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sexta-feira, 24 de julho de 2015

O mundo respirou aliviado ao ver Washington resolver um sério problema pela diplomacia, e em vez de usar a força militar

Depois de longas negociações que se alongaram por vários dias além do prazo determinado, e da possibilidade de os iranianos rejeitar as inspeções regulares de suas instalações nucleares, um acordo finalmente foi assinado em Viena entre o Irã e Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha, França, China e Rússia.

A maior parte do mundo respirou aliviada, contente ao ver o presidente Barack Obama usar a diplomacia para solucionar um problema sério, em vez de usar a força militar, como o presidente George W. Bush usou no Iraque com consequências tão desastrosas. As exceções foram Israel, Arábia Saudita e os republicanos americanos, que fizeram birra, reclamando que o acordo deixava brechas para os iranianos continuarem seu programa nuclear para fins militares em segredo, e que o descongelamento de US$100 bilhões em ativos iranianos iria liberar mais dinheiro para a continuação do financiamento da interferência iraniana na Síria e no Iêmen. 

O Congresso americano tem 60 dias agora para analisar o acordo de 159 páginas e decidir se vai aprová-lo ou não. Obama já disse que irá vetar qualquer desaprovação do Congresso. Não há certeza de que o Congresso tenha os dois terços dos votos necessários para derrubar o veto presidencial. Igualmente, o acordo enfrenta o escrutínio do Parlamento iraniano e a posição do Conselho Supremo de Segurança, que é o encarregado do programa nuclear iraniano, bem como do líder supremo Ali Khamenei. Esse processo pode levar até 80 dias. A Guarda Revolucionaria iraniana já fez críticas ao acordo.

Para Hussein Ibish, um estudioso do Instituto dos Estados do Golfo Árabe, em Washington, os problemas entre o Irã e os EUA podem vir depois na implementação do acordo, quando as interpretações das várias cláusulas não baterem. “Essas diferenças de visão podem emergir em relação ao alívio nas sanções e outros aspectos das implementações do acordo,” disse ao site de notícias “Middle East Eye".

Os israelenses já estão fazendo lobby em Washington contra o acordo, com o embaixador israelense se encontrando com membros negros do Congresso para tentar persuadi-los a votar contra. Essa tática está sendo usada porque os israelenses sentiram que políticos negros americanos ficaram ofendidos quando o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu praticamente se autoconvidou a falar no Congresso americano alguns meses atrás, algo que muitos americanos viram como um ato de desrespeito ao primeiro presidente negro americano.

Espera-se também que os sauditas façam lobby pesado em Washington, contra o acordo nuclear, junto aos democratas, disse Aaron David Miller, um ex-assessor do Departamento de Estado americano para o Oriente Médio, em entrevista com ao “Middle East Eye". “Eu não descarto uma guerra cibernética contra o Irã lançada pelos israelenses, e outras operações supersecretas para sabotar o acordo,” previu.

Em oposição à posição israelense, pesquisa de opinião pública entre eleitores judeus americanos, encomendada pela J Street, grupo lobista de Washington pró-Israel e pró-paz, constatou que 84% deles estão a favor do acordo com o Irã. Apesar de muitos desejarem que esse acordo dê certo, há ainda obstáculos pela frente. E é um erro achar que logo os americanos vão reabrir sua embaixada em Teerã, fechada desde 1979, quando estudantes radicais a invadiram e tomaram 52 diplomatas e funcionários americanos como reféns por 444 dias. Khamenei continua sendo extremamente antiamericano. Ele reiterou, num discurso no dia 18 de julho, que as políticas dos EUA na região estavam 180 graus em oposição às do Irã. O secretário de Estado John Kerry admitiu que os americanos ficaram perturbados com o discurso. E com razão.

Estranhamente, americanos, sauditas e iranianos têm um inimigo comum: o Estado Islâmico. De comum também o combate a essa facção. Os iranianos já estão ajudando a combater o EI no Iraque e na Síria, coisa que não tem agradado muito aos sauditas, que temem um acirramento das tensões sectárias entre xiitas e sunitas nesses países. E ainda há o dilema do que fazer na guerra civil na Síria, em termos do presidente Bashar al-Assad. Depois de mais de quatro anos de combate, o país está em frangalhos, com 70% da população deslocada por causa da guerra, mas Assad ainda continua no poder. Será que não está na hora de sentar com Assad e a oposição síria e negociar um cessar-fogo que devolva algum tipo de paz a um país tão lindo, que é muito querido no mundo árabe e mesmo fora da região?

O Irã deveria pensar bem que o acordo com os EUA e as outras potências pode lhe proporcionar uma chance de abrir uma nova página nas suas relações com o Ocidente e, mais importante, com os países árabes do Golfo. Seu apoio de US$ 1 bilhão por mês ao regime de Assad não contribui para forçá-lo a chegar a um acordo com a oposição. E com isso o povo sírio sofre cada vez mais. Igualmente, o apoio iraniano aos houthis no Iêmen não ajuda a resolver logo o conflito naquele país. Mais de 3.500 pessoas já foram mortas na guerra civil no Iêmen nos últimos quatro meses de conflito.

O povo iraniano com certeza não quer mais aventuras dos seus governantes em países da região. Ele está sedento para ver o Irã se juntar de novo à economia mundial, ao Ocidente, e a ter boas relações com todos os seus vizinhos árabes. Anos de sanções econômicas e políticas isolaram o país do mundo. A escolha agora deveria estar bem clara para Khamenei e qualquer outro dirigente iraniano que realmente ame seu país e povo.

Por: Rasheed Abou-Alsamh é jornalista

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