Dilma tem de parar de confundir
a Constituição e as leis com o DOI-Codi! Ou:
Presidente está abatida e deveria abreviar o seu e o nosso sofrimentos
Nesta sexta, militantes
petistas foram “abraçar” o
Instituto Lula, que teria sido alvo de um “atentado”. Apenas 400 militantes apareceram por lá, embora a convocação
tenha sido feita com antecedência e a anunciada presença de Lula. Nem os companheiros levaram o troço muito a sério. Até a
eles ocorre que, se alguém quer mesmo praticar um atentado político, não joga
uma bomba caseira como aquela. Se joga e se o faz naquelas condições, talvez
esteja tentando simular um atentado, entendem? Com que propósito? A lógica
responde. Mas sigamos.
O país vivendo em
transe, e eis que Lula e seus seguidores se apegam à lógica do “bunker” — também do “bunker” mental. Seria só patético se três ministros não houvessem passado por lá
para beijar a mão do Poderoso Chefão do Partido — e
três ministros, note-se, que são da cota
pessoal de Dilma Rousseff: Aloizio Mercadante (Casa Civil), Edinho Silva
(Comunicação Social) e Jaques Wagner (Defesa). Os 403 de Lula se juntaram no
dia seguinte a um panelaço que varreu o país em protesto contra o programa do
PT no horário político.
O país numa crise
gigantesca, e o PT volta a se comportar como grupelho. Não está melhor, por óbvio, a presidente Dilma
Rousseff. Ao participar de um evento do “Minha
Casa Minha Vida” em Boa Vista, Roraima, visivelmente abatida, com sinais explícitos de que anda tendo péssimas
noites de sono, vociferou
em favor da legitimidade do seu governo e anunciou o imperativo das urnas, como se as mesmas leis que a elegeram
também não previssem o roteiro da deposição.
E, para não variar, Dilma voltou a apelar a
seu passado de membro de grupos que ela chamaria “guerrilheiros”, mas que, sabe-se, eram mesmo terroristas. A atuação lhe
rendeu prisão e tortura, num tempo que foi inaugurado com a Constituição sendo
rasgada e que foi mantido com arremedos e remendos de legalidade ditatorial.
Em que aquela experiência, por mais traumática e dolorosa que tenha
sido, pode instruir a Dilma de agora? A
resposta, infelizmente pra ela, é esta: NADA DE POSITIVO PODE TRAZER. Ela não é mais, que se saiba, a militante que queria dar um golpe comunista no país; da mesma
sorte, não está sendo perseguida por gente torta em razão de suas ideias
tortas. Ao contrário: a presidente da República é chamada a dar uma resposta à
legalidade democrática.
Chega a ser
desagradável ter de lembrar a Dilma que o fato de um terrorista ou guerrilheiro ter resistido às piores
condições do cárcere não o torna inimputável
nem o prepara, de modo especial, para enfrentar os rigores das leis
democráticas. DILMA NÃO TEM MAIS RESPOSTA NENHUMA A DAR À DITADURA. ELA TEM DE PRESTAR
CONTAS É À DEMOCRACIA.
Não obstante, a presidente se apega de um modo que me parece monomaníaco àquele
passado, que ela vê, certamente com auto complacência, como se ele fosse a
evidência de sua têmpera de ferro, pronta a enfrentar as maiores adversidades.
Ademais, é evidente que ela tenta estabelecer um
paralelo entre a tortura que sofreu [que diz ter sofrido, expressa melhor
a verdade.] e as exigências legais
às quais têm de responder. Mais ainda:
os 71% que acham seu governo ruim ou
péssimo e os 66% que querem seu
impeachment não são seus torturadores. São apenas brasileiros inconformados
expressando a sua contrariedade, muitos deles, dados os números, certamente
sufragaram o nome de Dilma há menos de 10 meses.
Sim, é visível que a presidente está sofrendo — o padecimento está
estampado em seu rosto de modo inédito. Mas o Brasil não tem o que fazer com o seu sofrimento; ele de nada nos
serve. Muito pelo contrário: só
empresta uma dramaticidade que mais nos afasta do que nos aproxima de uma
resposta. Lula pode voltar lá para o seu cafofo
autorreferente e se juntar a seus fanáticos. Dilma não pode. As reminiscências da “guerrilheira” só a farão encontrar os inimigos e os amigos
errados.
A crise é, sim,
gigantesca.
Só não caiam na conversa de que alguma
grave ameaça política paira sobre o país — a menos que os vermelhos estejam
pensando em fazer coisas feias. Qualquer que seja o desdobramento — impeachment, cassação da chapa ou renúncia
—, há uma legalidade sólida que o
abriga. Vamos ser claros? A única alternativa que
desafia a lei é a permanência de Dilma.
Pense bem, presidente! Mas pense com os olhos em 2015 e no futuro. A
ex-presidiária só atrapalha. Não
convém confundir a Constituição com o DOI-Codi.
Por: Reinaldo
Azevedo – Veja OnLine