“Existe alguém mais arrogante do que eu?”, deve perguntar Dilma a seu espelho. “Sim!”, responde o espelho
Às vésperas das manifestações de agosto, às voltas com o “ajuste do
ajuste” e o “arrocho do arrocho”, a presidente Dilma Rousseff ganha
enfim um trunfo: a exposição de seu maior adversário. Ele se chama
Eduardo Cunha, o destrambelhado presidente da Câmara. Em seu quarto,
diante da penteadeira, Dilma deve se perguntar: “Espelho, espelho meu,
existe alguém mais arrogante do que eu?”. “Sim”, responde a voz do
espelho.
É inaceitável a pressão de Cunha sobre o Supremo Tribunal Federal (STF) para afastar da condução da Operação Lava Jato o juiz federal Sergio Moro. Cunha não gostou de ter vindo a público a delação que o envolveu em recebimento de propina milionária, em dólares, por contratos de navios-sonda assinados pela Petrobras. Tem direito de não gostar. Mas pedir a cabeça de Moro e exigir que a ação na Justiça Federal do Paraná corra em sigilo e seja conduzida pelo Supremo porque ele, Cunha, tem foro privilegiado... isso é moralmente discutível. No mínimo.
Também é inaceitável que, em seu rompante de diva, acreditando mesmo protagonizar a oposição a Dilma, Cunha tenha “rompido” com o governo federal. Esqueceu que é do PMDB e que faz par caipira com o presidente do Senado, Renan Calheiros, ambos detentores dos implantes capilares mais vistosos do Congresso? Não temeu desgostar Temer – o vice-presidente mais quietinho da história contemporânea? Ignorou seu cargo de presidente da Câmara e partiu para o vale-tudo, em vez de jogar xadrez? Isolou-se no mesmo dia em que o Congresso entrava em “recesso branco” de duas semanas, suspendendo todos os debates e trabalhos? Um desastre.
Tudo inaceitável. Mas previsível, para quem acompanha Cunha desde que presidiu a Telerj (entre 1991 e 1993) no governo de Fernando Collor, filiado ao PRN (Partido da Reconstrução Nacional) e ligado a PC Farias. Normal, não? Filiou-se ao PPB (Partido Progressista Brasileiro) em 1994. Cunha se uniu ao líder evangélico Francisco Silva, com quem trabalhou na Rádio Melodia. Um comunicador. Tornou-se aprendiz e afilhado fiel de Anthony Garotinho. Presidiu a Cehab (Companhia Estadual de Habitação) para Garotinho e foi demitido, em 2000, acusado de fraudes em contratos assinados em sua gestão. Foi eleito deputado pelo PPB em 2002 e, depois, pelo PMDB. Safou-se de todas as acusações e sindicâncias contra ele até hoje no exercício do poder – licitações irregulares, desvios, achaques, favorecimentos. [não podemos esquecer que acusações precisam ser provadas. Tanto que o estrupício do Lula e a cérebro baldio da Dilma são acusados de milhares e milhares de mal feitos e continuam livres, leves e impunes. Até agora não foram encontradas, ou apresentadas, as necessárias provas.
É inaceitável a pressão de Cunha sobre o Supremo Tribunal Federal (STF) para afastar da condução da Operação Lava Jato o juiz federal Sergio Moro. Cunha não gostou de ter vindo a público a delação que o envolveu em recebimento de propina milionária, em dólares, por contratos de navios-sonda assinados pela Petrobras. Tem direito de não gostar. Mas pedir a cabeça de Moro e exigir que a ação na Justiça Federal do Paraná corra em sigilo e seja conduzida pelo Supremo porque ele, Cunha, tem foro privilegiado... isso é moralmente discutível. No mínimo.
Também é inaceitável que, em seu rompante de diva, acreditando mesmo protagonizar a oposição a Dilma, Cunha tenha “rompido” com o governo federal. Esqueceu que é do PMDB e que faz par caipira com o presidente do Senado, Renan Calheiros, ambos detentores dos implantes capilares mais vistosos do Congresso? Não temeu desgostar Temer – o vice-presidente mais quietinho da história contemporânea? Ignorou seu cargo de presidente da Câmara e partiu para o vale-tudo, em vez de jogar xadrez? Isolou-se no mesmo dia em que o Congresso entrava em “recesso branco” de duas semanas, suspendendo todos os debates e trabalhos? Um desastre.
Tudo inaceitável. Mas previsível, para quem acompanha Cunha desde que presidiu a Telerj (entre 1991 e 1993) no governo de Fernando Collor, filiado ao PRN (Partido da Reconstrução Nacional) e ligado a PC Farias. Normal, não? Filiou-se ao PPB (Partido Progressista Brasileiro) em 1994. Cunha se uniu ao líder evangélico Francisco Silva, com quem trabalhou na Rádio Melodia. Um comunicador. Tornou-se aprendiz e afilhado fiel de Anthony Garotinho. Presidiu a Cehab (Companhia Estadual de Habitação) para Garotinho e foi demitido, em 2000, acusado de fraudes em contratos assinados em sua gestão. Foi eleito deputado pelo PPB em 2002 e, depois, pelo PMDB. Safou-se de todas as acusações e sindicâncias contra ele até hoje no exercício do poder – licitações irregulares, desvios, achaques, favorecimentos. [não podemos esquecer que acusações precisam ser provadas. Tanto que o estrupício do Lula e a cérebro baldio da Dilma são acusados de milhares e milhares de mal feitos e continuam livres, leves e impunes. Até agora não foram encontradas, ou apresentadas, as necessárias provas.
Se é necessário provar quando os acusados são pessoas tipo Lula e Dilma o mesmo vale para Cunha.] Responde a tudo em seu site. Ataca ferozmente quem o
denuncia. Uma de suas frases mais conhecidas é: “O povo não está nem aí
para o que eu digo, só pega a última frase”.
Quando eu dirigia o jornal carioca O Dia, em agosto de 1996, pude perceber como Cunha agia ao se sentir acuado. O episódio era prosaico. Não havia crime. Ex-presidente da Telerj nesse tempo – e fonte assídua e ardorosa de jornalistas –, Cunha foi parar com a ex-mulher, Cristina Dytz, numa delegacia da Barra da Tijuca, no Rio. O motivo tinha sido uma briga de casal. Vizinhos chamaram a PM porque Cunha estaria, aos gritos, tentando entrar no apartamento do condomínio em que Cristina morava com os filhos, sob o pretexto de apanhar documentos. Cunha tinha 38 anos, morava num apart-hotel, estava com a perna engessada e, segundo se apurou, não queria pagar a pensão mensal de R$ 18 mil para ela e os três filhos, depois de 12 anos de união. A PM levou o casal para a delegacia, com seus advogados, e o jornal publicou uma matéria curta. Até aí, nada. Mas Cunha fez de tudo para impedir a publicação. Telefonou primeiro para um editor, depois telefonou para o dono do jornal. A reportagem saiu. Cunha travou com o jornalista um diálogo pesado ao telefone. E o levou à Justiça. Perdeu, porque nada havia ali que configurasse difamação ou injúria. Apenas fatos.
Por seu temperamento e seu histórico de desavenças, Cunha é, portanto, o opositor “ideal” de Dilma porque joga a presidente e Lula nos braços de uma oposição mais sensata. Não é de espantar que Lula, às vésperas de manifestações convocadas para agosto, pró e contra Dilma, se aproxime do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Um Cunha em inferno astral, isolado pelo próprio PMDB, é tudo que Dilma precisa para tirar o holofote de cima da inflação de dois dígitos, do desemprego, do corte de R$ 3,4 bilhões no programa de creches e pré-escola, da meta que não convence, das contas que não fecham.
Há quem peça, no Congresso, a renúncia de Cunha até que seja apurado seu envolvimento na Lava Jato. Enquanto isso, Dilma vai ao Nordeste para vender um Brasil que não existe a eleitores que também não existem mais.
Quando eu dirigia o jornal carioca O Dia, em agosto de 1996, pude perceber como Cunha agia ao se sentir acuado. O episódio era prosaico. Não havia crime. Ex-presidente da Telerj nesse tempo – e fonte assídua e ardorosa de jornalistas –, Cunha foi parar com a ex-mulher, Cristina Dytz, numa delegacia da Barra da Tijuca, no Rio. O motivo tinha sido uma briga de casal. Vizinhos chamaram a PM porque Cunha estaria, aos gritos, tentando entrar no apartamento do condomínio em que Cristina morava com os filhos, sob o pretexto de apanhar documentos. Cunha tinha 38 anos, morava num apart-hotel, estava com a perna engessada e, segundo se apurou, não queria pagar a pensão mensal de R$ 18 mil para ela e os três filhos, depois de 12 anos de união. A PM levou o casal para a delegacia, com seus advogados, e o jornal publicou uma matéria curta. Até aí, nada. Mas Cunha fez de tudo para impedir a publicação. Telefonou primeiro para um editor, depois telefonou para o dono do jornal. A reportagem saiu. Cunha travou com o jornalista um diálogo pesado ao telefone. E o levou à Justiça. Perdeu, porque nada havia ali que configurasse difamação ou injúria. Apenas fatos.
Por seu temperamento e seu histórico de desavenças, Cunha é, portanto, o opositor “ideal” de Dilma porque joga a presidente e Lula nos braços de uma oposição mais sensata. Não é de espantar que Lula, às vésperas de manifestações convocadas para agosto, pró e contra Dilma, se aproxime do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Um Cunha em inferno astral, isolado pelo próprio PMDB, é tudo que Dilma precisa para tirar o holofote de cima da inflação de dois dígitos, do desemprego, do corte de R$ 3,4 bilhões no programa de creches e pré-escola, da meta que não convence, das contas que não fecham.
Há quem peça, no Congresso, a renúncia de Cunha até que seja apurado seu envolvimento na Lava Jato. Enquanto isso, Dilma vai ao Nordeste para vender um Brasil que não existe a eleitores que também não existem mais.
Fonte: RUTH DE AQUINO - Revista Época
Nenhum comentário:
Postar um comentário