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sábado, 14 de janeiro de 2017

Tempo Perdido

Políticos insistem em permanecer menores que os despachos de Sergio Moro
 
Nos últimos dois anos o Brasil foi diariamente massacrado por notícias provenientes da operação Lava Jato. Um a um, os principais líderes petistas, eleitos por se apresentarem como guardiões da ética capazes de romper com a velha política e gerir o patrimônio público de forma republicana, foram caindo, envolvidos em corrupção, enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e outros delitos. Os escândalos são tantos e a riqueza de detalhes sobre cada golpe é tão rica que a agenda de Brasília acabou subjugada à pauta traçada em Curitiba, cidade-sede da Lava Jato. Apesar das intenções palacianas, foram as batutas do juiz Sérgio Moro que regeram a política nacional. É verdade que temas necessários e importantes para o País, como o limite nos gastos públicos e a reforma previdenciária, foram encaminhados, mas acabaram ofuscados por delações premiadas, patrimônios ocultos, prisões e contas bancárias secretas descobertas no Exterior.

A chegada de um novo ano e com ele os inacreditáveis dias de folga a que têm direito parlamentares e membros do Judiciário poderiam ser o momento ideal para que o Planalto pudesse dar visibilidade a uma agenda que ganhasse vida própria e não ficasse disputando espaço político e midiático com os desmandos revelados pela Lava Jato. Também a atual oposição poderia aproveitar o momento de calmaria judicial para fazer um mea culpa e apresentar um novo cartão de visitas, com uma narrativa distinta do surrado e ineficiente discurso da vitimização que, a rigor, comove apenas aqueles que têm contracheques oficiais, e pouco afeta os cidadãos comuns. O ex-presidente Lula, como que acometido por um surto de alienação, voltou a se posicionar como candidato e, nessa condição, como alguém capaz de ameaçar o que ele chama de elite. Parece esquecer-se, no entanto, de que foi cooptado por ela e lambuzou-se nos banquetes daqueles que estão no andar de cima. Chega a ser sofrido ver o ex-presidente se posicionar como se nada tivesse ocorrido em todos esses anos nos quais trocou a sua biografia pelas migalhas de uma ceia cujo roteiro ele deveria ter mudado.

Pelo lado do governo, a situação não é tão diferente. Passadas as primeiras semanas de janeiro, e em que pese a posse de novos prefeitos e vereadores, alguns deles motivados a levar adiante uma nova postura política, nada parece ter mudado. A guerra entre presos de diferentes organizações criminosas absorveu completamente a rotina dos gabinetes de Brasília, tanto do Executivo quanto do Judiciário. Todos pareciam surpresos com o fato de facções criminosas estarem incrustadas em nossas penitenciárias. Todos se portaram como se a superlotação de nossas cadeias fosse algo absolutamente novo e o fato de presos ainda não julgados estarem encarcerados parece ter sido visto como algo digno de outro planeta. Isso tudo sem contar os inúmeros casos de presos que já poderiam estar soltos por força de lei, mas que permanecem enjaulados. O Judiciário parece ter descoberto que há muito tempo de férias e pouco tempo à disposição do andamento dos processos.

É verdade que, em termos de política econômica, a coisa caminha diferente. Mas onde estão projetos de saúde, educação, turismo, agricultura, inclusão pelo esporte etc.? São temas assim que, se tratados com a seriedade e a profundidade necessárias, podem elaborar uma agenda capaz de correr paralela ao que vem de Curitiba. O Brasil é muito maior que a Lava Jato, mas nossos políticos, tanto da situação como da oposição, insistem em permanecer menor que os despachos de Sérgio Moro.

Fonte: Editorial -  Mário Simas Filho é diretor de redação da revista ISTOÉ


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