Mãe a padrasto são acusados de espancar e matar a criança em casa, em Santo Antônio do Descoberto (GO). O motivo do assassinato, segundo a polícia, seria a recusa e o choro da vítima por ser obrigada a dormir na sala
“Se
ela não queria a criança, por que não deixou que a minha mãe cuidasse?”
O questionamento de Jéssica Maria Nascimento de Almeida, 24 anos, é de
uma tia que não entende a morte do sobrinho Henzo Gabriel da Silva de
Oliveira, 2 anos e 11 meses. A criança morreu espancada pela mãe e pelo
padrasto, segundo a investigação da Polícia Civil de Santo Antônio do
Descoberto (GO). O assassinato, cometido ontem pela manhã, chocou
familiares e assustou os moradores do município a 52km do DF. Os
acusados Luana Alves de Oliveira, 21, e Wesley Messias de Souza, 23,
estão presos.
Com a voz embargada, Jéssica,
irmã do pai da vítima, contou que a avó e outra tia de Henzo, que está
grávida, foram hospitalizadas após a morte. Segundo a mulher, era comum
Luana passar temporadas na casa dos parentes do ex-marido, em Águas
Lindas. Ela chegava sem avisar e, ao partir, passava muito tempo sem dar
notícia. “Ela (Luana) brigava com a criança, mas não judiava. Se isso
acontecia, era longe da gente. Quando estava com a minha mãe, ela também
não se separava do filho. Era uma pessoa que não parava em
relacionamentos. O meu irmão está sem reação. Não conseguimos entender o
que aconteceu. Henzo não tinha culpa de nada”, lamenta.
Irmã
do padrasto Wesley, Mônica Messias de Souza visitou o casal horas
antes. “O meu irmão gostava da criança. Era dedicado. Quando os
encontrei, o bebê estava de banho tomado. O Henzo era um amor, e eu o
tratava como sobrinho. Era dócil e, quando chegava lá em casa, me pedia
pirulito”, conta. Os vizinhos do casal se
surpreenderam com o caso, apesar a família ter se mudado para a região
havia um mês. “Não tinha contato com eles, mas uma notícia como essa é
muito triste”, afirma um homem que não quis se identificar. Uma mulher
acredita que a chuva pode ter abafado o barulho da briga. “Em uma
situação dessas, você escuta o choro, mas estava chovendo muito”,
ressalta.
Versões
O
casal morava na Quadra 50 do Setor de Mansões Bittencourt, na casa do pai
de Wesley, que dormia na hora do espancamento.
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O delegado responsável pelo caso, Pablo Santos Batista, disse que as contradições no depoimento de Luana levam a polícia a concluir que ela também agrediu o filho. “No hospital, quando os policiais indagaram a mãe, ela acusou o companheiro, mas, quando perguntaram onde ele estava, de início, ela não falou. A PM foi à casa onde moravam, e ele ainda tentou fugir. A partir daí, o casal passou a se acusar”, relata.
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O delegado responsável pelo caso, Pablo Santos Batista, disse que as contradições no depoimento de Luana levam a polícia a concluir que ela também agrediu o filho. “No hospital, quando os policiais indagaram a mãe, ela acusou o companheiro, mas, quando perguntaram onde ele estava, de início, ela não falou. A PM foi à casa onde moravam, e ele ainda tentou fugir. A partir daí, o casal passou a se acusar”, relata.
Segundo
Pablo, os conflitos começaram com o choro de Henzo, que se recusava a
dormir na sala. Mãe e padrasto, então, o levaram para o quarto, onde o
agrediram. “Eles o teriam enrolado no cobertor, chutado e pisado na
criança. Às 5h, o sogro foi beber água e decidiu olhar o menino. Viu que
ele não se mexia nem respirava e chamou o casal. Quando a mãe chegou ao
hospital, a criança estava morta. O padrasto confessou e entregou a
mãe. O sogro disse que, às vezes, eles eram agressivos na hora de
corrigir a criança. Eu achei que, por ser mãe, ela estaria mais
desesperada”, diz.
Os acusados responderão por
homicídio qualificado (motivo torpe), e podem pegar até 30 anos de
prisão — até então, não tinham passagem pela polícia. [trinta anos de prisão se conseguirem ficar vivos por ao menos 30 dias; pelas leis das cadeias, serão 'disciplinados', 'corrigidos' e mortos dentro de alguns dias.] Ouvidos pela TV
Brasília, o casal apresentou versões conflitantes. Wesley disse que
Luana teria matado o bebê. “Eu perguntei se era por causa da nossa
relação que ela batia demais na criança. Toda vez que ela ia dormir,
enrolava a criança todinha e, tipo assim, o menino sufocado (sic). O
policial falou que ele (Henzo) tinha fratura, roxo na cara. Isso foi ela
que deve ter batido nele. Eu bati nele de cipó. Foi só uma vez. Para
ele ir para o quarto. Ele era obediente. Quando eu batia, ele obedecia.
Ela não bateu nele. Ela o matou”, acusa.
Na
entrevista, Luana culpou Wesley: “Eu não matei o meu filho. Foi o meu
esposo que o agrediu. Ele que maltratou o meu filho. Tem pouco tempo que
estamos juntos. Um mês. Acordei hoje de manhã, quando fui olhar o meu
filho, ele estava lá morto. Peguei o meu filho e fui para o hospital. Eu
estou presa, mas é por culpa dele. Ele destruiu a minha vida. Eu nunca
passei por isso”.
O psicólogo e especialista em
análise do comportamento Carlos Augusto de Medeiros avalia que a noção
de proteção é uma questão mais cultural do que instintiva. “O nosso
comportamento é afetado por diferentes fatores, como a genética, o que
aprendemos e a cultura. Vivemos em uma cultura machista, em que é
estimulado ter um homem chefiando a casa. Também há a cultura da mãe de
proteger os filhos. Quando esses valores entram em conflito, é preciso
escolher. A depender da história de vida, do que entendem como
violência, muitas vezes, o sucesso de um relacionamento se sobrepõe ao
cuidado com o filho”, analisa.
Memória
Vítimas na infância
*
Na última sexta-feira, um caso semelhante ao de Santo Antônio do
Descoberto repercutiu nacionalmente. O casal Phelipe Douglas Alves, 25
anos, e Débora Rolim da Silva, 24, é suspeito de espancar e matar a
filha Emanuelly Aghata da Silva, 5, em Itapetininga (SP). Os dois estão
presos preventivamente desde sábado. De acordo com a Polícia Civil, os
pais acionaram o Samu, alegando que a filha teve convulsões ao cair da
cama. A equipe médica, no entanto, suspeitou dos hematomas no corpo da
criança e acionou a polícia. Débora tem outros dois filhos.
*
Também no estado de São Paulo, a menina Isabella Nardoni, então com 5
anos, foi asfixiada e jogada da janela do apartamento da família, no
sexto andar do Edifício London, na zona norte de São Paulo, na noite de
29 de março de 2008. Acusados do crime, o pai, Alexandre Nardoni, e a
madrasta da criança, Anna Carolina Jatobá, foram condenados,
respectivamente, a 31 anos e 1 mês, e a 26 anos e 8 meses de reclusão.
Desde julho do ano passado, Anna Carolina foi beneficiada com a
progressão de regime para semiaberto.
Crimes violentos
Apesar
da queda nos índices de violência, crimes violentos continuam a
assustar o DF. Na noite de domingo, o Corpo de Bombeiros encontrou um o
corpo de uma mulher carbonizado dentro de um contêiner na QE 7 do Guará.
O delegado-chefe da 4ª Delegacia de Polícia (Guará 2), Jhonson Kennedy
Monteiro, disse que, por causa do nível de carbonização da vítima, os
peritos ainda não conseguiram identificá-la. O delegado disse que há um
suspeito. Na madrugada de ontem, uma mulher tentou matar o marido com
uma facada no pescoço. O crime aconteceu na casa da família, na QS 12 do
Riacho Fundo 1.
Correio Braziliense
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