Presidente do Senado, Eunício Oliveira evita pautar o tema preocupado com o povo, mas as mudanças, ao contrário, podem combater injustiças sociais
Por
desinformação, conveniência político-eleitoral ou ambas, o presidente do
Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), avisa que não pautará a reforma da
Previdência na Casa, por não considerar o momento propício. No entender do
senador, que reconhece a necessidade de “algum tipo de ajuste” no sistema
previdenciário, o momento político “não é muito oportuno para se alterar
posicionamentos que vão de encontro à sociedade brasileira.”
Tradução:
Eunício considera esta uma pauta impopular, mais ainda num período eleitoral.
[IMPORTANTE: ANTES DE SER ILUDIDO PELO AFIRMADO ABAIXO, letras 'A' a 'E', CLIQUE AQUI e SAIBA A VERDADE.]
[A ]- Porém, engana-se o senador. A suposta “impopularidade” da reforma deriva de um
discurso formulado por corporações e categorias do funcionalismo público,
grandes beneficiárias das incongruências da Previdência, que, por isso,
alardeiam uma suposta retirada de “direitos do trabalhador". É
conhecido o truque de privilegiados de misturar-se à multidão. Na verdade, o
sistema é um injusto e eficaz mecanismo de redistribuição de renda em favor dos
ricos: retira dinheiro do Tesouro, sustentado também pelos pobres, para bancar
aposentadorias de servidores da classe média, média-alta e alta.
[B] - Como o
funcionalismo tem a vantagem de se aposentar com o último salário — benesse
eliminada para os que passaram a entrar na carreira a partir de 2013 —, o
Erário, em 2015, por exemplo, teve de fechar um rombo de R$ 90,7 bilhões
provocado pelos benefícios de um milhão de aposentados da União, enquanto o
déficit do regime geral (INSS), além de ter sido menor (R$ 85 bilhões), foi
causado por 33 milhões de pessoas. Isto, sim, é impopular.
[C] - Cálculos
dos economistas José Márcio Camargo, André Gamerman e Rodrigo Adão indicam que,
entre 2001 e 2015, o Tesouro, em valores não atualizados, teve de transferir R$
1,3 trilhão para a previdência dos servidores federais — R$ 1,3 milhão para
cada um, R$ 86 mil por ano. Mais concentração de renda.
[D] - Esse
dinheiro, destinado a menos de um milhão de servidores, equivale a três vezes
os gastos com 4,5 milhões de idosos e deficientes sustentados pelo Benefício de
Prestação Continuada (BPC). Ou a cinco orçamentos do Bolsa Família, em que
estão inscritas quase 14 milhões de famílias, 50 milhões de pessoas no total.
[E] - As
disparidades estão presentes no próprio INSS, em que 65% dos aposentados (do
setor privado) recebem benefício de apenas um salário mínimo, R$ 937, enquanto
no funcionalismo, a depender da categoria, há benefícios na faixa dos R$ 10
mil. Eis porque servidores federais aposentados estão entre os 2% mais riscos
do país. Um aspecto positivo da proposta original é
reduzir estes desníveis. Este é um dos sentidos da reforma.
Se ela for
apresentada com estes números e estas explicações, será entendida como
destinada a reduzir injustiças sociais, como de fato é. Tachá-la de impopular é
trabalhar em favor desses privilégios.
Fonte: O Globo - Editorial
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