É isso o que dá ter
duzentos mil seguidores no Facebook e não dizer a eles uma só palavrinha em
louvor do governo.
Desmoralizada,
acuada pela Justiça, desprezada e achincalhada abertamente por noventa e um
por cento da população brasileira, a quadrilha
comunolarápia decidiu reagir mediante uma onda de bravatas e ameaças, fazendo o que
pode para macaquear com trejeitos histéricos a virilidade e a coragem, duas
coisas que seus líderes só conhecem por ouvir falar.
Essas gesticulações
circenses não assustam a ninguém, mas, se às vezes nos fazem rir,
outras vezes deprimem e podem levar às lágrimas o cidadão que, contemplando
tanta miséria e deformidade, se lembre de que elas são, afinal de contas, o
rosto do Estado brasileiro, o rosto da nação. A mim elas fazem lembrar antes
aquele vídeo do Youtube, em que um
boxeador nocauteado, estendido no chão como um trapo, continuava a esmurrar o
ar, como se a luta tivesse um round suplementar no mundo dos sonhos.
Um dos lances mais
comoventes da guerrinha dos fracassados contra o destino foi protagonizado
pelo deputado Paulo Pimenta, ao pedir a
prisão do jovem brasileiro que xingou a Sra. Dilma Rousseff na Califórnia. Xingar
um governante em público é, em circunstâncias normais, um crime. Mas, quando o país inteiro
está fazendo isso nas ruas, nas praças, nos estádios e nos panelaços, punir seletivamente um cidadão isolado é
como tentar desviar um furacão à força de puns.
No meu modesto entender, o rapaz
da Califórnia só errou num ponto. Xingar a presidente de “terrorista”
é inócuo, pois isso ela já sabe que é. Eu, em vez disso, a teria xingado de “mocréia”, pois há sempre um
risco de que, malgrado a impopularidade avassaladora, ela continue se achando
linda. Não
menos patética foi a indefectível Sra. Maria do Rosário, ao dar queixa contra um
indivíduo anônimo e não identificável que, cruzando com ela no meio da massa, teria
previsto a sua morte em data incerta e não sabida, por causas não mencionadas. À
polícia ela não deu a mais mínima pista que pudesse levar à descoberta do
ofensor sem rosto, conhecido unicamente pelo nome de “Alguém”.
Sem
a menor esperança de novas averiguações, ficou, pois, registrada apenas a
identidade da vítima, mas isso é pura redundância, pois quem não sabe que a sra. Maria do Rosário é uma vítima? Depois foi a vez do Sr. Jacques Wagner que, tentando ser ministro da Defesa, mas não tendo ninguém a defender contra o que
quer que seja, escolheu a apresentadora Maju Coutinho como alvo de ataques
fictícios, fabricados inteiramente por MAVs a serviço do governo, e saiu bravamente
em campo para defender a moça contra seus inimigos imaginários.
Não foi essa, admito, a mais
notável performance carnavalesca do sr. Wagner, que jamais superará o seu feito de 2007,
pioneiramente registrado por mim em http://www.olavodecarvalho.org/semana/070312Bdc.html
quando, governador da Bahia, ele patrocinou um tremendo beijo lésbico em público
entre sua esposa e a do então ministro da Cultura, Gilberto Gil.
Essa é a razão pela qual, quando
me dizem que o Sr. Wagner não somente existe mas é ministro da Defesa,
sinto-me à beira de ter um ataque de nervos como o do dr. Paulo Ghiraldelli e
sair gritando: “É mentira! É mentira! É
mentira! É mentira! É mentira! É mentira! É mentira! É mentira! É mentira!”
Também me pergunto
se os altos oficiais das Forças Armadas não temem que, se o homem teve a cara
de pau de fazer o que fez com a mulher de um ministro, ele venha a sentir-se ainda mais à vontade para
fazê-lo -- agora que ele próprio é
ministro -- com as mulheres de seus
subordinados, isto é, as mulheres deles.
Qualquer que seja o caso, a atividade dos MAVs nos últimos dias não
se limitou a criar racistas eletrônicos. Mais ou menos uma semana atrás recebi esta mensagem de um amigo que,
por motivos óbvios, prefere permanecer anônimo: “Professor Olavo, estou com uma informação de
inteligência de que atacarão e derrubarão a sua página pessoal em breve, está
sabendo?
Depois do bloqueio de três dias virá o bloqueio de sete e depois o de
trinta. Vão denunciar todas suas postagens em massa e qualquer uma será
interpretada como fora dos padrões. Outra coisa que eles farão é pegar o
seu mail vinculado à sua conta e colocá-lo como administrador de diversas
paginas falsas. (Sim,
é possível fazer isso.) Nestas páginas vão
colocar pornografia e o administrador (no caso, você) se punido e banido do Facebook.”
O aviso do bloqueio
de três dias cumpriu-se no prazo.
É isso o que dá ter
duzentos mil seguidores no Facebook e não dizer a eles uma só palavrinha em
louvor do governo. Também não é de espantar que,
como toda censura, a do Facebook oculte a sua própria existência: como minha esposa divulgasse na sua página a
suspensão da minha, a dela também foi suspensa.
Vamos falar o
português claro. Uma censura direta,
feita oficialmente por funcionários do governo, é muito mais decente do que contratar moleques para derrubar páginas do
Facebook. Quando um governo acossado por
investigações de corrupção apela a um expediente tão pueril para tapar a boca dos
denunciantes, é inevitável concluir que ele todo se compõe de crianças
malvadinhas.
Publicado no Diário do Comércio – Olavo de Carvalho
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