Ministra adia sessão que trataria da suspensão de eventual nova denúncia; e deixa claro a segundo de procurador-geral que o melhor é encerrar o mandato sem fato novo
A muitos acabou escapando que o Supremo
tinha uma segunda votação nesta quarta: uma questão de ordem pedindo a
suspensão de eventual nova denúncia contra o presidente Michel Temer. E,
nesse caso, já afirmei aqui, que não se esperasse nada parecido com
unanimidade havida no pedido de suspeição.
A suspensão se sustenta nas múltiplas
evidências, reconhecidas, em parte, inclusive pelo próprio Janot, de que
os “colaboradores” da JBS omitiram informações e manipularam o processo
de delação. Também se adensam as evidências de que membros do MPF
atuaram de forma ilegal nos bastidores. O caso mais escandaloso é o do
ex-procurador Marcelo Miller. Por óbvio, cabe a questão; dados o que se
sabe e o que próprio procurador-geral admite, a suspensão não será ao
menos um ato de prudência?
Mais: nas heterodoxias sem fim de Janot,
sabe-se que não há um segundo inquérito. Na verdade, o caso “Lúcio
Funaro”, que ancoraria a nova denúncia de Janot, está pendurado no mesmo
inquérito que trata das delações dos irmãos Batista e sua turma. É uma
lambança! Atenção! O fato de os ministros terem rejeitado a suspeição de
Janot não implica que rejeitem também a suspensão de eventual nova
denúncia. De toda sorte, este blog apurou que a ministra Cármen Lúcia
atua nos bastidores para ver se evita a votação.
E qual é a melhor maneira se obter o que deseja? Simples; basta Janot se abster de apresentar a nova denúncia. De todos os ministros que estão furiosos
com a atuação de Janot, a que se sente mais injuriada é Cármen Lúcia.
Começam a circular nos bastidores coisas do balacobaco, ditas pelos
bandidos premiados, sobre ministros do Supremo. Cedo ou tarde, as
barbaridades virão à Luz. Não faltam nem mesmo aleivosias e baixarias
contra os ministros no campo, digamos, comportamental, de alcova. São
coisa aberrantes, falsas, mas que vão constranger muita gente.
Mais: sabe-se que José Eduardo Cardozo,
por exemplo, fez, sim, a sua leitura pessoal sobre cada ministro. Tudo é
muito constrangedor. Nesta quarta, como vimos, Nicolao Dino,
vice-procurador-geral, representou Rodrigo Janot na sessão que julgou a
sua suspeição. Estava lá em lugar do titular, com a tarefa óbvia de
defendê-lo. Nota: se quisesse, Janot poderia ele mesmo ter assumido a
tarefa. Mas sempre terá mais credibilidade uma defesa feita por
terceiros quando cotejada com o elogio em boca própria.
Muito bem! Cármen Lúcia e todo o Supremo
acham que cobras e lagartos aparecerão. E que esses bichos vão acabar
levando para o esgoto a nova denúncia contra Temer. Há o risco de o
tribunal se negar a suspender um processo que acabará, depois, suspenso
pelos fatos. E, por isso, a presidente do Supremo se reuniu, a convite
seu, a portas fechadas, com Dino — que, reitere-se, valia ali por Janot.
Este blog apurou que a ministra deu a
entender ao vice-procurador — para que este dê a entender a Janot — que a
apresentação, agora, de uma nova denúncia, a quatro dias de deixar o
cargo, traz turbulências desnecessárias. Gera muito calor e nenhuma luz.
Cármen, na verdade, quer evitar a sessão que abordaria a suspensão. Ela
pretende que não haja o que suspender até que não se conheçam todos os
fatos sórdidos dessa história.
E o fio desencapado hoje atende pelo
nome de Marcelo Miller. Na avaliação da ministra, o melhor que o
procurador-geral tem a fazer é encerrar em paz o seu mandato, deixando
para a sua sucessora eventuais decisões sobre a nova denúncia.
Nunca ninguém perdeu dinheiro apostando
na irresponsabilidade de Janot. Ou ele não teria conduzido a coisa a tal
situação-limite. Mas ele sabe, também, que sua situação se torna mais
grave a cada hora. Ainda voltarei a esse ponto.
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