Os procedimentos em curso não guardam semelhança com um processo de investigação. O que se tem é uma máquina de vazamentos, pronta a produzir terror
A Procuradoria-Geral da República e a
Polícia Federal seguem firmes na sua caçada a Michel Temer. Olhem que
não me lembro de nada semelhante. Com este vigor, não! Também nunca se
viram — nem na saga da turma de Curitiba contra os petistas — tantos
procedimentos heterodoxos. E, por óbvio, quem sorri de orelha a orelha
são as esquerdas, que se sentem, de algum modo, vingadas. Há outras
coisas curiosas.
Acima, um flagrante da PGR travando a luta política em nome do bem, do belo e do justo
Setores da direita reagem com raiva, com
o fígado, com moralismo desinformado — como costuma ser o moralismo. Já
os esquerdistas atuam de forma absolutamente racional, certo? Para os
seus desígnios, a queda de Temer é essencial. Afinal, poderão
(re)encruar o discurso do “golpe”. Assim, que os “companheiros” e
“camaradas” lutem bravamente para depor o presidente é coisa
compreensível. Que os conservadores não perceberam a cilada… Bem, como
diria aquele meu velho professor, “a pior forma de reacionarismo é mesmo
a burrice”.
Na Folha desta
segunda, lemos que “a Policia Federal encontrou documentos rasgados,
com informações sobre a reforma da casa de uma filha do presidente
Michel Temer, na operação de busca e apreensão que fez no apartamento do
coronel da Polícia Militar João Baptista Lima Filho”.
Documentos? Pois é… Na linguagem da PF e
do Ministério Público, um papel já é “documento”. Que vínculo o
dito-cujo tem com o caso JBS? Não se sabe. A PF informa também ter
encontrado papeis que sugeririam que o coronel controlava as despesas de
Temer. Há uma nota de 1998 de um aparelho de telefone.
Fantástico
Ah, o “Fantástico” levou ao ar com exclusividade — claro! — trecho de uma conversa de Ricardo Saud, o homem de Joesley Batista que pagava as safadezas, com o ex-deputado Rocha Loures. Ambos falam de um certo “Edgar”. O tal aparece na 47ª pergunta das 82 enviadas pela PF ao presidente. Os investigadores querem saber se há alguém com esse nome “no universo de pessoas” com o qual Temer se relaciona. Há sugestão de ilegalidade no contexto em que aparece o nome? Não! Mas a apresentadora do “Fantástico” mandou ver: “O Brasil quer saber quem é Edgar”…
Ah, o “Fantástico” levou ao ar com exclusividade — claro! — trecho de uma conversa de Ricardo Saud, o homem de Joesley Batista que pagava as safadezas, com o ex-deputado Rocha Loures. Ambos falam de um certo “Edgar”. O tal aparece na 47ª pergunta das 82 enviadas pela PF ao presidente. Os investigadores querem saber se há alguém com esse nome “no universo de pessoas” com o qual Temer se relaciona. Há sugestão de ilegalidade no contexto em que aparece o nome? Não! Mas a apresentadora do “Fantástico” mandou ver: “O Brasil quer saber quem é Edgar”…
O programa exibiu também trecho do
depoimento de Saud a procuradores. Ele insiste no tal acordo que
consistiria no pagamento de R$ 500 mil semanais em dinheiro vivo ao
presidente. Conta, então, que teria dito a Loures: “Mas então vamos
fazer isso por 25 anos. Tem como fazer um contrato pra 25 anos”. O outro
teria sugerido 30 anos. Saud diz ter respondido: “Pô, isso aí é uma
aposentadoria pro Michel. Uma aposentadoria pra você e pra ele. Vocês
não vão ter mais dificuldade”.
São procedimentos asquerosos. Note-se
que o emprego da palavra “aposentadoria” não é imotivado. Imagine, como
diria Didi Mocó, o que sente “o da poltrona”, que se opõe à reforma da
Previdência, ao ouvir tal fala. Como, afinal, Loures foi flagrado com os
R$ 500 mil, a mera acusação feita por um notório corrupto e corruptor
ganha ares de verdade, e a mala vira uma prova.
É um espanto. O presidente fará 77 anos
daqui a três meses. Um acordo de 25 anos expiraria quando ele estivesse
com 102! Se de 30, 107. Até as pedras sabem que, se concluir o mandato,
não manda mais nada, a exemplo de qualquer ex-presidente, a partir de 1º
de janeiro de 2019. Como acreditar numa patuscada como essa? Mais:
pensem na dificuldade para esconder R$ 500 mil a cada semana. Todos
vimos o afobamento de Loures com a tal mala. Imaginem passar por isso
quatro vezes por mês.
O que dizer de tais práticas? O senhor
Rodrigo Janot nem entregou ainda a sua denúncia. A distinta plateia dos
sofás, àquela altura, certamente estava indignada, ignorando que o tal,
que fazia a acusação, era ninguém menos do que um dos beneficiados pelo
indecoroso acordo de delação premiada conduzido por Janot, que traz na
origem uma impressionante penca de ilegalidades.
O procurador-geral, aliás, deixou que
soubessem que a tal mala de dinheiro carregada por Loures será a base da
denúncia que fará contra Temer. Se não mudar de ideia, pretende acusar o
presidente de ser “chefe de organização criminosa”. Que coisa! Joesley confessou 245 crimes.
Diz ter comprado quase dois mil políticos. Saud, aquele que
escoltou Fachin a gabinetes de senadores, é seu braço direito. Os dois
estão livres, leves e soltos. Ao todo, sete executivos foram premiados
por delações. Consta que haverá um novo lote, de mais 20. Vêm mais
mamata e impunidade por aí.
Mas Janot julga ter chegado ao chefe da
organização criminosa: Michel Temer! A esquerda aplaude: “É isso mesmo!”
E certa direita zurra. Os mais elegantes relincham. E Lula, por óbvio, aplaude. Sempre soube que seu amigo Joesley não o deixaria na mão.
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