Eu me opunha à
convocação da doutora Beatriz Catta Preta pela CPI da Petrobras até ontem. Depois da
entrevista que ela concedeu ao Jornal Nacional, passei a ser a favor. Eu não
quero que ela vá lá revelar o valor dos seus serviços. Também não lhe cabe
dizer a origem do dinheiro daqueles que pagam seus honorários. Não é a ela que
cabe fazer esse tipo de investigação. O estado dispõe de instrumentos para
isso.
Agora, eu
quero que a doutora Beatriz vá à CPI para dizer quem a ameaçou e de que modo. Lembrando sempre que
um advogado não dispõe de prerrogativas para fazer falso comunicado de crime. A
CPI manteve a convocação da doutora e fez muito bem. Dado o novo contexto, a OAB deveria aprová-la, em vez de tentar
obstá-la.
Na entrevista eivada de absurdos
concedida ao Jornal Nacional, a doutora disse com todas as letras, nesta
quinta: “Depois de tudo que está
acontecendo, e por zelar pela segurança da minha família, dos meus filhos, eu
decidi encerrar a minha carreira na advocacia. Eu fechei o escritório”. Em
seguida, pergunta-lhe o repórter César Tralli: “A senhora consegue identificar de onde vem essa intimidação que a
senhora enxerga tão claramente hoje?”. E ela responde: “Vem dos integrantes da CPI, daqueles que votaram a favor da minha
convocação”. Raramente ou nunca, estivemos diante de um absurdo de tal
natureza, de tal monta. A doutora
Beatriz está dizendo, sim, que está fechando o escritório e mudando de
profissão, pensando na segurança de sua família, e as intimidações — que são,
então, ameaças —
A doutora Beatriz tem
de ir à CPI para dizer quem, na comissão, a ameaça e por que uma simples convocação pode ser caracterizada como um
molestamento até a sua família. Isso nada tem a ver com sigilo no
exercício da profissão. Igualmente
considero fora do sigilo uma questão que me parece elementar. Se Julio Camargo
fala a verdade agora, quando diz que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) recebeu US$ 5 milhões de propina, então
mentia antes, quando negava. A pergunta é óbvia: ele mentira também
para a advogada ou ambos mentiam, unidos, para a Justiça?
Não tem jeito.
Doutora Beatriz e a OAB têm de ter clareza quando as coisas ultrapassam o limite
do aceitável. Se há deputados na CPI que fazem ameaças, eles precisam ser
denunciados e banidos da vida pública. E ela terá a chance de anunciar seus
nomes em rede nacional. Todos estaremos atentos. Se não foi ameaça dessa ordem,
mas, como ela disse, uma coisa indireta, que, ainda assim, revele como se deu.
Eu tenho curiosidades que, espero, também
estejam na mente dos deputados, e nenhuma delas tem a ver com sigilo
profissional ou com especulações sobre a origem dos ganhos da advogada. EMBORA, ATENÇÃO, TUDO
LHE POSSA SER INDAGADO. ELA NÃO É OBRIGADA A RESPONDER O QUE FIRA O CÓDIGO DE
SUA PROFISSÃO. ESTÁ LÁ RESGUARDADA POR DECISÃO DO SUPREMO.
1 – A primeira questão é
aquela já anunciada: Camargo mentiu para ela, ou ambos mentiram para a Corte?
2 – Dê exemplo de uma
ameaça que a senhora ou sua família tenham sofrido.
3 – Em tempos de Whatsapp,
e-mail, comunicação online, por que a senhora não desmentiu desde o primeiro
dia a pretensão de se mudar para a Miami?
4 – Por que a senhora
usou o verbo “fugir” para se referir à possível mudança para os EUA? A senhora
fugiria de quem?
5 – A senhora não
considera um despropósito abandonar a profissão em razão de ameaças que a
senhora mesma diz terem sido indiretas?
6 – Não pergunto sobre
nenhum caso em particular, mas em tese: na sua experiência profissional, diria
que um delator premiado deve ter direito a quantas versões?
7 – Um advogado que cuida
de várias delações premiadas não pode acabar cuidando das várias versões, de
modo a evitar contradições entre elas?
8 – Procedem os
comentários que circulam nos meios jurídicos segundo os quais a senhora
é uma espécie de quarto elemento da força-tarefa?
9 – A senhora era vista
até a semana retrasada como uma aliada e uma amiga do Ministério Público. A
senhora tem receio de que isso possa mudar?
10 – Digamos que a
senhora estivesse desgostosa com a Lava Jato e deixasse os clientes. Mas por
que deixar a profissão? O que a impediria de exercê-la em outros casos? Os
descontentes com a operação a perseguiriam até em outros processos?
11 – Como uma pessoa acostumada
a defender pessoas, a senhora acha que faz sentido o ataque dirigido à CPI?
12 – A senhora reconhece
a legitimidade do Congresso Nacional e das Comissões Parlamentares de
Inquérito?
13 – A senhora tem
ciência se, em algum momento, clientes a procuraram por indicação de algum
membro da força-tarefa? Se isso acontecesse, seria ético, na sua opinião?
14 – A senhora teve
alguma relação com o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) antes desse episódio?
15 – Por que a senhora
acha que se fizeram especulações só sobre seus honorários, não sobre o de
outros, que também cuidaram de delações premiadas?
16 – Antes de a senhora
tomar a drástica decisão que tomou, foi procurara por algum emissário de
Eduardo Cunha para alguma conversa?
17 – Seu marido
participa, de algum modo, da conversa ou da abordagem dos acusados que a
procuram para fazer delações?
18 – Com o apoio da
imprensa, da OAB e até de ministros da STF, a senhora não acha que há certo
exagero em aparecer como vítima de uma CPI?
19 – O que a senhora acha
que deve acontecer com alguém que, sendo beneficiário da delação premiada,
mente?
20 – A senhora pretende
dar início à carreira de roteirista?
Fonte:
Blog do Reinaldo Azevedo
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