Bolsonaro perde e Haddad ganha milhões de votos, mas sem tempo para virada
O PT espanca Fernando Henrique Cardoso há quase 20 anos, fez uma
campanha canalha contra Marina Silva em 2014 e atacou a candidatura Ciro
Gomes em todos os flancos em 2018, mas os petistas estão indignados, ou
irados, porque FH, Marina e Ciro têm enorme dificuldade em apoiar
Fernando Haddad antes do domingo
. Engraçado, não é?
Aliás,
se fosse o PSDB, a Rede ou o PDT contra Jair Bolsonaro, o PT
iria manifestar apoio a eles? Ou faria como sempre, em cima do muro,
vendo o circo
(e o País) pegar fogo para depois lucrar ao apagar o
incêndio?
Bolsonaro é franco favorito para a Presidência, mas a diferença entre
ele e Haddad vem caindo e isso mexe com os nervos das duas campanhas.
Bolsonaro ameniza o tom e acena com um governo de coalizão. O
PT aumenta
a pressão e o constrangimento para que outras forças políticas se
manifestem pró-Haddad, contra o
“autoritarismo”.
Ciro teve 12% dos votos, mas o tucano Alckmin nem chegou a 5% e
Marina despencou do segundo lugar até um raso 1%. FH nem voto tem. Mas,
para o PT, um sinal deles a favor de Haddad poderia tirar do muro
milhões de eleitores que oscilam entre votar nulo ou em Haddad. Seria um
empurrão. Assediado pela mídia, por telefone, pela internet e ao vivo, Fernando
Henrique reclama que
“intimidação é inaceitável”. Parece se deliciar
com a insistência e com a própria resistência a apoiar automaticamente o
PT, que nunca apoiou automaticamente ninguém. Muito pelo contrário.
Marina e o PDT anunciaram um “apoio crítico” a Haddad, enquanto Ciro
Gomes viajava com a família para a Europa e seu irmão Cid fazia a
papagaiada no evento do PT –
“Vocês vão perder! Vocês vão perder!”.
Depois, anunciou apoio a Haddad, mas
simplesmente ignorou os eventos de
campanha do PT no Ceará. É muito provável que
FH, Marina, Ciro e Cid venham a votar em Haddad
no domingo, mesmo que não anunciem publicamente o apoio
. Mas não pelo
PT, nem mesmo pelo próprio Haddad, mas contra Bolsonaro e o que ele
representa. Assim como há antipetismo, há um forte antibolsonarismo.
As intenções de voto em Bolsonaro recuam tanto como as de Haddad
sobem, mostrando que o sentimento contra Bolsonaro está crescendo,
depois do vídeo do deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro dizendo
que
“bastam um soldado e um cabo para fechar o Supremo” e da acusação
dos petistas de que empresários foram pagos por Bolsonaro para
disseminar fake news contra Haddad.
[curioso que ninguém deu importância quando um petista de carteirinha, inclusive advogado voluntário do presidiário Lula - um tal de Wahdi Damous, ameaçou fechar o Supremo;
não foi dada importância quando o presidiário Lula ameaçou convocar o 'exército' de Stalin e chamou o Supremo de 'corte acovardada';
E tem outros e outros exemplos de ameaças feitas contra o STF e ignoradas.
Já o filho de Bolsonaro, que apenas respondeu uma pergunta sobre uma situação hipotética, está sendo malhado, responsabilizado, acusado por grande parte da imprensa e a corja petista.
Haddad responde a 32 processos e está sendo acusado de receber propina da OAS e a roubalheira praticada pelo poste petista não recebe nenhuma atenção - já o MP, hoje, a menos de 48 horas do inicio da votação do segundo turno resolve investigar Paulo Guedes, formando um autêntico MP 'imparcial' x provas fraquissimas = às vésperas do inicio da votação do segundo turno.]
Além disso,
a diferença entre os dois candidatos diminuiu por causa dos
programas do PT com Bolsonaro defendendo a tortura e um torturador,
contra direitos das empregadas domésticas e ao lado do presidente Temer e
do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, um dos presos mais famosos da
Lava Jato. Como pano de fundo, a massificação da ideia de que, eleito,
Bolsonaro será uma ameaça à democracia, às minorias e aos pobres.
De outro lado,
Haddad também andou fazendo besteiras. A principal
delas foi usar uma sabatina para acusar o vice de Bolsonaro, general
Hamilton Mourão, de ter sido torturador na ditadura militar.
O general
tinha 16 anos na época e a declaração de Haddad não foi apenas
irresponsável como voltou como bumerangue na testa dele. Na reta final, o
fundamental é não errar.
Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo