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domingo, 29 de outubro de 2017

Sobre fuzis e Madonna



Não faz sentido a glamorização da violência. Nem as promessas de guerra do secretário de Segurança 

De comoção em comoção, a cada enterro ou performance, embotamos nosso raciocínio e a capacidade de refletir e agir. Culpo em grande parte nossas autoridades, que dão declarações de guerra e jogam para a plateia igualzinho a Madonna, com roupas camufladas. Como se nenhum de nós tivesse memória. Como se todos fôssemos “like a virgin”. 

Não somos virgens. O Rio de Janeiro revive pesadelos de décadas atrás. Voltamos às “balas perdidas”, às execuções na rua, aos arrastões aleatórios. Tínhamos avançado muito no tabuleiro da segurança pública, com a inteligência e firmeza do gaúcho José Mariano Beltrame, que ficou quase uma década como xerife do estado: de 2007 a 2016. Deu todos os alertas para o caos atual. A ausência do Estado no programa das UPPs. A inoperância da Justiça, com seu prende e solta. O derrame de armas de grosso calibre pelas fronteiras.[Beltrame foi um dos mais inconsequentes secretários, pelo simples motivo de que tentou enganar a população com a fraude das UPPs = Unidade de Perigo ao Policial - o que mais espanta é que milhares, ou mesmo milhões de imbecis, inclusive grande parte da imprensa, acreditaram que os bandidos saíam com dia e hora marcados das favelas.
Só existe uma forma de combater a violência no Rio, extinguir tão persistente câncer.

Com o CONFRONTO - considerando a erradicação do crime organizado, em especial, sem limitar a este, uma guerra a ser travada.
O combate ao crime organizado tem que ser uma guerra sem quartel e na base da limpeza por matança, não há outro jeito.

Utilizando táticas de guerra e seu maior poderio bélico e logístico as Forças Armadas podem abater centenas ou mesmo um ou dois milhar de bandidos sem grandes perdas em seus efetivos - ocorrerão efeitos colaterais, com vítimas entre os moradores das favelas, que, em alguns casos, serão inocentes;

tais mortes serão inevitáveis - o velho adágio: não se faz omeletes, sem quebrar os ovos - e não terão aplausos do maldito 'politicamente correto' (se é político não pode ser correto);
após uma guerra que talvez começando agora vá a meados de 2018, será necessário algum pulso firme para manter o Rio pacificado, sem farsas.
Da forma que estão agindo, de forma tópica, tem um crime ali, mandam alguns militares aspergir inseticida, cada dia estará pior e não será surpresa se os bandidos passarem a ocupar quartéis.] 
 
Antes de Beltrame, o Rio conviveu com uma rotatividade indecente e irresponsável na Secretaria. A Segurança era uma confraria de amigos, não havia metas nem meritocracia. De 1995 para cá, em 22 anos, excetuando a era Beltrame, o Rio teve 11 secretários em 12 anos. Atenção: média de quase um secretário por ano. Tivemos Anthony Garotinho comandando a Segurança de 2003 a 2004. Socorro, Madonna. Em vez de posar com marra e fuzis no Morro da Providência, como se guerra fosse entretenimento e as mortes diárias fossem ficção, faça alguma coisa de útil. Mande grana para as favelas, organize show beneficente em prol da paz e da justiça social no Rio. Também somos pop e rock and roll. Não temos vocação para toda essa crueldade. Depois de Madonna, foi a vez de uma top model, Michelle Alves, de jeans rasgadinho no joelho, visitar a Providência, horas após intenso tiroteio.

Não faz sentido essa glamorização da miséria e da violência. Sempre achei ridículos esses tours na Rocinha, com jipes de safári e gringos vestidos de cáqui como se estivessem nas reservas de animais da África do Sul. Os moradores também acham os turistas meio bocós, querendo socializar, sem cerimônia, olhando os moradores como se fossem girafas. Yeah. E nada de dinheiro das agências de turismo revertendo para as favelas.

Com a volta da ostentação de armas e a falência das UPPs, o ponto alto, que na África são os leões, passou a ser a visão de traficante com fuzil. O frisson do turismo de experiência radical, muitas vezes irregular, acabou na morte de uma turista espanhola na Rocinha com um tiro no pescoço. Ela estava num carro com vidros escuros. No início do dia, dois PMs tinham levado tiros em confronto com traficantes.  A versão dos policiais é que o carro não parou numa blitz. Como se isso pudesse ser desculpa ou justificativa. Existe uma lei de 2014, a Lei 13.060, que proíbe atirar em carro que fura bloqueio. A versão do motorista da agência de turismo é outra: não havia blitz alguma e ele escutou três disparos contra o carro, por isso acelerou. [enquanto a imprensa esposar o entendimento da ilustre articulista, criminalizando sempre o policial, os bandidos estarão matando na certeza de que sempre haverá jornalistas a incriminar os policiais e para eles a impunidade.
Respondendo a pergunta abaixo: nada poderá acontecer com o PM que efetuou disparos contra o veiculo que transportava a espanhola; a Lei 13.060 - uma c ... do tempo da escarrada ex-presidente Dilma determina que não é legítimo o uso de arma de fogo contra veículo que desrespeite bloqueio policial em via pública, exceto quando o ato represente risco de morte ou lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros. Além de NÃO É LEGÍTIMO não ser sinônimo de ILEGAL a exceção prevista ao final da norma legal, deixa a critério da autoridade policial e decisão se o ato irresponsável (ou criminoso) do condutor do veículo representou risco para os agentes de segurança pública ou terceiros.]  

O que acontecerá com o PM que matou a espanhola? Será acusado de “má conduta”. Talvez seja transferido da rua para função administrativa. Pode ser um prêmio e não uma punição, a julgar pelas execuções de policiais: 112 já foram mortos neste ano no estado. O mais recente foi um comandante da PM no Méier, morto ao reagir a um arrastão numa rua do bairro. O carro dele foi atingido por pelo menos 18 tiros.

Dá para entender a indignação do atual secretário de Segurança do Rio, Roberto Sá. Ele disse que o assassinato do comandante do 3o batalhão no Méier é um “atentado à democracia”. O policial Luiz Gustavo Teixeira, de 48 anos, representava o Estado e estava ali na rua “por vocação em defesa da sociedade”: “Não vamos descansar até colocar as mãos nesses criminosos”.

Entendo. Concordo. Mas não vejo a mesma indignação em Roberto Sá quando inocentes são mortos ou feridos por PMs. Também acho um atentado à democracia o que aconteceu com uma menina de 12 anos na Rocinha. Ela foi atingida na barriga por uma bala perdida quando saía de uma igreja evangélica. Só ouvimos de Sá promessas fantasiosas: “Vamos virar o jogo”. Virar o jogo, Sá?

Em junho, a Polícia Civil apreendeu 60 fuzis de guerra no aeroporto internacional do Rio, numa carga de aquecedores de piscina, vinda de Miami. Mas agora nós vamos “virar o jogo”, porque foi sancionada a lei tornando crime hediondo o porte ilegal de fuzis. Saudade dos tempos em que havia uma estratégia, premiavam-se os PMs que menos matavam, e assim muito menos PMs morriam também.

Havia tudo, menos vontade política e vergonha na cara dos governantes. A UPP, dizia Beltrame, era uma anestesia num paciente que necessitava de uma grande cirurgia. A anestesia foi dada, o efeito passou e a cirurgia social e cidadã não foi feita. Deu no que deu. Septicemia generalizada.

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Fonte: Revista Época


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