O ex-ministro da
Justiça Marcio Thomaz
Bastos deixou 393 milhões de reais de herança. Ao longo de sua carreira, o
advogado, que morreu em novembro do ano passado, acumulou
18 imóveis, diversas obras de arte e um sem-número de aplicações financeiras
cujo valor declarado soma exatos R$ 393.286.496,30. A herança será
dividida entre a viúva e a filha de Thomaz Bastos.
Uma
análise detalhada do inventário mostra que esse número pode ser ainda maior. A lista de bens traz, por
exemplo, uma coleção de 12 obras de arte de artistas
renomados subavaliadas. Um quadro
de Tomie Ohtake de 1986, por exemplo, com valor declarado de 6 500 reais, pode
valer 50 vezes mais. Um Portinari
pode passar de 51 000 para mais de um milhão de reais, na avaliação de
especialistas. Outro Portinari,
declarado com valor simbólico de 1 real, pode valer mais de 200 000.
Além
das obras de arte, provavelmente os imóveis também estão subavaliados, já que os valores
lançados nas declarações de bens são normalmente valores históricos, referentes
ao momento da aquisição, sem qualquer correção. Tudo somado, é de se
esperar que a fortuna acumulada pelo Dr. Bastos seja muito maior que a
divulgada.
De todo modo, Márcio Thomaz
Bastos está, sem qualquer sombra de dúvida, entre os homens mais ricos do
Brasil. E mais: para terror de
seus correligionários petistas, e talvez dele próprio, sua imensa fortuna
fez com que Pindorama se tornasse um pouco mais desigual. O Doutor Márcio era
considerado, com inteira justiça, um dos melhores causídicos tupiniquins.
Se o preço dos serviços que prestava era alto, é porque os contratantes
confiavam na sua eficiência e no seu enorme saber jurídico. Assim como os
grandes nomes do esporte ou das artes, ele cobrava caro por suas habilidades
especiais porque era um craque, um gênio em sua área. O resto é choro de gente
invejosa.
Por outro lado, insinuar que a
riqueza de Thomaz Bastos seria a causa da pobreza de muitos outros, como
diriam alguns de seus “amigos”
petistas obcecados pela tese da desigualdade de renda e riqueza, é não somente
uma falácia, como um sofisma insidioso. É fato absolutamente demonstrável que, no
capitalismo de mercado, um indivíduo somente pode enriquecer satisfazendo
os desejos e necessidades dos demais. Portanto, se o Dr. Bastos era um
homem riquíssimo, foi porque soube fornecer um bom serviço a quem dele
precisava. Em outras palavras, qualquer um que deseje enriquecer numa
economia de mercado deverá, antes de qualquer outra coisa, laborar para servir
ao próximo, mesmo que a sua efetiva intenção seja exclusivamente o benefício
próprio – sempre haverá quem o acuse de traficar influência, mas não há nada
que comprove tal coisa. Até onde a vista alcança, Bastos ganhou sua fortuna
honestamente.
Ademais, ao amealhar grande
riqueza, ele acabou beneficiando, direta ou indiretamente, uma gama imensa de
pessoas. Além dos seus clientes, já mencionados, há os empregados que para
ele trabalham, bem como todos aqueles que, de alguma maneira, estavam atrelados
àquela cadeia produtiva específica. O
mais importante, porém, é que os
indivíduos muito ricos são grandes poupadores e, por conseguinte, grandes investidores – na verdade, a
poupança não é outra coisa senão uma forma diferente de gastar os recursos, no
sentido de que não será o seu dono quem os gastará diretamente, mas outra
pessoa (tomador/investidor).
O portfólio de Thomaz Bastos, como se vê na matéria da Revista Exame,
era composto de “um sem número de
aplicações financeiras”, que nada mais são do que o repasse oneroso de
recursos para investimentos a serem realizados por terceiros. Tais investimentos, além de incrementar a economia
do país, ajudam a dar emprego a milhares de pessoas. Além disso,
ele possuía muitos imóveis e inúmeras
obras de arte, o que o transforma também num incentivador da construção
civil e das artes em geral. Resumindo, não há como deixar de aplaudir um
indivíduo que consegue, com trabalho árduo, amealhar tamanha fortuna.
No caso específico de Márcio Thomaz Bastos, entretanto, há um senão que não
posso deixar de externar. Embora tenha demonstrado saber ganhar dinheiro
como poucos, o Dr. Márcio era um homem provavelmente corroído pela culpa.
Como diagnosticou o Rodrigo Constantino
em seu “Esquerda Caviar”, não são poucos aqueles que, acometidos de um enorme
complexo de culpa pela própria riqueza acumulada, passam a apoiar causas anticapitalistas, como se isso fosse, de alguma
maneira, beneficiar os pobres, de quem ele se acha, inexplicavelmente,
devedor.
Não vejo outra explicação
plausível para a insistência dele em patrocinar e proteger o PT, um partido que sempre
esteve ideologicamente voltado para a sabotagem do capitalismo, esse mesmo capitalismo que possibilitou que
construísse a sua fortuna. Portanto,
se há algo que eu teria dito ao Dr. Márcio, caso o tivesse conhecido, é que o maior crime das elites
capitalistas não está nas famigeradas desigualdades, no egoísmo ou na
acumulação de capital, como ele provavelmente pensava e se amargurava, mas sim na recusa
sistemática de apoiar, divulgar e defender as instituições e o modelo econômico
que, além de possibilitar-lhe a fortuna, deram à humanidade a única esperança que ela já
conheceu de sair de seu estado natural de miséria.
Por: João Luiz Mauad é
administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor
de empresas) e diretor do Instituto Liberal.
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