Rotina de mortes, que força meninos e meninas passarem próximos a cadáveres, pode prejudicar formação de filhos de moradores
Localizada
nesta terça-feira, a mãe das crianças, de 50 anos, não quis comentar o caso. Um
vizinho contou que ela vive da venda de colares e pulseiras artesanais para
turistas que visitam a favela. Com o dinheiro, ela não só sustenta os quatro
filhos, mas também cuida de três netos. Para não faltar nada à família, ela
também recolhe latinhas de alumínio para reciclagem.
A foto
que retrata como a guerra na Rocinha impacta as crianças da comunidade foi
feita pelo repórter fotográfico José Lucena, da agência Fotoarena. A rotina de
tiroteios virou uma preocupação para os pais das crianças. Leonora, de 12 anos,
aluna do 4º ano na Escola Municipal Francisco de Paula Brito, diz que sente
muito medo quando os confrontos começam. Ela diz que se esconde dentro de casa,
na localidade conhecida como Dionéia.
— Fico
muito triste. Atrapalha meus estudos. Nessas horas, fico torcendo para que os
tiros acabem logo — disse a menina, que ontem ia para o trabalho com o pai.
A
neuropsicóloga do Solace Institute Paula Emerick observa que “uma criança em
contato com situações de violência intensa pode ter mais propensão ao consumo
de drogas”:
— A gente
sabe que a droga tem um efeito anestésico, de tirar a pessoa da realidade.
Larissa,
de 11 anos, que mora com cinco irmãos, conta como lida com a violência: — Quando
começa a confusão, pego minhas bonecas e fico brincando. Isso me distrai. Eu
não sei por que os tiros começam e nem por que terminam — contou ela que estuda
na Escola Municipal Shakespeare, próximo ao Hospital da Lagoa.
Michele,
de 14 anos, é nova na Rocinha. Chegou há cerca de um mês de Fortaleza e estuda
numa escola da Gávea. Ontem, ela, assim como 2.769 estudantes de nove unidades
da favela e do entorno, não tiveram aulas. Michele lamentou a perda de um dia
de estudo: — Moro
com uma tia e um irmão. Quando ela sai para trabalhar, ficamos sozinhos.
Aprendemos que não devemos ficar perto de janelas durante tiroteios.
Sinceramente, não sei o que fazer. Vim para estudar, mas as aulas estão sempre suspensas.
Eu e meu irmão ainda estamos aprendendo a viver na Rocinha.
Fonte: O Globo
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