Estava tudo errado naquela reunião. O presidente Michel Temer recebeu
na calada da noite um alvo da Justiça que relatou estar tentando
interferir na Lava-Jato, querendo influir em órgãos reguladores e dando
dinheiro a um investigado. A única saída boa para aquela conversa era
Temer chamar o procurador-geral da República e relatar os crimes que
ouviu. Seu silêncio fala mais que as palavras.
O empresário demonstrou intimidade com Temer até na maneira cifrada
de falar e no pedido para outros encontros noturnos. Aquele foi depois
das 22h. Temer se pega a detalhes, achando que basta provar que não
pediu para Joesley mandar dinheiro para Cunha. O que é estarrecedor é o
conjunto da reunião. Joesley reclama de um procurador, diz que deu uma
“segurada” em dois juízes, avisa que tem um procurador que passa
informações da Força Tarefa. Só isso já é claramente obstrução de
Justiça, é confissão de crime. Ele continuou falando sobre interferir na
CVM e no Cade, órgãos que regulam empresas. Conta que falou com o
“Henrique” Meirelles sobre mexer na Receita Federal. Meirelles trabalhou
quatro anos no grupo J&F.
Na parte do diálogo sobre o ex-deputado Eduardo Cunha, Joesley usa
palavras que por si só são comprometedoras. “Zerei o que eu tinha”,
“zerou tudo”, “ele cobrou”. Significa dizer que ele devia dinheiro a
Eduardo Cunha e o presidente Temer sabia, entendeu essas frases
entrecortadas, em que ele avisava que tinha pagado uma dívida com Cunha. O contexto em que o presidente Temer diz a frase “tem que manter
isso” é depois de o empresário ter falado que estava “bem com o
Eduardo”. Não era exatamente após ele falar que estava dando mesada.
Ainda assim, o que Joesley estava ali falando era que estava bem com
outro investigado, porque tinha quitado dívidas.
Joesley e Eduardo Cunha estão no mesmo caso, investigados pela
Operação Sepsis, do uso dos recursos do FI-FGTS envolvendo pagamento de
propina e empréstimos com vantagens indevidas e que foram intermediadas
por um amigo de Joesley, Lúcio Funaro, e um indicado de Cunha para a
vice-presidência da Caixa, Fábio Cleto. Então ele só poderia estar “bem
com Eduardo”, depois que “zerou tudo”, se fosse pagamento de propina.
Nada há de republicano em parte alguma daquela conversa. Estão
errados o local, a hora, o tom, os temas, a intimidade. Não é por uma
frase que Temer tem que ser investigado a propósito dessa reunião, mas
por toda ela. O governo ontem, agarrava-se na possibilidade de que o áudio fosse
provar a versão do presidente Temer de que ele não pediu para que
Joesley desse dinheiro a Eduardo Cunha. Um ministro disse que o governo
tentaria ver se “as ruas” aceitariam a versão de Temer. Não há rua
alguma a favor de Temer, e até a versão que ele dá para a conversa é
ruim o suficiente.
Antes havia uma crise política no país, agora é a crise Temer. O
presidente é o ponto de instabilidade. Em um país sem governo, o que
pode acontecer com os ativos? A forte oscilação que houve ontem. A bolsa
despencou. O risco-país disparou. A Petrobras caiu 15%, o Banco do
Brasil, 20%, ao longo do dia. Após o anúncio do presidente de que não ia
renunciar, a ação do BB caiu 7%. O dólar abriu a R$ 3,13 e chegou a R$ 3,40. A variação poderia ser
ainda maior. O BC ofertou o equivalente a US$ 4 bi em contratos que
funcionam como venda futura de moeda e a cotação terminou o dia em R$
3,38, alta de 8%, a maior em um dia desde a maxidesvalorização de
janeiro de 1999. De hoje até terça-feira, haverá outros três leilões de
swap, no total de US$ 6 bi. O BC vinha reduzindo o estoque desses
contratos, mas a volatilidade mudou essa orientação. Isso já se
esperava.
A questão não é um dia de pânico, mas a sensação de que não há
horizonte rápido para a solução do problema político. Um ministro do governo admitiu ontem ao fim do dia que “é muito
difícil reverter o quadro” mas acrescentou: “até para terminar é preciso
amadurecer”. É simplesmente uma questão de tempo para que o presidente
Temer deixe o governo. [a data, que é uma questão de tempo, para Temer deixar o governo, é 31 de dezembro de 2018, exceto por razão que pertence unicamente a DEUS decidir.]
Pode ser renúncia ou através da saída menos
demorada que é o TSE. O importante é ser uma solução constitucional. [Convém não esquecer que a Constituição vigente permite a INTERVENÇÃO MILITAR CONSTITUCIONAL. Para tanto basta que os profetas do CAOS consigam colocar multidões nas ruas perturbando a ORDEM PÚBLICA.]
Fonte: Coluna da Míriam Leitão, com Alvaro Gribel e Marcelo Loureiro
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