Tempos
de crise são tempos de discórdia e é por isso que os duelos de 2015
tendem a se intensificar neste 2016. É PT contra PMDB, PMDB contra PMDB,
PSDB contra PSDB, PSB contra PSB, STF contra STF, Câmara contra Senado,
mas o mais grave é Dilma Rousseff versus Lula, até mais do que Dilma
versus Michel Temer.
Com
o processo de impeachment permeando tudo isso, tem-se, mais que duelos,
também “trielos” e até “quadrielos”. Exemplo: Dilma que não amava
Eduardo Cunha, que não amava Renan Calheiros, que não amava Temer, que
não amava Dilma, que... Na
oposição, sem novidade: Geraldo Alckmin versus Aécio Neves, Aécio
versus José Serra, Serra versus Alckmin... A cobra correndo atrás do
próprio rabo, derrapando na trilha aberta por PPS, DEM e Solidariedade.
Nenhuma
dessas guerras, porém, é mais importante e produz mais efeitos
políticos do que a que se agrava entre o criador Lula e a criatura
Dilma, que convivem num casamento sem saída: não há mais amor, respeito e
esperança, mas o divórcio é impossível. Pelo menos neste momento.
Passado o processo de impeachment, tenha o desfecho que tiver, e passada
a eleição municipal, tenha o resultado que tiver, o foco será 2018. Aí,
o casamento vai balançar.
Lula
não faz mais questão de esconder, em privado, o quanto se decepcionou
com Dilma e quão pouco espera dela como agente da recuperação do Brasil,
seja na economia, seja na política. Se arrependimento matasse... O
mínimo que ele tem dito é que “Dilminha” é teimosa, cabeça dura, jogou
seu legado no ralo e se recusa a ouvir suas orientações, que ele
adoraria serem acatadas como ordens do mentor e antigo chefe.
Exagero
dele. Dilma tentou meses resistindo, mas acabou empurrando Aloizio
Mercadante de volta ao ostracismo (alguém aí tem ouvido falar um “a”
dele ou sobre ele?) e engolindo o anfíbio Jaques Wagner, que terá cada
vez mais relevância em 2016. E ela também cedeu a Lula ao desistir de
Joaquim Levy, saco de pancadas predileto do PT, da CUT, do MST e da UNE,
que não podiam espancar Dilma, a eleita de Lula, e disfarçavam
espancando Levy, o eleito de Dilma.
A
presidente, porém, só deu meia vitória ao seu criador, que articulava a
troca de Levy por Henrique Meirelles e de José Eduardo Cardozo por
Nelson Jobim. Seria o fim do mundo, ou melhor, a pá de cal no governo.
Ou alguém esqueceu o quanto Dilma detesta Meirelles e Jobim? Por isso,
ela ficou no meio termo e, ao trocar Levy, olhou para o espelho e viu
ali Nelson Barbosa, que pensa como ela, faz como ela, erra como ela. No
dia seguinte, o PT botava a faca no pescoço de Barbosa para que ele faça
tudo o que seu mestre, e não sua mestra, mandar.
Quem
bombardeava Levy em público eram a executiva, as correntes, a fundação
de estudos e os movimentos alinhados ao PT. Quem ameaça Barbosa é o
próprio presidente do partido, Rui Falcão, que afronta abertamente a
autoridade da presidente da República, como se oposição fosse. Então,
pergunta-se: a executiva do PT, a fundação do PT, os movimentos do PT,
as correntes do PT e o presidente nacional do PT dão um passo sem ordem,
orientação ou respaldo de Lula? Muita gente acha que não. Dilma,
provavelmente, também acha que não.
Logo,
se 2015 foi o ano de todos contra todos, 2016 vai ser o ano da guerra
fratricida entre Dilma e Lula. Ela tem o título, a caneta, o avião, os
palácios e ainda o poder de nomear até Nelson Barbosa para a Fazenda,
mas Lula tem a liderança política, a tropa, a capacidade de pôr ou não
gente nas ruas. Aliás, de pôr a favor e de pôr contra.
Se
Lula é o passado do PT, é também sua aposta para o futuro. Dilma não é
nem passado, nem presente, nem futuro. É nada para o PT, que só precisa
dela para tentar fazer a longa travessia até 2018 sem entregar o osso
para Temer, ou seja, para o PMDB.
Por: Eliane Cantanhêde - Folha de São Paulo
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