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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Os juros e a vassalagem do Banco Central a Dilma e ao PT

A decisão do Comitê de Política Monetária de manter a taxa básica reforça a percepção de que os tempos de autonomia do BC ficaram há muito para trás 

Se alguém ainda tinha dúvida, agora ficou mais claro do que nunca que o comandante de fato do Banco Central é a presidente Dilma Rousseff. A decisão do Comitê de Política Monetária do BC, de manter inalterados os juros no país, reforça a percepção predominante entre os analistas de que os tempos de autonomia da instituição há muito ficaram para trás. Na real, segundo a visão do mercado, o economista Alexandre Tombini, presidente da instituição, nada mais é que um ventríloquo de Dilma – e, por isso, provavelmente, ele continuou no cargo no segundo mandato. Seu esforço desde o início de 2015 para mostrar que sua atuação à frente do BC era eminentemente técnica e imune a pressões políticas não passava, enfim, de uma miragem destinada a confundir os incautos.


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Na verdade, Dilma não é apenas o real presidente do BC, mas uma espécie de superministro da economia do país. Como disse recentemente o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, é Dilma “quem banca” a política econômica do governo. É a ela, portanto, que se deve enviar a fatura pelo fracasso retumbante da economia em sua gestão, em decorrência dos equívocos cometidos desde que assumiu o poder, em 2011. Também é a ela, por conta disso, que se deve enviar a fatura pelas “pedaladas” nas contas públicas condenadas pelo Tribunal de Contas da União, cujo parecer aguarda apreciação no Congresso Nacional.

Tombini já havia sugerido na terça-feira que poderia jogar na lata de lixo a última ata do Copom, que sinalizava a continuidade da alta dos juros diante da resistência da inflação. Mas, sem coragem para assumir sozinho o ônus de manter os juros inalterados, como defendiam o Palácio do Planalto e o PT, Tombini se valeu dos novos números divulgados pelo Fundo Monetário Internacional para o Brasil, que apontaram uma deterioração das previsões para a economia neste ano e no próximo, para justificar antecipadamente – um dia antes da reunião do Copom – uma possível reviravolta na decisão do órgão.

Não por acaso, o cavalo de pau de Tombini ocorreu também na véspera dos protestos realizados nesta quarta-feira por diversas centrais sindicais contra a recessão e o aumento dos juros.  Sem o apoio de que necessita no Congresso para poder governar, Dilma vem tentando se reaproximar dos chamados "movimentos sociais" e teria se reunido com Tombini na própria terça-feira, de acordo com informações divulgadas pelos jornais,para discutir o assunto e convencê-lo a segurar os juros, evitando problemas com os sindicalistas.

Ao aceitar interferências do Planalto na política monetária, Tombini pode até garantir o cargo, ao qual ele parece tão apegado, por mais alguns meses. Mas foi por curvar-se a intromissões alienígenas no primeiro mandato de Dilma que Tombini acabou com a credibilidade tão duramente conquistada pelo BC no governo Fernando Henrique e na gestão de Henrique Meirelles, no governo Lula. Com o ajuste fiscal fazendo água, a política monetária era a única âncora que restava para segurar a inflação e balizar as expectativas dos agentes econômicos. Depois, não vai adiantar chorar se o mercado não der seu voto de confiança ao BC. Esse é o replay de um filme de horror que já assistimos na primeira gestão de Dilma e contra o qual ela se debate até hoje sem sucesso.

 Fonte: Blog do José Fucs - Revista Época

 

 

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