois há a barreira do dialeto. Antes da
descoberta da América, os europeus migravam muito pouco, então faz
sentido que o seu critério de cidadania histórico seja étnico.
Quem
eram os estrangeiros nesse critério?Os judeus. Eram estrangeiros
errantes, viviam em guetos separados dos cristãos desde a Idade Média
até Napoleão. Foi Napoleão, no século XIX, quem saiu conquistando a
Europa e emancipando judeu. Portugal se diferencia do
resto da Europa por ter resolvido a questão judaica em 1497. Tendo que
deixar o Reino livre de todos os judeus por pressão espanhola, Portugal
deu uma solução que hoje diríamos ser bem brasileira: em vez de matar ou
expulsar todo mundo, batizou todo mundo e proibiu sinagogas. Mas o
batismo podia ser mera formalidade; ademais, se você abrisse uma
sinagoga, ninguém ia lá verificar, ou, se verificasse, você molhava a
mão.
Funcionou assim até D. Sebastião ficar encantado
em Alcácer-Quibir e deixar a Coroa na mão da Espanha, com sua temível
Inquisição. Os ex-judeus então começam a cultuar a figura d’O Esperado,
pois D. Sebastião voltaria e instauraria um paraíso terrestre. Surge o
sebastianismo, uma heresia perseguida pela Inquisição. E, sendo a
Inquisição muito mais relaxada no Brasil, aqui se tornou um bom lugar
para ser sebastianista. Ao cabo, os ex-judeus não só foram integrados à
nacionalidade portuguesa, apagando a ideia de um português étnico, como
criaram um poderoso símbolo nacional. Só a Península
Ibérica entrou na modernidade sem guetos. Assim, não é de admirar que a
mania racial tenha sido importada da América pelos europeus menos
civilizados e usada contra os judeus. Toda essa Europa que se manteve
com guetos judaicos hoje tem guetos de imigrantes, tudo não-cidadão.
O
nome de gueto é aplicado no Brasil a favelas. Curiosamente, porém,
gringos que vêm para o Brasil fazem turismo em favela, mas não em no-goareas
europeias. A favela brasileira é cheia de eleitores, de cidadãos e de
gente que fala o mesmo idioma que os demais brasileiros. Quem tem gueto é
quem aponta o dedo para nós.
Individualismo radical Penso que o que caracteriza melhor o progressismo de matriz europeia é o
individualismo radical, a atomização da sociedade. Por mais que
reconheçamos o amor romântico entre gente do mesmo sexo, e por mais que o
casamento cristão moderno seja centrado nesse tipo de amor, ninguém
razoável discordará de que as relações entre homens gays costumam ser
mais fugazesdo que as relações tradicionais entre homens e mulheres com
filhos. A fugacidade do casamento me parece ser uma meta desse tipo de
progressismo.
Filhos são um tipo de laço entre
casais. Para impedir esses laços, basta vender o aborto como grande
ícone de liberação feminina. A mulher ideal, então, faz sexo loucamente –
sem se prender a nenhum homem – e, acontecendo de ficar grávida, irá ao
médico tirar. Caso o bebê nasça – e natalidade da Europa é pequenininha
–, tem o Estado de bem-estar social para bancar o bebê e deixar a
mulher dispensar o homem e até os avós. Assim, a vida
ideal desse tipo de progressista se divide entre o trabalho bem
remunerado e a balada, esta regada a drogas caras. Nas banlieues ficam os não-cidadãos responsáveis pelo trabalho braçal.
País não vai tremer se Lula
for condenado, avalia FHC
A seguir, parte da entrevista do ex-presidente da RepúblicaFernando Henrique Cardoso concedida
ao jornal O Estado de S. Paulo.
[a qualidade que não podemos deixar de reconhecer em FHC é a de ter vencido Lula duas vezes e no primeiro turno.]
Como o sr. explica o fato de
o Lula liderar as pesquisas? Pega o caso do Peru, que nós
citamos. O fujimorismo é a força predominante até hoje, e o Fujimori está na
cadeia (estava até o dia 24, quando recebeu indulto humanitário do atual
presidente Pedro Pablo Kuczynski). O próprio Perón teve um momento assim. É
curioso ver que em países como os nossos, com um nível educacional
relativamente pouco desenvolvido, as pessoas têm muitas carências. Aqueles que
dão às pessoas a sensação de que atenderam às suas carências ganham uma certa
permissão para se desviar da ética. É pavoroso, mas é assim. É populismo. É a
cultura que prevalece nesses países. A nossa está em fase de mudança. Aqui a
sociedade já tem mais informação. Nos regimes parlamentaristas têm menos chance
de que isso aconteça. Tem mais filtros. A emoção global não leva de roldão.
Pode alguém irromper, mas difícil é governar depois.
O senhor disse que o PSDB
precisa fazer autocrítica. Qual seria? Acho que o PSDB está, à sua
maneira, fazendo. Mudou a direção e, ao mudar, escolheu pessoas com
responsabilidade. Não que os outros não tivessem. Aécio (Neves, senador por
Minas Gerais e ex-presidente do PSDB) não é um irresponsável. Fez coisas
positivas para o PSDB. Mas o partido tem que dizer que, se houve erro de algum
peessedebista, problema dele. O partido não tem que se solidarizar com o erro
de seus filiados. A Lava Jato foi um marco importante na vida brasileira, o que
não quer dizer que não tenha excessos aqui e ali. Acho um pouco exagerada essa
vontade de vingança que existe hoje.
Além do caso da JBS, que
envolve o Aécio, o partido ainda enfrenta, mais recentemente, os impactos do
acordo de leniência da Camargo Corrêa e da Odebrecht, na qual ambas as empresas
reconhecem cartel em obras nos governos tucanos em São Paulo. Qual o tamanho da
avaria no caso do PSDB? Esse é o ponto. A Lava Jato
demonstrou ao País, e isso deixou todo mundo horrorizado, que aqui se montou um
sistema de poder político baseado na propina. Não é só uma questão de fulano ou
beltrano roubou. É muito mais grave do que isso. As instituições ficaram
comprometidas. O PSDB não participou desse sistema nem em São Paulo. No caso de
São Paulo, se houve algum malfeito no Rodoanel (uma das obras em investigação –
teria havido cartel para linhas de metrô também), não foi o PSDB que fez ou o
governador que organizou. Aqui não se organizou esquema.
Não tem um tesoureiro do PSDB que pegou dinheiro. Houve um cartel, mas contra o
governo.
Há uma crítica recorrente
que as denúncias de corrupção em São Paulo não recebem o mesmo tratamento do
que em outros Estados ou no plano federal. Teve processo em São Paulo.
Talvez não tenha produzido o mesmo auê, ou escândalo, talvez por isso: não
conseguem envolver o núcleo político e porque não tem a bênção do governo.
As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.