Criado o conflito de competências, o diretor de
arbitragens da Copa manda todo mundo obedecer ao juiz. Mas qual deles?
O debate
jurídico sobre a libertação de Lula pode parecer complexo, data vênia, pois
decisões contraditórias abundaram. Mas, como diz a frase de amplo uso no setor
jurídico, “quod abundat non nocet” – ou, no velho e bom Português, “o que
abunda não prejudica”. Logo, não há prejudicados.
Façamos
um paralelo com a Copa. O suíço fez falta em Miranda antes de marcar o gol de
empate? Pois, no caso, basta esperar o árbitro olhar para o outro lado, chamar
três deputados militantes e consultar o bandeirinha. O bandeirinha contraria o
juiz e, sob aplausos dos nobres parlamentares, diz que não foi gol. O VAR,
aquele juiz que fica vendo o jogo na TV, entra em campo e confirma o gol. O
bandeirinha se revolta: ninguém chamou o juiz do vídeo, como é que ele se
atreve a palpitar no jogo? O árbitro da partida, dono do apito e autoridade
máxima em campo, quer falar e ninguém deixa.
Criado o
conflito de competências, o diretor de arbitragens da Copa manda todo mundo
obedecer ao juiz. Mas qual deles? O juiz que usa apito e não tem bandeirinha na
mão. E o quarto árbitro que cale a boca e se limite a ser quarto – ou o quarto
entre os árbitros ou o quarto entre os deputados. Tudo fica
por isso mesmo, enquanto todos se insultam como se fossem o Neymar depois de
alguma queda. No dia seguinte, o presidente da FIFA decide que foi gol e o juiz
tem razão. O jogo terminou na véspera – e daí?
Os
deputados envolvidos ficaram no banco, sentados sobre seus fundos.
Não é bem
assim
No caso
de Curitiba, José Dirceu falou antes da hora, achando que tudo estava
resolvido. Lula também achava e dizem que já tinha até arrumado as malas. Numa
delas, os livros que estava lendo na prisão. Depois querem que a gente acredite
no noticiário. Essas coisas têm cara de fake news.
O fim e o
começo
O final
da Copa para o Brasil significa o início da temporada eleitoral. É hora de
lançar os candidatos – o que não significa que todos cheguem à eleição. Três
pré-candidatos de partidos do Centrão decidiram manter suas candidaturas, sem
tentar nenhuma aliança por enquanto. Não é fácil: o PSD está pronto a apoiar o
tucano Geraldo Alckmin, embora Guilherme Afif, um dos caciques do partido, se
apresente como candidato.
Alckmin ainda não disse a que veio (acredita que,
somando amplo apoio partidário, terá o maior tempo de TV, o que lhe dará
votos); mas dentro do ninho tucano há quem defenda sua substituição por João
Dória Jr. O DEM está pronto a sair de sua tradicional aliança com o PSDB, para
apoiar Ciro Gomes – sim, ele, que tenta se transformar no candidato alternativo
de esquerda, no lugar de Lula. O PR tende a Ciro, mas o cacique-mor do partido,
Valdemar Costa Neto, não gosta de Ciro e prefere Bolsonaro. Haverá ainda longo
período de articulações para afastar quem não decola e aliar-se a quem tem
chances.
As
finanças da campanha
Henrique
Meirelles deve ser lançado pelo MDB em 4 de agosto. Meirelles tem intenções de
voto muito baixas, mas não faz mal: como tem condições de bancar a sua
campanha, toda a verba do partido será destinada aos outros candidatos. Isso
contribui muito para consolidar sua candidatura, apesar do carisma zero e de
uma política econômica que deixou de ir bem após a parada dos caminhões. Dória
oferece a mesma vantagem ao PSDB: pagando a campanha toda, ou a maior parte,
sobra verba para os demais candidatos. Fora isso, Dória tem mostrado mais
fôlego que Alckmin.
Ampla
escolha
O que não
falta é candidato (embora achar um bom seja mais difícil): há Marina, Afif,
Flávio Rocha, João Amoedo, Guilherme Boulos, Manuela d’Ávila, Álvaro Dias, o
poste de Lula – provavelmente Fernando Haddad.
E
Bolsonaro?
Embora
Jair Bolsonaro esteja em primeiro lugar nas pesquisas, Alckmin não acredita em
sua candidatura: disse em Cuiabá, à rádio Jovem Pan, que Bolsonaro não chegará
ao segundo turno. “Se você quer saber a minha opinião, eu acho que o Bolsonaro
não vai para o segundo turno. Ele não chega lá. Então, essas pesquisas, nesse
momento, não representam intenção de voto, porque voto mesmo você só vai
definir lá na frente”.
Boa
leitura
Regina
Helena Paiva Ramos, jornalista pioneira, com passagens pelas mais importantes
redações de São Paulo, lança agora no dia 14, na Associação Paulista de
Homeopatia (rua Diogo de Faria, 839, SP) a biografia de um pioneiro: o médico
que trouxe da Europa o iogurte e o kefir, foi um dos primeiros homeopatas do
país, militante ambientalista e pai da autora. “Era um homem totalmente fora
dos padrões”, diz Regina Helena. Participou da Campanha de Redenção da Criança,
que implantou postos de puericultura em todo o país; e trabalhou até 15 dias antes
de morrer, aos 85 anos, em 1982. Vale pelo personagem, vale pela autora.
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