Para a Ana Amélia conteúdo poderia ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional; Gleisi rebate e diz que há ‘preconceito e xenofobia com os árabes’
O debate no plenário do Senado
esquentou na tarde desta quarta-feira depois que a senadora Ana Amélia (PP-RS) subiu
à tribuna para acusar a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR)
de violar a Lei de Segurança Nacional, ao pedir, em vídeo gravado para a rede
de TV Al Jazeera, que o povo árabe se juntasse à luta em apoio ao
ex-presidente Lula, condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção
passiva e lavagem de dinheiro.
A
senadora Ana Amélia (PP-RS) - Agência Senado 18/04/2018
No vídeo veiculado nesta terça-feira pela emissora de TV do
Qatar, Gleisi diz que Lula é um grande amigo do mundo árabe e ao
longo da história, o Brasil recebeu milhões de árabes e palestinos, mas Lula
foi o único presidente que visitou o Oriente Médio. Da tribuna, Ana Amélia
pediu ao presidente da sessão, senador João Alberto, que inscrevesse nos anais
da Casa como documentos históricos, o vídeo de Gleisi e o editorial do jornal
“O GLOBO”: “Aécio convertido em réu abala teoria persecutória do PT”.
— Nesse vídeo a presidente do PT faz uma
exortação ao povo árabe, com afirmações graves, denegrindo a imagem do STF, do
Ministério Público, atacando a imprensa do país, violando preceitos
constitucionais e ignorando que estamos vivendo em um estado democrático de
direito. Chegou ao cúmulo de dizer que nossa política externa é guiada pelo
Departamento de Estado dos Estados Unidos — discursou Ana Amélia, lembrando que
os próprios senadores lulistas haviam visitado o ex-presidente e atestado que
ele estava bem instalado e bem tratado na cela em Curitiba.
No discurso, Ana Amélia disse que o conteúdo
do vídeo de Gleisi Hoffman poderia ser enquadrado no Artigo 8º da Lei de
Segurança Nacional, que diz: “aliciar indivíduos de outra Nação para que
invadam o território brasileiro, seja qual for o motivo ou pretexto”.
— Perderam o poder em 2016, o apoio popular
na decretação da prisão de Lula e agora perdem a compostura ao atacar a
Imprensa, o Judiciário, e o Ministério Público! É possível que queiram o apoio
do Exercito Islâmico para livrar Lula da cadeia — disse Ana Amélia.
No plenário, o líder da Minoria, senador
Humberto Costa (PT-PE) saiu em defesa de Gleisi, até então ausente. — Reconheço que é uma boa senadora, mas
ultimamente tem se concentrado em fazer ataques frontais ao PT e a Lula, em
espezinhar uma pessoa presa, condenada injustamente, fazendo espezinhamento e
humilhação. Vossa Excelência não precisa disso. Retome a boa linha do seu
mandato que sempre teve aqui — rebateu Humberto Costa.
Em resposta a Humberto Costa, Ana Amélia
disse que o ex-presidente Lula fez avanços em seu governo, mas isso não lhe
dava o direito de não reconhecer os crimes que praticou. E disse que, ao
contrário do que tinha sido apregoado, o país não parou pela prisão de Lula,
mas apenas manifestações feitas em Curitiba e no Rio Grande do Sul pelos
movimentos sociais ligados ao PT. — No meu estado, com os trancamentos das
rodovias, hoje impediram que uma família levasse o filho para fazer
quimioterapia. Como ex-ministro da Saúde o senhor sabe o que isso significa —
disse Ana Amélia.
Nesse momento a senadora Gleisi Hoffmann
adentrou o plenário e foi ao microfone para responder Ana Amélia, mas como seu
nome não foi citado explicitamente na fala da senadora gaúcha, o presidente da
Mesa, João Alberto de Souza (MDB-MA), não permitiu que falasse. — Fui
ofendida, quero falar. Que outra presidente nacional do PT tem aqui? — insistiu
Gleisi, sem sucesso.
Gleisi
então respondeu em sua conta no Twitter: “A senadora que incentivou a violência
contra a caravana do Lula no Sul do país, mandando erguer o relho, agora
externa seu preconceito e xenofobia com os árabes, ao me criticar por ter
falado com a TV Al Jazeera. Entrevistas que dei com o mesmo conteúdo a BBC,
RTP, EFE não a incomodaram”.
Mais
tarde, falando como líder do PT, Gleisi contra-atacou Ana Amélia, acusando-a de
xenofobia e preconceito. — O
incômodo daquela senadora não foi com o conteúdo, mas com o veículo. Só pode
ser por ignorância, preconceito e xenofobia com o povo árabe — rebateu Gleisi,
acusando Ana Amélia de ter praticado um ato de “desvio de caráter”.
Ana
Amélia ainda tentou rebater, mas como seu nome não foi citado nominalmente, João
Alberto também não permitiu que ela aparteasse Gleisi. — Senhor
presidente, eu não tenho desvio de conduta — tentou Ana Amélia, sendo cortada
por João Alberto.
O vídeo
continuou provocando bate boca durante toda a sessão. O senador José Medeiros
(Podemos-MT), reagiu com irritação ao líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), que o
chamou de ignorante quando dizia que houve uma mensagem subliminar de Gleisi a
fundamentalistas. — Perdoem
a ignorância — aparteou Lindberg.
— Eu
estou com a palavra. Aqui Vossa Excelência não vai ganhar no grito! Se tiver um
atentado aqui, ele terá o nome e o CNPJ. Porque não foram a uma embaixada
reclamar? Querem transformar um país pacífico numa zona de guerra — reagiu
Medeiros.
— Eu só
queria falar: perdoem a ignorância — continuou Lindbergh.
O líder
do DEM, senador Ronaldo Caiado (GO), disse que o vídeo é uma "verdadeira
afronta à soberania nacional" e um "crime de lesa-pátria". Para
Caiado, é uma grande irresponsabilidade a parlamentar petista pedir a
intervenção de outros países sob uma democracia consolidada. — E
querer agora lançar uma campanha mundial para tentar vitimizar o ex-presidente
Lula? Olha, é uma afronta ao Judiciário e à Procuradoria Geral da República.
Até ao decoro do Senado Federal uma atitude como essa — criticou Caiado. — O
que eles queriam é imaginar que podiam amanhã aqui entrar com seus cubanos, que
hoje praticam os assassinatos de todo grau de violência contra o povo
venezuelano, que são conhecidos como os coletivos — protestou.
O Globo
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