Tráfico e uso de drogas em quartéis atingem auge
nos últimos 12 anos
Recrutas
de 18 anos são maioria; crescem apreensões de cocaína e crack.
Defensoria quer que STF descriminalize usuário das
Forças Armadas.
Levantamento inédito
realizado pelo Superior Tribunal Militar (STM) e obtido pelo G1 mostra que os casos de uso,
tráfico e porte de drogas nas Forças Armadas aumentaram 337,5% nos últimos 12
anos.
“Vamos imaginar a figura de um sentinela armado de um fuzil, sob
efeito de substância alucinógena, o perigo que este agente poderá causar.]
Imagine então, este militar fazendo a segurança de autoridades, como
o presidente da República”
[A Defensoria Pública da União (que
defende o absurdo da liberação do uso de drogas por soldados armados com armamento pesado de grande poder de fogo -
e que tem como porta-voz a doutora
Tatiana Siqueira Lemos, defensora pública da União) deveria, também em nome da necessária igualdade de
direitos (mesmo que o direito em questão seja
o de cometer crimes) e dos princípios de proporcionalidade
e razoabilidade divulgar o
poder de fogo de um fuzil – uma das armas mais ‘leves’ que estarão ao
dispor de soldados drogados.
Acima tem um vídeo bem
esclarecedor do estrago que um fuzil pode fazer e a DPU quer que tais armas fiquem acessíveis a militares drogados - e o fuzil FAL apesar do seu grande poder de fogo não é a arma mais poderosa a que um militar - drogado, em serviço - pode ter acesso. Tem outras mais poderosas.]
Enquanto que, em 2002, foram
registrados 64 processos em unidades
militares, em 2014
foram registrados 280 casos, o maior
número desde que a análise é feita. Desse total, 36% dos envolvidos no período analisado
estavam trabalhando no momento do crime, e 20%
deles estavam armados.
Em
2015, até o dia 3 de setembro, já haviam sido registradas 169 ações por posse, uso ou comércio de
drogas dentro de unidades militares.
Riscos
Juízes e procuradores militares se dizem preocupados diante dos riscos da ligação de drogas com homens
armados. Em meio à discussão nos tribunais, a Defensoria Pública da União
defende que, acompanhando o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) de ação
para deixar de penalizar o porte de drogas, haja também a descriminalização do
usuário militar.
A Defensoria Pública atua na defesa de militares tanto no âmbito civil quanto
no militar, que são esferas diferentes
de jurisdição: ao contrário dos civis, que
respondem por crimes previstos no Código Penal, os militares respondem a
crimes previstos no Código Penal Militar, de 1969, e
são julgados por uma tribunal independente, a Justiça Militar (leia mais
abaixo).
O Supremo começou a discutir a questão,
mas o julgamento sobre a descriminalização do porte de drogas foi suspenso no
STF em 10 de setembro, após três ministros votarem a favor de usuários poderem
ter para uso pessoal certa quantidade de droga. Ainda não há data para o julgamento ser retomado. "Os
números que descobrimos nesta pesquisa são surpreendentes: nos mostram que o
aumento médio anual chegou a 20% nos últimos anos, o que está nos
preocupando", afirma o general Fernando Sérgio Galvão, ministro do
STM, que coordenou a pesquisa. "Cerca
de 95% dos flagrados são soldados temporários e recrutas [que prestam
serviço obrigatório de um ano],
solteiros, com ensino fundamental completo e na faixa dos 18, 19 anos. Uma
garotada nova e imatura ainda", acrescenta o ministro.
Mas
há exceções. Em duas situações recentes houve apreensões maiores, com flagrante de 150 e 32
pacotes/trouxinhas de cocaína. “Ficou na
cara que não era para consumo próprio”, afirma o general. Tanto
o Ministério Público Militar quanto juízes do STM ouvidos pelo G1 dizem temer que, se o STF
descriminalizar o usuário de drogas civil, haverá uma enxurrada de pedidos de
advogados buscando a equiparação dos direitos para os militares. Do outro lado
está a Defensoria, que busca que militares possuam os mesmos direitos previstos
aos civis nesta questão.
Perfil dos
envolvidos
Segundo o levantamento, 40% dos
envolvidos são de unidades do Exército, e 17% dos casos foram registrados
no Rio Grande do Sul – maior percentual entre estados. As regiões Sul e Sudeste
tiveram, respectivamente, 34,5% e 34,9% das ocorrências.
A
maconha é a droga mais comum,
com 81,6% dos registros. Mas, nos últimos 5 anos, vem caindo, diante do aumento da presença da cocaína, quase 20% em
2013, e do crack, que atingiu 10%
das apreensões em 2011. Na Marinha,
a preocupação com o uso de drogas levou à criação de um programa de assistência
e orientação – que, em 2014, tinha 75 pacientes.
Já no
Exército,
foi criado em janeiro deste ano um programa de prevenção à dependência química,
que ainda está em fase de implantação em todas as unidades brasileiras.
Atividades militares
Procuradores e juízes militares defendem que, mesmo diante de uma decisão do
STF pela liberação do porte de drogas, deveria ser mantida a diferenciação de tratamento para
militares. "Essa
possibilidade [dos
militares usuários de drogas pedirem igualdade de direitos] existe sempre que há uma diferenciação no
tratamento dos crimes entre o Código Penal e o Código Penal Militar. No caso, não há uma desigualdade de direito, mas uma diferença no
tratamento em razão das especificidades das atividades militares",
afirma o procurador-geral de Justiça Militar, Marcelo Weitzel.
Punições diferentes
Atualmente, as penas para militares e
civis em crimes envolvendo drogas é bem diferente. O Código Penal Militar prevê pena de reclusão
de até 5 anos, tanto para quem vende quanto
para quem porta drogas para consumo pessoal.
Já a Lei de Drogas, de 2006,
prevê uma advertência e a prestação de serviços à comunidade ou realização de
curso educativo para os civis flagrados portando drogas para consumo próprio. “A questão, no meio militar, deve ser enquadrada com maior rigor. A posse de drogas, mesmo que em pequena
quantidade, oferece risco à hierarquia e
à disciplina militar, como também enorme
risco a incolumidade física das pessoas", diz o procurador-geral Marcelo Weitzel.
Ele
salienta que houve o registro de guardas armados de quartéis flagrados usando
drogas. Para a
ministra do STM Maria Elizabeth Rocha, a discussão inquieta, mesmo não cabendo
igualdade de direitos. “Em tese, se for descriminalizado o uso e a
posse de drogas para os cidadãos brasileiros, isso não interferiria no contexto
militar, pois somos regidos por uma lei especial. Mas fica a nossa preocupação
de que sempre haverá pedido para que haja isonomia”, diz ela.
Para a ministra, não há como comparar o ato de fumar um
cigarro de maconha no ambiente militar e no civil, entre amigos. “Imagine um controlador
de tráfego aéreo que fumou maconha, o perigo que isso representa à
aviação", afirma Elizabeth Rocha.
Bituca no
bolso
O
defensora pública Tatiana Siqueira Lemos defende militares acusados de porte de
drogas tanto na Justiça Militar quanto no STF, a última instância de recurso. Ela
tem buscando no Supremo a equiparação com os direitos previstos aos usuários
civis na questão para os soldados. Até o momento, não conseguiu uma vitória. Tanto
ela quando o Ministério Público Militar afirmam que o
Supremo tem entendido que a lei militar
prevalece para os quartéis e que não é possível aplicar o Código Penal,
imposto aos cidadãos brasileiros, para
os militares.
Um dos casos que a defensora
diz ter ficado bastante "irritada"
foi a condenação de um recruta de 18 anos que fumou um
cigarro de maconha na rua e entrou no quartel com a bituca no bolso. Segundo ela, a condenação do jovem,
que ficará com a ficha criminal marcada, o prejudica para arrumar um emprego ao
retornar à sociedade como civil. “A
bituca no bolso não tinha a menor potencialidade de entorpecer. Ele
simplesmente esqueceu de pôr no lixo e depois vai ter dificuldades pelo resto
da vida, tendo sido punido por algo que o STF pode até dizer que não é crime”,
afirma.
“Com certeza, se o STF mesmo disser que o porte de drogas não é crime,
não há por que ser mais para os militares também. Vamos defender que, para
todos, é necessária igualdade de direitos, alegando os princípios da
proporcionalidade e razoabilidade da pena”, diz. [a forma mais justa de se resolver
esta questão e melhor para os brasileiros é continuar proibido o uso, porte,
posse, tráfico de drogas – tanto para militares quanto para civis, em qualquer
local do território nacional; além da manutenção da proibição, as penas devem
ser aumentadas, tanto para os traficantes quanto para os usuários - tendo em conta o entendimento, não
contestado, que não havendo usuário não haverá demanda, sendo consequência
direta a redução do tráfico.
Sem usuário, não há consumo; sem consumo, não existe tráfico.]
Questionado sobre a expansão
de seu voto aos militares, o ministro Gilmar Mendes, relator do processo no
Supremo, respondeu ao G1,
através da assessoria do STF, que a
matéria tratada em seu voto se limita à constitucionalidade do artigo 28 da Lei
de Drogas. "Desse modo, não há
qualquer referência [na discussão no Supremo] ao porte de drogas para uso pessoal em ambiente sujeito à
administração militar, pois a norma aplicada nesse caso é diferente – Código
Penal Militar”, afirmou.
Revisão das
leis
Em maio, o STM apresentou ao Congresso Nacional uma
proposta de revisão do Código Penal Militar, tentando separar o usuário do
traficante.
A ideia é que quem
seja flagrado produzindo, empacotando ou vendendo drogas em quartéis tenha uma
pena mais rigorosa – reclusão de 5 a 15 anos – e quem guarde ou transporte para consumo pessoal recebe pena
de seis meses a dois anos de detenção. A proposta está em discussão em
uma comissão na Câmara dos Deputados. “Hoje, a lei militar é muito rigorosa para
quem consome e tem uma pena mais branda para quem trafica dentro do quartel.
Veja, que distorção imensa há: ele pode pegar 15 anos de prisão se for flagrado
vendendo lá fora na esquina enquanto que, se for dentro da unidade, é de até 5
anos”, afirma a ministra do STM Elizabeth Rocha.
Fonte:
G1