2016 começa com um único consenso: com ou sem Dilma, o governo e o País precisam sair da inércia para superar a crise. Não dá para continuar como está
Ao tomar posse para o seu segundo governo, já em meio à insatisfação popular e a manifestações de rua, a presidente Dilma Rousseff tomou como agenda única a manutenção do mandato. O resultado, todos vimos: foi um ano perdido, para esquecer.O ano da inflação de dois dígitos, do desemprego, da recessão econômica e até de uma crise endêmica na Saúde, com o surto do zika vírus, causado por um mosquito que já era para estar erradicado se tivéssemos adotado as políticas públicas adequadas. Em 2015, o País não saiu do vermelho, como a iluminação do Palácio do Planalto na imagem que ilustra esta reportagem. A cada semana, um novo indicador demonstrou a completa deterioração das condições macroeconômicas do País. Para 2016, o Brasil precisa mudar. É imperativo que mudemos. Se isso não acontecer, o futuro da atual e de várias gerações poderá ficar comprometido. São elas que irão pagar a conta da irresponsabilidade fiscal, do desequilíbrio das contas públicas, da paralisia e do desgoverno. Mas para que possamos sair da inércia rumo à retomada da confiança e da credibilidade é preciso alterar radicalmente o receituário aplicado em 2015.
Apesar de o Supremo Tribunal Federal ter
reiniciado o jogo do impeachment, depois de uma decisão polêmica em que
foi acusado de invadir as competências do Legislativo, o tema continua
na bússola de governo e oposição. Para a maioria do empresariado e
lideranças políticas de todos os matizes, a saída da presidente do poder
é um dos principais caminhos para tirar o Brasil do atoleiro em que se
encontra. Não deve ser o único. Até porque o processo tende a ser longo.
O governo já demonstrou que, ao contrário do ex-presidente Fernando
Collor de Mello, apeado da Presidência em 1992, irá aproveitar toda e
qualquer brecha jurídica e regimental para recorrer ao STF e atrasar o
desfecho deste episódio. Mas o País não suporta ficar refém dessa
agenda, como ocorreu em todo ano de 2015, enquanto as conquistas sociais
derretem. Só que, por ora, os movimentos de Dilma continuam a se guiar
mais pela lógica política do que pela eficiência da gestão.
Não há outra explicação, senão a tentativa de agradar a todo custo setores do PT, sindicatos e movimentos sociais, para a substituição de austero ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que chegou ao governo com a missão de disciplinar as combalidas contas públicas, pelo desenvolvimentista Nelson Barbosa, um dos teóricos da chamada “nova matriz econômica” que levou o País à recessão. “Extrapolando das declarações públicas mais recentes, acreditamos que o ministro Barbosa e a presidente Dilma vão favorecer um caminho de ajuste fiscal mais lento e gradual. Vemos isso como uma estratégia arriscada, já que em nossa avaliação, a consolidação fiscal continua na linha de frente da necessária agenda de rebalanceamento macro, e o pilar fundamental para restaurar a confiança e estabilizar a economia”, diz nota do banco Goldman Sachs. É o temor da volta da heterodoxia que fez com que o mercado reagisse mal à ida de Barbosa para a Fazenda. O dólar fechou acima de R$ 4 pela primeira vez em mais de dois meses e meio e a Bolsa contabilizou perdas mesmo depois de uma teleconferência em que Barbosa assegurou a investidores a manutenção da atual política econômica.
Para alguns ministros da base aliada
ouvidos pela ISTOÉ, a presidente estava com a faca e o queijo na mão
após a vitória no STF e o enfraquecimento do presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, para fazer uma espécie de reinício de governo, tentando
pacificar o ambiente. Entretanto, como afirmou à reportagem um poderoso
petista próximo a Dilma, “foi só ela retomar algum fôlego que a
arrogância voltou instantaneamente”. Para interlocutores da presidente,
ela perdeu a oportunidade de tentar uma recomposição com o vice Michel
Temer, colocando-o para comandar o Ministério da Justiça, com o atual
titular da pasta, José Eduardo Cardozo, indo para a Advocacia Geral da
União. Ela, na condição de autoridade máxima, poderia ter hasteado a
bandeira branca, mas preferiu interferir na disputa interna do PMDB para
liderança do partido, saindo em defesa do deputado Leonardo Picciani
(PMDB-RJ).
Enquanto isso, setores oposicionistas do
PMDB se unem a integrantes do PSDB na tentativa de estabelecer um
diálogo, independentemente de ser consumado ou não o impeachment. Nos
últimos dias, a ideia era identificar pontos em comum nos programas dos
dois partidos para que pudessem ser encampados por lideranças das duas
legendas no Congresso. Não deixa de ser uma tentativa de sair da
inércia. A iniciativa privada, que mantém represados R$ 70 bilhões em
investimentos, deveria seguir o mesmo caminho. Em 2016, o País não pode
continuar parado.
Eleições 2016, laboratório para 2018
Gisele Vitória
As eleições municipais de 2016 vão por à
prova as novas regras da reforma eleitoral. As doações de empresas a
campanhas ficaram proibidas. “Com a ausência de dinheiro privado nas
campanhas, as eleições de 2016 serão um grande laboratório para 2018”,
diz a advogada Gabriela Rollemberg, secretária-geral da Academia de
Direito Eleitoral e Político (Abradep). A ideia de que, sem
financiamentos privados, teremos em 2016 uma eleição mais justa e
equilibrada para os candidatos com menos recursos, parece razoável na
teoria. Mas deverá ter pouco efeito prático.
O novo modelo pode favorecer as reeleições e
os que têm a máquina pública na mão. Quem possui visibilidade levará
vantagem. “Será uma eleição com reserva de mercado”, diz Gabriela
Rollemberg. “A renovação dos quadros deve ficar comprometida. Quem não é
conhecido terá menos tempo para se apresentar aos eleitores.” O
Congresso Nacional aprovou o teto de gastos e o TSE criou uma instrução
normativa com cálculo sobre o qual deve ser o tamanho desse custo. O
limite ficará 35% menor do que em 2012 ( R$1,36 bilhão). Pelas novas
regras, a duração das campanhas fica reduzida de 90 para 45 dias,. O
período de propaganda eleitoral no rádio e na TV diminuiu de 45 para 35
dias.
“Com menos dinheiro, os marqueteiros terão
que ser mais criativos, menos mentirosos e menos fantasiosos”, admite o
ex-deputado José Anibal (PSDB-SP), presidente do Instituto Teotônio
Vilella. Para Anibal, a reforma eleitoral não cumpriu o essencial:
instituir o voto distrital. “As novas regras procuram reduzir custos e
tempo. A gente copia outros países, mas não muda o principal, que é o
sistema da constituição da representação parlamentar”, diz. “O voto
distrital barateia campanhas. Se você é candidato no seu distrito, ali é
pé e sapato, tempo para o eleitor, e conversa. Não precisa dessa
dinheirama toda.” Com a pauta das eleições municipais focada em
transporte, creches e escolas, hospitais e cidadania, resta saber como o
eleitorado, com o sentimento de aversão aos políticos verbalizado no
calor das ruas, irá se comportar em um ano que promete muitas surpresas
na política.
Colaborou Mel Bleil Gallo
Fotos: Rafael Carlota/PR; Joedson Alves/Folhapress
Fotos: Rafael Carlota/PR; Joedson Alves/Folhapress
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