Testemunhas contam detalhes da abordagem, rota de fuga dos criminosos e características do autor dos disparos
O relógio
digital da esquina das ruas Joaquim Palhares e João Paulo I, no Estácio, local
de iluminação precária, marcava 21h14m, do último dia 14, quando um Cobalt
prata fechou um carro branco, que quase subiu o meio-fio. A violência com que o
motorista do primeiro veículo abordou o segundo, numa curva em direção à
Tijuca, chamou a atenção de duas pessoas que estavam a cerca de 15 metros da
cena. Uma delas aguardava o sinal fechar para atravessar o cruzamento. Ambas
contam que o motorista do veículo branco, um Agile, reduziu a velocidade, na
tentativa de não subir a calçada. O susto viria em seguida: o passageiro
sentado no banco traseiro do Cobalt abriu a janela, cujo vidro tinha uma
película escura, sacou uma pistola de cano alongado e atirou. O som da rajada
soou abafado. Numa manobra arriscada, o veículo do agressor deu uma guinada e
fugiu pela Joaquim Palhares, cantando pneus. Só depois de o carro das vítimas
parar, mais à frente, os dois se deram conta de que testemunharam os
assassinatos da quinta vereadora mais votada no Rio, Marielle Franco (PSOL), de
38 anos, e de seu motorista Anderson Pedro Gomes, de 39. No Agile branco,
estava ainda uma assessora parlamentar, que escapou com vida.
As duas
testemunhas do crime foram localizadas pelo GLOBO e revelaram dados como
horário e local exatos, detalhes da abordagem, rota de fuga dos criminosos,
além de características do autor dos disparos. Elas não foram ouvidas pela
Delegacia de Homicídios da Capital (DH), que investiga o crime, e contaram que,
logo depois dos assassinatos, policiais militares do 4º BPM (São Cristóvão)
chegaram ao local e ordenaram que todos se afastassem, com exceção da
sobrevivente do veículo atacado. Alguns agentes sugeriram, segundo uma das
testemunhas, que todos fossem para casa.— Foi
tudo muito rápido. O carro dela (Marielle) quase subiu a calçada. O veículo do
assassino imprensou o carro branco — diz a testemunha, apontando para o
meio-fio com algumas marcas. — O homem que deu os tiros estava sentado no banco
de trás e era negro. Eu vi o braço dele quando apontou a arma, que parecia ter
silenciador.
As
versões das duas testemunhas, que não se conhecem e conversaram com o jornal
separadamente, são idênticas. Elas disseram não ter visto um segundo carro na
emboscada contra a vereadora, embora câmeras de rua tenham flagrado um possível
segundo veículo, na saída de um evento onde Marielle estivera na Lapa. — Não
consegui ver os integrantes do carro de quem atirou. Quando ouvi a rajada, não
sabia o que fazer. Depois dos tiros, o carro do assassino saiu disparado nesta
reta — disse a testemunha, apontando para a Rua Joaquim Palhares, que desemboca
na Avenida Francisco Bicalho, via que permite acesso rápido à Avenida Brasil ou
à Ponte Rio-Niterói. — Cheguei a aguardar por alguns minutos no local, mas os
PMs mandaram as pessoas irem para casa. Disseram para procurarmos o que fazer.
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Vi os policiais comentando que era uma vereadora. Liguei para a minha família,
que mandou eu sair de lá, com receio que eu também me complicasse. Fiquei com
medo e desisti de falar o que vi — afirmou a testemunha.
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Vi os policiais comentando que era uma vereadora. Liguei para a minha família, que mandou eu sair de lá, com receio que eu também me complicasse. Fiquei com medo e desisti de falar o que vi — afirmou a testemunha.
O relato
de que o motorista do Cobalt prata jogou o veículo contra o Agile, dirigido
pelo motorista da vereadora, pode explicar a reação de Marielle pouco antes de
ser atingida pelos tiros. A assessora, em depoimento, disse que a ouviu dizer
“ué?”, com surpresa. As duas viajavam juntas no banco de trás. A sobrevivente,
em seguida, escutou o barulho de uma rajada e um “ai”, dito pelo motorista,
Anderson. Distraída ao celular, a assessora não percebeu o carro dos
assassinos. Atingida por quatro tiros — três deles na cabeça —, Marielle tombou
sobre a assessora, que precisou se desvencilhar para puxar o freio de mão,
porque o carro, embora em velocidade baixa, seguia pela Rua João Paulo I. Ao
todo, o carro foi alvejado por 13 tiros.
Dezoito
dias após os assassinatos de Marielle e Anderson, autoridades na área de
segurança pública não têm dúvidas sobre a complexidade do caso. O próprio
secretário de Segurança, general Richard Nunes, afirmou, durante entrevista à
Globonews na última quinta-feira, que “é inegável” que as investigações
caminhem para uma motivação relacionada à atuação política de Marielle Franco. Um
investigador do caso relatou ao jornal que estão sendo considerados projetos da
vereadora e conflitos relacionados à atividade legislativa, apesar de ela nunca
ter recebido ameaças. O mesmo agente afirmou que ela defendia pautas que
contrariavam interesses de grupos, inclusive de milicianos.
O crime,
que ganhou até o noticiário internacional, expôs graves falhas no sistema de
policiamento, que prejudicam a investigação de homicídios, como, por exemplo, o
fato de a câmera no cruzamento das ruas Joaquim Palhares e João Paulo I não ter
gravado as imagens do atentado. Segundo a CET-Rio, ela serve para a contagem de
veículos e para regular o tempo dos sinais. O equipamento só envia dados para o
controlador de
INFRAESTRUTURA
DEFICIENTE
Segundo o
chefe da Casa Civil do governo Marcelo Crivella, Paulo Messina (PRB), há 11
câmeras da prefeitura no trajeto percorrido pelo Agile onde estavam as vítimas,
da Rua dos Inválidos, no Centro, onde a vereadora participou de um evento na
Casa das Pretas, até o local do crime. Quatro delas não funcionavam, e nenhuma
é de alta resolução. — O
Centro de Operações (COR) nunca teve um viés de segurança. Esse caso mostra a
necessidade de criarmos um órgão ligado à segurança pública, com
videomonitoramento. Temos câmeras de trânsito suficientes, mas faltam
equipamentos de alta resolução — disse, informando que a prefeitura dispõe de
596 câmeras na cidade.
As quatro
câmeras enguiçadas fazem parte de um total de 200 doadas pelo governo federal à
prefeitura na Olimpíada de 2016. O contrato de manutenção dos equipamentos não
foi renovado. O problema só foi percebido quando, durante as fortes chuvas de
fevereiro, os técnicos não puderam avaliar a situação dos pontos que mais
alagaram. Messina conta que, por causa disso, solicitou que a CET-Rio passasse
a fazer o serviço de manutenção. A Imagem
Rio, que faz para a prefeitura a manutenção de cinco das 11 câmeras do trajeto,
garante que todos os equipamentos sob sua responsabilidade estão operando. A
Secretaria de Segurança, que também tem câmeras na região, mas não revela
quantas são, assegurou, por meio de sua assessoria, que todas funcionam.
Até
ontem, o Disque Denúncia recebeu 76 ligações pelo telefone 2253-1177.
Especialista
em segurança pública e ex-capitão do Bope, o antropólogo Paulo Storani afirmou
que já tinha alertado para o fato de que segurança pública não se faz só com
homens nas ruas: —
Segurança pública não é só a presença policial nas ruas. Precisa investimento
em infraestrutura. Em qualquer lugar do mundo, o sistema de câmeras reduz a
necessidade da presença do agente e ajuda nas investigações. As câmeras com
alta resolução para ver detalhes, como placas, são imprescindíveis para
elucidar crimes. Tivemos chance de ter o que há de mais moderno em tecnologia
com a Copa e os Jogos, mas cadê o legado?
MATÉRIA COMPLETA em O GLOBO
[A impressão que se tem do relatado é aquele tipo de situação em que duas pessoas começam a conversar sobre determinado fato e a imaginar como ocorreu;
de repente, de tanto analisar as alternativas elegem um dos relatos e passam a apresentar como algo que testemunharam.
Se percebe que falam, falam, mas, nada específico.
Estranho é que não foram ouvidas por autoridades policiais que investigam o caso???
Se nota que as duas 'testemunhas' expressam uma certa insatisfação com a atitude dos policiais militares em solicitar que as pessoas se afastem - providência essencial para a preservação do local do crime.
Em um trecho da matéria consta: "revelaram dados como horário e local exatos, detalhes da abordagem, rota de fuga dos criminosos, além de características do autor dos disparos."
em outro: "Não consegui ver os integrantes do carro de quem atirou. Quando ouvi a rajada, não sabia o que fazer. Depois dos tiros, o carro do assassino saiu disparado nesta reta — disse a testemunha,".]
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