Temer fez de Valdemar Costa Neto o donatário da combalida estatal Infraero, que acumula R$ 9 bilhões em prejuízos e precisa de socorro de R$ 1,4 bilhão para fechar as contas de 2017
Não tem
mandato, função pública ou cargo partidário, mas circula pelos palácios com a
desenvoltura de quem desfruta de intimidade com o poder. Conhece os corredores
do Planalto, do Alvorada e do Congresso como o chão da cela onde viveu por um
ano, com cama de aço e chuveiro de água quente, na ala VIP do presídio da
Papuda, a 20 quilômetros da Praça dos Três Poderes. Alto,
sorriso afável, não aparenta 68 anos de idade, mas conserva hábitos de chefão à
moda antiga no beija-mão diário dos diretores de agências reguladoras, como
ANTT, e de empresas estatais, como Valec e Infraero.
Ex-presidiário
do mensalão, sentenciado e perdoado, Valdemar Costa Neto administra 37 votos no
plenário da Câmara. Novamente investigado por corrupção, agora na Operação
Lava-Jato, é um homem de negócios com década e meia de experiência nos
subterrâneos dos governos Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer. Semana
passada, ouviu um pedido de favor do presidente, o segundo nos últimos quatro
meses: assegurar o apoio do Partido da República na votação de amanhã, decisiva
à suspensão do inquérito por corrupção e formação de quadrilha aberto contra
Temer. Se der tudo certo, Temer e Costa Neto continuarão sócios no poder até
dezembro 2018.
Para o
chefe do PR, atender a um presidente significa investimento. Foi assim em 2002,
quando Lula pediu-lhe para ajudar a transformar José Alencar no seu candidato a
vice-presidente. Até hoje Costa Neto se apresenta como o “principal artífice”
dessa aliança. Cobrou R$ 8 milhões, negociados com Delúbio Soares e José Dirceu
no quarto do senador Paulo Rocha (PT-PA), em Brasília. Lula e Alencar
aguardaram na sala. Como
Delúbio e Dirceu não pagaram no prazo combinado, Costa Neto chegou às vésperas
daquela eleição geral sem caixa para sustentar seus candidatos a deputado
federal.
Recorreu a Lúcio Funaro, intermediário financeiro do PMDB de Temer,
Eduardo Cunha, Geddel Vieira e Henrique Alves — os três últimos estão presos.
Tomou R$ 6 milhões de Funaro, a quem chama de “agiota” por causa dos juros de
R$ 200 mil ao mês. O PT
retribuiu-lhe na dúzia de anos seguintes. Com Lula e Dilma, ele obteve o poder
de influir nas contratações de obras como a Ferrovia Norte-Sul, 4,1 mil
quilômetros de trilhos através de dez estados, e a Ferrovia Oeste-Leste, com
1,5 mil quilômetros entre Tocantins e Bahia. Esses
projetos continuam no papel, mas renderam dividendos a Costa Neto e sua facção
política. Agora, estão sob investigação com base em provas e depoimentos de
executivos da Odebrecht e Andrade Gutierrez, além de agentes como Funaro.
Costa
Neto avança em negócios na política. Prometeu um punhado de votos a Temer e
virou donatário com poder de influir nas concessões de aeroportos, como o de
Congonhas (SP), e em transações de lojas e balcões da Infraero. Combalida, a
estatal abriga sete mil empregados — muitos sem ter o que fazer —, e acumula R$
9 bilhões em prejuízos. Depende do socorro do Tesouro (mais R$ 1,4 bilhão) para
fechar as contas de 2017. Escavada nesse buraco, a parceria Temer-Costa Neto
pode vir a ser o começo de uma longa amizade.
Fonte: José Casado - O Globo
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