Janot, que se comportou como botequeiro na PGR, resolveu criticar o encontro entre Temer e Cármen. Um pouco de memória…
Rodrigo
Janot é mesmo um fanfarrão de quinta categoria. E demonstra não ter
senso de ridículo. Compartilhou no Twitter uma nota publicada no jornal O
Globo, segundo a qual, em seus meses à frente da Procuradoria-Geral da
República, Raquel Dodge ainda não fechou nenhum acordo de delação
premiada. O botequeiro aproveitou, também, para censurar o encontro
havido no sábado entre o presidente Michel Temer, e Cármen Lúcia, que
preside o Supremo. Temer foi à casa da ministra. Então vamos ver.
A página
que publicou a cobrança feita a Dodge, que Janot endossou, é a mesma que
divulgou o “furo” que nunca existiu, a saber: Temer teria dado aval a
Joesley Batista para comprar o silêncio de Eduardo Cunha. Lembram-se
disso? O dito aval não estava na gravação, era uma invenção, que saiu
das catacumbas da PGR de Janot para a imprensa. O “aval” inventado, a
“fake news” de Janot, era o centro de uma articulação para derrubar o
presidente Michel Temer. A reforma da Previdência, por exemplo, começava
a morrer ali.
É de uma
ousadia espetacular que aquele que entregou tudo aos irmãos Batista — na
verdade, negociou com eles a impunidade em troca da entrega das
respectivas cabeças dos presidentes da República e do PSDB, Michel Temer
e senador Aécio Neves — venha agora posar de moralizador, fazendo
exigências à sua sucessora. Foi o jeito de Rodrigo Janot conduzir
delações que quase levou o país ao abismo. De tal sorte foram dolosos os
procedimentos que as delações dos Batistas e sua turma estão suspensas,
e só falta agora que Edson Fachin, o relator, homologue o fim da
patuscada.
Raquel
Dodge está falhando, sim, mas de um modo distinto. Cumpre saber quando a
atuação de Janot no caso da delação dos irmãos Joesley e Wesley será
investigada. Até agora, não se tem notícia de nada. Já resta evidente — e
comprovado — que o ex-procurador Marcelo Miller atuou ao mesmo tempo
como auxiliar do então procurador-geral e como advogado da JBS. Assim, é mesmo do balacobaco que Janot, que deveria estar sendo investigado, faça cobranças sobre investigações.
Temer-Cármen
Setores da imprensa e moralistas de
meia-pataca censuram o encontro entre Michel Temer e Cármen Lúcia — ele
foi à casa dela no sábado, não o contrário. Por que o berreiro? Porque a
conversa não constava da agenda de ambos. E daí? Todos sabem que um
encontro como esse não fica jamais à escondidas. Tampouco era essa a
intenção. No dia em que o chefe do Poder Executivo não puder se
encontrar com a chefe do Poder Judiciário, bem, aí o país estará mesmo
perdido. Eu me nego a fazer qualquer especulação sobre o que conversaram
ou não.
Não custa lembrar. Existe uma lei que prevê a obrigatoriedade da divulgação da agenda. É a 12.813,
que trata de conflitos de interesses. Os respectivos presidentes dos
Três Poderes não estão entre as autoridades obrigadas a tornar públicos
seus compromissos. Logo, o encontro, que imoral não é, desde sempre,
também não é ilegal. Mas Janot
resolveu tirar a sua casquinha, não é? Escreveu ele: “Causa perplexidade
que assuntos republicanos de tamanha importância sejam tratados em
convescotes matutinos ou vespertinos”.
Ah, como
esquecer? Em setembro de 2017, Janot foi flagrado num boteco, na
periferia de Brasília, em companhia de ninguém menos do que Pierpaolo
Bottini, advogado de Joesley. À diferença do que ocorre com Temer e
Cármen — que não têm como esconder o encontro — o bate-papo do
procurador-geral que, havia garantido a impunidade ao empresário, com o
advogado que representava o chefão da JBS deveria ter permanecido
secreto. Ocorre que alguém flagrou o tête-à-tête, mediada por cerveja —
uma exceção na vida de Janot: ele prefere uísques no plural. É
estupefaciente que Janot, um dos artífices da crise política que ameaça
devolver o país ao buraco de onde Temer o retirou, esteja por aí a
expelir regras.
Blog do Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário