"O que é ruim piora"
Mais da metade dos brasileiros (52,4%) considera “péssimo” o governo
Dilma. Água morro abaixo, fogo morro acima e a popularidade de Dilma
quando despenca ninguém segura. Essa versão gaiata do dito popular
ilustra o melancólico beco sem saída em que a presidente da República e,
consequentemente, seu governo foram colocados pelo sectarismo
ideológico e por uma inacreditável incompetência política. Tudo isso é
agravado pela maneira mesquinha como o PT tenta salvar a própria pele,
fingindo que não tem nada a ver com “isso tudo que está aí”. A mais
recente pesquisa de opinião pública, realizada pela MDA Pesquisa por
encomenda da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), mostra que
70,9% dos brasileiros avaliam negativamente o governo petista (“ruim”
para 18,5% e “péssimo” para 52,4%), contra apenas 7,7% que o veem com
bons olhos (“bom” para 6,2% e “ótimo” para 1,5%).
No levantamento anterior, feito pelo Ibope no fim de junho, os
brasileiros que consideravam o governo ruim ou péssimo somavam 68%,
contra 9% dos que o julgavam bom ou ótimo. A comparação entre as duas
pesquisas e a sólida tendência ao agravamento da situação econômica do
País indicam que ainda há espaço para a avaliação popular de Dilma
piorar.
A presidente da República até já admite que a economia enfrenta
“dificuldades”, que não se encabula de classificar de “passageiras”.
Para ela, os grandes responsáveis por inconveniências como a inflação
fora de controle, o aumento do desemprego, a redução do consumo e o
desajuste das contas públicas são “a crise internacional” e as condições
climáticas desfavoráveis. A crise financeira internacional que eclodiu, em 2008, a partir do
estouro da bolha imobiliária dos EUA, teve reflexos negativos no mundo
inteiro. Do alto de uma próspera situação econômica e escorado em
sólidas reservas, o então governo Lula agiu com competência para
minimizar os efeitos da crise sobre o País. E isso ocorreu num momento
em que, confiante, a administração petista já ensaiava os primeiros
passos para a introdução de uma “nova matriz econômica”. Isso
significava, trocado em miúdos, substituir paulatinamente o modelo
econômico “liberal” herdado das administrações tucanas pela crescente
intervenção estatal na vida econômica.
Com a posse de Dilma em janeiro de 2011, a “nova matriz” chegou com toda
a força. Saiu de cena o mercado, entrou o Estado. Era tudo pelo qual a
presidente lutara a vida inteira, desde quando colocara a própria vida
em risco na tentativa de substituir a ditadura militar por uma ditadura
comunista. Como o regime de Cuba, o regime brasileiro que os
guerrilheiros queriam seria um governo “popular”.
O que não veio pelas armas aconteceu pelo voto. E Dilma e o PT,
acreditando que lideravam um governo “popular”, podiam gastar à vontade.
Afinal, um governante identificado com “o povo” não precisa dar bola
para a regrinha básica, de que as despesas precisam necessariamente ser
cobertas por receitas e a riqueza não cai do céu, mas é produzida pelo
trabalho duro da insubstituível iniciativa privada.
A ironia é que, quando percebeu que tinha feito tudo errado, Dilma
chamou o “liberal” Joaquim Levy para botar ordem nas contas do governo.
E, provavelmente, a partir daí começar tudo de novo. Aparentemente, não
terá essa chance. Diante da crise, um eleitorado induzido a acreditar no milagre da
geração espontânea da riqueza hoje se revela perplexo e indignado, sendo
perfeitamente natural que a popularidade da presidente da República – e
de tudo e de todos que ela politicamente representa – esteja em baixa
profunda. Como era também previsível que os beneficiários diretos do
poder dominante, a começar pelos partidos políticos da outrora “maior
base aliada da história”, comecem a abandonar o barco.
Até o habitualmente contido vice-presidente Michel Temer – talvez o
aliado de que Dilma Rousseff pode menos se queixar – avançou um palmo na
direção do óbvio ao admitir, em palestra a empresários e investidores
em Nova York, que “daqui para a frente” o seu PMDB estará pensando em
“deixar o governo” e apresentar candidatura própria na eleição
presidencial de 2018. Alguém duvida?
Fonte: Editorial - O Estado de São Paulo
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