Os três devem ocupar celas diferentes do mesmo
sistema penitenciário
Há 14
anos, falava-se em Brasília que José Dirceu era o primeiro-ministro, o
homem que, na prática, comandava o Brasil. Não era verdade. Dirceu,
de fato, era o todo-poderoso chefe da Casa Civil que mandava na relação com o
Congresso e tinha muita força junto a Lula. Cuidava da relação do Planalto com
os aliados, que, soube-se em 2005, estava contaminada por mesadas criminosas a
políticos e partidos, esquema desbaratado no escândalo do mensalão.
Era
parrudo, mas não dominava a cena sozinho. Ele mesmo sabia, embora não gostasse,
que fazia parte de uma constelação formada por outras duas estrelas. Lula era
o líder popular que fazia do PT um sucesso nacional. E levava para o mundo a
imagem de um país que entrava nos trilhos. Antonio
Palocci tinha papel decisivo. Caiu nas graças do mercado e do empresariado por
meio de uma gestão econômica calçada na segurança e previsibilidade.
Os três
eram intocáveis. Hoje,
Dirceu é o único livre, condição que mudará nos próximos dias com a inevitável
expedição da ordem de prisão pelo juiz Sergio Moro. A Lula e
ao ex-ministro sobram apenas o discurso da perseguição política e o abraço da
militância. Palocci
ainda não foi condenado, mas está preso porque, livre, pode prejudicar as
investigações da Lava-Jato. Chegou a sair do PT com a esperança de — ao delatar
os velhos companheiros — livrar-se da cadeia. Mas não convenceu.Uma
década e meia depois, um mensalão depois, uma Lava-Jato depois, a constelação
deve ocupar celas diferentes do mesmo sistema penitenciário. O que recebe os
investigados e condenados em Curitiba.
Roberto Maltchik
- O Globo
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